Capítulo 23: Duas guerras, dois mundos, um ideal. 

            - Seu filho é um bruxo e ainda assim você não conhece quase nada do nosso mundo.

            Tom Riddle sorriu sem graça para a mulher que estava sentada a sua frente. Realmente, era constrangedor fazer papel de desentendido na frente de Evelyn.

            - Tom nos explica tudo o que pode sobre o mundo de vocês...

            - Bom, isso é normal – a mulher sorriu – Ele descobriu que era um bruxo apenas quando completou onze anos, demora um tempo para descobrir tudo o que o mundo bruxo esconde.

            - Meu pai não se conforma com o fato de vocês terem construído toda uma sociedade escondida bem debaixo de nossos narizes e nós nunca termos descoberto – Riddle riu – Realmente, é impressionante.

            - Temos que nos esconder, não? Imagine como seria se todos soubessem que magia existe – disse Evelyn, olhando em volta para as ruas quase vazias do Beco Diagonal – Das duas uma: ou os trouxas iriam nos caçar como já fizeram na época da Inquisição ou iriam querer usar a nossa magia para tudo.

            Tom nunca havia pensado naquilo. Ele sempre se perguntara a razão dos bruxos se esconderem tanto, já que eles não estavam mais vivendo naquela época de trevas aonde as pessoas achavam que você era um enviado do demônio só porque tinha um gato preto em casa, mas nunca havia pensado nas conseqüências de uma sociedade bruxa conhecida por todos. Evelyn estava certa... Alguns trouxas iriam ir a loucura, caçando bruxos, dando a desculpa medieval de que eles eram demônios, outros iriam fazer de tudo para explorar a magia que eles possuíam. Imagine como seriam as guerras...

            - A guerra... Existe alguma possibilidade de existirem bruxos por detrás de tudo o que está acontecendo? – o homem perguntou.

            - É óbvio que existe bruxos por detrás do Eixo – a bruxa explicou, cruzando as pernas e encarando o outro – Grindelwald e... me desculpe, como é o nome daquele homem?

            - Hitler.

            - Isso. Grindelwald e Hitler estão agindo em conjunto... Bom, é mais ou menos isso. Na verdade, uma guerra alimenta a outra – ela fez uma careta enquanto tentava achar um jeito de explicar aquilo – Tanto os nazistas quanto os seguidores de Grindelwald têm uma ideologia parecida: purificar o mundo. Hitler quer que apenas a raça ariana continue vivendo enquanto Grindelwald quer que apenas os bruxos puro-sangues sigam em frente... E ambos realmente acreditam que estão fazendo isso para “o bem maior”.

            - “O bem maior”?

            - Nazistas acreditam no “Um povo, um império, um chefe”, não é mesmo? – o homem concordou com a cabeça – Seguidores de Grindelwald acreditam no “Bem maior”, é um tipo de lema...

            - Nazistas têm a suástica, esses bruxos têm o que? – Tom perguntou, seguindo a linha de raciocínio da outra.

            A bruxa não falou nada, apenas puxou a bolsa que tinha pendurado na cadeira e tirou de dentro dela um pedaço de pergaminho e uma pena. Aquilo era uma mania que ela tinha... carregar pergaminho e pena para todos os lugares.

            - Eles têm um símbolo assim – Evelyn colocou o pergaminho sobre a mesa e começou a fazer um desenho esquisito. Quando a mulher finalmente terminou, Tom observou os rabiscos que ela havia feito.

            - O que é isso?

            - É o símbolo de Grindelwald, mas também é o símbolo das Relíquias da Morte...

            - Das o que? – o homem franziu a testa, vendo a outra rir dele.

            - É um conto que os bruxos costumam contar para os filhos – Evelyn explicou – O Conto dos Três Irmãos... Dizem que havia três irmãos viajando e eles acabaram se deparando com um rio. Juntos, eles fizeram uma ponte sobre o rio, com magia, e a atravessaram. Quando chegaram ao outro lado, a Morte apareceu para eles, dizendo que estava surpresa com a esperteza deles, pois se eles não tivessem conjurado e ponte e tivessem tentado atravessar o rio nadando, eles teriam morrido...

            - A Morte então decidiu dar um presente para cada um deles. O primeiro pediu uma varinha que pudesse vencer todas as batalhas, e foi o que a morte lhe deu. O segundo pediu alguma coisa que pudesse ressuscitar os mortos, e a morte lhe deu uma pedra que faria isso. E o terceiro pediu apenas alguma coisa que o escondesse da própria Morte... E ela lhe deu a sua Capa da Invisibilidade.

            - Capa da Invisibilidade?

            - São capas que deixam a pessoa invisível, existem algumas baratinhas para vender, mas elas acabam “desbotando”. É raro achar uma realmente boa – disse a bruxa – Mas então... O primeiro irmão conseguiu vencer todas as batalhas das quais participava e ficava se gabando de sua “varinha invencível”... Até que ele foi morto e o assassino roubou a varinha. O segundo irmão usou a pedra para ressuscitar a noiva que havia morrido, mas o que voltou a vida foi um tipo de espectro que não estava feliz de estar ali, ela queria seguir em frente. Não agüentando ver a infelicidade da amada, o bruxo se matou... E o terceiro viveu muitos anos, escondido debaixo de sua capa, até decidir que sua hora já havia chegado e retirar a capa, entregando-se à Morte e deixando a sua relíquia passando de pai para filho na sua família.

            - Wow, é uma história e tanto – o homem riu – Mas o que as relíquias tem a ver com este símbolo?

            - Veja – Evelyn começou a apontar cada parte do desenho – O triângulo representa a Capa da Invisibilidade, o círculo é a Pedra da Ressurreição e a linha no meio é a Varinha das Varinhas. Grindelwald usa este símbolo porque acredita que as relíquias realmente existam...

            - Mas é apenas um conto de fadas.

            - Mas existem fontes históricas que quase comprovam a existência das Relíquias – a bruxa falou – É interessante ver como as coisas fazem sentido, sabe?

            O homem sorriu e assentiu com a cabeça. Ele se lembrava daquela história... Tom a havia contado para ele quando ainda estava no primeiro ano em Hogwarts.

            - Vocês têm alguma previsão para o fim da guerra? – a pergunta deixou a sua boca antes que ele pudesse perceber.

            - Não. Grindelwald é poderoso demais, até agora ninguém conseguiu derrotá-lo... E sobraram poucos com coragem para enfrentá-lo.

            Riddle deu um sorriso triste, não sabendo o que falar naquela hora. A guerra contra aquele Grindelwald estava afetando tanto os bruxos quanto a guerra contra Hitler estava afetando os trouxas, ele sabia disso.

            - Ouvi dizer que Grindelwald não está tão poderoso aqui na Inglaterra.

            - Bom, a imprensa diz isso, mas eu sei de pessoas que estão sendo atacadas por seguidores dele – Evelyn franziu a testa com preocupação – Foram poucos ataques que visavam mais assustar do que machucar, mas não duvido que eles ganhem confiança se perceberem que nós não estamos nos defendendo direito...

            - Quem... Quem eles atacaram até agora?

            - Um jornalista que costumava escrever algumas colunas sobre trouxas em uma revista meio alternativa e uma bruxa do Ministério que é casada com um trouxa – a bruxa o encarou com os olhos cheios de preocupação – Vocês deviam tomar cuidado. Uma família inteira de trouxas com um filho bruxo...

            - Tom é apenas um estudante, não iriam nos atacar – o homem mordeu o lábio inferior, não tendo certeza de que o que ele estava falando fazia sentido – Eles parecem estar atacando gente mais influente... Não?

            Quando a ruiva o olhou com tristeza, antes de dar de ombros, Riddle sentiu a incerteza e a preocupação crescer ainda mais dentro de si.

            ***

            Cobrindo os olhos com a mão para se proteger do Sol, Tom Riddle olhou em volta, tentando encontrar Emily nos terrenos de Hogwarts. Ambos haviam acabado de ter um teste em Transfiguração e haviam combinado de se encontrar nos jardins, para conferir as respostas.

            - Hey, Tom! – o rapaz finalmente enxergou a menina da Lufa-Lufa se aproximando dele, sorridente – Como foi?

            - Não estava tão difícil – ele deu de ombros – Acho que Dumbledore não queria forçar muito logo no começo do ano.

            - Você fala isso porque foi extremamente bem nos N.O.Ms! – Emmy riu – Ainda não acredito que você conseguiu todos aqueles “Ótimos”!

            - Eu só estudei, Emmy.

            - Eu estudei também – a garota soltou um muxoxo – E só consegui um “Ótimo” em Feitiços e Trato de Criaturas Mágicas... Consegui só um “Excede expectativas” em Defesas! Como eu odeio essa matéria!

            - Eu ainda não entendo porque você não muda para as aulas práticas.

            - Eu já disse: só tem garotos!

            - Tem a McGonagall.

            - É, mas ela tem o Pottercomo companhia.

            Riddle ficou em silêncio e sentiu um nó se formando em seu estômago. O que ela queria dizer com aquilo? Ele estava lá nas aulas práticas para fazer companhia à ela!

            - Eu ainda acho que você deveria tentar a prática, já que está indo mal na teórica – o sonserino resmungou e virou o rosto para observar o Lago Negro, mas tendo que novamente esconder os olhos por causa da claridade – Sol maldito.

            - Quem mandou ter olhos tão claros? – Emily riu – Se tivesse esses olhos ordinariamente escuros como os meus – ela apontou para os próprios olhos verdes escuros – Não teria esse problema.

            - Então lá em casa todos nós temos problemas com o Sol – o garoto riu – Mas realmente está muito claro hoje...

            - O que você queria? Céu nublado e chuvas torrenciais?

            - Não seria má idéia.

            - Deixe isso para o inverno, Tom – a menina sorriu – Aproveite o resto doo outono.

            Os dois pararam perto da margem do lago. O bruxo ficou com os olhos fixos na água, observando as leves ondulações que se formavam na superfície clara. A água era como um calmante para ele, por isso ele gostava tanto de ficar parado na beira do lago, observando-o.

            - Será que a Lula-Gigante está solta? – a voz de Emily o tirou de seus pensamentos.

            - Não sei...

            - Queria dar um “olá” para ela.

            - Você é estranha.

            - Eu sei disso.

            O rapaz riu e ouviu a amiga acompanhá-lo na risada. Agora que ele voltara a falar com Emmy, ele percebera como o ano anterior havia sido sério e tedioso. Tom passara quase todo o quinto ano sem falar com a lufa, andando apenas com os colegas da Sonserina, e agora percebia como sentira falta da presença da outra.

            - Bom dia, Emmy! – o bruxo ergueu os olhos para ver um rapaz da Lufa-Lufa acenando para a bruxa – Olá, Riddle.

            - Bom dia, James – a menina sorriu e acenou para o outro enquanto Tom apenas fechou o rosto e o encarou.

            O garoto lufo deu um último sorriso na direção da garota, antes de voltar a conversar com os amigos que o acompanhavam. Riddle se pegou amaldiçoando o lufo desconhecido e ainda com a expressão séria em seu rosto.

            - O que foi?

            - Quem é ele?

            - Ah, é o James, ele está no sétimo ano – Emily explicou – Acho que a Brianna gosta dele.

            - Tem certeza de que é ela quem gosta desse rapaz? – Riddle perguntou, sem conseguir controlar o tom rude em sua voz.

            Emmy não respondeu de imediato, mas se virou para encarar o amigo com uma sobrancelha erguida e um sorriso maroto nos lábios.

            - Tom, Tom, Tom... Você está com...?

            - Não, não estou com nada – o sonserino interrompeu a outra – Me diga uma coisa, você vai fazer as aulas de Aparatação?

            - É claro que vou...

            O rapaz sorriu levemente quando a amiga conduziu a conversa para outro rumo, antes de voltar a olhar para as águas calmas do Lago Negro.

***

N/A: Depois de décadas sem postar, aqui está um novo capítulo sem graça ... Bom, é mais um cap. de transição, dando um geral na situação do mundo naquela época.

As pesquisas desse capítulo estão aqui: http://aribh.livejournal.com/22705.html#cutid1

Bom, eu não vou poder postar por duas semanas porque...