Music of The Night escrita por Elvish Song, TargaryenBlood


Capítulo 1
Memórias


Notas iniciais do capítulo

Começamos a história apresentando Christine Daae e contando como ela veio a conhecer o homem a quem todos chamam O Fantasma da Ópera. Para ela, entretanto, ele é apenas seu Anjo da Música.



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Apenas uma criança chorando pela morte do pai, Christine desceu as escadas que levavam à capela do teatro, seu caminho iluminado pela luz bruxuleante de uma vela já consumida pela metade. Alcançando seu destino, pousou o castiçal no chão e tirou do bolso uma segunda vela, branca, que colocou no altar e acendeu, fazendo uma oração pelo espírito de Mr. Daae. Com lágrimas escorrendo pelas bochechas, sentou-se no chão e abraçou as próprias pernas, lembrando-se da promessa feita pelo senhor Daae em seu leito de morte:

- Não tenha medo, Pequena Lotte... Eu velarei por você do Paraíso. E quando receber a visita do Anjo da Música, saiba que fui eu quem o enviou a você.

Aquelas palavras pareciam agora muito vazias e distantes, um consolo inexistente a cuja memória ela se agarrava desesperadamente. Desconsolada, sozinha e com o coração em pedaços, dividiu sua dor com a escuridão:

- Onde está você, meu Anjo da Música? Papai disse que o enviaria a mim... Por que, então, deixa-me tão só? Onde está você, Anjo? Por que me abandonou?

Lembrando-se da música que seu pai lhe ensinara, começou a cantarolar:

- Angel of Music,

Guide and Guardian,

Grant to me your glory!

Angel of Music, hide no longer

Secret and Strange Angel! – Os soluços escaparam de seus lábios sem que pudesse contê-los, por mais de um minuto. E então algo mudou... Uma espécie de presença se fez sentir no lugar, e uma voz masculina – a mais poderosa e doce que Christine já ouvira – ecoou pelo aposento:

- Pobre criança, perdida na noite, sem qualquer calor ou consolo: por mim você chamou, e aqui eu estou. – Uma lufada de ar apagou todas as velas e, em meio à escuridão, só o que a menina viu foi uma silhueta escura delineada contra a luz prateada da Lua que entrava pela janela. Seus braços se abriram, estendendo a capa como um par de enormes asas negras, e a envolveram pelos ombros. Aquele abraço era surpreendentemente quente e reconfortante – Eu estou aqui; eu sempre estarei aqui, mesmo quando não puder me ver. Ouça minha voz, e saiba que eu sou, e sempre serei seu Anjo da Música.

Sem saber ao certo por que chorava, a criança simplesmente abraçou aquela presença que, no momento, lhe parecia o retorno de seu pai à vida. Exaurida pelo medo, pelo luto, pelas noites sem dormir, ela chorou naqueles braços até adormecer. E na manhã seguinte, ao acordar em seu quarto, o que restava do Anjo da Música era uma linda rosa branca adornada por uma fita de cetim negro...

- Christine! Christine! Acorde!

A moça abriu os olhos, resmungando: queria voltar ao seu sonho... Estava tão melhor nele! Com algo que pareceu um gemido, cobriu a cabeça com o travesseiro e virou para o outro lado, mas Meg não desistia facilmente! Com um puxão, a outra garota arrancou os cobertores de uma vez para acordar a amiga, avisando:

- Minha mãe vai matar nós duas! Já estamos atrasadas para o ensaio!

- Meg, nós não temos mais de ensaiar, pelo amor de Deus! – protestou Christine. Toda vez que ficava até de madrugada na companhia de seu Anjo (o que era quase toda noite), aquela cena se repetia pela manhã.

- É ensaiar ou sair do coro – retrucou a outra, jogando a roupa de ensaio em cima da garota Daae – ande logo, ou vou descer sem você!

Ainda tonta de sono – uma vê que não dormira nem duas horas – a bailarina se vestiu e seguiu Meg Giry para fora do quarto que dividiam, direto para o andar inferior. Levantar cedo era algo com que nunca iria se acostumar!

*

- Christine, você tem que parar com isso! – Certo, desta vez ela conseguira tirar Madame Giry do sério... Não exatamente uma proeza, em se tratando da severa viúva, mas também não era algo que acontecesse com freqüência – Não é mais uma criancinha para se atrasar desse modo! Qual a desculpa de hoje?

- Madame Giry, podemos conversar a sós? – perguntou a bailarina, ruborizada devido aos risinhos das colegas, que assistiam a tudo com um olhar mais interessado do que deviam. Compreendendo de imediato o que a outra diria, Antoinette Giry apontou para um dos camarins vazios, no qual a adolescente entrou quase correndo.

A senhora fechou a porta com um baque surdo, e se voltou para sua tutelada:

- Ainda estou esperando uma explicação, Christine Daae!

- Madame, reconheço que meus atrasos freqüentes são imperdoáveis, mas... Tenho passado muitas noites treinando com Ele.

- Você aprende com o Anjo desde criança. Por que os atrasos têm estado mais freqüentes?

- Ele ficou mais exigente, nas últimas semanas... faz-me ensaiar até bem tarde, e se tornou ainda mais rígido. Eu não sei o que ele pretende, mas o Anjo não está agindo normalmente.

Antoinette franziu o cenho, em dúvida, antes de aventar uma hipótese:

- Carlotta é pouco mais do que medíocre, como Prima Donna... Talvez seu Anjo, a quem os outros conhecem como Fantasma da Ópera, pretenda substituir a atual cantora principal. Não ficaria surpresa com isso.

- Mas eu?

- E por que não? É a melhor dentre as potenciais futuras cantoras... E a decisão, afinal, é dele. – a mulher endureceu sua expressão – mas se realmente pretende ser algo neste teatro, então volte para as coxias e continue o ensaio com as bailarinas!

Meneando a cabeça, sabendo que discutir com a coordenadora de arte da Opera Populaire seria inútil, a jovem voltou para junto das amigas, retomando o treinamento de dança. Por quatro longas horas seu corpo se dedicou a realizar os complexos movimentos do bale, que envolviam não apenas força e coordenação, mas graça, suavidade, beleza e extremo controle de cada músculo. Embora complexos, aqueles movimentos já se lhe haviam tornado naturais, após tantos anos de dedicação, e seria mentira dizer que não gostava de dançar, ainda que tal prazer não chegasse sequer aos pés de sua maior habilidade: o canto.

A fim de compensar o atraso, a Srta. Daae permaneceu ensaiando mesmo que depois que todas as outras haviam saído; entregava-se à dança quase com fúria, libertando em seus movimentos todas as suas emoções: frustração pela incompreensão de Madame Giry, alegria por cada noite em que ouvia a voz do Anjo em meio à escuridão, curiosidade a respeito de quem seria aquele homem – ela não era mais uma menininha para realmente crer que ele fosse um anjo enviado pelo Sr. Daae – ansiedade e expectativa ante a nova postura de seu mentor, tão mais exigente e perfeccionista ao ensiná-la... Todos os sentimentos que rodopiavam em fúria dentro dela, agora fluíam através de sua dança. E foi em meio a tal entrega que ela ouviu o sussurro cantarolado das sombras:

“Chrinstine! Chrisntine!”

Reconhecendo a voz do Anjo, ela não esperou um segundo sequer: arrancando as sapatilhas de ponta, correu para atendê-lo do modo como estava – da mesma maneira que havia feito por todos aqueles anos. Ele chamava, e ela respondia. Sempre.

Como de costume, a capela estava vazia; vazia, exceto por uma bela peça de vestuário – uma espécie de roupão ou penhoar de veludo – cuidadosamente dobrada e deixada no peitoril da janela. Sobre a peça, apenas um bilhete:

É bastante frio aqui embaixo, não é? Vista-o e mantenha-se aquecida, meu pequeno Anjo.

Intrigada, mas lisonjeada pelo presente, a garota estendeu a capa diante de si, encantada pela beleza da veste: de veludo branco, tinha um forro de seda e a gola adornada com pele de arminho branco. E quando vestiu a peça, esta arrastava pelo chão atrás de si... Deus! Aquele fora um presente MARAVILHOSO! Mas o que ela fizera para merecê-lo?! Olhando ao redor, procurou por qualquer indício do homem a quem vira naquela primeira noite em que conhecera o Anjo da Música, nove anos atrás. Só a escuridão lhe respondeu por longos segundos.

Afinal, aquela voz que Christine tão bem conhecia, e que parecia dominá-la totalmente, ecoou pelo recinto como uma onda de beleza e melodia, parecendo envolver totalmente a dançarina:

- Imagino que sua mente fervilhe de dúvidas e perguntas não feitas – havia alegria naquela voz – Você gostaria de saber porque me tornei mais assíduo e exigente em nossas lições. – não era uma pergunta, mas uma afirmação.

- Isso com certeza me confundiu, Anjo – concordou a moça – O que está havendo? O que mudou entre nós?

- Nada mudou entre nós, criança; mas eu pretendo mudar este teatro. Carlotta é tão boa Prima Donna quanto um sapo a coaxar notas e se pavonear pelo palco. Ah, ela com certeza precisa ser substituída... Já é hora de o sapo se calar e deixar que o rouxinol seja ouvido. – embora não visse ninguém ao seu lado, Christine podia jurar ter sentido dedos suaves acariciarem-lhe o rosto – e eu encontrei o mais perfeito dentre esses rouxinóis.

Embora não exatamente surpresa, a menina ficou apreensiva:

- Pretende fazer-me assumir o lugar de La Carlotta?

- Sim.

- Ela não tem qualquer intenção de se aposentar, Anjo!

- Mas vai ter – respondeu a voz, com um riso baixo que fez Christine se arrepiar – Ah, ela com certeza terá.

- Anjo, eu sei que todos detestam Carlotta, mas não a machuque! Por favor, não a machuque!

- Este coração dourado não consegue suportar que mesmo aquela que tanto a humilhou e maltratou seja ferida, não é? Doce Christine... Não tema pela vida da tola e insuportável italiana: será seu próprio ego inflado que a colocará fora destes portões. Ela sairá daqui por livre e espontânea vontade, isso eu asseguro. E você se tornará, enfim, a perfeita jóia desta Ópera, como a preparei para ser desde sua infância.

A moça sorriu, dividida: cantar era aquilo que amava fazer, e que fazia melhor... Mas não lhe parecia certo tirar Carlota do teatro, para que ocupasse seu lugar. Por algum motivo, a idéia a fazia sentir-se mal.

- Não pense ter qualquer culpa nos eventos que se darão, meu belo diamante; nossa soprano principal se tornou inadequada, uma criatura ridícula a caminhar pelo palco, sem sensibilidade, sem expressões faciais ou vocais... E agora ela pode ser substituída, pois temos quem ocupe seu lugar com a graça e a habilidade que a posição exige. – pelo tom de voz do Anjo, Christine compreendeu que a conversa estava encerrada – Tranquilize seu coração, rouxinol. Logo, todos os seus sonhos estarão ao alcance de sua mão.

Com um suspiro profundo, a mulher sorriu:

- Obrigada, Meu Anjo. Obrigada por tudo que fez por mim nos últimos dez anos: por ter sempre estado aqui, comigo, por ter compartilhado seu saber e sua arte... Jamais poderei pagar meu débito para com você.

- Não é o que lhe peço. Apenas vá, e aguarde. Seu momento chegará, e em breve.

- E então, eu poderei vê-lo novamente?

- Já me vê quase todas as noites, criança – a voz masculina soava divertida.

- Não era o que eu queria dizer... Queria era saber se, uma vez tendo minha voz reconhecida por todos, serei então digna de vê-lo novamente... Como o vi, na noite em que nos conhecemos – ela corou, esperando não ter sido muito atrevida.

Entretanto, o Anjo da Música pareceu antes divertido do que zangado, pois respondeu:

- Espero que eu seja digno de me mostrar aos seus olhos, pequena deusa das artes. Não por mim que a faço esperar, mas por si mesma. – e antes que ela dissesse qualquer coisa – Apenas seja paciente, Christine. Tenho algo para você, mas precisará ter paciência; afinal, esperou por nove anos! O que são mais alguns dias, então?

- Tem razão – concordou a jovem – eu apenas queria muito fazê-lo ter orgulho...

- E eu tenho. De todas as minhas vitórias e criações, você é a Obra-Prima. Já é hora de o mundo conhecer este tesouro escondido. Vá, e esteja preparada quando a oportunidade surgir.

- Eu estarei, Anjo. – ela apertou a capa de veludo ao seu redor, para se aquecer - Obrigada pela capa.

- Apenas uma simples lembrança que deve aquecê-la nos próximos meses de inverno. Agora vá, criança.

Ao sair, Christine não podia ocultar o largo sorriso em seu rosto, um sorriso de plena alegria, e também de expectativa; se lhe perguntassem, negaria veementemente, mas a verdade é que mal podia suportar a espera até ver uma vez mais a figura daquele a quem chamava Anjo da Música. Pois de algum modo, com o passar dos anos, mesmo sem ver seu rosto, ela desconfiava estar lentamente se apaixonando por ele.


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Notas finais do capítulo

E quem não se apaixonaria por este Anjo?
Bem, queridos, deixem seus comentários (só avisando que eu sou movida a comentários, está bem?)



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