Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 24
Susto


Notas iniciais do capítulo

Meninas, esse capítulo vai ferver! Espero que não fiquem tensas demais... HAHAHA!
Quero agradecer nesse capítulo às fofas que comentaram no anterior - Sagatiba Duhrer, Lunática, Laynet, La Hermana - obrigada, meninas! Vocês são demais, e esse capítulo é para vocês!



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POV Christine:

Nem quero pensar em como aqueles dias foram difíceis! Não que cuidar de Madame Giry – que felizmente já despertara, e estava conseguindo se alimentar razoavelmente bem – ou Vivienne fosse particularmente trabalhoso, mas lidar com os olhares hostis e o medo velado – às vezes nem tanto – dos demais moradores da ópera, que pareciam realmente crer no que Alice dissera quanto a meu esposo haver atacado a coordenadora do teatro... Era extremamente cansativo, isso sem mencionar o verdadeiro pavor de que, a qualquer instante, os “homens da lei” viessem à procura de meu amado.

Entendam meu terror: para os inspetores e policiais não havia conversa ou explicação. Se estavam convencidos de que alguém era culpado, ou se tinham o dever de levar alguém sob custódia, não mediam forças para cumprir seu objetivo. E, caso o pior acontecesse, Erik não seria submisso... Uma tragédia aconteceria, certamente, mas nada havia que eu pudesse fazer; nenhum de nós podia concordar com a idéia de deixar a França, não enquanto Madame Giry estivesse tão doente. Só podíamos aguardar, enquanto meu esposo parecia trabalhar ativamente em algo que, agora, absorvia a maior parte de seu tempo. Maldição, Fantasma, que não estivesse derramando sangue outra vez, ou eu o faria se arrepender pelo resto de sua vida! Ah, onde estava o cordão do Punjab, quando dele se precisava?

Contudo, ficar aterrorizada não mudaria o quadro; como já pretendia, contratei o investigador particular Demian Lavern – um distinto senhor formado em advocacia – que apenas confirmou o que já esperava: seria praticamente impossível obter provas contra uma família tão poderosa – mesmo porque, ameaçar alguém em uma conversa não era crime – e mesmo o ataque a minha preceptora somente poderia ser provado como obra dos De Chagny se encontrássemos o criminoso. Naquele caso, apenas uma confissão e uma delação seriam provas suficientes para que alguma medida fosse tomada. Ainda assim, sempre havia a possibilidade de suborno dos juízes, fosse por dinheiro ou ameaças, ou mesmo uma combinação de ambos. Em conversa com Erik, ele sugerira comprar os juízes com suas próprias vidas, mas o risco seria alto demais para que eu aceitasse tal idéia; encarreguei o Sr. Lavern não apenas de manter vigilância sobre os passos da família de Raoul, mas também de procurar um modo de livrar meu marido das falsas acusações que pudessem ser feitas contra ele, no caso de Antoinette.

– Madame Giry chegou a ver seu atacante? – perguntara-me o investigador, certa tarde.

– Creio que sim, todos nós vimos: eu, Erik e Meg. Madame chegou a lutar contra ele, mas o homem estava de máscara... Não sei se poderia reconhecê-lo.

– Mas ela poderia afirmar que não se tratava de seu esposo, Sr.ª de Guise?

– É claro! Erik chegou enquanto o homem tentava estrangulá-la!

– O depoimento dela poderia livrar seu marido... Como é o depoimento da vítima, com certeza terá grande peso. Isso se o promotor não for comprado para fazer seu testemunho soar duvidoso, ou obra de intimidação.

– Contratei o senhor como nosso advogado – respondi – e preciso, portanto, que prepare uma excelente defesa, se for necessário. Comece a trabalhar nisto já.

– Como quiser, Madame de Guise. Melhor prevenir do que remediar. – depois disso havíamos conversados sobre outras formalidades legais, antes que ele deixasse o teatro e eu voltasse para junto de Madame Giry. Não estava tranqüila, mas pelo menos sabia que teríamos uma chance.

***

Na manhã seguinte – dez dias após o ataque que quase matara Madame Giry – eu havia acabado de sair dos ensaios, e seguia para a enfermaria. Estava no hall de entrada, acompanhada de Meg e Angelique, quando algo inesperado aconteceu: quatro homens – um de terno e os outros de farda – entraram pela porta principal e vieram em minha direção. Senti uma pedra de gelo se formar em meu estômago, e entregando Vivienne para Meg, sussurrei-lhe:

– Saia daqui, Meg. – Então assumi a postura mais natural que já tivera, e informei aos recém-chegados, com falsa inocência – Ah, senhores, lamento dizer que só estaremos abertos à noite. Os ensaios estão em curso, no momento, e visitas iriam perturbá-los.

O homem de terno ignorou minhas palavras e dirigiu-se a mim, incisivo:

– É a senhora Christine de Guise?

– Sim – respondi, sentindo-me empalidecer a despeito de meus esforços para agir normalmente – Por que a pergunta?

– Seu marido é acusado de atentar contra a vida de uma pessoa deste teatro – ele me mostrou um papel pelo qual meu amado era acusado de tentativa de assassinato; eu devia estar muito branca, pois Angelique me segurou pelos ombros – Queremos saber onde ele está.

Eu forcei um sorriso e dei de ombros, em minha melhor atuação de esposa servil e inocente:

– Eu não sei onde ele se encontra. O senhor meu marido não me deve explicações quanto a onde vai, nem porquê. – dei a mão para minha amiga, que apertou suavemente meus dedos na tentativa de me acalmar – Então, lamento, senhores, mas não posso ajudar.

Ia virando-me de costas para deixar o local, quando o homem de terno – um delegado ou algo que o equivalha – perguntou, ríspido:

– Não lhe importa que seu esposo tenha tentado assassinar alguém?

– Ao que me consta, este papel se trata de uma notificação de acusação; isso o torna suspeito do crime, não oficialmente culpado. E não acredito minimamente que ele tenha feito algo assim. De qualquer modo, não posso ajudá-los, pois não sei onde ele se encontra. – e tentei sair. Um dos policiais segurou-me pelo braço, não com muita força, mas o bastante para me assustar; o susto foi mais do que pude agüentar, e desferi um tapa no rosto de quem me segurava, percebendo um segundo tarde demais a besteira que fizera.

Levando a mão ao rosto golpeado, o soldado me fuzilou com os olhos; sem palavra, puxou sua arma do coldre e a apontou para mim – se antes estava apreensiva, agora passara ao pavor! – ameaçando:

– Eu não vou falar de novo, mocinha: diga onde está seu marido. – seus colegas se revoltaram e um deles protestou:

– capitão, isso não é certo! Ela é apenas uma menina... – mas aquele a quem chamavam de capitão o silenciou:

– Ela está obstruindo uma investigação, o que a torna tão criminosa quanto seu marido, senhores – e de novo para mim – Este é o século dezenove, senhora, e não os tempos da cavalaria; tenho permissão para tomar as medidas que forem necessárias. Colabore conosco, ou puxarei o gatilho – e apontou para minhas pernas – uma bailarina consegue dançar com os joelhos estourados?

Eu me mantive firme e silenciosa, embora minhas pernas tremessem como gelatina, e o encarei com olhar de ódio. Revoltada com aquilo, Angelique colocou-se à minha frente:

– Isso é ridículo! Ameaçar de mutilação uma garota, apenas porque não sabe responder a sua pergunta?! Devia ouvir seus colegas, capitão, pois embora ameaça ainda não seja crime, assassinato e mutilação o são! Abaixe essa arma!

– Assim que a senhora de Guise me disser onde está seu marido.

– Mas eu já disse que não sei! – exclamei, e dessa vez havia uma nota de pânico em minha voz. Eu pedia a deus que Erik não estivesse vendo aquilo...

– Sabemos que seu cônjuge, a quem chamam de Fantasma da Ópera, nunca deixa o teatro. Sabemos que ele está aqui, então diga logo, e torne tudo mais fácil para nós todos. Tem três segundos.

Fechei os olhos, esperando pela dor da bala acertando minha perna, mas ela não veio; de repente uma voz masculina, que eu conhecia perfeitamente bem, ecoou pelo amplo saguão de entrada:

– Abaixe essa arma, capitão. Não há necessidade disso: é óbvio que as moças já estão apavoradas o bastante. – eu não sabia se corria, se gritava a meu marido para deixar de ser idiota e sair dali, se caía no choro ou se consolava Angelique, que estava tão trêmula quanto eu. Acabei por seguir a última opção, e ali permanecer para saber o que aconteceria.

– Erik de Guise? – perguntou o homem de terno.

– Exatamente – respondeu Erik. Ele não usava sua capa, mas trazia o florete na cintura; Erik, seu imbecil! Achava mesmo que daria conta de quatro homens armados com pistolas, usando apenas um florete?! – abaixe a arma, capitão, e deixe minha esposa e sua amiga em paz. Ou está com tanto medo que precisa ameaçar as damas para se sentir mais confiante?

O “capitão” guardou sua pistola de volta no coldre, ruborizado, enquanto meu Anjo descia as escadas com aparente despreocupação. Veio direto para mim e me abraçou, perguntando:

– Você está bem, querida? – eu assenti e voltei para junto de Angelique, abraçando-a pelos ombros. Afastamo-nos um passo, enquanto o fantasma se voltava para os oficiais, sério e ameaçador – O que desejam, senhores? Espero que haja um bom motivo para terem apontado uma arma para minha esposa.

– Temos ordem de levá-lo sob custódia pela tentativa de assassinato de Antoinette Giry. – respondeu o homem de terno, estendendo para meu amado o papel que me mostrara.

– Não vejo uma ordem de prisão. – respondeu Erik, com desprezo na voz – Isto é uma notificação de acusação, não um mandado de prisão.

– Ainda assim, temos ordens de levá-lo.

– Creio que não possa aquiescer, oficiais. Ser acusado não me torna culpado pelo crime, e tampouco têm evidências que me tornem um réu; posso ser, no máximo, suspeito. Onde estão as provas que me ligam ao crime?

– Isso lhe será dito no tribunal. Faça o favor de nos acompanhar.

Os olhos de Erik brilharam perigosos, mostrando que ali ele estava prestes a assumir seu lado mais mortal como Fantasma:

– Acho que não. Tragam-me um mandado de prisão, e os acompanharei sem questionar. – E ante o silêncio dos enviados – Ah, claro, vocês não têm provas o bastante para isso, não é? Bem... Neste caso, creio que nossa conversa está encerrada.

– Se não colaborar, usaremos a força que for necessária – rosnou um dos soldados, levando a mão à coronha da arma.

– Gostaria de vê-los tentar – tornou meu esposo, desembainhando o florete. Não, seu idiota! Pare de provocá-los! Você NÃO É IMUNE A BALAS!

Mas antes que algo trágico acontecesse, uma voz feminina se fez ouvir ali, ainda rouca e fraca, mas perfeitamente audível:

– Mas que loucura se passa em meu teatro?! – Madame Giry, usando seu vestido negro e em sua melhor postura de ex-bailarina, aproximou-se com passos curtos e rápidos que disfarçavam seu leve cambalear – Pode guardar o florete, Erik! Não quero sangue sujando as escadas de mármore!

Ela se colocou entre Erik e os policiais, perguntando:

– Posso saber o que acontece aqui?

– Devemos levar este homem, Madame – respondeu o delegado (ou pelo menos parecia ser um) – Mas ele oferece resistência.

– Pensei que só havia um crime se a vítima prestasse queixa. Como a vítima, no caso, sou eu... Como pode haver-se configurado um crime?

– Houve uma testemunha, e o caso foi aberto com base no depoimento desta pessoa, mas a senhora será convocada para dar sua versão dos fatos, é claro.

– Devo, portanto, deduzir que têm uma investigação em curso, mas não um caso pronto para ser levado a júri? – e ante o silêncio de seu interlocutor – eu já imaginava. Bem, senhores, este ainda é o MEU teatro, e digo que não levarão ninguém, a menos que apresentem um mandado formal de apreensão. Mandado que não conseguirão, uma vez que faço questão de depor, e deixar bem claro que o homem acusado de ser meu atacante, em verdade salvou minha vida! – ela estava pálida, e eu sabia que o esforço estava sendo grande demais, mas não podia desautorizar Madame Giry demonstrando o quão fraca se sentia.

Com passos nervosos, ela conduziu os oficiais para fora:

– Façam-me o favor de sair: a porta é serventia do teatro! E nem se preocupem em retornar, ou irei pô-los daqui para fora a golpes de palmatória, como se fossem as meninas das quais cuido!

Eu e Erik nos entreolhamos, perplexos: Madame Giry expulsara aqueles homens com meia dúzia de palavras! Como conseguira?!

Corremos para ela assim que a porta se fechou, e meu esposo a ergueu nos braços no exato momento em que os joelhos dela cederam de fraqueza. Ele a levou de volta à enfermaria, onde a deitou cuidadosamente na cama, agradecendo:

– Estou em débito para com você, An. Obrigado por nos ajudar.

– Aqueles cretinos! – respondeu ela, zangada – não sabem diferenciar um mosquito de uma varejeira, e pensam-se no direito de dar ordens. Ha! Não no MEU teatro! – e despenteando os cabelos de Erik – tenho protegido você por anos demais para que quatro infelizes ponham tudo isso a perder. Agora, deixe de ser tolo, e NUNCA MAIS lance um desafio descabido como o que fez nas escadas!

– Eu prometo – disse ele, sorrindo, enquanto eu abraçava Madame e lhe agradecia também. Pelo menos por hora, graças a Madame Giry, estávamos a salvo.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?