Sangue e Alma escrita por FireboltVioleta


Capítulo 14
Ida à guerra




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RONY

Soltar a mão de Hermione foi a decisão mais difícil que eu já tomara na vida.

Eu mal conseguia acreditar. Em um momento, nós estávamos bem e perfeitamente felizes. Eu estava começando a achar que minha vida tomara um novo rumo, com um novo objetivo... com um novo motivo para existir. Motivo este que me encarava com uma expressão violentamente tensa agora.

E do nada, o velho pesadelo parecia recomeçar. Gritos, explosões e luzes verdes.

Quanto tempo mais teríamos que lutar?

Eu me recusava a aceitar que a nossa maior chance de sobrevivência fosse produzida por mandar todos aqueles pobres vampirizados para lutar por nós. Não que eu não acreditasse que poderiam vencer. O que Gina e Harry haviam dito fazia todo o sentido.

O que fazia meu estômago revirar era imaginar Hermione logo na linha de frente.

O meu medo de morrer mal chegava aos pés do meu medo de vê-la ferida.

Ela se afastou, ainda me olhando.

– Hermione...

Hermione balançou a cabeça, parecendo aflita. Mas não estava aflita por ela mesma.

– Eu sei que é o único jeito... - sussurrei, para que só Hermione ouvisse - mas... tome cuidado. Por favor.

Aqueles olhos amarelos, que a poucos segundos haviam nos assustado, ameaçavam se desmanchar na minha frente.

Mas por que diabos ela estava preocupada comigo? Não seria Hermione que teria que sentar nos blocos destruídos do corredor norte esperando que o seu motivo de viver voltasse vivo para o castelo.

Harry se aproximou e colocou a mão no ombro de Hermione. Ela se virou, assustada.

– Você não precisa fazer isso também, Hermione. Podemos arrumar outro jeito.

O rosto dela se vincou, e ela balançou a cabeça em negativa. Parecia decidida.

– Ainda acho que vocês piraram - comentou Córmaco - quem garante que, se soltarmos estes vampirizados agora, eles não vão nos atacar?

– Vamos ter que confiar nela - Dino disse, indicando Hermione - é por isso que só ela pode nos ajudar. Se Hermione tem autocontrole, ela pode repassar isso para eles também.

Os olhos dele não se desviaram nem um minuto de Cho Chang, enquanto dizia isso.

Hermione se virou para os colegas vampirizados. Em seguida, olhou para mim e de mim para minha varinha.

Entendi na hora o que ela quis dizer.

Acenei com a varinha para o grupo de vampirizados no canto da Sala.

– Relaxo!

Todas as correntes se abriram com um estardalhaço, e os acorrentados se soltaram e levantaram.

Ao meu lado, uma centena de pessoas recuaram com medo.

Hermione ficou parada, olhando de um para o outro, como se esperasse que um deles avançasse

Para a surpresa de todos, nenhum deles se mexeu. Apenas ficaram olhando para Hermione.

Gina se boquiabriu ao meu lado.

– Eles... entenderam o que nós falamos? É como...

– É... - murmurei, chocado - como se estivessem aguardando uma ordem.

Os poucos vampirizados que pareciam arredios estavam sendo violentamente reprimidos pelos mais calmos. Uma das garotas infectadas - Heloísa - estava completamente alterada. Saltava de um lado para o outro como um canguru, como se estivesse louca para atacar.

Hermione olhou para mim de novo. Havia algo em seu olhar que eu não conseguia identificar. Talvez pela sua nova condição, uma aura incomum de poder parecia rodeá-la. Com o peso de uma líder de última hora nos ombros, ela nunca me pareceu tão linda e arrebatadora... ou era só o meu coração bobo, batendo no ritmo de seu nome?

Qualquer que fosse o motivo, não pude deixar de puxa-la para mim outra vez antes que se virasse e saísse de meu campo de visão.

No meio daquele que poderia ser nosso último abraço, eu quis dizer coisas que nunca teria dito em outras situações. Quis dizer o quanto eu a amava. O quanto Hermione era fantástica. O quanto eu a achava uma bruxa extraordinária. O quanto ela estava linda. O quanto eu sofreria se algo lhe acontecesse.

Mas tudo isso acabou sendo transportado num único e tímido beijo que eu lhe dei.

Hermione me empurrou - não de um modo agressivo, mas o suficiente para eu notar o quanto ela queria ficar em meus braços e o quanto não podia ficar ali.

– Amiga - Gina disse - vocês tem que ir....

Hermione assentiu. Acenando para a porta, ela surpreendentemente guiou os vampirizados com um único rosnado baixo. Lançou-me um último olhar preocupado, e, sem nenhuma expressão no rosto, desapareceu porta fora.

Um por um, os infectados foram saindo da Sala. A porta se fechou com um estrondo quando Heloísa passou por último.

Assim que todos haviam saído, começou um burburinho infernal dentro da Sala Precisa.

Lá fora, ouvíamos ecos de vozes e passos no saguão de entrada. Os Comensais deveriam estar revistando a entrada em busca de mais vítimas. Que os céus permitissem que eles não chegassem a Ala Hospitalar a tempo de matar os feridos ali.

Minhas pernas finalmente amoleceram e cederam. Caí de joelhos no chão, com as mãos no rosto.

Gina me acudiu, segurando minhas costas.

– Rony... se acalme... eles vão ficar bem...

Senti um aperto sufocante na garganta. A consciência de que Hermione e mais trinta pessoas inocentes estavam indo confrontar bruxos das Trevas finalmente caiu sobre mim como uma bigorna.

Se ela não voltasse... Deus, se ela não voltasse...

Se Alecto Carrow fizesse algo a ela...

Por que eu não a impedi de ir??

– Rony.. me escuta - Gina falou, tentando me tirar do meu torpor acusatório - não é culpa sua, nem de ninguém. Eles nos pegaram enquanto ainda estávamos nos recuperando. Sabe que não há outro modo de lutarmos. E - ela falou mais baixo e apertou o abraço - você sabe que nada nem ninguém mata aquela garota. Se Hermione estiver decidida a viver, não há poder na Terra que possa impedi-la.

Me levantei lentamente, assentindo.

Eu sabia que fora necessário.

Mas meu coração doía ao imaginar minha pobre namorada vampirizada tendo que lutar outra vez. Tendo que sujar as mãos quando valorizava cada segundo de vida de todos ao seu redor.

Quando parei de remoer esses pensamentos, fiquei consciente do tema das discussões ao meu redor.

– Vamos sair - disse o auror que havia nos avisado da invasão - precisamos observar se os infectados estão conseguindo retaliar. Se não estiverem, vamos ter que lutar - ele interrompeu o arfar indignado de Harry - com ou sem condições.

– Não quero mais lutar - choramingou uma menina do terceiro ano, que ainda estava com o braço enfaixado dos ferimentos da semana passada.

– Ninguém será obrigado se estiver ferido - resmunguei, encarando o auror - já chega de discussões. Chega de se esconder. Se cada um que lutar tiver que morrer para tirar esses Comensais que não foram presos da face da Terra, só deverá ir quem tiver consciência disso.

– Sempre pensando que a nossa linha de frente não dê conta do serviço, claro - comentou Gina - lembrem que os Comensais não fazem a menor ideia de que há vampirizados aqui. Já e um elemento surpresa ao nosso favor.

– Andem, vamos sair - Dino gesticulou o braço para nós - ficarmos parados não vai ajudar a terminar essa batalha mais rápido.

Enquanto saíamos, Dino olhou para mim.

No rosto sem feições do meu colega, pude distinguir o olhar de preocupação, medo e agonia que deveria estar em meu rosto agora.


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