Contos de Halloween escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 10
A casa sem retorno - última parte




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Por pouco Cebolinha não arrancou seus cinco fios de cabelo.

– Aquela tlaidola vendeu a gente!

(Cascão) - Estamos condenados!

(Xaveco) – O fantasma vai comer a gente!

– Nem pensar! Por aqui, lápido!

Eles deram a volta pelo fantasma, que não saiu do lugar, e subiram as escadas rapidamente indo para o andar de cima. Havia um quarto onde eles entraram e fecharam a porta com força.

(Cascão) - Ela vai pegar a gente!

– Vai nada, a gente plecisa de um plano.

(Xaveco) – Que mané plano! Foi isso que meteu a gente nessa encrenca!

Através da porta, eles ouviram muitos gritos, gemidos, risadas e pancadas vindas da parte de baixo. Pareciam gritos de crianças vindo das paredes. Cascão se apavorou.

– São as crianças que aquele fantasma doido prendeu! Nós somos os próximos!

A maçaneta da porta mexeu várias vezes e eles se encolheram no canto do quarto, abraçados uns aos outros e morrendo de medo. De repente, a porta se abriu com força e fazendo um grande barulho. Eles gritaram, imploraram e choraram até perceberem que não havia ninguém ali. Só a porta aberta.

– O fantasma não tá aqui, gente! Vamos sair! – Cebolinha chamou e saiu dali seguido pelos dois. O corredor estava escuro e parecia mais longo do que era, como se estendesse até o infinito.

– Pra que lado a gente vai? – Xaveco perguntou.

– Deixa eu ver... pla lá, tá mais clalo.

Eles andaram lentamente até o fim do corredor e viram outro quarto.

– Tem uma janela aberta! A gente pode pedir socorro! – Xaveco falou e os três correram até a janela que não tinha tábuas pregadas. Quando chegaram perto, o fantasma apareceu de repente no outro lado, fazendo-os gritar de susto e sair correndo em debandada. Só lhes restou se trancar no banheiro.

– Aquela coisa vai pegar a gente, eu tô falando! Vai pegar a gente! – Cascão repetia tremendo como vara verde.

Eles ouviram passos do lado de fora e gemidos. Uma voz assustadora chamava.

– Venham minhas crianças! Mamãe ama vocês! Eu vou cuidar de vocês... para sempre! Onde estão minhas crianças?

Tomando cuidado para não fazer barulho, os três entraram na banheira e fecharam a cortina esperando que o fantasma desistisse e fosse embora. Os passos e os gemidos ficaram cada vez mais baixos e distantes, indicando que a assombração estava se afastando. Por fim, tudo ficou silencioso novamente. Eles estavam alertas, com os ouvidos apurados, suando e com o coração quase saltando para fora do peito.

Aos poucos, foram relaxando ao ver que nada acontecia. Tudo estava silencioso e parecia seguro. Sem fazer nenhum barulho, Cebolinha gesticulou para os amigos que estava na hora de eles saírem dali. Eles se levantaram lentamente e iam sair da banheira quando algo pareceu sair dos azulejos, projetando um clarão forte contra eles e um rosto assustador e fantasmagórico os encarou.

– Meus amores, encontrei vocês! – A criatura gemeu colocando meio corpo para dentro do banheiro e os três saíram dali atravessando a porta e gritando como loucos. Eles correram pelo corredor, desceram as escadas e quando chegaram na sala, viram aquela criatura flutuando no ar e olhando para eles.

Pla cozinha! Vamos sair pelos fundos!

Eles correram para a cozinha na esperança de encontrar uma saída, mas tudo estava fechado e trancado. A porta dos fundos não abria por mais que eles forçassem.

(Xaveco) - Estamos condenados!

(Cascão) – Se eu sair vivo dessa, prometo que tomo banho todo dia!

– E eu plometo que nunca mais faço planos contla a Mônica!

– Meus amores! Venham para a mamãe! - A voz falou de novo e eles viram a coisa flutuando no meio da cozinha de braços abertos, com aquele sorriso borrado de batom e olhos esbugalhados.

Com o pavor no máximo, eles saíram correndo dali e gritaram mais ainda, se é que isso era possível, quando viram o fantasma na sala outra vez. Aquela coisa se mexia mais rápido que o Flash!

– Meus bebês!

– Deixa a gente, assomblação! – Cebolinha gritou jogando vários tijolos contra a criatura.

Cascão e Xaveco forçaram a porta e gritaram aliviados.

– Vem Cebolinha, a gente conseguiu!

Mais do que depressa, os três saíram correndo dali apavorados como nunca. No meio do caminho, quando eles tinham passado pela porta da frente, eles ouviram risadas. Mas não eram risadas assustadoras ou fantasmagóricas. Eram risadas de meninas.

– Hahaha, olha a cara deles!

– A louca, acho até que eles molharam as calças!

– Eu é que vou fazer pipi de tanto dar risada!

Eles pararam de correr e viram, totalmente furiosos e espumando de raiva, três meninas saindo da casa rindo e se divertindo à custa deles. Eram Magali, Denise e Mônica, sã e salva.

– Deviam ter visto a cara de vocês, foi engraçado demais! – Mônica falou enxugando as lágrimas de tanto rir.

– Sua tlaíla, a gente tava pleocupado e você aplonta essa pla cima de nós?

– Bem feito, quem mandou vir com esses planos bobos pra cima de mim?

Xaveco pediu explicações, totalmente sem entender nada.

– Peraí, então era tudo fingimento? E aquele fantasma horroroso? – Magali entrou e saiu novamente arrastando alguma coisa vestida em trapos.

– Isso aqui, é só uma boneca que a gente fez usando uns panos velhos que minha mãe ia jogar fora.

Olhando sob a luz do dia, eles viram que aquele fantasma era só uma grande bola de meia enrolada em um lençol velho, longo e rasgado nas bordas. Os cabelos eram uma peruca velha de carnaval, daquelas feitas com fios prateados de plástico, e o rosto foi pintado com canetinha e giz de cera. Como eles puderam ficar assustados com aquela coisa tosca e ridícula?

(Cascão) – Peraí, esse negócio tava flutuando!

(Denise) - Tem muitas vigas no teto da casa. A gente só pendurou a boneca.

(Xaveco) – E aquela luz assustadora ao redor dela?

– Tá falando disso aqui? – Mônica tirou uma lanterna de dentro do pano.

– Mas ela tava em toda palte!

(Magali) – A gente fez mais de uma, ué! Até penduramos uma do lado de fora daquela janela que não tinha tábuas. E vocês caíram direitinho!

(Cascão) – E os gemidos?

Cada uma pegou um cone de cartolina e soltou alguns gemidos.

(Magali) - Dentro da casa tem eco e com esse cone a voz fica bem diferente.

– Tá, mas e aquele ventinho flio que a gente sentiu?

Mônica riu.

– Era um ventilador velho que a Denise achou no sótão da casa dela. A gente colocou bastante gelo na frente dele pra fazer aquele vento frio. Hahaha! Nem achei que fosse funcionar, mas deu certinho!

Cebolinha estava furioso, com o orgulho ferido e irritado por ter sido derrotado pela Mônica mais uma vez.

– Como você almou isso tudo?

– Fácil. Hoje de manhãzinha eu estava perto do clubinho e ouvi a conversa de vocês. Aí eu chamei as meninas pra fazer essa brincadeira. Fizemos as bonecas, a Magali imitou a voz do fantasma, fizemos barulho na casa, gritos, gemidos, risadas, as pancadas, essas coisas.

Por fim, Cascão e Xaveco deram risadas. Passado o susto, aquele plano tinha sido bem engenhoso.

– Então foram vocês que abriram aquela porta com força?

– Sim, foi a Mônica. Depois ela saiu correndo. Vocês não viram porque tava muito escuro. – Denise respondeu.

– E aqueles passos no corredor, os gemidos...

– Fui eu, né! – Magali também respondeu.

– Suas meninas feias, vocês pegalam a gente! Mas na plóxima vez, a vitólia selá minha! Hahahaha! Aaaii! – uma coelhada acertou sua cabeça.

– Isso foi por você ter me xingado hoje, seu moleque!

Xaveco e Cascão também levaram uma coelhada cada um por terem participado do plano. Talvez tivesse sido melhor ficar dentro da casa com o fantasma. Falando nisso...

– Como conseguilam fazer a boneca atlavessar a palede do banheilo? – Cebolinha perguntou levantando e esfregando a cabeça para aliviar a dor.

As meninas estavam indo embora e viraram novamente.

– Quê? A gente não colocou nenhuma boneca no banheiro não, fófis.

(Cascão) - Mas a gente viu! Ela atravessou a parede e quase matou a gente de susto!

(Magali) – Eu heim, tá doido? A gente só fez três bonecas.

(Mônica) – É mesmo. Uma ficou na sala, outra na cozinha e a terceira pendurada na janela pelo lado de fora.

(Denise) – A louca, vocês estão querendo assustar a gente? Vocês perderam, já era!

(Xaveco) – Não é isso não, a gente viu mesmo aquele fantasma feio atravessando a parede do banheiro!

(Mônica) – Engraçado... eu vi mesmo que vocês saíram correndo assustados de lá e a gente não tinha feito nada...

O grupo ficou em silêncio, sentindo arrepios desagradáveis e uma coisa estranha no estômago. Um rangido chamou lhes chamou a atenção e os seis viram a porta da frente fechando lentamente, escondendo o interior da casa. Em seus ouvidos, chegaram o som de gemidos e lamentos que pareciam vir do interior da casa. Todos olharam para Magali e viram que ela estava de boca fechada, olhos arregalados e tão assustada quanto o restante.

Vários sons vieram de dentro da casa e a porta abriu novamente. Outro gemido, como que levado pelo vento, chegou até eles seguido de um vento glacial.

– Minhas crianças... venham para a mamãe!

Seis vozes diferentes gritaram como nunca e eles correram dali a toda velocidade. Nunca mais nenhum deles teve coragem de sequer pisar no quintal da casa sem retorno.


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