Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 18
Vivienne


Notas iniciais do capítulo

Sem Spoilers! Divirtam-se lendo o capítulo!



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Erik mordeu os lábios ao ouvir o grito abafado de Christine: por Deus, até onde seguiria aquela tortura?! Recostada contra a pilha de travesseiros, sua esposa tinha o rosto retorcido numa expressão de dor enquanto outra violenta contração percorria-lhe o ventre; os dedos enfaixados da jovem se fechavam em torno da mão do Fantasma, apertando com força – o sangue já recomeçara a verter dos ferimentos! – pelo tempo que durou a dor.

– Por favor, Antoinette! – exclamou o Anjo da Música – Quanto tempo mais isso vai demorar?! Ela está sofrendo assim há horas!

– Não há muito mais que possamos fazer, Erik – respondeu Madame Giry – podemos ajudar Christine, mas é o corpo dela que tem de fazer o trabalho. Se apressarmos demais o parto, sua esposa pode ter uma hemorragia grave.

Com um olhar de desespero para a mulher a quem amava mais do que à própria vida, o músico insistiu:

– Mas não há nada que possam fazer para aliviar a dor?

– Já fizemos tudo o que poderia ajudá-la, senhor – explicou Annelise – o parto, embora doloroso, está correndo muito bem. Está mais lento do que esperávamos, pois a senhora Christine é uma mulher miúda...

– E o bebê é realmente grande – completou Antoinette – na verdade, quanto mais devagar tudo se passar, menos traumático será para o corpo de Christine.

Erik ia protestar, mas calou-se ao sentir a mão de sua amada buscar a sua outra vez, quando outro espasmo a afligiu. Com um sorriso compadecido, Madame Sourie se aproximou de sua patroa e falou:

– curve-se para frente, querida – ela ajudou a garota a se inclinar e fez o Fantasma amparar a esposa naquela posição – respire fundo, e tente relaxar os músculos das costas e das pernas – com movimentos automáticos de quem já fizera aquilo muitas vezes, a ama deslizou os dedos ao longo da coluna da parturiente, pressionando pontos precisos que aliviariam a dor. – melhor?

– Muito – respondeu a jovem ofegante, esboçando um sorriso grato – obrigada.

– Recoste-a, Erik – orientou Madame Giry, colocando mais um travesseiro sob as costas da moça; quanto mais ereta ela ficasse, mais o próprio peso do bebê ajudaria no nascimento. Delicadamente, palpou novamente a barriga de sua filha adotiva, sentindo a posição da criança – muito bem, querida: seu bebê está chegando. Na próxima contração, comece a empurrar outra vez.

Christine anuiu, cansada demais para responder após mais de dez horas em trabalho de parto; Meg, que se mantinha mais afastada para não atrapalhar, aproximou-se e umedeceu com um lenço a testa da amiga, limpando-lhe o suor do rosto. Nesse momento iniciou-se outra contração – os intervalos estavam cada vez menores! – e a dama curvou-se para frente, usando de toda a sua força para empurrar, enquanto sua mão estrangulava o braço do Anjo. Este apenas apoiava as costas de sua amada com a mão livre, angustiado e sentindo-se horrível por não poder fazer absolutamente nada além de ficar ao seu lado!

– Erik... – a dama chamou por seu amado num soluço breve de sofrimento, buscando algum tipo de conforto e segurança em meio ao medo; ele lhe acariciou a face e sussurrou ao seu ouvido:

– Estou aqui, meu amor. Respire fundo, e tente se acalmar: está quase no fim. Está se saindo muito bem.

– Mamãe – chamou a menina Giry – as mãos dela estão sangrando outra vez!

– Ah, droga! – Madame Giry se aproximou para trocar as bandagens que envolviam as mãos cortadas da parturiente, mas Erik a impediu:

– deixe: eu faço isso. – e como se houvesse feito aquilo toda uma vida, retirou as faixas já sujas de sangue, substituindo-as por bandagens limpas, as quais apertou suavemente em torno das palmas e dedos de sua esposa. Ela lhe lançou um olhar agradecido e sorriu brevemente entre duas ondas de dor.

Uma longa e agonizante hora se passou, durante a qual o parto começou a evoluir mais depressa; se antes as dores vinham em ondas, agora a mulher sentia como se seu abdômen estivesse sendo rasgado ao meio enquanto percebia o bebê a abrir caminho através de seu corpo. Trincando os dentes para suportar o sofrimento, ouviu afinal Madame Sourie lhe dizer:

– Certo: use toda a sua força, agora, e isso vai acabar. – Com as últimas forças que tinha, Christine empurrou uma última vez, tendo a nítida sensação de que todos os ossos de seu corpo estavam se partindo; sua visão escureceu por um instante, e ela ouviu o próprio grito agudo de agonia antes que, tão subitamente quanto começara, a dor simplesmente desaparecesse. Por um instante tudo foi silêncio, e então um choro vigoroso preencheu o lugar.

POV Christine

Quando ouvi o choro de meu bebê, tudo o mais perdeu importância: a dor, o cansaço, nada disso importava! Eu apenas queria vê-lo, saber como era, ver seu rosto! Em meio à vertigem que ainda sentia, ouvi Erik sussurrar para mim:

– Temos uma menina, meu amor. – ele me beijou a testa, carinhoso – uma menina linda como você!

Ansiosa por ver minha filha, ergui-me como pude, sendo delicadamente contida por Madame Giry:

– Devagar, criança, devagar – com um sorriso radiante, ela pôs em meus braços aquele pequeno ser que se agitava e gritava a plenos pulmões, parecendo revoltado em ter sido tirado do aconchego e calor que conhecera até então.

Meus olhos se encheram de lágrimas quando recebi a pequenina, sentindo meu esposo passar os braços ao meu redor, protetor e orgulhoso, suas mãos grandes sobre as minhas enquanto, fascinados, conhecíamos nossa filha: era grande para um bebê recém-nascido, e mesmo o sangue que a cobria não conseguia esconder a alvura de sua pele delicada. Os cabelinhos eram uma mancha negra – iguais aos de Erik! – e, para nossa surpresa, seus olhos estavam abertos e arregalados, olhando curiosamente para nós... Olhos grandes e brilhantes, que pareciam duas esmeraldas polidas. Chorei copiosamente, abraçando aquela criaturinha frágil, tomada de um amor muito mais profundo do que jamais poderei descrever!

Envolta nos braços de meu Anjo, senti suas lágrimas caírem em meu ombro; sorri radiante e voltei-me para ele, cruzando nossos olhares; ele me beijou outra vez, e fitou nossa filha, sussurrando o nome que já havíamos escolhido, caso o bebê fosse uma menina:

– Vivienne. – os dedos dele lhe acariciaram a bochecha com cuidado, como se temesse machucá-la com um simples toque – nossa filha, minha Christine.

– Sim, meu amor... – fechei os olhos, emocionada, imersa na mais pura paz e contentamento - Nossa filha.

Compartilhamos por alguns momentos daquele instante de puro êxtase, até que Madame Sourie se aproximou com um sorriso:

– Deixe-me cuidar dela: vou banhá-la e vesti-la, mas prometo devolvê-la logo. – ela segurou Vivienne com uma firmeza e segurança que denotavam sua prática com crianças. Enquanto isso, Madame Giry se voltou para mim:

– Precisa se lavar, minha querida – e se dirigiu a meu esposo – se puder ajudá-la a se banhar, eu e Meg iremos preparar o quarto, para que Christine possa descansar.

Sem esperar um segundo pedido, meu amor me ergueu nos braços; não pude evitar um gemido de dor – a sensação era a de ter sido espancada – ao ser tirada do leito, mas tranqüilizei-o com um sorriso:

– Apenas dolorida, meu Anjo. Ficarei bem. – ele sorriu com os olhos enquanto levava-me para o banheiro da enfermaria, sentando-me cuidadosamente numa cadeira antes de se dedicar a encher a banheira.

Com a ajuda de meu amado, tirei o vestido sujo de sangue e entrei na água, sem conseguir evitar um gemido de alívio ao sentir o líquido morno em meu corpo dolorido. Erik não me permitiu tirar as faixas que apertavam meus dedos, fazendo questão de me banhar, indiferente aos meus protestos. Com gestos firmes e carinhosos, tirou-me da água e me ajudou a me secar, vestindo-me então com uma camisola que Madame Sourie trouxera; finalmente, tomou-me nos braços e carregou-me não para a enfermaria, mas para meus aposentos de Primeira Dama, onde Madames Giry e Sourie nos aguardavam com Vivienne.

Confortavelmente acomodada em minha cama, recebi Vivienne nos braços, ansiosa por tê-la junto a mim; ela emitia um chorinho zangado de fome, e não esperei mais para amamentá-la: sentir sua boquinha se fechar em meu seio e sugar com força foi uma experiência totalmente nova... Estranha e prazerosa, uma sensação de afeto, amor, cuidado, ternura... Meu coração transbordava de amor por aquela garotinha! Parecia que, do momento em que ela deixara meu corpo, também minha alma o fizera. Ali, em meus braços, estava a razão de minha vida: o pequeno milagre que Erik e eu havíamos criado juntos.

POV Erik

Eu não tinha palavras para descrever o que aquela cena provocava em mim: minha amada, tão abatida e exausta após as longas horas de dor, tinha o mais luminosos sorriso que eu já vira, enquanto amamentava pela primeira vez. E vê-la daquele modo: tão frágeis, delicadas e vulneráveis, tão expostas e plenas no amor puro que parecia envolvê-las, despertava em mim um sentimento protetor furioso, uma terrível ansiedade de mantê-las à salvo, de cuidar de minha esposa e filha.

Sentei-me junto a Christine, meus olhos marejados de lágrimas ao observar aquela linda criaturinha rosada que se alimentava furiosamente, alheia ao resto do mundo. Sem experiência com crianças, tive medo de machucar minha filha ao acariciá-la – ela parecia tão pequena e indefesa, a despeito do que Madame Giry dissera sobre ser um bebê grande! – mas minha amada o percebeu: com carinho, conduziu minha mão até a cabecinha cheia de cachos negros, ensinando-me a afagar minha filha.

Sorri sem pudores ao sentir aquele minúsculo corpo reagir ao meu toque, virando a cabeça com um gemidinho zangado por deixar o seio da mãe escapar da boca; Christine riu, deliciada, e acomodou Vivienne outra vez, murmurando-lhe embevecida:

– É seu pai, meu amor! Ele está assim por sua causa! – os olhos de minha deusa brilharam ao me fitar, transbordantes de amor e alegria – Nós estamos assim por sua causa, querida Vivienne!

Madama Giry e Annelise trocaram um olhar cúmplice e satisfeito, vindo então em minha direção:

– segure sua filha no colo, homem! Ela não é um cristal frágil!

Por um instante, meu coração congelou de apreensão: como eu iria segurar algo tão pequeno e delicado, tão vulnerável e frágil?! Tentei recusar, mas mesmo Christine gostou da idéia e, movendo-se no leito como podia, aproximou-se ainda mais:

– Segure-a um pouco, meu amor; ela não é tão delicada quanto parece, e vai ficar feliz em sentir o papai ao seu lado – ela me mostrou como posicionar o braço para amparar a cabeçinha de Vivienne, enquanto Antoinette transferia aquela criaturinha delicada para meu colo. Incerto pela primeira vez quanto ao que fazer, fixei os olhos no rosto de minha filha, e nesse momento minhas últimas reservas e medos se desfizeram completamente... Guiado por uma espécie de instinto que não sabia possuir, envolvi o bebê com os braços, aninhando-a contra meu corpo, aquecendo-a, confortando-a. Beijei-lhe a fronte perfeita e acariciei a bochecha rosada, em estado de total admiração e rendimento. Não importava o quão difícil fosse crer em tamanha felicidade, pois ela era minha filha; e eu estaria lá para protegê-la, ensiná-la e amá-la a cada segundo de nossas vidas.

– Viu? Não é tão difícil assim, é? – perguntou-me Meg, quando afinal passou o bebê de volta para os braços de Christine. Eu apenas sorri e me aproximei de minha esposa, envolvendo-a num abraço cuidadoso. Enquanto a pequenina mamava, Madame Sourie se manifestou:

– Bem, Christine terá de ficar aqui, no quarto de Primeira Dama, até se recuperar do parto. Sei o quanto vocês apreciam seu castelo subterrâneo, mas tanto sua esposa, quanto sua filha, precisam de luz e ar fresco em quantidade!

– Então, elas ficarão aqui. Cuidarei para que nada as deixe desconfortáveis – assegurei, afastando uma mecha rebelde da fronte de minha amada e beijando-a.

– Muito bem... – Antoinette sorria de orelha a orelha, radiante e orgulhosa – tudo de que nossa jovem mamãe precisa, agora, é de descanso. – Ela me ajudou a arrumar os vários travesseiros ao redor de minha esposa, de modo a mantê-la o mais confortável e estável possível; já se rendendo à exaustão, minha musa acomodou o bebê adormecido contra o próprio peito e deixou-se afundar um pouco nos suportes macios. Antes que disséssemos qualquer coisa, estava em sono profundo.

Fiquei sentado junto à cama por alguns instantes, contemplando a bela e inacreditável visão: minha esposa e minha filha, as duas pessoas por quem nutria um amor sem quaisquer limites! Imagino que devesse parecer sem reações, mas a causa disso era a sensação de perplexidade e incredulidade que ainda me acometiam; tentando não revelar o quanto o nascimento de nossa filha me abalara e emocionara – lutava contra lágrimas engasgadas, voltei-me para minhas amigas:

– Obrigado por tudo o que fizeram, Madames. Gostaria de poder retribuir de algum modo todo o cuidado e atenção que dispensaram a Christine.

– Não seja tolo, Fantasma! – repreendeu-me Annelise, de brincadeira – Amamos essa garota de todo o coração! É claro que cuidaríamos dela! Mas se acha que deve retribuir de algum modo... Fique ao lado de sua esposa. Quando sairmos, deite-se junto dela, permita que ela sinta seu calor e saiba que você está lá por ela... Por elas duas.

– Christine estará exausta e dolorida nos próximos dias, e seu afeto a ajudará a se recuperar mais depressa. Mas sei que não preciso ensinar isso a você, não é, Erik? Tire a máscara de cima do coração, e apenas esteja com sua esposa e filha. Elas precisam disso. Você precisa disso. – num ato que eu jamais esperara, Antoinette se aproximou de mim e me abraçou fraternalmente, sem receio – Seja feliz, meu amigo!

Retribuí o abraço dela, apenas para ser envolvido também nos braços de Annelise e Meg – mas o que, raios, acontecera com aquelas mulheres para perderem o medo de me tocar?! Antes que perdesse os últimos fios de controle que ainda me permitiam manter a aparência de Fantasma da Ópera, afastei-me levemente e beijei-lhes a mãos, agradecendo. Foi só quando elas deixaram o quarto que, enfim, permiti-me derramar todas as lágrimas que queria: lágrimas de júbilo, felicidade, contentamento. Lágrimas de quem fora contemplado com o maior dos presentes!

Livrando-me da capa, das máscara, do casaco e dos sapatos, deitei-me na cama ao lado de minha mulher e passei um braço em torno de seu corpo miúdo; ela gemeu e se moveu, aninhando o rosto em meu ombro com um sorriso de prazer. Aconchegada no braço da mãe, Vivienne ressonava baixinho no sono tranqüilo que só os inocentes têm; trouxe a ambas para tão perto de mim quanto poderia, deixando-me também mergulhar na paz e no calor daquele instante. Estava, afinal, com minha família.


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Notas finais do capítulo

Awnnn... Eu confesso que estou derretendo. Erik papai é tão... Fofo!
Mas os problemas pra nosso casal não acabaram de todo: ainda há alguém que lhes quer muito mal, e que esteve por trás do ataque de Carlotta. Podem imaginar quem?! HUAHUAHUA!
Sem spoileeeeers!
Brincadeiras à parte, queria agradecer à diva da Laynet por comentar em todos os capítulos (ah, ela está escrevendo uma fic ótima sobre o Fantasma da Ópera: chama-se Diabolik Lovers). Quanto às minha outras queridas leitoras, eu gostaria de pedir que tentassem comentar pelo menos de vez em quando... Não dói, afinal, né?
beijos grandes para todas, e até o próximo capítulo!