Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 21
Visita


Notas iniciais do capítulo

desculpem a demora, mas estou com um monte de fics em andamento! Espero que curtam esse capítulo, porque a coisa está começando a ficar feia... altas confusões pela frente!



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Duas semanas se passaram desde a desagradável visita de Marie de Chagny; confesso que ainda me encontrava muito tentado a usar o laço do Punjab naquela garganta magra, mas isso seria, no mínimo, uma insensatez. Especialmente ao considerar que, nos últimos dez dias, homens estranhos haviam passado a vigiar o teatro, ora observando da rua, ora passeando pelas áreas abertas da Ópera. Se eu queria matá-los? Com certeza: eram homens do Visconde! Mas assassinar alguém estava fora de cogitação – creio que Christine usaria o cordão de estrangulamento em meu pescoço, se eu me atrevesse a matar alguém, naquela situação.

Ante a constante vigilância a que estávamos sujeitos, minha esposa insistira em que eu reassumisse a antiga discrição; mesmo a contragosto eu o fiz, não por mim, mas por minha mulher e filha. Quanto mais exposto eu ficasse, quanto mais fosse visto com elas, maior o perigo que atrairia para ambas; assim, voltei à antiga reclusão, mal saindo da Casa do Lago e, quando o fazia, não me deixava ver nem mesmo por nossos amigos mais próximos.

Madame Sourie retornara afinal à casa de campo, e Christine retomara os ensaios; não se apresentaria ainda, mas já se preparava para brilhar na estréia da próxima peça – Fausto – dentro de três semanas. Voltara também ao treino do balé, a fim de recuperar a força e agilidade que tinha antes da gravidez, e conseguia conciliar tudo isso com os cuidados com nossa filha, que crescia e engordava a cada dia. Vigiá-las das sombras era meu prazer pessoal, a única coisa que tirava de minha mente os pensamentos sombrios acerca de perigo, vingança e morte.

Durante esse período, continuei com minhas investigações, contando para isso com a ajuda de Meg e Madame Giry: uma visita ao hospital onde Carlotta estivera em tratamento, quando eu a desfigurara, foi o bastante para saber que a família de Chagny bancara a maior parte dos custos referentes ao tratamento – embora a administração tenha se recusado a fornecer informações, a encantadora menina Giry foi capaz de distrair o recepcionista e as enfermeiras por tempo suficiente para que eu encontrasse o prontuário de Carlotta e folheasse o livro-caixa. A cobertura da dívida ocorrera quinze dias após o acidente – exatamente a época em que o Visconde rolara as escadas -, concomitantemente a uma série de visitas feitas por Marie e Lucy de Chagny – respectivamente mãe e irmã de Raoul.

Depois que a ex-Primeira Dama deixara o hospital, seu rastro ficara apagado por alguns dias. A documentação de data mais próxima que consegui encontrar – ou melhor, que Madame Giry conseguiu encontrar – foi o aluguel do sobrado que era sua atual residência, o qual se encontrava em nome de Robert Danton – por acaso, o contador da família De Chagny. Aquilo era o mais óbvio caso de testa-de-ferro que eu já conhecera! Mas o contrato fora rescindido mediante a interdição da mulher, que agora se encontrava internada no manicômio municipal; talvez fosse hora de fazer uma visita a meu antigo desafeto... E seria melhor não deixar Christine saber de meus planos: ela já estava sob pressão o bastante cuidando de Vivienne, ensaiando e mantendo vigilância sobre os homens do Visconde, para se certificar de que não machucariam alguém a fim de me incriminar. Era impossível dizer o quão grato eu me sentia em relação à minha querida deusa das artes.

*

Levantei-me bem cedo na manhã seguinte, ao nascer do sol. Ao meu lado, Christine dormia tranquilamente: ela era tão linda, com sua pele pálida, rosto de menina e cabelos escuros que a faziam parecer um pequeno anjo! Não resisti a me curvar sobre ela e beijar delicadamente os lábios rosados e macios; ela suspirou e abriu os olhos, sorrindo-me e tocando meu rosto:

– Bom dia, meu amor.

– Bom dia, minha musa – sussurrei de volta, beijando-a outra vez – volte a dormir, querida. Ainda é cedo.

– Vai sair agora? – perguntou ela, sentando-se na cama.

– Tenho coisas a resolver, meu amor: se não for agora, só voltarei após o anoitecer. Volte a dormir.

– Primeiro, vou buscar Vivienne – disse ela, levantando-se e indo para o quarto de nossa filha, a qual trazia nos braços ao retornar: a pequena estava desperta e sorria. Não pude me impedir de sorrir ao pegá-la no colo, contemplando seus olhos verdes cheios de curiosidade.

– Cuide de sua mãe por mim, está bem? – brinquei com minha garotinha, vendo-a rir novamente; nunca antes eu imaginaria que era possível amar tanto outro ser! Observá-la e ver que se parecia comigo enchia-me de inexplicável orgulho, ao mesmo tempo em que aumentava o ódio por qualquer um que ousasse querer feri-la – Você vai me dar muito trabalho, quando crescer, sabia disso? Vai ser a causa da morte de muitos garotos...

Christine riu, e seu sorriso era o espelho da felicidade quando me abraçou; entreguei-lhe o bebê, afagando uma última vez os cachos negros da cabeça delicada, e beijei minha mulher antes que ela se dedicasse a acomodar Vivienne entre os travesseiros, buscando deixá-la confortável.

Terminei de me vestir, coloquei uma máscara negra que cobria toda a metade superior de meu rosto, enverguei minha capa e prendi o florete ao cinto; minha esposa se alarmou ao vê-lo, e perguntou com seriedade:

– Erik, para que o florete?

– Não vou matar ninguém, meu amor, mas sair pelas ruas de Paris desarmado seria tolice.

– Você vai visitar Carlotta, não é? – raios, como ela sabia disso?! Eu não respondi, mas meu silêncio era toda a resposta de que ela precisava – Tome cuidado, meu amor. Não se arrisque sem motivos.

– Preciso saber exatamente o que pretendiam que Carlotta fizesse, Christine. Ela é a única que pode me responder.

– Leve alguém consigo, por favor! – pediu ela, saltando da cama e vindo me abraçar, seu olhar toldado de preocupação – Não vá sozinho!

– Madame Giry e Piangi irão comigo. – tranqüilizei-a – isso a acalma?

De imediato vi o alívio no semblante de minha amada, que assentiu e suspirou; beijei-lhe a fronte, tentando passar segurança a ela, mas o que ocorreu foi o contrário: meu coração, que eu não percebera estar acelerado, se acalmou, e senti toda a tensão e raiva se dissiparem quando as mãos pequenas deslizaram por meu rosto. Ah, minha bela ninfa... Saberia Christine o poder que tinha sobre mim?

Despedi-me com um beijo e deixei o quarto, seguindo direto para a passagem que me levaria ao pátio; lá fora, Madame Giry e Ubaldo Piangi já me aguardavam, diante da carruagem que eu contratara no dia anterior.

Entramos os três na condução, silenciosos e sérios: sabíamos que seria um encontro desagradável, porém necessário. Olhando para meu amigo, soube que ele sofria por Carlotta, e não pude deixar de sentir-me culpado, de certa forma; ele a amava, e nem imagino o quão difícil devia ser, para o tenor, suportar aquela situação. Ele era muito mais honrado do que se podia imaginar: mesmo com o coração partido, ajudava o homem que desfigurara sua amada, simplesmente porque era o certo a fazer. Eu o admirava por isso.

*

Nunca imaginei que um ser humano pudesse chegar a tal ponto de degradação: Carlotta não era mais que a sombra do que um dia já fora, estando terrivelmente magra, com olheiras profundas, cabelos baços e sem vida e um olhar perdido que se fixava por horas no nada. Embora se houvesse oferecido para nos acompanhar, Piangi não suportou a cena por muito tempo, e retirou-se depressa para o hall de entrada. Madame Giry, por sua vez, apenas silenciou junto a mim... Parecia que eu teria de falar sozinho, então...

Aproximei-me da cantora cautelosamente – a última coisa que eu queria era fazê-la ter outro surto antes de saber o que precisava – e sentei-me numa cadeira de frente para ela. O médico dissera que ela alternava momentos de extrema lucidez com períodos onde não sabia quem eram as pessoas... E nesses momentos falava livremente sobre qualquer coisa. Carlotta apenas fitava o vazio, como o médico dissera que passava várias horas por dia fazendo; segurei-lhe a mão com toda a gentileza que pude reunir, e fiz com que me encarasse. Foi só quando seus olhos adquiriram algum foco que, finalmente, perguntei:

– Carlotta, sabe quem eu sou? – ela parecia não saber sequer o próprio nome, mas não custava tentar...

Ela apenas respondeu com um movimento negativo de cabeça, pelo que fiquei muito grato – se ela me reconhecesse, com certeza teria outro surto. Hora de criar uma farsa muito bem consistente para levar a conversa adiante:

– Meu nome é François Marnie – menti a ela – estou investigando um crime, e preciso que me responda algumas perguntas. Você compreendeu?

– Sim – respondeu ela; eu nunca vira aquela mulher tão apática, e quase pude sentir pena dela – o que precisa saber?

– Sei que você recebeu os cuidados da família De Chagny; por quê?

A mulher pareceu se perder em pensamentos, como se fizesse um grande esforço para se lembrar do que acontecera; afinal, volto os olhos para Erik e respondeu:

– Mais ou menos à época em que fui ferida, o filho mais velho da família sofreu um atentado contra sua vida, mas não havia evidências. A família queria que eu os ajudasse a preparar uma cena que levaria o culpado pelo crime à cadeia.

– Que cena? – perguntou Madame Giry, sentando-se numa cadeira ao lado de Erik.

– Um assassinato: enforcamento, de preferência.

– Mas você atacou a Primeira Dama da Ópera Populaire...

– Não era isso o que devia fazer. – respondeu ela, apática – eu devia machucar alguém do teatro e deixar uma mensagem assinada pelo Fantasma da Ópera. Mas não resisti, quando vi aquela vadia que roubou meu lugar! – a mulher começou a se alterar - Maldita! Maldita! Demônio invejoso! Víbora traiçoeira! Ela me destruiu! Ela destruiu tudo o que eu era! – seus olhos se fixaram em Erik, e ela o reconheceu. De um salto, ela se ergueu e tentou agredi-lo – Você! MONSTRO! Monstro!

Erik segurou-a com firmeza pelos pulsos, contendo-a, enquanto as enfermeiras corriam em intervir. Foram necessárias três mulheres para segurá-la e tirarem-na dali; o Fantasma apenas observou enquanto a mulher era arrastada aos berros para fora do aposento... Sentia-se mal pela ex Primeira Dama, mas nada havia que pudesse fazer: ela cavara a própria sepultura com seus atos, e agora devia suportar as conseqüências.

Madame Giry fitava o Anjo com olhos assustados, visivelmente abalada em ver a decadência da mulher a quem conhecera por tantos anos. Embora o gênio da soprano beirasse o insuportável, era alguém que fizera parte de seu convívio por um longo tempo, e vê-la daquele modo partia o coração da mulher. Com um tom de pesar na voz, ela segurou o braço do Fantasma e falou baixinho:

– Venha, Erik: vamos embora. Já descobriu o que queria, meu amigo.

Anuindo, eu segui minha velha amiga para fora daquele lugar deprimente, onde eram despejados todos os indesejados pela sociedade; muitos não eram insanos, não teriam de estar ali... Mas seu modo de pensar era diferente demais do considerado “normal” para que pudessem viver em meio a tão hipócrita sociedade. Aquilo me enchia de raiva, mas nada havia que pudesse fazer.

Encontramos Piangi do lado de fora, o rosto molhado de lágrimas; mais uma vez senti a culpa me acometer. Segurando o ombro de meu amigo, não contive o impulso de dizer:

– eu realmente lamento por isso, Ubaldo. Se houver qualquer coisa que eu possa fazer, diga-me. – e após um segundo de hesitação – perdoe-me pelo que fiz a sua amada.

– Fez o que fez para proteger sua noiva. Carlotta, de certo modo, pediu pelo que lhe aconteceu, pois teria feito o mesmo a Christine. Mas eu vou levá-la para minha casa, Erik – disse o tenor – vou cuidar dela. Minha querida nunca foi uma flor de pessoa, mas não merece ficar neste lugar... Ela já pagou o bastante por seus crimes, e seus últimos atos foram provocados pelos De Chagny. Eles quebraram sua mente... – havia ódio nos olhos de Piangi – Odeio-os tanto quanto você. Se houver qualquer coisa que eu possa fazer, diga-me.

Anuí, prometendo a meu amigo que o faria. Antes que entrássemos no cabriolé, ele ainda me disse:

– Prometa que, se for necessário derramar sangue, deixará que eu o faça.

– tem certeza de que é isso o que quer?

– é tudo o que mais quero. – respondeu ele. Madame Giry apenas nos observava, emudecida, observando a situação. Finalmente, subimos os três na diligência, que se pôs em movimento. A visita nos dissera pouca coisa, mas esclarecera o primeiro plano dos De Chagny... E todos na ópera estavam em perigo, até que lidássemos com a maldita família do Visconde.


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Notas finais do capítulo

e então? o que acharam?

ah, gente, queria indicar uma história - não tem a ver com o fantasma, mas é linda de qualquer jeito! Chama-se Um Outro Lado da Meia-Noite, e conta a história de uma feiticeira que sofre uma maldição, a qual a condena a passar metade de seus dias na forma de um gato. História linda!
http://fanfiction.com.br/historia/544239/Um_Outro_Lado_da_Meia-Noite/