As aulas recomeçaram e todos os alunos de Hogwarts tinham cada vez mais trabalhos para fazer. Em todas as disciplinas, o grau de dificuldade estava a aumentar a olhos vistos e eles mal tinham tempo livre com todos os trabalhos que lhes eram passados. Dos alunos que agora faziam parte do grupo de estudos, Victoire era a mais aflita, pois no sexto ano a exigência era enorme. Muitas vezes, ela tinha de chegar atrasada aos encontros do clube, por conta de todos os trabalhos que tinha para fazer. No entanto, quando estava presente, ajudava toda a gente, principalmente com a matéria de transfiguração, facilitando bastante o trabalho de Rose, que não tinha de pesquisar para ajudar os primos mais velhos. Desta forma, conseguiam rentabilizar muito melhor o tempo e aprender muito mais feitiços novos, que lhes poderiam ser úteis nesta época de trevas que estava para vir.

Apesar disso, Rose, Alvo e Scorpius não desistiam de procurar novas pistas que os pudessem auxiliar na solução do mistério. Era uma sexta-feira de finais de Fevereiro, em que a neve começava a dissipar-se, dando lugar a uma chuva mais branda. Nessa noite, pedindo emprestado o mapa do Maroto a James, Alvo e os amigos, cobertos pela capa de invisibilidade, decidiram seguir o professor Silver, de transfiguração. A princípio, não conseguiram nada, pois o professor permaneceu algum tempo na sua sala, saindo apenas para jantar.

– Não acham que é melhor desistirmos? – perguntou Rose. – Estamos aqui há horas e não acontece nada!

–Calma, eu sinto que hoje vai acontecer alguma coisa, não me perguntem porquê, mas sinto – disse Alvo, bem sério

Permaneceram mais algum tempo em silêncio, encostados à parede do corredor da sala do professor Silver. Alguns alunos iam passando por lá a caminho dos seus salões comunais e, nessas ocasiões, os três amigos encostavam-se ainda mais à parede, com receio que algum dos colegas se aproximasse demasiado e acabasse por ir de encontro a eles. Depois de passar a hora do toque de recolher, o zelador Filch, que agora estava muito mais velho, passou pelo corredor, acompanhado da sua fiel e irritante gata, Mrs’ Norris, que, na opinião de Alvo, já era demasiado velha para ser uma gata normal, uma vez que já estava na escola desde o tempo dos seus pais. Alvo e os amigos ficaram com medo que a gata sentisse o seu cheiro e os denunciasse. De facto, ela ficou algum tempo parada muito perto do local onde eles estavam mas, como nada viu, seguiu atrás do seu dono, continuando a farejar possíveis intrusos.

Quando faltavam poucos minutos para a meia-noite e todo o castelo já estava escuro, o professor Silver esgueirou-se discretamente pela porta da sua sala, sendo rapidamente seguido por Alvo, Rose e Scorpius. Em silêncio, andaram pelos corredores do castelo, até chegarem às grandes portas de carvalho, que Silver abriu, tendo, no entanto, o cuidado de fechá-las. Isso constituiu um entrave para os três amigos, que tiveram de esperar que o professor andasse um pouco mais para a frente para que não visse a porta abrir-se aparentemente sozinha. Quando consideraram que já tinha passado tempo suficiente, os três amigos aproximaram-se e Rose abriu a porta. Todos saíram rapidamente, voltando a fechá-la, esperando que ninguém tivesse reparado no que tinha acabado de acontecer. Tiveram de andar algum tempo até voltarem a avistar o professor. Silver estava, naquele momento, a sair dos portões de Hogwarts. Alvo e os amigos apressaram o passo, mas era demasiado tarde, pois Silver tinha acabado de aparatar.

– Oh, eu não acredito nisto! – irritou-se Scorpius. –Se for sempre assim, nunca saberemos para onde ele vai!

A sua irritação e desilusão estava espelhada nas caras dos três amigos. Desta forma, como iriam saber onde Silver ia? É certo que, à última hora, poderiam agarrar-se ao seu braço, mas denunciariam imediatamente a sua presença, o que tornava este plano completamente inviável. Então, como poderiam fazer? Mesmo que soubessem aparatar, como saberiam para onde o deveriam fazer?

– Só nos resta esperar por uma próxima oportunidade! – disse Alvo, desiludido.

– Talvez não! – contrapôs Rose. – Eu tenho uma ideia, mas, para isso, temos de envolver os adultos nisto. Mas antes disso, vamos para o salão comunal, conversamos lá! Assim, até podemos aproveitar para contar aos outros tudo o que sabemos e eu aproveito e conto a minha ideia de uma única vez.

Quando lá chegaram, não só James e Fred como todos os seus primos os esperavam ansiosamente. Todos estavam preocupados, sem saber o que lhes tinha acontecido. Quando eles, finalmente, passaram pelo buraco do retrato, todos suspiraram de alívio.

– O que aconteceu? – quis saber James.

– Estão bem? – perguntou Dominique.

– Ele descobriu-vos? – insistiu Victoire.

– Calma, esperem, nós contamos tudo, mas deixem-nos falar!

Rapidamente, Alvo contou aos primos toda a história. Todos ficaram surpresos e desiludidos, considerando que não haveria forma de saber para onde Silver tinha ido.

– Mas, há bocado, a Rose disse que tinha uma ideia e nos contava aqui, quando estivéssemos todos juntos. Que ideia tiveste, Rosie? – quis saber Scorpius.

– Bem, pensem comigo! O Ministério da Magia controla tudo o que se passa, certo? Então, também controla as aparatações de todos os bruxos, ou seja, há sempre registos. O que eu pensei foi em pedirmos a um dos nossos pais para investigar isso, bem discretamente, para não levantar suspeitas e para não alertar possíveis aliados do lado das trevas, que pudessem estar infiltrados no ministério.

Todos pensaram por um momento na ideia de Rose. Para a colocar em prática, tinham de falar com os adultos e, consequentemente, preocupá-los. No entanto, eles já estavam preocupados, e uma ajudinha neste momento era bem vinda.

– Está bem – concordou Victoire por fim, dando voz ao pensamento de todos. – Mas a quem iremos pedir ajuda?

– Podemos pedir ao nosso pai – sugeriu James. – Ele trabalha no Ministério e, para além disso, nós temos um espelho de duas faces, que usamos para comunicar com ele sempre que precisarmos.

Todos concordaram e James, fazendo o mínimo barulho possível para não acordar nenhum dos alunos dos Gryffindor, foi ao seu quarto para ir buscar o espelho. Quando voltou, sentou-se junto dos primos, dando início à conversa.

– Pai, estás aí?

Por um momento, nada aconteceu, mas James não estava disposto a desistir tão depressa.

– Pai! Pai! Precisamos de falar contigo!

De repente, uma imagem começou a formar-se no espelho e, quando esta ficou nítida, repararam que não era Harry mas sim Ginny quem tinha pegado no espelho.

– Está tudo bem, James? – perguntou Ginny, começando a ficar preocupada com a insistência do filho.

– Sim, mãe, está, não te preocupes, nós só precisávamos de falar com o pai – explicou James.

– Ele está a acabar de jantar, hoje chegou tarde do ministério, porque surgiram uns problemas no trabalho, mas espera só um bocadinho que eu vou lá chamá-lo. Não é melhor falarem amanhã? Hoje já é tarde, já deveriam estar a dormir!

– Mãe, amanhã é sábado e, acredita em mim, é mesmo importante!

– Está bem, espera só um bocadinho, então!

Ginny desceu rapidamente as escadas, indo até à cozinha para chamar Harry. Tinha percebido que o que quer que fosse que James e os outros queriam era, de facto, algo de extrema importância, que deveria ser resolvido o mais depressa possível.

– Harry, James está no espelho, quer falar contigo!

– Ele não te disse o que era? – quis saber Harry, começando a preocupar-se.

– Não, mas se bem o conheço, tem a ver com aquilo que tu sabes!

Imediatamente, Harry largou o seu prato, ainda quase intocado, e dirigiu-se ao quarto para falar com o seu filho.

– Então, James, que se passa? – quis saber Harry assim que pegou no espelho.

Rapidamente, James, com a ajuda dos outros, repetiu a história que Alvo tinha contado, bem como a ideia de Rose.

– Nós queríamos que tu tentasses saber para onde ele foi – concluiu James. – Pode não ser nada, mas também pode ser importante.

– Eu não sei se vou conseguir, James – disse Harry. – O Blaise Zabini trabalha nesse departamento, mas eu não sei o quanto ele é de confiança.

– Pode confiar nele – assegurou Scorpius. – Ele é o melhor amigo do meu pai e o único dos seus amigos do período de escola em quem ele ainda confia!

– Tens mesmo a certeza disso, Scorpius?

– Tenho, sim, pode ficar descansado. Se quiser, até pode perguntar ao meu pai!

– Não é preciso, se tu tens a certeza isso chega para mim. No fim de semana não posso fazer nada, para não levantar suspeitas, mas na segunda-feira eu falo com ele e tento dar-vos uma resposta. Chamem-me através do espelho quando estiverem sozinhos!

– Está bem, pai, vai lá descansar. Boa noite!

Após esta conversa, todos se foram deitar. Mal podiam esperar para que segunda-feira chegasse e, finalmente, pudessem saber para onde Silver tinha ido. Iria ser um longo fim de semana!