Sobreviver escrita por Nadii


Capítulo 7
"Jogo do Verdadeiro ou Falso"


Notas iniciais do capítulo

Boa Noite, galerinha!

Pensa numa pessoa corrida. Férias? Ainda nem sei o que é descansar. Mas aqui estou! Esse capítulo, comecei a escrever o começo (porque o final já estava pronto) e quando a ideia surgiu, tive que parar tudo pois meu pai passou mal. Aí a inspiração foi pro beleléu!

Quero agradecer a todos que comentaram e acompanham a fic.
Esse capítulo é para

peetniss
Roberta Matzenbacher

que favoritaram a fic.

Estou sentindo falta de alguns que comentaram os outros capítulos. A coisa tá ficando tão ruim assim? =

Boa Leitura,

Beijos ;)



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As vezes tudo o que você precisa são de 20 segundos de uma coragem insana. Literalmente 20 segundos de bravura destemida. E eu lhe prometo, algo maravilhoso virá disso”.

(Benjamin Mee)

Perco a noção do tempo em que fico observando Peeta dormir. Em algum momento fico presa em lembranças e pensamentos e sou desperta por sua voz.

– Bom dia! - olho pra ele que sorri lindamente, com os cabelos ainda bagunçados.

– Bom dia! - respondo com um sorriso.

– Pesadelos?

– Não. Na verdade foi uma lembrança muito bonita. - ele me questiona com o olhar – Prim – completo. - Obrigada. - Ele apenas concorda.

– Vamos levantar. Já dormi mais do que estou acostumado – faz uma careta.

– Peeta, tem planos pra hoje? - uma ideia me vem em mente, será bom fazer algo diferente.

– Nada especial, por quê? Sugestão? - pergunta divertido.

– Sim, pensei em darmos uma volta, tem um lugar que quero te levar.

– Sei, e onde seria?

– Curioso! Surpresa! Confia em mim?

– Já confiei minha vida a você e estou aqui, não? Mas vamos tomar café primeiro! Posso usar o outro banheiro enquanto você se arruma aqui?

– Vai logo! Te vejo lá em baixo. - digo já indo para o banheiro.

Tomo um banho rápido, mas lavo meus cabelos com bastante cuidado. Os remédios que tenho tomado tem realmente ajudado, posso notar uma melhora na minha pele também, agora mais rosada do que vermelha, como era semanas atrás. Saio do banho enrolada no roupão e vou escolher uma roupa. E, como todas as manhãs, minhas mãos procuram pela minha pérola, minha âncora, meu ponto de realidade.

– Katniss! Ah, desculpa, achei que já tivesse vestida. - Estou tão absorta em meus pensamentos que nem noto a presença de Peeta ao meu lado. - Espera, essa pérola... Eu acho que lembro...

– Sim, você me deu na segunda arena.

– Não sabia que tinha guardado. - ele realmente está surpreso.

– É... - fico corada – Ela é importante pra mim. Mas o que você queria mesmo?

– Ah, é que você demorou, só vim avisar que a mesa está arrumada. Vamos?

– Só vou me trocar. Já desço.

Rapidamente coloco minha roupa de caça, e vou tomar café da manhã. Na cozinha encontro Haymitch e Peeta conversando animadamente. Deixo eles em seus assuntos e peço pra Greasy preparar uma bolsa com alimentos e água para levarmos ao passeio. Acrescento outras coisas que serão úteis e calço minhas botas.

No caminho, muitas pessoas nos olham curiosas, provavelmente por nos verem andando juntos novamente. Tento ao máximo ignora-las, não sei se vou me acostumar com essa fama. Incomoda. Não posso dar um passo, que olhos atentos estão sobre mim.

– A floresta? Esse era o lugar surpresa, Katniss? - pergunta ao chegarmos a cerca.

– Não exatamente, quero que conheça um lugar especial para mim.

– Tudo bem, mas falta muito ainda?

– Peeta! Ainda nem começamos o caminho! - digo rindo. E já me direcionando até onde deixo meu arco escondido.

– Vai me ensinar a caçar? Não sei se é uma boa ideia...

– Não, é apenas pra afastar algum animal. Mas temos que andar, demora um pouco pra chegar.

Meu amigo, se posso chama-lo assim, fica encantado com a floresta. Lembro que ele nunca esteve aqui. A única mata que viu foram aquelas das duas arenas, mas acho que isso é algo que ele quer esquecer. A caminhada dura um pouco mais do que o normal, já que Peeta é mais lento por causa de sua perna mecânica, e faz tanto barulho que nenhum animal ousa se aproximar.

– Uau! Katniss, isso é lindo! - é o que ele fala quando chegamos ao lago – Você vinha aqui com Gale? - sinto insegurança e tristeza em sua voz.

– Não, esse lugar era meu e do meu pai. Aqui eu aprendi a nadar. Esse era o nosso lugar secreto. Nosso refúgio.

– Sente falta dele não é?

– Todos os dias. Mas a gente acaba aprendendo a conviver com a saudade – suspiro triste. São memórias bonitas e o coração aperta ao remexê-las.

– Sei como é. As vezes acho que vou acordar e minha família vai estar aqui novamente. A dor nunca se vai totalmente, apenas tem dias que vem mais forte – Peeta nunca havia falado como se sentia sobre eles. Mas não quero que fique triste, não foi pra isso que viemos até aqui.

– Será que ainda lembra como nadar? Eu tentei te ensinar uma vez, lembra? - pergunto.

– Não muito. Essa é uma imagem confusa. Eu achava que você iria me afogar, na verdade, mas eu sei que não é real. Só, não tenho certeza de como foi. - responde sinceramente. A culpa me invade tão forte, pois não sei como é se sentir perdido com sua própria vida, se perguntando constantemente o que é real, ou não.

– Vem, eu te ensino. Vamos criar novas lembranças então! - Digo, disposta a ajudá-lo no que for preciso. Afinal, mesmo não querendo admitir, ele é minha terapia. Por ele eu tento fazer meu melhor cada momento. Ele merece mais do que qualquer outra pessoa.

Ficamos algumas horas na água, não apenas nadando, mas brincando também. Peeta insistia em me jogar água ou me empurrar para cair no lago. Posso dizer que não lembro quando foi a última vez que me diverti tanto. Tempo depois, ficamos sentados na grama esperando nossas roupas secarem.

– Se tivesse dito que viríamos aqui, teria trazido meu caderno pra fazer um desenho desse lugar. - disse meu amigo.

– Pois é! Ainda bem que eu imaginei que falaria isso, pois eu trouxe seu material de desenho. Está na bolsa. - ganhar seu sorriso de agradecimento não tem preço. Mas surpresa mesmo é o abraço que ele me dá.

– Obrigada!

Entrego o material a ele e aproveito para procurar algo para almoçarmos. Greasy mandou apenas algumas frutas e pães, o que não sustenta por muito tempo, ainda mais depois de ficarmos na água. Alguns minutos esperando e encontro um coelho. A flecha é certeira. Limpo o animal ali mesmo e volto para o lago a fim de fazer um fogo e assar nossa refeição.

Peeta está concentrado em seus desenhos e demora a notar minha presença novamente. Quando o faz, fica com o olhar intercalando entre mim, a caça e o arco. Então vejo acontecer. Ele solta rapidamente seu material, aperta os olhos com tamanha força que me assusto. Ele fica ofegante e fecha os punhos ao lado do corpo.

– Katniss, sai de perto de mim, por favor. Não é seguro aqui – é tudo o que consegue dizer.

Um flashback, é isso, ele está tendo um, aqui no meio da floresta e estou sozinha com ele.

– Não, não vou te deixar sozinho aqui. - respondo com a voz firme.

– Vai. Me deixa. Não sei o que posso fazer... Não é real... Não é real... - e começa a sussurrar coisas as quais não consigo entender.

Me desespero, porque não posso permitir que ele fique dessa forma. Provavelmente, foram muitas emoções para um único dia. Muitas coisas confusa em sua mente. Mas não vou abandona-lo, não quando ele mais precisa de mim.

Fico pensando no que posso fazer para ajudá-lo. Ele me falou sobre suas crises. Ele mesmo arrumou um jeito de fugir delas. “Mas como mesmo?”, procuro em minha memória por suas palavras e me lembro. “É isso!”.

Lentamente me aproximo dele e o abraço por trás. Ele fica tenso e força ainda mais o aperto em suas mãos. Então começo a cantar a canção do vale. Ele para e fica ouvindo. Continuo a canção, já sentindo lágrimas rolarem pelo meu rosto. Aos poucos, depois de alguns minutos, Peeta começa a diminuir a força que faz sobre ele próprio até que está totalmente relaxado. Está super abatido.

– Você não deveria ter feito isso. Eu poderia ter te machucado. E se eu tivesse te matado? - me repreende com um suspiro cansado.

– Você não faria isso. Eu confio em você! - respondo, agora ficando de frente pra ele e olhando no fundo dos seus olhos.

– Eu só... ver você alí trouxe lembranças ruins. Não sei dizer o que é verdade ou mentira agora. É confuso, sabe?

– Não sei, mas imagino. Podemos fazer o jogo do verdadeiro ou falso, assim eu te ajudo. - sugiro.

– Pode ser. Você trouxe o arco, mas disse que não iria caçar. Verdadeiro ou falso? - então eu estava certa. Foi exatamente essa imagem que provocou tudo.

– Verdadeiro. - ele me olha esperando por mais explicação – Mas pensei que uma carne seria bem vinda depois das brincadeiras no lago.

– Eu vi você e Gale se beijando na minha frente, logo depois que voltamos dos primeiros Jogos. Verdadeiro ou falso?

– Falso. - novamente ele espera explicações – Eu o beijei algumas vezes, nunca na sua frente, mas apenas por que estava confusa e queria provar para mim mesma que eu não... Enfim, só estava chateada.

‒ Nós fomos os Amantes Desafortunados e você encenou que me amava pra sair viva das duas arenas. Verdadeiro ou Falso?

Esse era meu medo. Ele pensar que tudo foi mentira. Foi o que eles fizeram. Por isso ele me odeia. Mas não posso mais deixar ele que tudo não passou de um plano.

‒ Falso – digo – Tivemos que encenar sim, mas nem tudo foi mentira – Nesse momento as lágrimas brigavam pra sair e ele parece notar.

‒ Katniss, não precisa...

‒ Não, Peeta – respirei fundo, criando coragem. “As vezes tudo o que você precisa são de vinte segundos de uma coragem insana”¹, alguem disse uma vez. É nisso que me agarro e continuo. - Eu preciso fazer isso! Se depois do que eu falar você ainda achar que menti e não quiser nunca mais me ver, juro que vou entender. Não sou boa com as palavras como você, mas estou sendo sincera, é a primeira coisa que precisa saber.

“Eu não lembro de você naquele dia que cantei na escola aos cinco ano, mas nunca esqueci quando, aos onze, você me jogou aqueles pães queimados. Estava, literalmente, a ponto de morrer de fome e o que me deu foi muito mais do que algo pra comer. No outro dia, na escola, te vi e não tive coragem de te agradecer, avistei um dente-de-leão e entendi que a vida sempre se renova. Eu sabia caçar. Eu podia caçar e você me mostrou isso. Sempre te via na padaria ou na escola, mas Deus, quantas vezes quis falar contigo, mas era lindo e as outras meninas sempre ficavam de olho. Então vieram os jogos. Quando falaram seu nome me desesperei. Não podia ir com você. Na entrevista disse que era apaixonado por mim e aquilo me confundiu. Confesso que, a princípio, minha ideia era sair viva apenas. Mas tinha você e eu não sabia bem o porquê, mas não podia te deixar morrer. Não podia te perder. Entendi que a melhor forma de conseguir era me aproximando de ti. Pode achar que todos os beijos foram mentira, mas nem todos. Teve um em especial, na caverna, que mexeu comigo, me fez sentir coisas que não conseguia compreender. Nós vencemos e você não falava comigo. Bem que tentei, quantas vezes peguei o caminho pra sua casa e parei no meio da rua. Era uma covarde.

Embarcamos na Turnê da Vitória. O nosso noivado forçado pelas ameaças do Presidente Snow. Eu tinha medo, tinha meus pesadelos e tinha você. Quando dormíamos abraçados eram os únicos momentos que me sentia verdadeiramente segura. Não existiam Jogos, Capital ou Snow. Mas veio o Massacre Quaternário e estava decidida de que você sairia vivo e faria de tudo pra isso acontecer. Quando me deu o medalhão dizendo que ninguém precisava de você foi que me dei conta de que não existiria vida sem que você fizesse parte dela. Eu precisava de você. Então me tiraram da arena e não tem noção do meu desespero ao saber que era prisioneiro. Tentei de todas as formas esquecer tudo, porque não suportava imaginar o que faziam contigo. Lembro uma noite, no Treze, não conseguia dormir e Prim veio deitar comigo. Me perguntava o que estavam fazendo, se te machucavam e o que mais seriam capazes de fazer. Ela disse que fariam o que fosse necessário para me quebrar.

Aceitei ser o Tordo com uma das condições de que você não seria morto pelos rebeldes. O dia que te resgataram e Haymitch me levou para vê-lo, não podia conter a alegria que sentia. Mas ao saber o que fizeram com você, as palavras de Prim se tornaram verdade. Eu estava quebrada. Fiz a única coisa que sabia: fugi. E, novamente, fui uma covarde. Disse que precisava ir ao campo de batalha pois seria mais útil lá, só que a verdade era que doia ver como estava e não poder fazer nada. Não entendia por que, depois que matei Coin, você não me deixou engolir a pílula. Você voltou e trouxe de volta também a esperança. Você Peeta, é o meu dente-de-leão na primavera. Você me mostra que a vida pode continuar independente das dificuldades que enfrentamos. Quando olho nos teus olhos e mergulho nesse mar azul é que tenho certeza que posso seguir em frente, que talvez, um dia, posso ser feliz como nunca fui.”

Peeta fica sério por alguns momentos. Parece ser uma eternidade. E não consigo decifrar o que há no seu olhar, é simplesmente muito profundo. Ficamos nos encarando apenas. Ele está procurando algo que diga que estou mentindo, ele quer ter certeza que estou falando a verdade. Então ele sorri. O sorriso mais lindo que já vi. Seu rosto, seus olhos brilham como uma explosão de estrelas e pergunta:

– Você me ama. Verdadeiro ou falso?

Eu sorrio, pois não posso mais negar, não quero esconder.

– Verdadeiro – e não há outra resposta pra essa pergunta. Não tenho maior certeza na minha vida que essa.

Ele me abraça, nós dois choramos, mas é de alegria. Depois, sem tirar os braços de mim, me afasta alguns centímetros pra olhar nos meus olhos.

– Eu te amo, Katniss!

Então acabo com a distância entre nós em um beijo. Mas não um beijo desesperado. É calmo e quero que ele sinta todo o amor que tenho por ele. Eu o amo. Eu amo, Peeta Mellark. Ficamos perdidos entre beijos e abraços que chego a perder a noção do tempo. Me afasto dele pra falar.

– Me desculpa, Peeta! Me perdoa por ter sido tão idiota contigo. Por pensar só em mim, por ferir teus sentimentos, por ter te enganado, por ter me enganado esse tempo todo. Você sempre foi melhor do que eu, sempre foi bom comigo e eu sempre falhei com você – estava desesperada, chorava sentindo-me culpada por toda a dor que causei a ele. Não desviamos o olhar nem por uma fração de segundo.

– Ei, não tem por que pedir desculpa. Você fez o que tinha que fazer e eu não te culpo. Só fico feliz em ter recebido uma segunda chance. Poder estar aqui, saber que você me ama, é exatamente como sonhei por anos. Muitas das minhas lembranças ainda não voltaram, como você já sabe e nem mesmo sei se um dia voltarão. Mas eu me agarrei a lembrança de uma garotinha com duas tranças e vestido vermelho que cantava. E quando tinha os flashs no hospital era a sua voz que eu lembrava e isso ia me acalmando. Você não sabe o efeito que causa, Katniss. - diz ele sorrindo.

– Você já me disse isso uma vez. Verdadeiro ou falso? - eu rio, entrando em seu jogo.

– Verdadeiro! - ele sorri ainda mais.

Ali eu vejo o meu garoto do pão. Ele voltou pra mim. Ele lembra de mim. E eu não poderia estar mais feliz.


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Notas finais do capítulo

Então, leitores lindos, o que acharam?
Comente, favoritem, recomendem, critiquem (se acharem necessário).
Aguardo ansiosa a opinião de vocês!

Beijos ;)