As fantásticas crônicas de Sarah escrita por Helen


Capítulo 14
Crônica 14 — Mr. Welldone, e Cronofobia.




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"Olá. Eu sou o Mr. Welldone. (Senhor Bem-feito)

Eu assisti a cópula que te concebeu e eu gritei de horror. Eu te vi nascer como um parasita chocado, sem pêlos e engasgos, e eu cerrei os dentes de ódio, deslizando-os de novo e de novo e de novo e de novo e de novo até que eles ficaram planos e lisos. Eu vou vê-lo definhar e envelhecer, então seu corpo congelará, e o peso de seus anos enrugará a carne de seu corpo e eu vou sorrir, e rir, rir e rir. Vou ver seu cadáver dissecado cheio de produtos químicos superficiais, enterrado na sujeita para alimentar os sem olhos, criaturas subterrâneas da terra, e eu vou uivar, porque sei onde você está indo.

Eu sei onde você está indo.

Eu sei os segredos desta terra, como eu sabia os segredos do que havia antes dela. Vou trazer o fim, e você não pode me parar.

Você lê esses contos e você não sabe que cada vez que você lê, você cria e recria, cada vez que você recontar, você reivindica a posse dessas criações, você caminha para o fim.

E sua carne vai ser usada para construir mais, e mais, e mais contos. Torcida e esticada para clamar pelos indivíduos mais curiosos.

E eu vou sorrir, com os dentes cerrados com força, com força e mais força, até que eles rachem. Meus olhos não piscarão; vendo tudo cair de seus lugares; lardos e vazios; chorando e definhando com deleite, agonia prolongada.

Eu estou animado. Realmente, muito animado.

Mesmo enquanto você lê este conto, alguns de vocês são encorajados. A sua parte doente que anseia pelo fim, sussurra em sua mente, fazendo com que você queira ver o horror, a dor, o sangue, a morte. Você quer vê-los, você quer ver o que está escondido no escuro, além da visão, olfato, paladar, audição e tato.

Vem.

Venha e veja.

Eu vou te mostrar coisas tão maravilhosas."

Sarah acordou de súbito. Suava, e respirava com dificuldade. Era uma parte pura do medo. Sua mão esquerda doía, como se alguém tivesse esfaqueado ela durante a noite. Sua voz não saía, e ela percebeu o quanto havia ficado doente.

Ela se sentou na cama, com uma grande tontura. Mal conseguia abrir os olhos, que eles já imploravam descanso.

Há exatamente uma semana atrás, eles haviam se mudado para uma casa, temporariamente. Slender havia descoberto sobre vários problemas envolvendo aquela floresta, e que eles precisariam sair dali antes que algo pior acontecesse. Mesmo com Sarah insistindo para que ficassem e lutassem contra quem-quer-que-fosse, Slender não deixou, e os levou para uma casa ali perto.

O ar poluído da cidade não chegava nem aos pés da harmonia da floresta. O barulho era insuportável, e Sarah se perguntava como era possível viver em um lugar daqueles.

A metrópole era algo completamente hostil, que fazia o sistema de Sarah fraquejar constantemente. Quando ele não aguentava mais, deixou que a hostilidade lhe dominasse, e então Sarah adoeceu. Arthur parecia saudável, e completamente acostumado com aquilo. Slender constantemente precisava sair dali, com sua forma humanoide, o que piorava um pouco a situação de Sarah.

Lembrando disso, Sarah colocou um dos pés no chão frio. Um arrepio percorreu por todo o seu braço, e por sorte chegou na cabeça, aliviando um pouco.

Ela começou a andar pela casa, passando por alguns corredores, até chegar na cozinha.

— Você parece que acabou de chegar de uma corrida. — ela ouviu a voz de Arthur.

— Dane-se.

— Desculpe-me.

Sarah se sentou em uma das cadeiras e deitou a cabeça juntamente com os braços na mesa. Arthur empurrou uma caneca com café pra ela, e logo começou a lavar a louça.

Havia uma janela de frente para ele, e dela saía calmos raios de sol, que ainda não haviam sido hostilizados pela cidade. Eles iluminavam Arthur, dando fios dourados ao cabelo escuro.

— Você não tinha-- — Sarah tossiu — medo da luz do sol?

— Ainda tenho. Mas fobia é algo tratável.

Sarah se virou para a parede. Por um momento, viu uma face parecida com a de Slender, só que ela estava quebrada no meio. Lentamente, algo começou a escrever.

"Venha. Eu vou te mostrar coisas maravilhosas."

Infelizmente, sua voz estava travada de novo. Ela se levantou com dificuldade da cadeira, e cutucou Arthur. Ele se virou para a parede, e sussurrou algo como "Ainda não." para a mesma.

O dia se passou calmamente. A noite invadiu a casa, mas a escuridão foi espantada por algumas luzes. Arthur parecia um pouco mais atento.

Um estranho buraco começou a se formar no meio da sala, e Arthur entrou nele, deixando Sarah sozinha sem perceber nada.

— Olá, eu sou o Mr. Welldone (Senhor Bem-feito) — uma voz ecoou pela escuridão. — De todas as coisas mais maravilhosas para ser visto no mundo, a melhor delas encontra-se na periferia do mundo, o superficial, o material, o valor, miserável, horrível, detestável, desprezível, repugnante, da qual a realidade humana sem espirito se apega. E você está aqui para vê-la, não é?

— Sim, estou.

— Imagino que você esteja ciente do desperdício que vem sendo feito. Sua raça não utiliza seus dons da maneira que deveria ser. Se escondem da noite.

— Ridículo. — a palavra saiu da boca de Arthur sem o mesmo concedê-la em sua mente. Alguém o controlava.

Um som ecoou. Aquele som só era possível pelo extremo silêncio daquele lugar. Era o som que soa quando alguém sorri.

— Abra seus olhos e use os recursos deste órgão fantástico que lhe permite a visão. Mantenha eles sempre abertos. Eu sugiro que você preste atenção ao negro e frio dos lugares. Olhe atentamente para que você possa ver, algo se locomovendo com o silêncio característico da noite, rapidamente passando para destinos desconhecidos...

Arthur piscou os olhos e se viu em meio a um enorme grupo de monstros. Eles eram horrendos, mal cheirosos, feios, podres, em estado de decomposição. Uma visão digna no inferno, e quem sabe, até mesmo dos cães do capeta. Eles andavam de um lado para o outro. Alguns sumiam na escuridão, outros ficavam mais feios ainda. Era um festival de horror. Eles riam de Arthur, e caçoavam dele, como sempre faziam. Aquilo era sua maneira de ser: escondiam-se por trás de suas próprias mentiras e seu orgulho, já que sabiam o que ia acontecer com eles no fim. Eles queriam levar outros junto consigo. Eram como tolos que sabiam algo que uma criança não sabia, e se declaravam melhores do que ela, a levando para seu terrível mundo de idiotice.

— Não os desafie por nada. Nada. Nada. Nada mesmo.

Os monstros rugiram, arranhando uma parede invisível.

— Algumas coisas estão para ser vistas e não para interagir de outras maneiras. Pois eles acreditam que ainda não podem ser vistos.

Por trás do festival de horror, Arthur percebeu milhares de outras silhuetas.

— Eles estão invejando a capacidade que você tem de viver.

Arthur se virou para o lado de onde vinha a voz, confuso.

— Oh sim. Só viver.

Arthur lentamente se aproximou das criaturas, querendo vê-las mais de perto. quando ia começar a esticar a mão, foi interrompido pela voz.

— Olhe, mas não toque. Nem fale. Nem saboreie. Só então, talvez, você irá ouvi-los. Se contente em apenas observar. Esse contentamento é a única barreira contra a sua depredação.

O filho de Slender andou alguns passos para trás, e acabou encostando em algo que parecia muito com pernas. Longas e finas, como a de seu pai.

— Se você puder fazer isso, se puder suportar as tentações da escuridão e ter controle de si mesmo essencialmente, talvez então você estará preparado. — a voz soltou uma risada maligna. — Preparado para mais. Muito mais!

Arthur apenas acenou com a cabeça.

— Ei, o que é isso?

Sarah desceu no buraco, fazendo barulho com o seu impacto no chão. Quando a viram, os monstros se alegraram e começaram a ficar mais barulhentos.

— Não tente enganá-lo. — disse ela. — Sei muito bem o que planeja, Mr. Welldone.

— É mesmo? — ele riu debochadamente. — Eu mal posso esperar.

— Mal pode esperar o que? — perguntou Arthur.

— Mal posso esperar pra ver seus rostos quando descobrir que o que vocês tanto procuravam, todos os segredos da origem da vida estavam diante de seus olhos.

— Que?! — exclamou Sarah

— Vocês são monótonos demais. Ficam com essa de "eu tenho que protegê-lo da escuridão". Desperdício de dons! Deixe-o entrar na escuridão e ver as respostas que tanto quer.

— Não!

— Ah... certo. No entanto, eu ainda desejo ter seus olhos para poder ver todos os cosmos que vagam pelo mundo.

Eles ouviram passos ao redor deles. Mr. Welldone circulava na sala, mas não era possível vê-lo nem deduzir onde estava.

— Eu me pergunto se vocês sempre serão assim. Me pergunto o que vou fazer quando vocês descobrirem a verdade. Eu mal posso esperar para ver todo o fim. Mal posso esperar para... vê-los gritar e sofrer.

Som de impulso. Mr. Welldone partiu pra cima de Arthur, que estava parado. Sarah esticou uma enorme parede de maldição para dificultar a passagem de Welldone.

— Pare com isso. — disse Arthur. Novamente, sem conseguir controlar sua própria voz. — Ele não vai me fazer mal.

— Arthur!? O que diabos está acontecendo com você?

— Ouça-o. Ele tem razão. Você quer ser um demônio, não é?

Sarah ficou em silêncio. Lentamente, começou a chorar. Os sons das lágrimas caindo ecoaram por toda a sala. Arthur não conseguia se mexer. Aquilo era mais uma visita do Pesadelo?

"Apareça!" gritou em sua mente.

Uma risada feminina invadiu o lugar. Ao pés do que deveria ser Mr. Welldone, uma garota com longos cabelos loiros e olhos azuis sorria. Ela era igual a Ângelo, apenas com a diferença que, em vez de um lenço no colarinho, havia um laço.
Sarah não perdeu tempo e atacou a menina. Enquanto ela estava caída, Sarah puxou Arthur pela blusa e deu um salto, fugindo daquele lugar. O buraco na sala se fechou, e eles finalmente puderam descansar.

— Por ora, vamos apenas descansar. — disse Arthur, respirando com dificuldade. — Depois a gente resolve isso.


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