Sangue e Alma escrita por FireboltVioleta


Capítulo 6
Vai-e-vem




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HERMIONE

Meu corpo inteiro doía.

Me remexi na maca, fazendo a corrente balançar. Meu corpo sofria com a falta que meu sangue "evaporado" fazia.

Madame Pomfrey me olhava desdenhosamente, como se dissesse "eu bem que avisei".

Não podia culpa-la. Eu escolhera ficar passando sede, e agora estava ali, mal-humorada, querendo cavocar um buraco no piso e me enfiar nele.

A curandeira até tinha deixado um frasquinho de sangue no criado-mudo ao meu lado, mas, por mais que estivesse sedenta, aquilo me parecia repulsivo. Ou será que era só por que eu não fazia a mais remota ideia de qual coitado se cortara para encher aquilo ali?

De repente, minha teimosia não passava de receio de beber o sangue de um estranho.

Balancei a cabeça, enfiando-a no travesseiro. "Não seja burra, Hermione", minha parte ainda humana resmungava. "E você se sentiria melhor se fosse de alguém que você conhece? Um amigo... ou até o Rony?"

A simples ideia era tão arrepiante que me encolhi na cama, sibilando para mim mesma.

A porta da Ala Hospitalar se abriu com um estrondo. Levantei a cabeça levemente, mas não me virei para a entrada. Fosse quem fosse, se Deus quisesse, ia embora logo.

Mas eu vi que estava enganada quando um Feitiço de Soltura abriu a corrente em meu pé.

Droga, era ele de novo.

Rony me olhava de um jeito que, por um segundo, me fez engolir em seco. Ele parecia dividido entre a raiva e a designação.

Mesmo assim, obriguei meu corpo dolorido a se erguer na maca numa posição que eu esperava pateticamente que o intimidasse. Caramba, por mais que eu o quisesse ali, ainda odiava a ideia de algo dar errado com nossa proximidade.

Ele balançou a cabeça.

– Boa tentativa, Hermione.

Madame Pomfrey deu uma risadinha nervosa, estranhando mais aquela cena bizarra.

Eu só fiz sibilar e me encolher de novo na cama.

Para meu desespero ele se aproximou. Tipo, mais uns cinco centímetros e ele estaria grudado em mim.

Céus, eu não sabia o que ele viera aprontar, mas em seu olhar estava a certeza de uma decisão que me arrepiava os cabelos. Fosse o que fosse, ele faria. E nem eu poderia impedi-lo.

– Vamos...

Ergui as sobrancelhas para ele, sibilando uma indagação tão chocada que nem Madame Pomfrey deixou de rir.

– Você não vai ficar jogada no meio desses malucos aqui - ele agarrou meu pulso - já falei com McGonagall e aprontei tudo. Você vem comigo.

Rosnei um claro "não", enquanto tentava me desvencilhar de seu aperto. Merda, eu tinha esquecido o como ele era mais forte. A vampirização tinha me subido de tal modo á cabeça que eu pensei que seria fácil fugir. Me enganei.

Mesmo meus sibilos foram ignorados. Me sacudi, mas meu corpo estava tão fraco que não queria colaborar. Fiquei desesperada á tal ponto que tentei inutilmente morder seu braço para que me soltasse - não o suficiente para machucar, mas o bastante para ele me soltar. Mesmo assim, Rony continuou segurando e me puxando em direção á saída.

Meu corpo reagiu teimosamente e se jogou no chão, como uma mula teimosa.

Rony se virou e suspirou, revirando os olhos.

– Você podia colaborar.

Eu estava curiosa por saber aonde cargas d'água ele tinha "preparado" para eu ficar. Mas um pouco do que sobrara do meu raciocínio rápido respondeu por mim ao mesmo tempo que Rony.

– A Sala Precisa, Hermione - ele murmurou - aonde mais seria?

Ele tinha razão. Lá eu estaria segura, livre até certo ponto para não enlouquecer, mas longe o suficiente para não oferecer perigo á ninguém. Era perfeito.

Mas com eu atravessaria os corredores até lá sem que a sede batesse e me levasse á fazer uma burrada?

Chacoalhei a corrente caída ao meu lado para Rony.

Ele deu uma risadinha agoniada.

– Não tem quem tire isso da sua cabeça, não é?

Bufei, revirando os olhos.

Maame Pomfrey interviu por mim.

– Não é só ela que acha isso, senhor Weasley. Outras pessoas poderão acabar ficando com medo ou receio também. Por mais que a senhorita Granger possa estar controlada, o estereótipo de vampirizados ainda pode causar aversão á alguém... Talvez, apenas para evitar retaliações, seja melhor simular que ela está presa e segura.

Balancei as algemas outra vez, enfatizando.

Rony parecia completamente angustiado com a sugestão. Aquilo me cortou o coração. Uma onda de carinho varreu aquele meu corpo quase oco. Rony... aquele ruivo bobo e sofrido. Parecia que não havia limites para o quanto uma pessoa podia sofrer em menos de cinco dias.

E um esforço simplesmente humano, segurei sua mão, tentando tranquiliza-lo. Através do aperto, pude sentir uma veia que latejava demais, provavelmente fazendo eco ao seu coração. A ideia do sangue correndo ali dentro agradava minha parte vampirizada, mas minha parte humana balançava a cabeça desesperada, tentando fugir daquele instinto.

Rony me olhou, encarando meu rosto confuso com tantas emoções.

Ele devolveu meu aperto, segurando meu pulso. E, alguns segundos depois, prendeu-o com a algema arrebentada do chão.

Ergui o outro pulso para que Rony também o prendesse, mas ele balançou outra vez a cabeça.

– Assim já está bom.

Usei o braço ainda livre para abrir a gavetinha do criado-mudo ao meu lado e retirar algo que eu vira mais cedo.

Rony arregalou os olhos de repulsa ao ver o que era. Parecia uma focinheira, mas com o formato adequado para um rosto humano.

– Nem pensar - ele arrancou-o das minhas mãos.

Ergui os olhos para ele, ficando completamente zangada. Ele queria que eu colaborasse, mas também não queria ajudar. Assim não dava.

Disse tudo isso para ele num rosnado irritado.

Rony parecia tão irritado quanto eu. É... parecia que nosso terceiro dia de namoro ia começar com uma explosão. Ele parecia realmente mal-humorado também quando se aproximou para amarrar a grade em mim.

Virei de costas para que ele arrumasse a grade no meu rosto. Ele parecia amedrontado com a possibilidade de apertar muito, pois mudou três vezes a posição da fivela antes de solta-la.

Me virei para o espelho, avaliando minha aparência. Juntando aquela grade estranha á minha aparência mista de sereiano com gente, eu parecia uma labradora bípede de olhos amarelos.

A semelhança me fez rir através do ferro.

Rony olhou para mim, estarrecido, ao ouvir minha risadinha inumana. Ele arfou baixinho antes de sorrir um pouco.

Fazia cinco dias que eu não via um sorriso naquele rosto. Olhei para ele, soltando o que parecia o suspiro de um rotweiller pela boca. Eu ri outra vez.

– Está vendo - Rony pôs a mão em meu rosto; o local ficou quente.. ou seria o pouco sangue que me restara inundando meu rosto? - ainda é você. Boba, teimosa, maluca, inteligente e linda. Não mudou nada.

Minha parte humana deu uma voadora no meu monstro vampirizado interior e o jogou lá para o canto da minha mente. Em seguida, me empurrou sem cerimônia, fazendo-me abraçar aquele garoto abismado que estava na minha frente.

Ele retribuiu, me apertando contra seu corpo forte. Puxa... eu sentira falta daquele ninho em seus braços que parecia ter sido feito sob medida para mim.

Madame Pomfrey fungou baixinho atrás de nós. Rony e eu nos viramos e sorrimos ao ver e velha curandeira nos olhando compadecida.

– Ora essa - ela sorriu - parem de fazer cena, vocês dois... tenho que atender o próximo que vai ocupar seu leito e não quero fazer isso com cara de quem andou chorando. Andem, saiam os dois... - ela riu baixinho.

Rony me levou para fora da Ala Hospitalar pela corrente que agora atava minha mão. Fiquei ao seu lado enquanto andava pelo corredor, decidida á colaborar e ser uma vampirizada boazinha até o fim daquela semana agoniante.

Mas, mais tarde, Rony parecia decidido á estragar meu planos outra vez....


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