Sobreviver escrita por Nadii


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Olá fofuras!
Demorei? Eu sei que sim, mas tinham muitas coisas acontecendo. Sou professora e passei as últimas semanas aplicando provas, além de 6 trabalhos da pós pra fazer... Então, perdão!
Aqui vai um capítulo novinho. Não é nada muito emocionante, mas eu gosto dele. Vão notar MUITAS mudanças nele, rss.
Quero agradecer a linda, Beatriz Mendez pelo comentário, você é uma fofa! O capítulo de hoje é pra você!
Obrigada também aos que estão acompanhando.
Sem enrolar mais, vamos ao capítulo?
Nos vemos lá em baixo =)



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Durante o caminho de volta até a minha casa, encontro algumas pessoas voltando para suas casas também. Não perco tempo dando atenção as coisas ao meu redor, porque quero chegar logo, são tantas coisas passando pela minha cabeça. Alcanço a entrada da Vila dos Vitoriosos ao mesmo tempo em que o Sol começa a se pôr. Mais uma vez meu pensamento acaba em Peeta quando me deparo com um céu espetacularmente laranjado, sua cor favorita, e tenho que admitir, é uma das coisas mais lindas que já vi.

Paro em frente a porta de entrada e respiro fundo, pronta para fazer o que for preciso a partir de agora. Abro-a e me deparo com uma casa silenciosa, prova de que Greasy já se foi. Tiro as botas e deixo ao lado da porta, um hábito que eu tinha antes de tudo acontecer. Vou para a cozinha onde pego as frutas da bolsa e arrumo em uma travessa de um jeito que não fique bagunçado. Essa é a primeira mudança: aqui é a minha casa e vou cuidar dela. Depois, separo as ervas, tomando cuidado para colocar cada uma em frascos diferentes e organizando-as no armário, reservando uma quantidade para mais tarde. Com os dois esquilos em mãos, vou aos fundos da casa limpá-los. Abro eles, tiro as vísceras, a pele, deixo apenas o que pode ser consumido. Guardo-os na geladeira, separadamente, com toda certeza a velha Sae irá gostar de vê-la amanhã.

Feito isso, era a vez do segundo e mais difícil passo. Vou para a sala e paro em frente ao telefone, sem a coragem necessária para fazer tal coisa. “Você precisa, Katniss. Lembre-se do proquê disso”, digo a mim mesma, incentivando-me a prosseguir. Pego o bloco de notas que Greasy mantém sobre a mesa e logo encontro o número que preciso. Com o telefone em mãos disco e logo chama.

‒ Alô? - diz a voz do outro lado da linha.

‒ Alô? - acabo perguntando, sem saber exatamente como começar. - Doutor Aurélius?

‒ Sim é ele, quem fala? Mas com quem eu falo?

‒ Aqui é do Distrito Doze...

‒ Katniss! - ele não me deixa terminar – Katniss?

‒ Sim, a própria. - digo sem animação.

‒ Que bom que ligou, já estava a ponto de ir pessoalmente ao seu distrito te buscar e trazer à Capital...

‒ Não! - agora quem não deixa concluir sou eu – Acho que não é necessário.

‒ Se você diz, então, a que devo a honra? - mas não respondo. Pensei em inúmeras possibilidades de respostas, mas nenhuma sai na hora.

‒ Vamos começar com outra pergunta. Conversei com seu vizinho, Haymitch e com a senhora que trabalha em sua casa e eles disseram que você não falava com ninguém. Isso é verdade, Katniss? - respiro fundo antes de responder.

‒ Sim, doutor, perdi a conta dos dias que fiquei quieta – sou sincera.

‒ E o que aconteceu para a senhorita voltar a falar?

‒ Peeta voltou e eu não sei... - deixo a frase morrer, porque nesse assunto, enxergo apenas confusão.

‒ Sim, eu dei alta para ele. Vocês conversaram?

‒ Não, sim – suspiro – trocamos algumas palavras, mas eu fugi.

‒ Fugiu, mas por que fez isso?

‒ Não sei. Por medo, por estar confusa. Não era pra ele voltar, era? - pergunto alto as dúvidas que carrego comigo.

‒ Olha, Katniss, ele não queria mais continuar na Capital – eu o corto novamente.

‒ Mas por quê? É isso o que não entendo...

‒ Bom isso somente ele sabe explicar. Ele insistiu que queria continuar o tratamento em casa.

‒ Tratamento? Ele ainda está em tratamento? Quer dizer que ele não melhorou? - agora estava aflita e preocupada.

‒ Ele está melhor, mas vai continuar com a medicação, não sabemos por quanto tempo ainda, só esperar pra ver – responde simplesmente.

‒ E os flashbacks? - esse era um dos meus medos no momento.

‒ Estão controlados, os remédios ajudam, mas a força de vontade de Peeta é o que faz a diferença. Sei que ele consegue controla-los, mas nunca me disse como.

‒ E as suas lembranças? - ele lembra de mim, mas o que ele lembra é o que quero saber.

‒ Pergunte a ele, só o Peeta pode te responder todas essas coisas.

‒ Ok – é o que digo

‒ Mas e você, sei que não tem tomado os remédios. Katniss, precisa se cuidar e fazer o tratamento também. Tem que ocupar o seu tempo, organizar uma rotina.

‒ Hoje eu fui caçar – conto.

‒ Uau! Isso é bom, mas precisa de algo mais. O Peeta, por exemplo, cozinha e pinta.

‒ Definitivamente isso eu não sei fazer! - falo rápido e consigo ouvir uma gargalhada em resposta.

‒ Deve haver algo que possa fazer. Vamos, pense! - ele insentiva.

‒ Uma vez eu fiz um livro sobre ervas. Sei lá, o que eu posso fazer?

‒ Um livro é ótimo. Faça um livro! - não sei como, mas tive a impressão que ele sorria.

‒ Sobre o quê? Do que eu posso falar?

‒ Você é caçadora, já foi tributo, viveu uma guerra, deve ter história pra contar! Além do mais, Além do mais, vai ser bom colocar pra fora seus sentimentos, nem que seja escrevendo. - ele parece realmente empolgado.

‒ Tipo um livro de memórias? - mas não o deixo responder – Acho que posso tentar.

‒ Ótimo, no próximo trem envio os materiais e novos medicamentos. Lembre de tomá-los, vai se sentir melhor. Agora preciso ir, tenho outro paciente pra atender. Ligo depois de amanhã. Converse com o Peeta, ajude-o a lembrar-se de tudo, vai fazer bem aos dois. Boa tarde, Katniss.

‒ Boa tarde, Doutor. Tchau – e finalizo a chamada.

Esse foi o diálogo mais longo que tive em meses e não foi de todo ruim. Talvez esse negócio de terapia seja bom. “Talvez”.

Olho novamente para o telefone, sabendo que se antes foi difícil, agora nem existe palavra que descreva. Procuro o número no bloco de anotações e ligo. No terceiro toque a chamada é atendida.

‒ Alô? - fala. E quanto tempo não ouvia sua voz.

‒ Mãe? - forço um pouco a voz a sair, parece que um nó se formou em minha garganta.

‒ Katniss? Oh, meu Deus, Katniss? Filha, como você está? - ela parece bastante ansiosa.

‒ Eu estou indo, mãe – respiro fundo – queria que a senhora estivesse aqui – sinto uma lágrima esquentar minha face. Um suspiro do outro lado.

‒ Eu também minha filha. Você não sabe como é difícil pra mim saber que fui covarde e te abandonei aí, sozinha. - pela sua voz, sei que chora.

‒ Não estou sozinha, Haymitch e Greasy Sae sempre estiveram comigo – não consigo esconder minha mágoa.

‒ Me desculpa, Katniss, mas eu não podia, eram muitas lembranças.

‒ Mas eu também sou sua filha! - falo alto – eu também sinto falta dela – agora é um sussurro – mas não posso sair daqui, não é como se eu tivesse escolha – um soluço escapa e o choro agora é livre.

‒ Eu sei, eu sei. Mas ficar no Doze sem seu pai e Prim seria impossível e não queria entrar em depressão novamente. Espero que um dia você me entenda. Mas me conta, o que tem feito? E as novidades?

‒ Não tenho feito nada. Hoje saí para caçar. A floresta sempre me fez bem.

‒ Que bom filha! Seu pai teria orgulho de quem você é!

‒ Peeta voltou! - eu pareço uma tola contando isso a todos.

Conversamos por longos minutos depois. Lembramos histórias e choramos, sentindo saudade de tudo. As vezes eu só queria poder entrar em uma máquina do tempo e fazer tudo diferente. “Como se fosse possível”, ironizo a mim mesma. Prometo para a minha mãe que ligarei mais vezes, assim como também atenderei as suas ligações.

Por fim, após todas essas conversas, subo até o meu quarto tomar meu merecido banho. Essa vez foi apenas no chuveiro, não quero me demorar mais, ainda tenho coisas a fazer e devo ser rápida. Me dispo e deixo a água levar o suor e o cansaço, fazia tanto tempo que meu dia não era tão cheio. Saio do banho, coloco um vestido claro e uma sapatilha. Tranço meu cabelo e nem perco muito tempo em frente ao espelho. Desço para a cozinha, pego ma carne de um dos esquilos e as ervas que separei mais cedo.

‒ É agora, coragem Katniss! - falo sozinha, respiro fundo e saio de casa.

Uma brisa fresca fez arrepiar os pelos do meu braço, encolho, involuntariamente, com o frio, mas bastam alguns passos pra chegar ao meu destino.

Bato na porta e a ansiedade só aumenta. Penso em desistir e voltar. “Covarde!”, minha razão grita. Antes que eu possa decidir entre ir ou ficar a porta é aberta.

‒ Katniss?! - posso ver surpresa em seu rosto.

‒ Ah, oi?

‒ Oi, está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? - pergunta.

‒ Sim, está tudo bem. Eu só vim trazer isso – aponto para as coisas em minhas mãos.

‒ O que é?

‒ Esquilos, seu pai gostava, pensei que fosse gostar também e alguns temperos – dou de ombros como se não importasse.

‒ Sim, obrigada – ele parece pensar – quer entrar? - finalmente fala.

‒ Não quero atrapalhar.

‒ Claro que não! - abre mais a porta – Entre.

Penso um pouco, mas entro. “Afinal para que eu vim aqui mesmo?'”, minha mente acusa. Sua casa está bem cuidada, os móveis não são muito diferentes dos meus ou os de Haymitch. Continuo observando o local até que ele queba o silêncio.

‒ Venha, sente-se. Só vou levar isso até a cozinha e já volto – diz isso e se retira da sala para o interior da casa.

Logo ele volta e senta-se na minha frente, em outro sofá.

‒ Você está linda! - ele me faz corar – Quando cora fica mais linda ainda – agora eu já não sei onde esconder meu rosto.

‒ Obrigada! – eu realmente não sei o que dizer, fico olhando para as minhas mãos, incrivelmente elas parecem mais interessantes.

– Quero aproveitar e te pedir desculpa por hoje cedo, não pensei que fosse te chatear. Achei que fosse gostar – ele sorri sem jeito.

– Não tem o que desculpar, Peeta. Eu quem agradeço pelo gesto. Foi bonito. É só que... eu não esperava por isso – sorrio, constrangida, ao lembrar da cena da manhã – Não fiquei chateada.

– Que bom! Eu ia fazer o jantar quando chegou, Agora vou aproveitar a carne que você trouxe. Já jantou? Janta comigo? – ele fala tudo isso com um sorriso lindo nos lábios. O meu sorriso.

– Não jantei ainda, mas realmente, não quero te atrapalhar, Peeta.

– Você nunca atrapalha, Kaniss. Vai ser um prazer – então lê levanta, para em frente a mim e me estende a mão – Sim? – pergunta, com um brilho que deixam seus olhos ainda mais azuis e um sorriso ainda mais lindo, se é que pode.

– Sim – respondo sem exitar e com um sorriso verdadeiro em resposta.

Peguei sua mão, um simples toque, que fez meu coração disparar e meu estômago dar um salto mortal, porque, “Deus, como senti falta disso”.

Peeta nos leva até a cozinha e solta minha mão para puxar a cadeira pra eu sentar. Sinto um vazio quando sua mão deixa a minha, como se elas tivessem sido feitas sob medida uma para a outra.

– Sente-se – ele pede – vou fazer um ensopado com umas verduras. Sae cuidou para que minha geladeira estivesse cheia – ele ri.

– Ela tem sido uma boa amiga. Tenho que me desculpar com ela também. Sem contar Haymitch. Não fui uma boa vizinha ultimamente.

– Eles se preocupam com você. Mas então, você foi caçar? Sou bem que não tem saído muito de casa ultimamente – rio com esse comentário.

– Fui sim e desde que voltei ao doze não saí de casa, com exceção de hoje – então conto como foram meus dias. O que fiz e o que mais deixei de fazer. Oculto a parte da manhã em que passo fechada em meu quarto.

Conversar com ele é algo tão natural, não precisa muito. Ele simplesmente me deixava a vontade. Provavelmente de um jeito que nunca me senti com mais ninguém. Nem mesmo com Gale. Ele faz perguntas, as quais respondo sinceramente.

– Então, Buttercup voltou? Por essa eu não esperava. Cheguei a brincar com ele no Treze, Prim levava junto.

– Prim? Como assim? Ela ia te ver? – essa eu não sabia.

– Todos os dias. Passava várias horas comigo, conversando, me ouvindo perguntar tantas coisas. Você estava treinando com a Johanna, depois foi pras missões no Dois e na Capital. Acho que por isso não soube – isso realmente me impressiona. Como sempre eu estava ocupada de mais comigo mesma para me preocupar com os outros.

– Ela cuidou de você? – as lágrimas agora começam a cair e minha voz sai embargada – Me perdoa por ser egoísta de mais, sempre pensando em mim, em como eu me sentiria, nas minhas necessidades. Tanto “eu” que enjoa – nesse momento ele já está abaixado em frente a mim.

– Shh, ei, não chora! Você tinha outras coisas pra fazer – ele tenta me acalmar, segura uma de minhas mãos com a outra passa o polegar em minha bochecha, secando minhas lágrimas.

– Não, Peeta! Eu fugi. Em vez de ficar do seu lado, eu fui pra Guerra. Enquanto você tentava se curar, eu desejava morrer. Você sempre foi melhor do que eu.

– Vem cá – ele me abraça e encosta minha cabeça em seu ombro. “Como é bom sentir esse cheiro de novo” – Já foi, não vamos pensar mais nisso – ele se afasta e olha nos meus olhos – Deixa isso pra lá, ta bom? Vamos comer, me ajuda a arrumar a mesa?

Ajudo-o a colocar os pratos e talheres na mesa. Não falamos mais nada, mas não é um silêncio incômodo. Digo que é uma sensação reconfortante, algo como se isso fosse o certo desde sempre, ele e eu aqui e mais nada. Depois vamos para a sala, sentamos no sofá, agora lado a lado.

– Você deve estar cansada, passou o dia na floresta – por fim, Peeta quebra o silêncio.

– Um pouco, mas não é como se eu fosse conseguir dormir de qualquer forma.

– Pesadelos?

– Sim – suspiro – Eles nunca vão embora. – tento mudar de assunto rapidamente, não quero falar sobre isso - Falei com o Dr. Aurélius, ele sugeriu que eu fizesse um livro. Algo como colocar no papel minhas memórias. Ele diz que é uma forma de expressar meus sentimentos.

– Isso sim é uma notícia boa! E quando você começa? Se precisar de ajuda, sabe que estou aqui, não sabe?

– Ele ficou de mandar o material pra mim, assim que chegar eu começo. Vou querer sua ajuda sim, talvez você possa desenhar, sabe representar as pessoas de quem vai falar o livro.

Fico mais um bom tempo conversando, ele me conta como foi seu tratamento na Capital, como não via a hora de voltar para a sua casa. Consigo entender seus motivos para isso. No lugar dele eu também teria retornado, não teria ficado em um lugar com lembranças tão dolorosas como aquele. Quando nos damos conta está muito tarde então me despeço.

– Boa noite, Peeta. Que bom que voltou. Nos vemos amanhã?

– Podemos tomar café da manhã juntos? – eu concordo – Ótimo, que bom que conversamos. Boa noite, durma bem – ele me abraça apertado, eu retribuo da mesma maneira, não queria me separar dele.

Antes de finalmente me soltar, ouço-o sussurrar um “minha pequena”, e isso enche eu coração de uma sensação que eu não consigo descrever, é nova, mas muito boa.

Atravesso a rua pra minha casa, sabendo que uma noite cheia de pesadelos me espera. Mas agora, mais do que nunca vou enfrenta-los.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
O próximo capítulo vai ser baseado em uma música.
Bom, comentem a vontade.
Beijos ;)