Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 10
Duas conversas delicadas


Notas iniciais do capítulo

O que acham que vai acontecer agora? MUAHAHAHAHAHA! Suspense!



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POV Erik

Escondi-me nas sombras, apenas observando enquanto aquele menino se aproximava de minha Christine. Ela chorava – eu nunca me perdoaria por isso! – e o garoto se aproximou, tocando-lhe o braço; voltando-se para ele, minha amada perguntou:

– O que faz aqui, Raoul?

– Preciso muito falar com você, Christine. Com tudo o que ocorreu ontem, não tive a chance de fazê-lo.

– Você não devia mais vir atrás de mim! – ela exclamou, saindo da capela a passos rápidos; De Chagny seguiu em seu encalço e segurou-lhe o braço com certa força, provocando-me uma quase irresistível vontade de matá-lo.

– Escute-me, pequena Lotte, por favor! Eu lamento muito pelo que lhe fiz, mas o que quero é exatamente reparar este mal!

– Você não compreende – sussurrou ela – Você corre perigo, se não me deixar em paz. Viu o que aconteceu com Carlotta!

– Não faltavam desafetos àquela mulher. Mas o que isso tem a ver conosco?

Minha noiva fechou os olhos, visivelmente incomodada, e tentou sair correndo. Infelizmente, o rapaz foi atrás; restou-me apenas segui-los de longe, oculto, como o Fantasma que fingia ser.

Christine fugiu em direção ao terraço, seguida de perto pelo Visconde; havia preocupação e desagrado nos olhos dela quando gritou:

– Pare de me seguir! Está piorando tudo!

– Do que está falando? Que perigo é este do qual falou? – e quando não obteve respostas, segurou-a novamente, obrigando-a a encará-lo – O que está escondendo?

O único modo de meu anjo dar vazão a todas as emoções que pareciam lutar dentro dela foi aquele que eu lhe ensinara: música.

In sleep He sang to me (no sono ele cantou para mim)

In dreams he is there (Nos sonhos ele está)

He is with me on the stage, (Ele está comigo no palco)

He is everywhere (Está em todo lugar)

And in this labyrinth (e neste labirinto)

Where all are blind (onde todos são cegos)

The Phantom of the Opera is there: (o Fantasma da Ópera está lá:)

Inside my mind. (dentro de minha mente) – Ela pretendia contar àquele tolo sobre nós?

– Why do you follow me? (Por que você me segue?)

You must return! (Precisa partir!)

His eyes will find you here (os olhos dele o encontrarão aqui)

Those eyes that burn! (Aqueles olhos em chamas!)

‘Cause if he has to kill (Porque, se ele tiver de matar)

More thousand men… (mais mil homens…)

The Phantom of the Opera has killed (o Fantasma da opera já matou)

And will again. (E matará novamente)

O que está dizendo, Christine? Não existe nenhum Fantasma!

My God! Who is this man? (Meu Deus! Quem é este homem?)

That hunts and kill? (que caça e mata?)

I cant keep away from him (Não posso ficar longe dele)

I never will (nunca conseguirei)

And in this labyrinth (e neste labirinto)

‘Cause love is blind… (porque o amor é cego…)

The Phantom of the Opera is there (o Fantasma da Ópera está lá)

Inside my mind… (dentro de minha mente)

Talvez aquele estúpido garoto não entendesse o que ela dizia, mas eu compreendia muito bem: era, de certa forma, um desabafo e uma finalização à nossa conversa interrompida. Ela me amava, e deixava isto bem claro... mas estava assustada com aquele lado meu que, até então, lhe fora desconhecido. Eu a assustara, a fizera temer por aqueles a quem amava... E como poderia me perdoar por isso? Eu magoara e assustara a única pessoa que me era importante! Fizera meu anjo me temer! Ah, Christine, perdoe-me!

Ela encarou seu amigo de infância com olhos marejados, e então correu para o terraço. Fui atrás de ambos utilizando-me de uma passagem que me permitira vê-los e ouvi-los sem ser visto, escondendo-me então atrás da estátua de um cavaleiro. Dali pude ver minha querida se debruçar no parapeito, e o maldito menino passar o braço por seus ombros.

– Christine – ele começou – Você fala de um homem misterioso, de um Fantasma... Sabe que suas palavras não fazem sentido?

– Não espero que façam – respondeu ela – Você não compreenderia.

– Não preciso compreender isso – disse o Visconde – A única coisa que compreendo é que lhe fiz um grande mal. Sei que não fui o único culpado, mas agora você está sofrendo, e posso ver isso.

– Os eventos de ontem me fizeram sentir mal. Posso lidar com minhas próprias emoções.

– Não é disso que estou falando. – ele tomou a mão de minha amada na sua – escute-me bem, antes de responder: sou agora o chefe de minha família. Não devo satisfações a ninguém, e posso administrar minha vida e meus bens como bem entender. Você, por sua vez, se tornou uma bela mulher, Christine; digna, instruída... Uma dama... Em minha tolice, eu lhe causei uma série de constrangimentos e manchei seu nome, e pretendo reparar isso. – eu esperava que ele não estivesse tentando chegar aonde parecia querer.

– O que está pretendendo, Raoul?

– Case-se comigo, Christine – pediu ele – seja minha esposa. Eu lhe darei meu nome, e tudo o que tenho. Cuidarei de você por toda a nossa vida. Case-se comigo. – Ao ouvir aquelas palavras, senti meu coração gelar: se Christine tivesse um mínimo de bom senso, ela aceitaria aquela proposta. Afinal, o Visconde poderia lhe dar uma vida em meio à alta sociedade, enquanto tudo o que eu podia lhe dar era... Meu mundo. Mas as palavras que se seguiram foram totalmente inesperadas, e aqueceram minha alma de um modo totalmente novo:

– Eu não poderia me casar com meu irmão, Raoul. Você é um bom homem, e muitas mulheres dariam tudo para receberem a proposta que me fez... Mas não é você quem eu amo. Era isso o que eu estava tentando deixar claro desde o começo: meu coração pertence a outro. – ela se ergueu, afastou-se do nobre e prosseguiu – prezo nossa amizade, mas isso é tudo o que posso lhe oferecer. Espero que seja o bastante.

O Visconde de Chagny estava realmente confuso, quase ofendido com a recusa; surpreso, perguntou:

– E quem seria esse homem a quem ama o bastante para me dizer não?

– Como eu lhe disse, é... Complicado. Você não compreenderia. – o garoto sorriu, espantado, e passou o braço pela cintura de Christine:

– Não está falando sério. Suas palavras sequer fazem sentido!

– Raoul, solte-me! – minha amada pediu, e eu me preparei para sair do esconderijo e partir cada osso daquele garoto se suas mãos se demorassem em minha Christine.

– Christine, eu amo você! – exclamou o garoto, fazendo-me ouvir em sua voz notas de angústia e profundo lamento... Talvez ele a amasse mesmo – por favor, não me rejeite!

Minha amada o fitou com olhos marejados, e respondeu:

– Eu sei disso, Raoul... É por isso que não posso aceitar seu pedido. Nunca poderia lhe dar meu coração do modo como você merece. Precisa de uma mulher que o ame, pois meu coração já pertence completamente a outro. – ela lhe beijou o rosto, e tive de controlar a pontada de ciúmes que me atingiu. O rapaz apenas a encarava, mortificado, e quase tive pena dele quando minha querida se afastou de seus braços antes de prosseguir – Sempre serei sua amiga, sua pequena Lotte. Mas não poderei ser mais do que isso. – e com essas palavras, deixou o terraço. Desta vez, o garoto não a seguiu.

Pela primeira vez na vida, meus sentimentos estavam confusos: queria ir atrás de Christine, abraçá-la, confortá-la... Por outro lado, suas palavras ainda doíam... Hediondo, monstruoso, cruel... Ela não compreendia que meus atos haviam sido unicamente no intuito de protegê-la?! Ah, Christine! Estaria você com medo de mim? Como podia estar com medo de mim, minha amada? Você é tudo em minha vida!

Subi para o telhado, onde permaneci por um longo tempo fitando as estrelas: frias, lindas, inalcançáveis... Como minha amada, naquele momento. Eu sabia que cometera um erro, mas não compreendia o que poderia ter feito de modo diferente. Talvez feito aquilo longe dos olhos de minha pequena deusa das artes? Talvez... Eu realmente não sabia. Por toda minha vida havia tido certeza de meus atos e pensamentos... Agora, sentia-me perdido, confuso, hesitante. O que fazer?

Levantei-me após longas horas, e segui para casa. Precisava pensar, e Christine também.

POV Narrador

Christine correu para o mais longe possível de Raoul; a última coisa que queria era encarar outra vez aqueles olhos tão magoados e decepcionados. Sabia que partira o coração dele, mas o que mais poderia fazer?! Embora as últimas vinte e quatro horas houvessem mudado o modo como via Erik, nada poderia mudar o fato de que o amava de um modo que ultrapassava qualquer explicação racional.

Sem saber o que fazer, procurou pela única pessoa que poderia ajudá-la naquele momento: Madame Giry. Encontrou-a em seus aposentos, sentada no leito, ocupada em examinar o livro-caixa do teatro; mal percebeu a chegada da jovem, deixou o objeto de lado.

– Você e Erik discutiram?

– Não exatamente, Madame – respondeu a cantora, sentando-se ao lado de sua tutora – Raoul nos interrompeu. Ah, estou tão confusa!

– Com o que, criança?

– Meus sentimentos. Amo Erik acima de tudo, mas estou tão... Assustada! Ontem conheci um lado de meu Anjo que nunca imaginara existir... E não sei se gosto deste lado. Isso me dá medo. – Ela abraçou um travesseiro – E ainda assim, meu amor por ele só faz crescer!

– Erik não é um homem como os demais, Christine, e você terá de entender isso se realmente pretender se casar com ele. Não é alguém que se sujeite às regras da sociedade... Mesmo porque tais regras não impedem as crueldades que ocorrem todos os dias. Para ele, não passam de conceitos hipócritas e falso moralismo que as pessoas usam para fingirem ser civilizadas.

– O que não o coloca acima do bem e do mal.

– Os conceitos de bem e mal de seu Anjo são diferentes, pequena. – madame Giry se levantou e começou a passar os dedos na chama da vela que bruxuleava sobre a penteadeira – Deixe-me lhe contar a história do homem a quem ama, e então, talvez consiga compreendê-lo melhor...

– Eu quero saber – sussurrou Christine, ansiosa por finalmente entender aquele a quem entregara seu coração.

– Ele era filho de ciganos; por algum motivo desconhecido, seu rosto nasceu deformado. A princípio, não fez muita diferença... Sua mãe o alimentou e aqueceu, como a qualquer bebê. Entretanto, ele nunca teve o que se pode chamar de família: cresceu livre pelo acampamento, sem afeto, mas sem restrições além das leis de seu povo. Livre e curioso, começou a descobrir ainda cedo as artes do ilusionismo que via serem usadas em apresentação. – Madame Giry suspirou – Mas crianças crescem, e logo não era mais um bebê. De certo modo, parecia que estava em débito com o clã que não o matara no nascimento, que lhe permitira viver e o alimentara. Era hora de começar a retribuir.

A viúva pegou outra vela e a acendeu para substituir a outra, que já se apagava. Voltando-se para Christine, viu-a atenta e ansiosa por saber mais, então continuou:

– Aos sete anos, o tempo dos pequenos trabalhos como carregar lenha e cuidar dos cavalos terminou. Erik era forte, e foi treinado para lutar contra outros rapazes em combates nos quais os espectadores faziam suas apostas. Aprendeu as artes da mágica e da hipnose, e com elas entretinha o público quando não estava lutando. Mas seus “professores” tinham métodos... Bem... Hostis, e consideravam o açoite um bom incentivo para o aprendizado. Até que um dia, aos onze anos, o garoto esfaqueou um instrutor que abusara do chicote... Assassinato geralmente não seria um crime, pelo menos não nas condições em que se deu... Mas Erik não tinha uma família, e sequer era considerado parte do clã... – os olhos de Antoinette estavam cheios de lágrimas contidas, um choro retido que fez Christine perceber quanto afeto a viúva nutria pelo Fantasma.

– O que fizeram com ele?

– Queimaram seu rosto. Empurraram o lado deformado de sua face contra as brasas, tornando-o ainda mais desfigurado, e o açoitaram quase até a morte. Quando, por milagre, ele se recuperou, fizeram pior: ele se tornou uma nova atração, apresentado como o Filho do Diabo. De cidade em cidade, era exibido em uma jaula como se fosse um animal exótico, exposto e humilhado, forçado a mostrar sua deformidade enquanto ouvia insultos e suportava os golpes de seu carcereiro.

– Como ele escapou disso? – havia angústia na voz da soprano, que pela primeira vez compreendia porque seu Anjo desprezava os seres humanos.

– Tive meu papel nisso... O circo de ciganos estava na cidade, numa época em que eu era apenas outra menina que estudava dança no teatro. Fui com algumas amigas visitar a Tenda dos Horrores, e Erik era a última “atração”. Enquanto todos se divertiam com seu medo e sua vergonha, eu sentia meu coração se partindo... Ele era apenas um menino! Uma criança, assim como eu. Por que merecia aquele tratamento, quando seu crime havia sido nascer diferente? Os outros deixaram o lugar, mas eu permaneci junto à tenda por algum tempo, chocada demais com a violência que testemunhara. Do lado de dentro vieram sons de luta, e corri para ver o que acontecia: o garoto estrangulara seu algoz, e jazia fora da cela. Meu único pensamento foi que tinha de ajudá-lo, e trouxe-o comigo para cá, escondendo-o dos que o procuravam como assassino.

– Foi assim que ele se tornou o Fantasma?

– Sim; eu o escondi do mundo e da crueldade, e lhe ensinei o que sabia sobre a Ópera. Em poucos meses, ele já conhecia este lugar muito melhor do que eu... Era simplesmente brilhante! Apenas com leitura e observação, aprendia qualquer coisa que quisesse: música, pintura, arquitetura, mágica... Era um gênio desde criança. Este lugar se tornou seu mundo, seu reino. É tudo o que conhece, desde aqueles tempos, e fez aqui o seu domínio. – Madame Giry sorriu tristemente – consegue entender agora a frieza e a violência que mostra ao punir as pessoas? Foi isso o que aprendeu desde cedo: esperar o pior de todos. Ele criou uma concha ao seu redor, e você é a primeira, talvez a única, a vê-lo como é. Não lhe estou dizendo que aceite e concorde com tudo o que ele faz, mas... Tente compreendê-lo. Tente ensiná-lo.

A moça fitou o chão por longos minutos, silenciosa e contemplativa; nunca imaginara que o passado de Erik pudesse ser tão horrível. Compreendia agora que a aparente crueldade do Anjo não era senão medo. Um medo que ele jamais assumiria, mas que o acompanhava desde sempre. E, em seu espanto e indignação, ela acabara ferindo aquele coração já tão despedaçado; será que Erik poderia perdoá-la?


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Notas finais do capítulo

Comentem, comentem e comentem, tá?!



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