Castiel olhava para o céu enquanto pegava uma segunda cerveja. Sente-se estranho olhar pra escuridão encoberta de estrelas, quando se sabe que há um infinito acima delas. É uma bela visão aos olhos humanos, mas através da visão angelical é tudo diferente. Mal sabem os humanos todas as guerras que as estrelas já presenciaram e as marcas deixadas para trás.

Ele pode sentir alguém olhando pra ele. Tendo graça ou não, ele pegou algumas peculiaridades humanas, como sentir quando se está sendo observado. Ele não precisa virar para saber que é o Winchester mais velho. Eles são os únicos lá fora, com apenas o vento para fazer barulho. Suas conversas silenciosas geralmente são confortáveis, tranquilas. Não hoje. Hoje está tudo muito carregado, pesado.

— Por que você não foi com ela, Cas?

— Porque você precisa de mim.

Dean só bufou e bebeu outro gole de cerveja, isso claramente não conseguiu o convencer.

— Hannah também precisa de você. Ela precisa de ajuda com os anjos rebeldes e toda essa porcaria. Por quê você não foi, cara?

— Eu deveria ter ido? — Dean não o queria lá, assim como da outra vez?

O outro homem apenas balançou a cabeça e voltou a beber. Olhando pro gramado onde eles estavam sentados, Dean parecia perdido em pensamentos.

Se o seu amigo não o queria ali, então Castiel iria apenas sair, certo? Ele iria terminar de beber a cerveja, despedir de Sam e ir embora. Se isso vai deixar Dean feliz, então ele vai sair. Nem que isso doa o quanto doeu da primeira vez.

— Eu não entendo o motivo de ter me escolhido, Cas. Mesmo depois de todas as coisas que eu já fiz, você continua voltando.

É que eu preciso de você também.

Eu tenho uma obsessão com suas peculiaridades.

Eu não sabia o que era dependência antes de você.

— Você entende, a diferença é que você apenas não consegue acreditar — ele disse soltando um suspiro.

Eles voltaram a ficar em silêncio. Depois que eles conseguiram curar Dean e ele pediu para Castiel ficar, Cas não conseguiu dizer não. Ele foi até Hannah que estava no lado de fora do bunker, entregou as chaves do carro e disse: "Um dia você encontrará alguém que te fará sentir um coração humano bater, irmã." Então apenas voltou ao bunker e aqui eles estão agora.

— Eu também errei. Muitas vezes e você sabe disso, Dean. Só que isso não te impediu de me aceitar de volta. Por quê seria diferente com você?

— Olhe pra mim e você terá sua resposta — Dean falou num sussurro. — Você sabe o quanto eu estou quebrado.

Castiel tem um milhão de respostas diferentes para isso.

Mas você continua sendo justo.

Sua alma nunca poderia ser corrompida.

Eu conheço você melhor do que ninguém.

Então eu me quebro e dou meus pedaços pra você se concertar.

— E quem de nós não está? — Ele colocou a garrafa de cerveja para baixo. — Eu vi você na forma de um demônio e eu vi que a escuridão chegou a sua consciência mas não infectou sua alma.

— Não diga coisas estúpid-

— Você é mais justo do que qualquer homem já foi — Castiel aumentou a voz, interrompendo Dean.

— Pare de dizer coisas boas sobre mim!

Então pare de me dar motivos para dizer.

Não há nada que me machuque mais do que seu auto-ódio.

— Tudo bem! — Castiel levantou-se e estava gritando agora. — Vou falar do quanto eu odeio que você se odeie! Ou fato de que você não vê que sua alma é coisa mais pura que já existiu!

Vamos falar o quanto eu odeio que você carrega o peso do mundo.

Dizer que odeio o fato de você pensar que ninguém se importa.

Mas odiar acima de tudo não poder te dar a paz que merece.

Dean se levantou também nesse momento e agora está de frente para o anjo, a poucos centímetros e apontando um dedo pra ele.

— Você tinha a chance de ir com a Hannah e deixar toda essa bagunça pra trás. Você poderia ter voltado ao céu e procurado a sua graça. Eu quero saber o motivo.

— Durante seis anos, eu tive muitas oportunidades de te deixar, Winchester. Já parou pra pensar que não é isso o que eu quero?

Dean parecia chocado com as palavras de Castiel. Por alguns instantes eles ficaram em silêncio, apenas respirando com dificuldade de gritar e olhando um pro outro. Cas estaria mentindo se dissesse que não é um alívio ter os olhos verdes no lugar dos pretos.

— Eu sei que você merece alguém melhor — Castiel começou. — Mas eu quero ter a certeza de que você está bem. Preciso saber que há alguém além de Sam precisando de você e se importando com você.

— Mereço alguém melhor... — Dean disse com raiva. — Não me venha com essa, anjo. Olhe ao redor! Você é bom demais pra mim e sabe disso.

— Cale a boca.

— Eu estou falando sério aqui, como você pod-

— Dean, cale a boca — ele interrompeu.

— Eu não vou calar a bo-

— Então eu vou te beijar enquanto você fala.

Sem deixar ao menos tempo para as palavras afundarem na mente do Winchester, Castiel o puxou pela camisa vermelha que ele vestia. O ângulo foi meio estranho, pra dizer o mínimo. O anjo é mais baixo e Dean estava muito ocupado sendo surpreso para conseguir abaixar.

Ele não chegou até aqui pra desistir, então apenas puxou com mais insistência até que o outro homem fechou os olhos e deixou ser levado pelo sentimento. Os lábios de Dean tinham um gosto de cerveja e hortelã, e o anjo nunca pensou que seria uma combinação tão boa.

Soltando lentamente, ou este é o momento em que o Dean o dá um soco no rosto ou o momento em que ele apenas quer uma explicação.

Definitivamente a opção número dois.

— Por que você não foi com ela, Cas?

Porque ela não tem seus olhos.

Nem suas sardas.

Muito menos seu humor.

Ela não faz suas referências.

Eu não a segurei firme e a tirei da perdição.

Eu não preciso dela.

Ela não é minha prioridade.

Eu não fiz de tudo para salvá-la.

— Porque eu te amo, Dean Winchester.

Dean não disse que o amava também.

Pelo menos não naquele momento. Mas só porque ele estava muito ocupado segurando as lapelas do trenchcoat e puxando a boca de Cas com a sua.

E então ele disse isso de volta. De mil formas, com milhares de palavras. Ele consagrou sua vida em Cas. Ele iluminou um caminho que estava escuro demais para o anjo seguir sozinho. Ele provou o seu amor, no seu determinado tempo. Ele demonstrou o quanto ele guardou para si durante tanto tempo.

E Castiel ensinou Dean a amar a si mesmo. Deu-lhe novos sonhos e mostrou novas trilhas. Ditou que não há nada mais claro do que o Winchester. Transformou-o em um templo de adoração, declarando seu amor e sua fé naquele ser humano. Mostrou que pessoas imperfeitas são as melhores, mostrando em suas falhas toda a sua história.

Mal sabem os humanos todas as histórias de amor que foram presenciadas e abençoadas pelas estrelas.