Sangue e Alma escrita por FireboltVioleta


Capítulo 9
Instinto... nem tão animal




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RONY

Hermione parecia estar se adequando muito bem á nova rotina.

Desde que eu a trouxera á seu lar provisório, ela me parecia menos arisca, mais conformada e muito menos rabugenta. Durante cada dia, eu iria de duas á três vezes até a Sala para conferir se estava tudo bem. Em uma delas, se ela estivesse precisando, também "reabasteceria" sua sede de sangue.

Na segunda vez que Hermione me parecesse fraca, decidi fazer o mesmo esquema da última vez que a alimentara.

Mas quando entrei na Sala Precisa e acolhi seu corpo em um abraço de boas-vindas, percebi o quanto estava magra e pálida.

– Está com fome? - indaguei enquanto acariciava sua cabeça.

Ela me lançou um olhar irônico, como se dissesse "fome não é bem a palavra certa".

– Enfim - revirei os olhos, rindo - você está péssima. Vai precisar de um gole.

Era em parte verdade; Hermione estava tão abatida e trêmula quanto no primeiro dia da vampirização... era evidente que precisava de sangue, e uma quantidade bem maior do que a última.

Mas ao mesmo tempo não podia deixar de perceber que, mesmo com os olhos amarelos, gestos instintivos e uma personalidade assustadora, Hermione ainda era a garota linda e sagaz que eu sempre conheci. Com o coração tão bom que seu estado atual lhe parecia repulsivo.

Minha pobre garota...

Ela aninhou a cabeça em meu ombro, como um gato carente. Parecia tão frágil e vulnerável... não parecia em nada nem com a Hermione de dias atrás e nem com a criatura fantástica e perigosa que conheci na Ala Hospitalar.

Enquanto a abraçava, puxei da mesinha um dos bisturis que ainda não havia usado.

Hermione congelou, balançando a cabeça. Parecia chateada.

– Eu já disse que isso não é problema para mim - suspirei para ela.

Ela empurrou o bisturi na minha mão.

Foi aí que eu entendi.

Ela precisava de mais sangue do que de um simples corte. Concluí que, se fosse pelo último método que usamos, eu ia sofrer um bocado até satisfazer sua sede.

O que ela precisava era de uma veia.

E sim, a ideia quase me fez cair no chão.

Hermione pareceu ler minha mente. Seu rosto se contorceu numa expressão aflita.

– Não, tudo bem - murmurei, pegando minha coragem que caíra no chão e dando uma espanada nela - a gente dá um jeito.

Eu estava um pouquinho nervoso com isso, sim. Mas eu nunca deixaria de ajuda-la por causa de um medo irracional e ridículo. Nunca mais ia deixar fobias bobas ferrarem com tudo na minha vida.

Sentei na cama com ela e ergui o pulso na sua direção.

Hermione arregalou os olhos e sacudiu a cabeça, empurrando minha mão de volta. Ela passou os dedos perto no meu pescoço, até pousa-los numa veia pequena no ombro.

– Ah - ri baixinho - menor... menos estrago.

Ela sorriu um pouco, mas o sorriso desapareceu logo. Hermione olhou para suas unhas. Estavam compridas, mas - pude perceber - não seriam muito boas para cortar uma veia. Iam fazer uma bela lambança.

Ela careteou e passou a língua nos dentes.

Droga. Ia ser na raça mesmo.

Minha coragem fez um bungee jumping até o chão outra vez.

A de Hermione parecia ter se acocorado no mesmo lugar. Ela arfou alto e foi para trás.

– Não, não - balancei a cabeça, respirando fundo - vamos fazer isso, sem problemas.

Ela suspirou e se aproximou outra vez. Seu rosto se posicionou perto da omoplata do meu ombro esquerdo. Ela ergueu os olhos para mim... suplicante.

Santa Mãe... ela estava pedindo permissão? Tive que segurar o riso.

– Claro que sim, garota...

Virei o rosto. Eu amava aquela menina e tudo o mais, mas definitivamente não ia olhar aquilo nem se fosse para salvar a vida dela.

Senti a pressão macia da mão de Hermione segurando a minha, e uma onda de carinho doentio invadiu meu corpo. Ela morria de medo de me machucar, e parecia triste por me ver um pouco amedrontado. Era um presente dos céus... ou um anjo que caíra dele direto para minha vida.

Enquanto pensava nisto, sorrindo, mal senti a fisgadinha em meu ombro causada pela mordida de Hermione, nem o sangue escorrendo para fora de meu corpo. E muito menos quando ela terminou.

Não pude deixar de me arrepiar quando sua língua sorveu as últimas gotinhas que haviam no corte. Tive mil comentários irônicos e maliciosos passando em minha cabeça com aquilo. Ri baixinho, o suficiente para Hermione não notar.

Antes que eu fizesse, Hermione apanhou minha varinha, fez um ou dois meneios com ela e fechou o ferimento.

– Andou treinando feitiços não-verbais? - perguntei, curioso.

Ela sacudiu os ombros, sorrindo de novo, envergonhada.

– E o que aconteceu com meu beijinho de agradecimento? - brinquei, querendo descontrair sua expressão narcótica.

Funcionou; ela riu - tipo, uma risada que era mais que uma bufadinha - e saltou para mim, me abraçando. Porém, o beijo que eu esperava ser plantado na minha bochecha foi enterrado e criou raízes bem na minha boca.

Fiquei satisfeito ao ver que aquela sua ladainha da proximidade tivesse se afastado de sua mente, mas também acabei ficando surpreso com a ferocidade e paixão presentes em seu ataque. Definitivamente, a Hermione normal não teria ousadia e desinibição suficientes para dar aquele beijo tão entusiasmado e sensual.

Quando fui ver, estava em cima dela, prensando seu corpo contra a cama. Meu Deus, o que ela estava fazendo comigo também? Eu nunca fui tão audacioso...

Tão rápido quanto começou, seu beijo parou. Ela empurrou meu peito, fingindo desespero, como se pedisse socorro, sacudindo o corpo embaixo de mim.

– O que foi isso? - eu ri após solta-la de nosso abraço.

Ela ergueu a sobrancelha como se indagasse " e eu lá sei?".

– Tem razão...foi puro instinto.

Ela cravou os olhos em mim; definitivamente eu não me lembrava daqueles olhos cor de âmbar serem tão penetrantes. Instinto foi pouco... aquilo beirou á loucura.

Ouvi batidas na parede da Sala. Ah, que ótimo. Gina e seu séquito estavam me esperando.

Me levantei, não sem antes quase cair ao me desequilibrar com o puxão de Hermione em meu braço.

– Ei, me deixa - dei risada ao ver sua expressão dengosa - eu volto logo, Hermione. Relaxe.

Hermione suspirou baixinho e baixou a cabeça. Parecia um cachorrinho abandonado.

– Pare de cena - acariciei seu rosto antes de me virar em direção á porta - nem tem como eu não vir logo, na verdade.

Hermione balançou a cabeça, revirando os olhos. Ufa... eu estava dispensado.

– Até mais tarde.

Ela acenou com o braço. Parecia triste.

Mais ou menos como me senti quando deixei a Sala Precisa. Minha vampirinha boba...


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