As fantásticas crônicas de Sarah escrita por Helen


Capítulo 16
Crônica 16 - Nightmare e Oneirofobia.


Notas iniciais do capítulo

Ou Pesadelo, se preferir.



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Por sorte, o perigo na floresta havia passado. Slender retornou, feliz por não precisar ficar mais tempo entre a humanidade. A floresta os recebia com o doce som de sinos, colocados ali a um bom tempo.

Muitas árvores haviam sido derrubadas, e a casa onde eles haviam morado continuava lá, sendo habitada por um grupo de lenhadores, que mais tarde foram encontrados mortos em misteriosas circunstâncias.

Sarah começou a escalar troncos, treinando suas habilidades entre os galhos das árvores. Arthur dormiu em um porão que fez e Slender ficou lendo um livro em um canto da casa.

A escultura do rosto do pesadelo ainda estava intacta em uma das árvores. Havia algumas marcas de machado nela, como se tivessem tentado cortá-la, provavelmente para vender aquela peça. Se você estivesse interessado o suficiente naquelas marcas, perceberia o porquê de que a árvore ainda estava ali. Normalmente, quando se move um machado para perfurar algo, esse corte sai reto, ou curvado, dependendo do machado utilizado e com certa profundidade dependendo da força. Nesse caso, o corte estava em profundidades diferentes, como se enquanto estivessem cortando, algo interrompesse, lançando o machado para fora.

O rosto, que havia sido feito em uma expressão séria, sorria malignamente. Se você o visse, seus joelhos iriam se bater, sua alma iria gritar de pavor, seu espírito clamaria pelo Mestre e o que mais você iria querer era a morte. Mas aquilo era apenas uma pequena parte do todo. Uma pequena parte do inferno.

Em outra árvore, na direção oposta, estava o rosto do sonho. Sua árvore não tinha nenhum corte, e parecia até mais cuidada. A imperfeita tentativa de reproduzir uma beleza que não se comparava nem mesmo a qualquer beleza no mundo. Não importava seu gosto, todos iriam achar aquele rosto lindo. Nenhum lenhador, por mais frio que seja a sua alma, teria a coragem de quebrar a árvore que abriga algo tão bonito. Não teria coragem nem mesmo de tocar aquela parte da madeira esculpida. Por isso, o rosto sorria inocentemente.

Os rostos esculpidos se olhavam. Um, sendo parte do inferno, e outro, sendo parte do paraíso. Sonho ria de pesadelo. Uma pergunta que qualquer um faria, era "Por que tem dois rostos esculpidos em duas árvores perfeitamente alinhadas?".

Dizem que a melhor coisa a se fazer quando se está segurando algo dentro da sua alma que lhe faz mal, é tirar aquilo de dentro de você, seja gritando, chorando, ou até mesmo transformando isso em arte. Nesse caso, o que estava preso dentro da alma de Arthur era sua imaginação. O enorme campo de batalha que aquela floresta havia se tornado. Mas a única coisa realmente importante ali era aqueles dois personagens. O que venceria? O pesadelo que um Aprendiz quer se tornar por ter sido rejeitado, ou o sonho que ele tanto almeja por ter nascido? Qual caminho ele seguiria?

Muitos haviam escolhido ser o pesadelo dos que haviam feito pouco caso de sua alma. E além deles, outros inocentes também eram afetados. No fim das contas, a raiva passava. Mas sua escolha era eterna. Por isso, estavam ali até hoje. Alguns se acostumam com a rotina mais rápido que outros. Deve ser assim que demônios nascem.

Sarah estava no galho de uma árvore alta, pensando nisso.

— Você vai ter que tomar uma decisão, Sarah.

Ângelo estava em um galho acima, um pouco mais a esquerda de Sarah.

— Você não pode ser aprendiz do Slender pra sempre. Vai ter que se decidir.

— ...

— E o filho dele também.

— Eu sei disso.

— Já está na hora de se decidir.

— E o que isso tem a ver com você?

— ...

— Por que é tão parecido com aquela garota?

— Que garota?

— Suponho que ela seja a aprendiz de Mr. Welldone.

— Ah... ela só quis imitar o estilo. Isso é normal quando se trata de aprendizes.

Sarah desviou o olhar. A grama começou a se tornar super interessante.

— Algum problema? — perguntou Ângelo, pulando até o galho onde Sarah estava.

— Nenhum. — Sarah estava com um nó na garganta, o mesmo que se forma quando é certo que você vai chorar. — É que... — Sarah lentamente começou a chorar contra sua vontade. — Por que tão parecido...? A voz, o rosto, o cabelo, os olhos... tudo... tão parecido...

— Veja pelo lado bom, você não me amaldiçoou.

— Se eu fizesse isso, você iria me queimar. Que eu lembre, você é um filho de puritanos, não é? Eles são poderosos e bons. Já vi eles em um livro.

— Eu não sou tudo isso. — ele sorriu. — E mesmo se eu fosse, não iria te queimar. Odiaria ver os seus cabelos fofos sendo engolidos pelas chamas.

Sarah deu uma risadinha.

— Você... definitivamente parece ele.

— Ele quem?

— Bem... eu não sei o nome. Apenas o conheci por um tempo... daí eu o amaldiçoei.

— Entendo. É difícil conviver com a realidade de que você criou um monstro, né?

Sarah apenas acenou com a cabeça. Ângelo a abraçou, fazendo os olhos de Sarah se transformarem em rios.

— Eu só queria não precisar decidir... ficar nessa floresta até meus dias acabarem e...

Depois disso, ela não conseguiu dizer mais nada. Apenas chorava, e continuou assim por um bom tempo.

— Está tudo bem. Apenas pare de chorar que nem uma criança e se decida.

Sarah respirou fundo. Seus nervos acalmaram, e lentamente disse:

— Eu vou me tornar o que me garantiram que eu ia me tornar: Um pesadelo.

Pesadelo apareceu no chão, sorrindo.

— Então me escolheu? Fico feliz por isso. Não é tão sentimental quanto eu pensei.

As duas sorriram, em temível alegria.

...

Arthur acordou de súbito. Estava com a mesma sensação do dia em que sua mãe morreu. Um presságio da desgraça.

Se levantou e rapidamente foi até a entrada da casa, e se deparou com Nightmare e Sarah brincando. Slender estava em um canto, observando a floresta. Arthur se aproximou dele.

— Ela... realmente vai pra lá?

— Sim. O filho do você-sabe-quem vai vir amanhã buscá-la.

— Mas... já?

— Sim. E você precisa se decidir também.

— Eu vou ficar aqui, e ser que nem o senhor.

Arthur se sentou ao lado do pai e começou a olhar o topo das árvores, percebendo Ângelo em uma delas, com a flauta na mão. Calmamente, ele tocou uma música, que soou pelas árvores. O lugar tomou um ar triste.

Era o poder da música.


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