Nós saímos correndo em direção a um galpão abandonado, não muito longe de onde estávamos. Quando dei por mim, ambos estávamos encharcados e rindo freneticamente.

– Você sabe que não deveria estar rindo, se te pegam, você nem imagina o que podem fazer contigo – dizia em meio aos risos.

– Eles não conseguiriam me pegar nem que quisessem.

– Mas poderiam fazer algo comigo, afinal eu estava te ajudando.

– Por falar em ajudar – ele abriu um largo sorriso, zombando. – Foi bonitinho você tentando me proteger.

– Eu tento te ajudar e você ri de mim? Na próxima eu deixo que te levem preso. – Dei meia volta e caminhei para fora do galpão, uma área coberta, parecido com uma varanda. Bucky me seguiu.

– Eu sei me cuidar.

– Um ‘obrigado, Georgiana’ seria suficiente.

– Obrigado, Georgiana. – Ele agora havia passado à minha frente. Estava com um sorriso irônico. Sorri de volta e sentei-me no chão, esperando até que a chuva parasse, ele seguiu meu gesto e sentou-se ao meu lado.

– Onde você estava dormindo antes do meu apartamento?

– Aqui

– Aqui? – arqueei as sobrancelhas, confusa.

– Sim, por isso nos trouxe para cá. Ninguém vem aqui.

– Bem... – dei uma pausa e olhei para frente. – Pelo menos a vista é ótima.

– Você sendo gentil comigo? Isso é novidade.

Revirei os olhos. Ficamos em silêncio por algum tempo.

– Estou literalmente ferrada! – deixei escapar um suspiro e joguei a cabeça para trás.

– O que disse?

– Quando o meu chefe, Collins, descobrir que eu estou te ajudando.

– E por que está me ajudando? – ele se aproximou um pouco de mim.

– Porque eu sei que é o certo, você não teve culpa de nada. É só que... Eu não quero ser suspensa da agência outra vez.

– O que aconteceu na primeira vez?

– Collins me deu uma missão, eu devia capturar um fugitivo da W.H.I.S.C – cruzei os braços. – Eu o segui por semanas, tive várias chances de pegá-lo, mas ele sempre dava um jeito de me ameaçar ou quase me matar. Collins sempre me dizia que o queria vivo, de uma maneira ou outra. Um dia eu o segui até uma ponte, ele ficava fazendo menção de que ia se jogar, eu até falei que ele não ia resolver nada se matando. Então ele apontou uma arma para mim e quando dei por mim, disparei a minha primeiro. Fiquei meses longe da W.H.I.S.C.

– Não foi sua culpa, era ele ou você.

– Acontece que dessa vez eles não vão só me suspender. Eu até posso ir presa por isso. – Fiz uma pausa – Mas eu não quero ficar aqui sofrendo por antecedência. Vamos, me fale alguma coisa sobre você.

– Você sabe tudo sobre mim.

– Eu gostaria de ouvir algo sobre o verdadeiro Bucky, antes do Soldado Invernal.

– Tudo o que eu sei sobre mim, você também sabe, então...

Bucky viu que eu estava tremendo, então tirou a jaqueta para colocar sobre meus ombros. Acabei observando o braço mecânico que agora estava exposto.

– Perdeu alguma coisa, agente? – ele perguntou sorrindo, eu desviei o olhar para o dele.

– Não, é só que é pouco comum ver alguém com um braço mecânico. – Voltei o olhar para seu braço. Lentamente aproximei minha mão de seu braço, mas antes de tocá-lo, eu o olhei. – Posso?

Ele apenas fez um sinal que sim e eu toquei seu braço levemente, era frio. Subi lentamente até a estrela vermelha, Barnes seguiu minha mão com os olhos.

– Como se tornou agente, Georgiana? – Ele me questionou. Sua pergunta me pegou de surpresa e eu o fitei, ainda com a mão sobre seu braço.

– Você quer mesmo saber?

– Por favor.

– Eu tinha uma irmã caçula. Fazíamos tudo juntas e eu a amava mais que tudo. Um dia nossos pais pediram para que fôssemos até o mercado para comprar alguma coisa. Nós acabamos demorando mais do que o esperado, e quando retornamos já estava escurecendo. Estávamos passando por uma rua deserta e um homem nos parou, do nada. Eu imediatamente me posicionei na frente dela. O homem pedia que entregássemos tudo o que a gente tinha para ele, mas não tínhamos nada. Ele apontou uma arma para nós e quando vi, minha irmã me abraçou – fiz uma pausa para secar meus olhos. Eu estava à beira das lágrimas. – Foi tudo tão rápido. Eu ouvi o tiro, minha irmã me olhou e caiu.

Eu dei alguns passos à frente, enquanto secava as lágrimas que escorriam na minha bochecha. Eu odiava ficar vulnerável dessa maneira. Bucky se aproximou de mim.

– Eu não fiz nada para impedir. Nada! Eu não a salvei. A partir desse dia, prometi a mim mesma que ia dedicar a minha vida para prender criminosos. Eu treinei por anos e entrei para a W.H.I.S.C.

– Eu sinto muito. – Ele fez uma breve pausa e me virei para olhá-lo, ele tinha uma expressão confusa, como se não soubesse o que dizer. – Eu sinceramente não sei o que fazer com uma mulher aos prantos.

– Só me abrace.

Bucky me abraçou em um movimento calmo. Eu coloquei os braços ao seu redor e o apertei um pouco, ele fez o mesmo. Foi reconfortante.

– Obrigada, Bucky – disse quando nos afastamos.

– Não foi nada, Georgiana. – Ele disse gentilmente. Eu me afastei um pouco de imediato, e fiquei olhando para seu rosto. – O que?

– É a primeira vez que te chamo de Bucky e você não reclama – dei um sorriso.

– Acho que eu gosto quando você me chama assim – ele deu ênfase no ‘você’.

O meu sorriso foi dando lugar a um ar mais sério. Eu passei a mão em seu rosto e me aproximei lentamente, logo não havia mais espaço entre nós e nos beijamos. Agora bem ciente do que estávamos fazendo, não como nosso primeiro beijo.

Eu passei minha mão sobre seu braço mecânico. Deslizando de baixo para cima. Depois de um tempo, Bucky se afastou um pouco de mim.

– Tem algum som vindo do seu bolso. – ele apontou.

Só então percebi que meu celular estava tocando. Eu fiz uma careta de frustração e peguei o celular no bolso da minha calça. Li o nome de Collins no visor e atendi.

– Diga.

– Agente Wayland, o Lorde Antares fugiu da prisão da W.H.I.S.C. – Collins falava de modo exasperado.

– Como isso foi acontecer? Eu nem tive a chance de interrogá-lo.

– Se você não estivesse ocupada com o caso do Soldado Invernal, que você já deveria ter acabado, teria a chance de interrogá-lo. Por isso estamos entregando o caso para outra pessoa.

– O que? – Praticamente gritei ao telefone e Bucky me olhou assustado. – Você não pode estar falando sério. Eu me empenhei bastante nesse caso.

– E falhou. Você está fora dessa missão, Georgiana, colocamos o agente Ethan Johnson no seu lugar. Agora sua missão é ir atrás do Lorde Antares. E se você falhar... Nem precisa voltar para a W.H.I.S.C.

Ele desligou o telefone antes que eu pudesse dizer alguma coisa.

– Droga! – Passei as mãos na cabeça, irritada.

– O que aconteceu, Georgiana?

– Collins está desconfiando de algo e colocou outro agente no caso Soldado Invernal. Eu estou fora. Então, Bucky, agora você corre perigo.