Sangue e Alma escrita por FireboltVioleta


Capítulo 13
Retaliação




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/557612/chapter/13

HERMIONE

Em um momento, eu estava completamente feliz. Apesar se estar sentindo uma dor e uma sede de sangue aborrecedoras, eu estava me sentindo bem. Alegre, como há tempos não ficava.

Tudo parecia estar entrando nos conformes. Os vampirizados pareciam mais á vontade num recinto amplo do que acorrentados em camas. Eu mesma havia, em minha santa ignorância, notado que o comportamento deles - tal como o meu - estava ficando cada vez mais controlado e racional . Por uma simples linguagem corporal, eu praticamente consegui conversar com alguns, me sentindo um tanto estranha e estúpida por me comunicar com rosnados e gemidos igual uma jaguatirica.

Quando cheguei em Cho, porém, percebi um incômodo nela que me preocupou. Ela estava assustada e arredia, mas - pude perceber - não por sua sede se sangue e nem por algo em nosso instinto vampirizado. Ela estava assustada com outra coisa, que não identifiquei na hora.

Momentos depois, eu estava novamente nos braços do pateta bobo que era meu namorado. Rony parecia tão confortável e confiante em meus braços como eu estava me sentindo nos seus... apesar de, no caso dele, a confiança ser irracional e insensata. Eu estava com sede, mas não ia sacia-la enquanto os vampirizados ainda estavam se adaptando ali. Eu ia ser uma vampirinha comportada e ia dar o exemplo.

No conforto do ombro de Rony, ouvi algo que só imaginava ouvir em meu leito de morte.

– Eu te amo.

Levantei a cabeça, chocada.

Ele não havia falado aquilo.

Não. Imagina.

Ou falou?

Claro que não.

Das duas uma: ou eu havia ficado maluca e tive alucinações no momento... ou ele tinha dito mesmo.

Ele sorriu para mim, e meu coração saiu de sua caminhada matinal e começou á disputar uma maratona.

– Você não vai ouvir eu dizer isso outra vez - Rony disse, parecendo deliciado com minha falta de reação - então aproveite.

Meu sistema nervoso vampirizado, pelo menos uma vez naquela semana, não ficou nem um pouco direcionado para assuntos instintivos de caça. Ou talvez sim... só que a caça era outra.

No segundo seguinte, nós estávamos no chão.

Senti superficialmente a aproximação de duas ou três pessoas, mas não me importei.

Por que a única coisa que me importava agora era beijar aquele moleque que me enlouquecera durante sete anos.

Rony gargalhava. O som era maravilhoso, e fez meu pobre corpo fraco e vampirizado inundar-se de ternura... algo que nem meu corpo humano normal havia sentido antes com tanto vigor.

Que inferno. Acho que eu amava aquele garoto.

– Hermione, para... olha o assanhamento... tá todo mundo olhando.

Tentei rir, mas o som ficou preso em minha garganta.

Rony se virou sobre mim e prendeu meus pulsos no chão. Fingi me debater, só para diverti-lo.

– Se não fossem as características físicas, ninguém poderia dizer que essa jovem está vampirizada - comentou alguém ao nosso lado.

Ia balançar a cabeça com sarcasmo, mas algo me freou.

Alguma coisa estava errada.

Senti um arrepio na espinha... minhas mãos, presas pelas de Rony, se contorceram. Inconscientemente, senti minha visão se curvar e meu rosto contrair-se numa expressão quase animal de alerta. Me assustei com o rosnado inumano que saiu da minha boca.

Meu cérebro associava os sons que vinham de fora do castelo.

Uma marcha lenta de dezenas de pés.

Silêncio.

E depois uma explosão ensurdecedora.

Rony me soltou e ergueu-se num salto. Quase todas as pessoas da escola - professores, alunos e famílias - estavam ali, na Sala Precisa. Quem estaria lá fora?

Os vampirizados atrás de mim estavam rosnando e saltando para a frente. Eu mesma senti uma tensão que se irradiava da ponta dos pés até os dedos da mão. Um instinto novo que me assustou mais ainda... um instinto de matança.

Era tudo que eu vinha refreando durante a semana, vindo á tona num turbilhão violento e irracional.

Rony arregalou os olhos. Esperava ver medo, mas ele estava apenas confuso e preocupado.

– Hermione...

Alguém entrou correndo dentro da Sala, caindo de cócoras no chão após tropeçar. Era um dos aurores que haviam ficado do lado de fora.

– Comensais... são trinta ou quarenta... estão todos no saguão de entrada. Mataram seis alunos e todos os aurores lá fora.

Olhei para Rony, que respirava alteradamente. Harry e Gina surgiram atrás de mim

Comensais da Morte outra vez.

– Quem está liderando eles? - perguntou Harry.

O auror se levantou com dificuldade; parecia ter quebrado o pé.

– Alecto Carrow.

Rony recuou para trás, e vi, com tristeza, seus olhos transpareceram dor e raiva.

Alecto... a assassina de Fred.

– Eles parecem querer terminar o serviço que Voldemort não acabou - continuou o auror - ou só se vingar, não importa. Mas não há como retaliar... há muitos feridos, e quem sobreviveu... não deveria ser forçado á lutar.

– Vamos lutar - Dino arfou - caramba, vamos lutar! Acabamos de sobreviver á uma batalha, não é? Podemos ganhar outra!

– Isso é insano, Dino! - disse Gina.

Havia pelo menos três dezenas de Comensais lá fora. E quem estava ali ou estava ferido ou não tinha condições de lutar.

Senti raiva. Mais que isso, senti um desejo insano de matar.

O rosnado que saiu de mim em seguida foi completamente consciente.

Dino olhou para mim, e, no fundo dos olhos dele, percebi uma ideia ridícula, mas genial.

– Podemos mandar os vampirizados na linha de frente.

Todos olharam para Dino como se ele tivesse enlouquecido.

– Você pirou?? – gritou Rony, agarrando meu braço – mandar pessoas doentes para lutar?

– Pessoas perigosas e sedentas de sangue, Rony – Gina comentou, erguendo a sobrancelha – quer coisa mais mortal do que isso? Ou prefere mandar quem realmente está ferido para que morra mais rápido?

Rony sacudiu a cabeça.

Era genial. Insano e perigoso, mas genial.

Virei-me para os rostos assustados dos humanos e para os rostos tensos dos vampirizados.

Rony leu meu pensamento.

– Não. Você não vai.

Rosnei em protesto, indagando com os olhos se ele tinha alguma ideia melhor.

– Não, não tenho – disse ele, respondendo minha pergunta – mas não... – ele apertou meu pulso, e eu senti a aflição por trás daquele aperto – você não pode ir... não... – fiquei sem ar ao ver seus olhos marejarem – já perdi Fred. Você também não... por favor...

Meus olhos arderam ao vê-lo daquele jeito... por mim.

Encostei minha testa na dele, abarcando seu rosto com as mãos. “Por favor”, eu queria dizer a ele. “É o único jeito. É o melhor jeito”.

Gina interveio em meu favor.

– Rony... essa garota – ela me indicou com a cabeça – manteve vocês dois vivos durante um ano e meio quando cada pessoa da Grã-Bretanha queria a cabeça de vocês três. Por que ela não manteria trinta pessoas vivas durante algumas horas? Se há alguém que pode liderar um pequeno exército de vampirizados, esse alguém é ela.

Rony se virou outra vez para mim, e o desespero em seu rosto fez meu coração debilitado se partir ao meio.

– Tem razão... tem razão – ele apertou minhas mãos, suspirando – mas ainda dá medo.

– Isso é loucura! – protestou o auror que nos trouxera a notícia – mandar pessoas instáveis e doentes para duelar com Comensais da Morte? É ridículo!

Harry deu alguns passos para frente.

– Loucura é mandar quem acabou de sobreviver á uma batalha só para morrer em outra. A chance deles de vencer é maior que a de quem se feriu.

O auror suspirou, olhando para Harry com azedume.

– Espero que tenha razão, Potter. Vamos tentar. Mas nós sabemos de quem será a culpa se isso trouxer ainda mais mortes para o nosso lado.

Todos olharam para mim, e meu coração começou a bombear mais rápido com o pouco sangue que ainda se mantinha em meu corpo. O esforço era estonteante.

Olhei para todos ali. Mais de duzentas pessoas confiando em mim para resolver mais um desafio.

Foi a primeira e ultima vez na semana da vampirização em que eu me senti verdadeiramente forte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sangue e Alma" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.