As fantásticas crônicas de Sarah escrita por Helen


Capítulo 19
Epílogo — Final... bom...?


Notas iniciais do capítulo

*risadinha*



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A luz do sol invadia o quarto através das portas de vidro da varanda. Lá fora, alguns pássaros cantavam alegremente por causa da linda mudança de cores que o céu estava.

Sarah acordou calmamente. Na cama ao lado da sua, estava Arthur, dormindo.

Ela se sentou, e respirou profundamente o úmido ar da manhã. Naquele momento, pensou em tudo que havia acontecido desde que seus pais haviam lhe expulsado de casa. Tudo que lhe ocorreu parecia simplesmente ter sido um pesadelo.

Os olhos castanhos que antes não tinham brilho, agora pareciam estrelas. Seu cabelo negro como a noite não fazia com que ela desejasse a escuridão. Agora, usava um vestido azul, sem o capuz.

Estava livre de toda a opressão da noite, e o dia tocava uma adorável canção.

Lentamente, colocou os pés no chão de madeira, se levantando. Foi até a porta de vidro e a abriu, deixando que uma deliciosa brisa invadisse o quarto. Ela se apoiou no parapeito de mármore, e admirou o bosque. Nele, havia várias árvores vindas de diferentes países. Citarei algumas: Cerca-viva Negra, Jacarandás, Carvalhos, Cerejeiras, Glicínia, Álamos e por fim, algumas Árvores-da-felicidade, dadas de presente para trazer harmonia e felicidade. (Superstições de um certo homem esguio...)

Sarah se lembrou de quando pela primeira vez se encontrou com Slender, naquela obscura floresta onde moravam seus pais.

"Eu descrimino você."

Essas haviam sido as primeiras palavras dele para com ela. O vento sussurrava a conversa novamente em sua cabeça.

"Não posso voltar. Meus pais me disseram isso."

"Você está sendo inocentada. Vá viver sozinha."

"Eu não tenho motivos pra isso."

Ela se lembrou o quanto havia desejado morrer naquele momento. O quanto esperava por alguém que acabasse com o sofrimento dela. O vento começou a balançar seus cabelos para o lado.

— Já haviam me inocentado dos meus erros desde o início, e eu não percebi. — sussurrou Sarah. — Eu pensei que nada no mundo conseguiria parar meu destino de ser um pesadelo. Achava que se me tornasse algo assim, não sentiria mais dor.

O vento parou um pouco de sussurrar. Sarah se sentiu como na primeira manhã sozinha com Slender e Arthur. O sol novamente brilhava sobre ela, dando brilho aos seus olhos e cabelos. Ela se sentia leve como se tivesse asas como as de um anjo.

Sarah sorriu. Aquela boa sensação se repetiria, de novo e de novo. Não seria uma raridade, como antes.

Arthur abriu os olhos. Sem a máscara, via tudo claramente. Virou a cabeça para a luz vinda da varanda, e percebeu um par de asas angelicais.

— Bom dia. — disse ele.

— Bom dia. — respondeu o anjo.

— Pelo jeito, você conseguiu o final bom.

— É. No fim, eu era um anjo caído mesmo.

— Você leu o poema, não foi?

— Sim. A floresta me protegeu, o homem esguio me acompanhou, descobri parte da língua do vento. A minha mão, símbolo da desgraça que chamo de dilema me trouxe até aqui. Fui a salvadora para um dos monstros, entre várias outras coisas.

— E o que vai fazer agora?

— ... Sei lá.

Arthur bufou, rindo.

— Que raciocínio impressionante, hein?!

Sarah se virou, sorrindo timidamente, do jeito adorável que anjos sorriem.

— Acho que... já sei o que eu vou fazer.

— O que?

— Conhece "O Conto de Inverno", de Shakespeare?

— Conheço.

— Eu sou uma Perdita--

— Parece que você se perdeu.

— Que trocadilho terrível.

— Você ia dizendo...?

— Se possível for, eu vou libertar monstros.

— Tem certeza disso?

— Já houve incerteza num anjo?

"Já. Mas isso são outros quinhentos..." pensou Arthur.

...

Morte e Vida estavam em uma sacada, que tinha uma visão para uma escola para crianças até dez anos.

— Ah, tem um história que as crianças contam.

— Qual é, dessa vez?

— Sobre uma anja que visita os sonhos. Tudo o que ela toca com a mão esquerda é abençoado.

— Engraçado, me lembro de ter ouvido algo assim. Sabem o nome dela?

— Sim. Ela se chama Sarah, e tem cabelos escuros que nem os meus.

— Então ela conseguiu se libertar. Fico feliz por isso.

— Eu ficaria triste se precisasse levá-la para você-sabe-onde.

Eles continuaram a olhar para as crianças por algum tempo, mas depois voltaram aos seus afazeres.

.

.

.

Fim.

...

O indivíduo fechou o livro delicadamente e o deixou de lado. A sala onde ele estava era escura o suficiente para não ser possível ver o rosto dele, mas uma pequena faixa de luz fazia ser visível sua boca, cheia de dentes afiados como os de um tigre.

— Então até mesmo você consegue histórias bonitas, Slender?

No lado oposto, dentro de uma cela, estava Slender. Fraco, caído, e irritado. Seus tentáculos tentavam fracassadamente se levantar do chão.

— Haha, não seja tão irritadiço. Ela está livre e seu filho também, não é? "Final Feliz", como dizem. Infelizmente, você não pode entrar nesse caso. — o indivíduo sorriu maldosamente — Você é e sempre será um monstro, não importa o que você pensar.

— Qual é a graça em eu ser um monstro?

— Você vale muito. Seu irmão nem tanto. Mas você... conseguiria me arranjar um monte de coisa.

— Eu nunca faria nada pra você.

— Olhe pra você. Mal consegue ficar de pé. E eu posso fazer isso quantas vezes eu quiser.

O homem esguio tentava se arrastar, mas nem ao menos isso conseguia, o que deixava o indivíduo ainda mais alegre.

— Desculpa, amigo. Eu não vou deixar você acabar com mais vidas. Dessa vez, quem vai ter a vida acabada é você, e da pior maneira possível.

O indivíduo saiu da sala, deixando Slender completamente sozinho, imerso a escuridão. De onde deveriam estar os olhos, começaram a sair pequenas lágrimas brilhantes, as primeiras que ele havia tido desde que havia se tornado o que agora é. Ele chorava não só por saber de seu terrível destino, mas também chorava de alegria, pois sabia que havia livrado dois inocentes jovens de um mal que eles não conheciam.

Um mal terrível, que ninguém merece.

Os sorrisos desse mal traziam tristeza, as risadas, agonia, a felicidade então, trazia o pior desespero de todos. O que se mostrava algo bom e bonito, era na verdade feio e malfeito. A falsidade desse mal era a pior coisa que se podia experimentar. E raros eram os casos em que se havia piedade, mas isso era apenas quando haveria algo em troca.

"Que mal era esse?"

"... Humanos."

Esse era o mal que não perdoava os que agora mereciam perdão. Eram os que tinham em mente apenas um castigo eterno aos que lhe fizeram mal.
E agora que domaram a temível criatura esguia da floresta, fariam qualquer coisa para fazê-la pagar pelo que fez.

Por fim, Slender riu de um jeito nervoso. Se fosse pra fazer tudo de novo, ele faria. Não importava o quanto ficasse nas mãos dos humanos, um dia, quem sabe, ele iria ser liberto de lá.

A esperança nunca iria sair da mente dele, porque a misericórdia de seu novo mestre se renovava a cada amanhecer.


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