Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 26
Acordo


Notas iniciais do capítulo

Aí, meninas! Demorei, mas voltei! Espero que gostem do capítulo, porque a coisa vai ficar tensa... Erik sendo Erik...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/558867/chapter/26

POV Christine

Olhei fixamente para o homem aos meus pés: aquele jovem – que um dia fora meu pequeno amigo, a pessoa em quem confiava e a quem amava como um irmão – de olhos tão tristes e desesperados, humilhando-se diante de mim quando antes era toa orgulhoso... Senti-me mal com aquela cena, mas, ao mesmo tempo, a raiva ferveu em meu coração; como ele OUSAVA vir pedir minha ajuda, depois de trair meu amor – pois, até a noite do baile, eu ainda o amava como irmão - e minha confiança, depois de sua família ameaçar a minha, e quase matar Madame Giry? A pena se misturou com raiva e asco, e ante minha falta de reação, ele tornou a implorar:

– Por favor, Christine! – e abraçou-me as pernas de um modo desajeitado, desesperado, quase enlouquecido – só você pode me salvar! Estou perdido, minha Christine... Perdido...

– SUA CHRISTINE? – perguntei, empurrando-o e esquivando-me de suas mãos – como você ousa vir até mim, depois de tudo o que me fez? Depois de sujar meu nome, de me atacar na noite do baile de ano-novo... Depois de permitir que sua mãe ameaçasse meu marido e meu bebê?! Como tem coragem de vir até aqui e pedir por minha ajuda?

Ele ergueu seus olhos para mim, e chorava e soluçava tão copiosamente que minha raiva arrefeceu; abrandei meu olhar, e esperei que dissesse algo, como de fato disse:

– Deus sabe a culpa que carrego em minha alma por ter ferido você, Christine... Isso me tortura, e me desgosta, e carregarei esta culpa comigo até meu último suspiro! Mas juro que jamais fui conivente com a perseguição feita a sua família... Pelo mal que lhe fiz, eu não tenho direito a vingança ou retaliação... Sei que tampouco tenho o direito de estar aqui, agora, implorando por sua piedade, mas... Você é toda a esperança que me resta!

Aquelas palavras derreteram o gelo em meu coração: lembrei-me daquele menininho com quem fazia “acampamentos” no sótão, com quem brincava no jardim... No garoto que fora meu melhor amigo e confidente e, apesar de tudo o que havia acontecido desde aquela época distante, não consegui odiá-lo. Senti apenas compaixão, e mesmo que ele não merecesse, abaixei-me e segurei seu braço, sussurrando-lhe:

– Venha, Raoul, levante-se. Acho que temos de conversar; de qualquer jeito, é patético ver um homem de seu tamanho jogado ao chão como um servo. Vamos. – e o fiz se levantar, entregando-lhe a bengala com a qual apoiava o andar da perna que ficara rija. Então voltei-me para Juliette, a bailarina que brincava com minha filha – cuide do bebê até que eu volte, por favor.

Levei o Visconde para uma das salas de balé, que no momento estava vazia. Fi-lo sentar-se num dos bancos ao longo das paredes e pus-me ao seu lado; apesar de todo o mal que havia nos feito, eu sentia pena dele devido à angústia e desesperança que havia em seu olhar, e tive o impulso de secar-lhe as lágrimas – impulso ao qual resisti. Cruzei meus braços então, perguntando:

– E então, Raoul? Por que precisa de minha ajuda?

– Seu marido. – Respondeu ele, claramente apavorado – ele vai matá-las, Christine... Ele vai matá-las, eu tenho certeza!

– Vai matar quem, homem, diga frases completas! – exclamei, segurando-lhe o ombro.

– Minha mãe e irmã. – Raoul disse afinal, afundando o rosto nas mãos – ele as tem torturado e apavorado! Suas cartas para minha mãe quase a enlouqueceram, ela o vê em todos os lugares! Lucy está em depressão, e nem mesmo dorme sozinha... Ele a visitou por três vezes, cortou seus cabelos e torturou-a com facas e ferros quentes! E não importa o quão reforçada façamos a segurança, ele escapa por sob os olhos dos guardas como o mais legítimo Fantasma! – ele tremia, e embora eu já soubesse o que Erik fizera, confesso que fiquei zangada com meu marido, outra vez. Bem, o assunto já fora resolvido, e continuei a ouvir – Suas cartas, escritas com sangue... Elas chegam em qualquer lugar, a qualquer momento! Ele vai nos matar, Christine... – E com essas palavras, lançou-se outra vez a meus pés, chorando, deitou a cabeça em meu colo e envolveu os braços em minha cintura. Quis afastá-lo, mas fiquei realmente com pena do estado em que meu outrora amigo se encontrava... Parecia tão miserável, tão apavorado...

Não houve, contudo, tempo para que eu o consolasse: surgido como que do nada, meu Fantasma da Ópera praticamente se materializou ao meu lado, agarrando Raoul pela nuca e erguendo-o, puxando-o para longe de mim e batendo-o com força contra a parede. Raoul desmontou no chão com um grito de dor, mas Erik o ergueu outra vez pelo pescoço – alheio aos meus protestos – e rosnou:

– Como você ousa voltar aqui, Visconde? Não compreendeu meus recados, ou anseia pela morte? – e eu sabia que ele mataria De Chagny, se eu não impedisse. A fim de ser ouvida, usei toda a potência vocal que desenvolvera no aprendizado com o Anjo:

– JÁ CHEGA! – e quando tive a atenção de meu marido – ponha-o no chão, Erik. Ele tem algo a nos dizer, então, vamos ouvir. Depois decidimos o que fazer com o Visconde – os olhos de Raoul se arregalaram, mas eu estava apenas blefando: é claro que não permitiria a Erik matar o Visconde! Mas nenhum dos dois precisava saber disso...

POV Narrador

A contragosto, o Anjo soltou seu rival e afastou-se dois passos, indo para junto de sua mulher. Esta foi até seu amigo e o fez se sentar novamente, vendo o verdadeiro terror nos olhos dele; o moço olhava do Fantasma para Christine, e de volta para o Fantasma, antes de afinal gaguejar:

– Você!... Você...

– Sim, eu. – respondeu o Fantasma, irônico – obrigado pela informação. Mais alguma coisa a dizer, antes que eu lhe arranque os olhos?

– Erik! – repreendeu a soprano – deixe-o falar. E Raoul: abra a boca de uma vez. Não veio aqui para tomar chá, então, diga logo o que quer.

O Visconde se recompôs, erguendo-se apoiado na bengala, procurando parecer o mais digno e controlado possível – embora ainda há pouco estivesse totalmente desesperado, chorando em pânico – diante de seu adversário:

– Eu quero segurança para minha família. Minha mãe está quase louca. Minha irmã fala todos os dias em se matar. – e olhou para Christine – pro causa de seu marido. E também por sua causa. Ah, é claro que eu reconheci a caligrafia das cartas que me mandou, minha “amiga”. – disse, suspirando – não vim aqui pedir por mim, mas por elas.

A jovem mãe cruzou os braços, pensativa, segurando o pulso de seu marido para que este não acabasse com a vida de Raoul, como sabia que ele ansiava pro fazer. Afinal, respondeu:

– O que poderíamos fazer, Visconde? Sua mãe veio aqui ameaçar-me. Tentou plantar provas que incriminassem meu marido, e quase conseguiu ao ordenar o assassinato, felizmente frustrado, de Madame Giry. Sua irmã foi cúmplice, e sabemos muito bem qual lado a justiça favoreceria, se tentássemos apelar à lei. Estou errada?

– Não. – respondeu o homem mais jovem – Mas elas já não podem lhes oferecer qualquer risco, qualquer ameaça... Sequer saem de casa! Minha mãe está presa à cama, aterrorizada até com a própria sombra, e Lucy cobre a pele machucada e os cabelos cortados, envergonhada e certa de que nenhum homem a irá querer para um bom casamento. Já não é punição suficiente?

– Punição suficiente – começou Erik – seria fazê-los queimar no Inferno. Os três. Agradeça à minha esposa o fato de sua família estar viva, garoto, pois eu já os teria provocado uma morte lenta e dolorosa pelo que fizeram à minha.

O nobre respirou fundo, certamente contendo a vontade de dar uma resposta afiada a seu oponente – ato que, sem dúvidas, resultaria na própria morte – e, após alguns segundos, continuou:

– Reconheço meu erro em não ter impedido o que faziam, mas elas estão incapacitadas. São inofensivas. Não podem prejudicá-los, mais.

– Mas você pode. – respondeu Christine.

– E o que eu ganharia com isso? – tornou o Visconde, tocando a perna aleijada – minha perna de volta? Nossa amizade restaurada? Minha família em paz e feliz? – e meneou a cabeça – não. Já fiz mal a vocês antes, e isso só me resultou em dor e aflição. Não tenho sequer direito de pensar em vingança, e tudo o que quero é esquecer que um dia pisei neste teatro... Vim aqui pedir por aquelas a quem amo, pedir que o Fantasma deixe de persegui-las; já sofreram o bastante por seus atos.

– O que me garante que, uma vez que tenha deixado de atormentar sua mãe e irmã, não mandará assassinos atrás de mim, ou tentará prejudicar minha esposa de algum modo?

– Tudo o que tenho é minha palavra. – disse o jovem – isso, e a lógica: se você escapou a nossas sentinelas, se pôde entrar em nossos quartos sem ser visto, torturar Lucy sem que o detectassem... O que o impediria de me matar, se achar que estou em seu caminho?

Erik se aproximou do homem mais jovem, e sibilou perigosamente:

– É ótimo que tenha isso em mente, Visconde. Mas isso ainda não me dá garantias. Quer que eu acredite realmente que tudo terminará assim, tão facilmente?

– Veja por si mesmo – falou o moço – providenciei para que o caso contra Erik de Guise fosse arquivado. Não sou idiota: esta é uma guerra que não posso vencer; lutar iria aniquilar a mim e a quem amo... Restou-me apenas vir e implorar.

– Não estou convencida. – falou Christine – isso não é típico de sua família.

– Eu não sou meu pai, está bem, Christine?! – falou Raoul, com notas de raiva na voz – E nem minha mãe. Só quero minha família segura! Quero a garantia de seu marido de que não mais nos perseguirá, e depois voltarei com Lucy e nossa mãe para Lyon. Apenas quero pedir que você – e fuzilou o Fantasma com os olhos – nos deixe em paz. Já pagamos o bastante. Eu pediria a Christine que o convencesse, mas já que está aqui, prefiro fazer o pedido pessoalmente.

O casal se entreolhou, e a mulher anuiu, dando de ombros. Com um sorriso tenebroso, o Anjo afinal falou:

– Quer suas mulheres seguras? – e ante a concordância do outro – então peça. De joelhos. - De Chagny franziu o cenho, relutante, mas Erik pressionou – bem, se não está interessado...

– Espere! – a voz do rapaz saiu levemente esganiçada, em meio ao pânico, enquanto ele lutava contra a perna rija para se pôr sobre os joelhos. Desgostosa com a cena, a cantora interveio:

– Erik, isso não é necessário... – mas o Anjo calou seu protesto pousando dois dedos sobre a boca da esposa.

– De joelhos, De Chagny!

Raoul o fuzilou com o olhar, mas se ajoelhou e, afinal, pediu:

– Por piedade, Fantasma: poupe minha família, deixe-a em paz. Poupe minha mãe e minha irmã, deixe-me levá-las em segurança e paz para longe de Paris. – e após morder os lábios, humilhado – por favor.

Erik deu um sorriso mau, e continuou:

– Muito bem. Agora, curve-se e implore pelo perdão de minha mulher.

– Erik, não! – protestou a soprano – Isso não é...

– É mais do que necessário – retrucou o Fantasma, inflexível – curve-se, Visconde, e peça o perdão de Christine.

Travando o maxilar ante tamanha humilhação, mas sabendo que não tinha escolha – sua vida e a de sua família estavam, afinal, nas mãos daquele louco – o jovem rastejou de joelhos até ficar diante da moça, e então baixou o rosto, implorando:

– Perdoe-me pelo mal que lhe fiz, Christine. Perdoe-me por tê-la machucado,e deixado que minha mãe e irmã a atormentassem...

Sem saber o que dizer, constrangida com tal situação, ela balbuciou:

– Levante-se, Raoul... Isso é totalmente desnecessário...

O Anjo assistia a tudo com expressão mais do que satisfeita, e foi só quando o nobre se ergueu que aproximou-se outra vez:

– Foi o suficiente... Mas ainda estou lhe devendo algo, Visconde – e puxou uma faca curta de dentro da manga, cravando-a no flanco de Raoul de modo que a lâmina resvalasse nas costelas. O nobre urrou de dor e caiu para trás sobre o banco, em agonia. Girando a lâmina dentro do ferimento, o Fantasma concluiu – Ainda lhe devia o troco pela facada nas costas: agora estamos quites.

Deixando escapar uma exclamação de surpresa, a soprano correu para junto do nobre e fuzilou o marido com os olhos:

– Por que fez isso?

– Olho por olho. – respondeu Erik – é superficial: ele não vai morrer. – e para Raoul, com desprezo – ora, vamos, Visconde! Não seja tão patético assim! Foi homem o bastante para me apunhalar, naquele dia... Seja homem agora, e levante-se!

Com o orgulho ferido no âmago, Raoul usou de todas as suas forças para se levantar, fitando o Fantasma com ódio mal-escondido no olhar; preocupada ao ver o tanto de sangue que escorria para a vestes do moço, Christine ordenou:

– Erik, fique bem longe dele! Vou chamar Madame Giry para me ajudar. – e correu pela porta, rezando para que seu marido a obedecesse.

Raoul se apoiou num dos bancos, sentindo a dolorosa fisgada na lateral que quase o impedia de respirar; quase sem voz devido à dor, rosnou:

– Um dia alguém vai fazê-lo pagar, fantasma. Ainda vai para o inferno por tudo o que já fez...

– Eu vou para o Inferno? – perguntou o músico, irônico – de onde acha que eu saí, Visconde? – e com expressão cruel – você não vai falar sobre isso para ninguém, ou eu o caçarei até no fim do mundo, como o demônio que pensam que sou. – e como uma sombra silenciosa, desapareceu pela outra porta da sala. Poucos segundos depois, Christine, Meg e Madame Giry apareceram. Depois dos cuidados que visavam parar o sangue, a viúva se encarregou de acompanhar o moço ao hospital, enquanto a soprano foi em busca de seu bebê, que ainda dormia no colo de Angelique. Queria adiar ao máximo a conversa com seu marido, para evitar outra discussão... Coisa que aconteceria, se falasse com ele naquele momento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? Deixem reviews dizendo o que gostaram, o que não gostaram, e o que esperam para essa história que está em sua reta final!