As fantásticas crônicas de Sarah escrita por Helen


Capítulo 9
Crônica 9 - Splendorman, Trenderman e Catagelofobia.


Notas iniciais do capítulo

Vou dar uma pausa na tristeza, drama etc. Já estou ficando louca com isso. Tá, não é o foco principal, mas se a autora morrer por causa de ataques noturnos, não vai ter nem sequer o foco principal.



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–Que lindo dia para visitar meu irmão mais novo! - a voz soou na leve brisa.

Ele era bem parecido com o irmão mais novo. Era alto, com longos braços e pernas e a pele bem branca (mas as mãos eram pretas como seu terno). Porém, em seu terno repousavam várias bolinhas de todas as cores. A longa gravata escura era substituída por uma gravata borboleta vermelha, e por fim, uma adorável cartola preta com uma linha vermelha, onde estava preso um lindo lírio.

Ao contrário do irmão, tinha rosto. Dois olhos escuros e um agradável sorriso que nunca se desmanchava. Era maciçamente feliz, mas nem por isso era falso.
Andava tranquilamente pelo parque, e era bem visto por todos ali. Um bom dia ali, uma dança para alegrar uma criança acolá, e mais sorrisos para aumentar o estoque de alegria de Splendorman. Ele era o oposto do irmão. Enquanto ele distribuía sorrisos, o irmão distribuía terror.

Andava feliz, sempre fazendo alguém sorrir. Pediu para um táxi parar e se espremeu dentro dele, sem perder o sorriso e o bom humor.

–Para a floresta ao sul.

O taxista bigodudo se assustou um pouco. Um homem tão alegre e amigável como aquele iria para um lugar onde dizem estar todos os tipos de assombrações do mundo? Não fazia muito sentido.

–Estou indo em missão, entende? - riu docemente Splendorman. - Quero mudar aquele lugar.

–Ah bom! - o homem já se sentia melhor.

O táxi se dirigiu para a floresta. Enquanto isso, Splendorman analisava com cuidado tudo que havia trago: um buquê de lindas rosas coloridas, alguns potes de glitter, algumas folhas para origami, entre outras coisas.

Quando o táxi parou em frente a floresta, um calafrio percorreu o taxista. Splendorman não se importou muito, e logo pagou o pobre homem, e saiu do táxi com uma pequena dificuldade.

Logo estava livre e infelizmente sozinho. Mas não se deixou abalar, lembrando que iria visitar seu irmão.

Andou tranquilamente pela floresta. Era um tipo de habitat natural. Mas ele não tinha os mesmos instintos assassinos de seu irmão. O que ele mais queria era enfeitar aquele lugar com fitas coloridas e sinos. Como instintos são quase incontroláveis, ele o começou a fazer tranquilamente. Logo, a trilha que deveria impor medo em qualquer um que passasse, estava enfeitada de fitas onde lindos sinos se penduravam, tocando uma música esplêndida e doce.

De longe, Arthur observava tudo de cima de uma árvore. Além de estranhar o fato de ter alguém muito parecido com seu pai enfeitando a trilha, estranhou o fato de ele estar ali perto do inverno. Era a ocasião onde a floresta menos ficava amigável. Quando entrou no campo de visão do homem, logo tremeu de medo. Não sabia como reagir, então ficou parado.

–Rapaz! - disse Splendorman.

Arthur nunca tinha visto alguém tão alegre. Ele ficou quieto, tentando reconhecer aquele homem. Splendorman não se importou muito com isso, e logo foi andando sorrindo até Arthur.

–Você sabe onde Slender está?

–Sim... eu sei. - Arthur tremia, com relutância.

–Por gentileza, poderia me guiar até lá?

Arthur desceu da árvore, e começou a guiar o homem pela floresta, até a casa abandonada. Sarah estava entediada, sentada em um banco de madeira. Atrás de suas orelhas cresciam duas coisas que pareciam duas pequenas asas de dragão. Slender estava a alguns metros dali. Tinha acabado de matar uma criança, e comia sua carne. Suas mãos estavam meladas de sangue, com restos de carne e órgãos. Era uma visão assustadora. Splendorman sorria ainda mais, indo de encontro ao irmão, sem ligar para todo o sangue no chão.

–Bom dia!

–Splendy? - disse Slender, meramente assustado. - Como é que...

–Um homem bigodudo me trouxe até aqui de táxi. Você não sabe como aquele carro é pequeno! Mal conseguia me mexer direito!

–Por que é que diabos você está aqui? Não devia estar na sua vizinhança?

–Queria visitar meu irmão mais novo!

Splendorman abraçou o irmão, e o levantou do chão, rindo. Slender até tentava se livrar do abraço, mas como seus braços estavam presos, não podia fazer muita coisa.

Sarah e Arthur assistiam a cena de longe. Enquanto Sarah ainda tentava compreender como é que diabos o Slender tinha um irmão e imaginando como seria a suposta mãe dele, Arthur olhava a cena, assustado e admirado ao mesmo tempo. Splendorman era a criatura mais extraordinária que tinha visto em toda a sua vida. Sua alegria o assustava, da mesma maneira que lhe trazia algum tipo de felicidade.

Splendorman soltou seu irmão do abraço. Limpou com seu terno o sangue que ainda pingava na mandíbula do irmão.

–Nunca aprendeu a usar um guardanapo. Hm? - disse ele, olhando para seu terno e colocando as mãos da cintura de modo engraçado - Se mamãe visse isso ela estaria lhe estapeando agora.

Slender riu. De verdade. Fazia um bom tempo que não saía uma gargalhada tão boa e tão verdadeira. Sua boca escura surgiu no rosto, mostrando três fileiras de dentes, como as de um tubarão. Splendorman também riu. As duas risadas juntas pareciam um coro.

–Poderia... er... - começou Sarah.

–Ah, desculpe a grosseria. - disse Slender. - Splendorman, esses são Sarah, minha aprendiz e Arthur, meu... hum... filho.

–Ah, por isso que ele parecia tanto com você! - Splendy sacudiu os cabelos curtos de Arthur, fazendo uma bagunça. - E estou muito feliz em conhecê-la, senhorita. - Splendorman encostou a testa na mão dela. - Podem me chamar de Splendy.

Sarah corou levemente com o cavalheirismo.

–Bom, provavelmente vou passar alguns poucos dias aqui com vocês, porque eu preciso voltar para o trabalho.

–Hum. Acho que não vai ser muito agradável pra você. - disse Slender

–Nah. Se eu suportei você por quase vinte anos, consigo suportar seu Eu adulto. - riu Splendy. - Aliás, acho que seu primo também vem.

–Você chamou ele?!

–Não. Ele veio sozinho. Vi ele por algumas lojas, enquanto estava dentro do taxi. Parecia estar vindo pra cá.

–Por que do nada vocês resolveram vim para cá?

–Eu descobri esse endereço semana passada. - Splendy deu uma risadinha sem graça, coçando a nuca.

Slender tinha feito tanta coisa para se esconder do mundo, que nem tinha se lembrado que também tinha se escondido da própria família. O sentimento de revolta não o dominava como antes. Era estranho. Como se ele fosse ingrato. Na verdade, ele tinha sido.

–Bem... você deve estar com fome. - sorriu Sarah.

–Estou! Esqueci de comer qualquer coisa antes de vir pra cá, de tanta empolgação!

–Vamos! Arthur, você vem também! - Sarah segurou a mão de Splendy, o guiando até a casa.

Arthur os seguiu calmamente. Slender apenas se sentou na grama, rindo enquanto apoiava a testa na mão.

...

Trenderman andava estilosamente pela calçada que separava a rua deserta da floresta, rodeada por algumas cercas. Ele parecia um manequim. Usava roupas marrons e tinha a pele em um tom branco bronzeado.

–Aquele trouxa realmente não sabe escolher lugares bonitos. Veja essas árvores! Precisam ser podadas urgentemente!

Bom, podemos dizer que Trenderman era o mais irritante dos três. Criado em uma família rica, um pouco diferente da de Slender, sempre foi influenciado pelos pais a seguir os conceitos éticos-sociais. Não era muito mimado, mas tinha um senso de beleza temível. Odiava ser contrariado nesse sentido.

Ele queria trazer aquele senso para a floresta de Slender.

Passou pela trilha de sinos, cético. Dizia que o vento não deixava os sons dos sinos ritmados. Se perdeu em meio a floresta, dando de cara com Sarah, que estava caçando coelhos.

–Ô baixinha. - disse Trenderman - Conhece um cara alto, que usa um terno RI-DÍ-CU-LO, e não tem rosto?

–Você me chamou do que? - disse Sarah, largando o pobre coelho no chão

–Baixinha. Tá surda? Aliás, esse vestido com capuz é horrível. Muito apagado.

–Ora seu...

Sarah deu uma voadora nele, e segurou a cabeça dele com as duas mãos, impossibilitando ele de ver. Logo ela sentiu que a maldição se espalhava por ele, e o soltou. Trenderman a seguiu pela floresta, até a casa abandonada.

–Slender, eu acho que encontrei seu primo. - Sarah apontou para trás com o polegar, acima do ombro. - Ele é muito estranho.

Slender bateu a mão no rosto.

–Era melhor você ter apenas caçado os coelhos e ter deixado esse cara perdido por aí.

–Eu posso me encarregar de fazer isso.

–"Ehe jal cheguou!?" - Splendy saiu da casa, falando de boca cheia. - "Hevoz"

–Engula sua comida. - riu Slender.

Splendy engoliu rapidamente, e logo repetiu: "Ele já chegou? Veloz."

Trenderman sacudiu a cabeça, como se fosse pra acordar, e olhou ao redor.

–Onde é que... SLENDER! VOCÊ AINDA NÃO MUDOU ESSA ROUPA? É SÉRIO QUE VOCÊ PASSOU TODOS ESSES ANOS COM ESSE MESMO TERNO?

Arthur sussurrou alguns xingamentos. Sarah revirou os olhos, e Slender simplesmente suspirou.

–Eu troquei de terno. Estou bem mais alto que antes, se não percebeu.

Slender se levantou, e... é. Ele era bem mais alto que Trender.

–Humpf. Sempre com o mesmo mal gosto, uh?

–E você sempre com esse gosto exagerado. - disse Slender

Splendy, Arthur e Sarah se seguravam para não rir. A voz irritada de Trender era extremamente engraçada. Ele bateu os pés e simplesmente entrou na casa, sem mais nem menos.

–É sério que ele vai insistir em ficar aqui? - perguntou Sarah, cruzando os braços e sorrindo ironicamente.

–Ele foi meio que expulso de casa esses dias. Ele quer encher o saco de alguém. - riu Splendy, comendo um pão-de-seda.

–Então vou passar o dia inteiro fora com meu corvo.

–E eu vou procurar algo pra fazer. - disse Arthur.

Os dois sumiram rapidamente na floresta. Slender e Splendorman ficaram lá, quietos, procurando uma maneira de combater aquela ameaça.

–A Morte! - disseram os dois, ao mesmo tempo.

–Ela pode muito bem guiar essa situação. Ela é genial. - riu Splendy.

–E ele vai ganhar um monte de motivos pra ir embora daqui! - disse Slender

–Vou dar um jeito te trazê-la até aqui.

Splendy sumiu rapidamente, e logo a Morte apareceu, rindo.

–Quem é o estorvo? - perguntou ela.

–Meu primo. - riu Splendy, apontando para dentro da casa.

–Deixa comigo. Daqui a menos de dois minutos ele vai sair correndo daqui.

Dito e feito. Em menos de um minuto e meio, Trenderman já estava correndo daquela floresta, aterrorizado. Splendy e Slender riram com aquela visão. Splendorman teve a ideia de fazer uma fogueira que soltava fumaça branca e brilhante ao invés de cinzenta, e eles ficaram a noite inteira conversando sobre como tinha sido a vida deles, e como foi engraçado ver Trenderman correndo.

Foi uma maravilhosa noite.


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