Sobreviver escrita por Nadii


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

LEIAM!

Eu sei que mereço todas as reclamações que tiverem e vou recebê-las, mas me deixem explicar os mais de 2 meses de sumiço (pensa na vergonha):

1°) Gente, estou terminando uma Especialização, então é uma loucura de prazos, provas e trabalhos. Escreve / aplica / descreve / conclui projeto. Além de estar tentando ingressar em um Mestrado também.

2°) Esse capítulo tem um pequeno drama e eu sou horrível com isso. Fui pedir ajuda de outras pessoas, livros dramáticos, chorei horrores com eles, mas consegui passar da cabeça para as letras aquilo que queria.

3°) Obrigada a todas as indicações de músicas! A todas que comentaram, favoritaram ou apenas leram e ficaram no anonimato. Sim, gostaria que aparecessem também, mas sintam-se a vontade para comentarr e favoritar sempre que quiserem.

4°) A música do capítulo, chama-se "What Are Words", do Chris Medina e foi indicada pela linda Aline Martins (Aline SantAna). Quem ainda não leu as histórias dela, por favor corre no Nyah e no Wattpad pra conferir!

https://www.youtube.com/watch?v=nQY4dIxY1H4

Capítulo enorme pra compensar!

Boa Leitura, amores! ;)



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Katniss

Gale ouve atentamente a história do meu aniversário. Acabei por omitir alguns detalhes daquele dia, certas coisas não tinham necessidade de serem ditas, como os detalhes das histórias sobre meus pais e os desenhos de Cinna.

– Foi um aniversário bem diferente o desse ano – por fim meu amigo comenta.

– Sim, por isso os “adereços” como você chamou – rebato - Desde aquele dia, sempre estou com a pulseira, a aliança, o colar e os brincos. Não por obrigação de usá-los, mas porque simplesmente gostei dos presentes e gosto de me ver com eles.

– A coisa está mais séria do que pensei – suspira – Noiva? - pergunta retoricamente – Mesmo? - há certa ironia e incredulidade em seu tom de voz – Lembro que você dizia que nunca iria se casar – comenta e sei que está magoado.

– E falei. Mas o tempo e as circunstâncias me mudaram, Gale. Também disse que Prim nunca seria sorteada para os Jogos pois tinha um único papel com seu nome, mas ela foi. Pensei que nunca voltaria para uma arena, também acheie que nunca veria Panem livre das mãos de Snow, no entanto, tudo isso aconteceu.

– Você tem certeza disso, Catnip? - insiste – Casamento é algo muito sério e vocês só tem dezoito anos ainda!

– Gale, por mais que você discorde, eu sei o que quero e se eu disse sim ao Peeta, foi pela certeza do que sinto. Eu amo ele e isso você nunca vai compreender - afirmo – Mas agora precisamos ir – digo colocando-me em pé e pegando minhas coisas.

Saímos da floresta rumo a padaria, não sem ouvir alguns resmungos do meu amigo, os quais não fiz questão de entender. Mas o que realmente me irritou foram os olhares que recebemos das pessoas do Distrito. Algumas caras desconfiadas e outras caretas enquanto caminhávamos juntos.

– Bom dia, chefa! - cumprimenta Jhon quando entramos na padaria.

– Bom dia, Katniss – diz Maryn.

– Bom dia – respondo – Peeta está?

– Vou chamar, chefinha – se adianta Jhon.

– Maryn, como estão as crianças? - pergunto – Ah, lembra do Gale, meu amigo? - tento incluí-lo na conversa.

– Oi, Gale – cumprimenta e volta-se para mim – As crianças estão bem, na escola agora. Joe está lendo as primeiras palavras e o Kanan, apaixonado por matemática – ela sorri.

– Os meninos estão grandes mesmo – sorri para ela.

Maryn é uma mulher bonita, com cabelos escuros e olhos castanhos. Nos seus trinta anos já era viúva e cuidava sozinha dos dois filhos, Joe de seis anos e Kanan com nove. Jhon, o outro funcionário, tinha os cabelos de um castanho claro e olhos verdes, veio do distrito cinco, ajudou na reconstrução da padaria e acabou por ser contratado como ajudante de padeiro.

– Katniss? - Peeta aparece com o avental sujo de farinha – Como foi na floresta, amor?

– Foi bom – beijo meu noivo – consegui um peru selvagem, vou fazer assado com batatas, como você gosta.

– Você vai fazer? - zomba – E Greasy?

– Farei sim, por quê? - brinco – Demos duas semanas de folga para ela, lembra?

– Tinha esquecido. Mas vamos no escritório, quero que olhe os contratos que falei.

Pedi a Gale que me esperasse e poderia comer alguma cosia enquanto conversava com Peeta. No escritório assinei os contratos sem nem mesmo ler e aproveitei para namorar um pouco meu noivo. Beijos, abraços e declarações encheram a sala.

– Amor, preciso ir se quiser almoço hoje – falo tentando me afastar dele – Pensei em convidar Gale par ao almoço, tudo bem pra você?

– Claro! - pude ouvir um suspiro e senti-lo um pouco tenso – Vai lá, logo estarei em casa.

– Tem certeza? - queria eu estar certa de que ele estava bem – Se não achar bom, não tem problema.

– Tenho sim – mas sua voz está vacilante – quero só provar esse almoço – tenta brincar.

De volta à entrada da padaria, me despeço dos funcionários e de Peeta.

– Te espero em casa. Te amo! - falo e saio com meu amigo logo atrás.

– A padaria ficou muito bonita – Gale puxa assunto durante o caminho – Peeta deve estar bastante orgulhoso.

– Sim, está – sorrio com as lembranças – aquela foi a melhor terapia para ele, na minha opinião.

– É bem diferente da antiga, a única coisa igual foi o nome.

– Nem fale! Ele queria chamá-la de Padaria E-Melark. Mas eu bati o pé e disse que deveria manter o nome.

– Suponho que o “E” seja de Everdeen? - questiona e eu confirmo – Outra coisa, por que você assina os contratos se nem casaram ainda?

– Antes de inaugurar a padaria ele fez uma surpresa para Haymitch e para mim. Nos tornou seus sócios. Ele e eu temos quarenta porcento cada um e Haymitch os outros vinte.

– Legalmente, então, você manda tanto quanto ele?

– Sim. Mas Haymitch e eu não nos importamos. Assinamos o que precisa, mas o trabalho é todo do Peeta. Nós ainda recebemos do governo muito mais do que precisamos, porém ele quer ter a certeza de que, caso algo aconteça e deixemos de recebê-lo, ainda teremos alguma coisa. Eu tentei me opor, mas ele sabe ser teimoso quando quer.

– Acho que ele tem com que aprender – brinca.

Aos poucos o clima entre Gale e eu vai ficando mais tranquilo, mais ameno. Já em casa, me ocupo limpando e preparando o almoço. Gale conta como está sua família e que estão ansioso para me ver.



Peeta



Quando fomos acordados aquela manhã por batidas na porta, pensei que fosse o velho Haymitch, embora não encontrasse uma razão para ele fazer isso. Mas Haymitch era Haymitch, e simplesmente não necessitava um motivo para agir como bem queria. Katniss saiu do quarto tão irritada que não pensei duas vezes, levantei, coloquei uma calça e saí atrás dela na intensão de parar uma briga.

Qual não foi minha surpresa ao encontrar, não meu ex-mentor, mas Gale parado na porta da nossa casa. Minha noiva estava tão surpresa quanto eu e sei que há muito ela esperava revê-lo, por isso, tento ao máximo passar um pouco de segurança a ela dizendo que tudo ficaria bem. Ele observa as mudanças que fizemos na casa e pela sua expressão, sei que a última coisa que ele esperava era ver as coisas do jeito que estão. Katniss vai para o quarto se trocar e levo Gale até a cozinha comigo decidido a preparar nosso café.

Apesar de estar de costas para ele, sinto seu olhar queimando atrás de mim, atento a cada movimento meu.

– Você parece bem a vontade aqui, padeiro – percebo o veneno em suas palavras.

– Por que não estaria? Esta é minha casa – respondo seco.

– Desde quando isso? - insiste.

– Desde que Katniss e eu decidimos.

Isso não estava nada bom. “Preciso me acalmar”, penso. Não posso dizer que essa visita não está mexendo comigo, porque está. Pode até ser que não houvesse malícia em suas palavras, mas minhas emoções, desde que coloquei os olhos nele, tem estado à flor da pele. Sei que convivi com ele durante a Guerra, sei também que fiz de tudo para Katniss não odiá-lo ao saber a verdade sobre a morte da Prim. Apesar disso, imagens dos beijos trocados por eles começam a se formar em minha mente.

Katniss volta e vejo a chance de sair um pouco de perto. Aproveito para tomar um rápido banho e tentar afastar esses pensamentos. Tenho medo de ter um flashback por causa dessa situação e não posso permitir que isso aconteça. Mesmo sabendo que essa visita aconteceria cedo ou tarde, não esperava que isso me afetasse assim. Preciso ser forte e resistir, não vou deixar meu tratamento ser invalidado.

Um pouco mais tranquilo, desço até a cozinha encontrando com Haymitck ao entrar. O café da manhã corre de forma calma e logo saímos de casa. Me despeço de Katniss na entrada da floresta, tentando lembrá-la do nosso acordo sobre sempre informar um ao outro onde estamos.

Na padaria tento ao máximo não focar em Katniss sozinha com Gale na floresta. Fracasso miseravelmente nisso. Sinceramente, não entendo o que tem acontecido comigo. Há tanto tempo não tenho episódios, e hoje, desde que levantei, foram várias as vezes que precisei controlar ao máximo minha mente. Imagens dos momentos que passamos juntos são o que tem me mantido são. Os dias que fomos ao lago, nosso primeiro beijo depois de voltar ao distrito, o primeiro “eu te amo” pronunciado por ela, nossas várias noites de amor, seu sorriso, sua voz cantando pra mim, é nisso em que agarro minha sanidade.

A manhã é lenta e torturante. Os ponteiros do relógio, pendurado em uma das paredes da cozinha, parecem avançar dois segundos e voltar um. Eu confio em Katniss, sei que ela não faria nada para me magoar.

“Ou faria e você nem iria saber”, fala uma voz até então adormecida dentro de mim.

“Não, ela não faria”, grito em pensamento para essa voz.

Pronto!

A guerra foi declarada. O Peeta bestante contra o Peeta atual.

Sem perceber uso mais força do que o necessário na massa do pão. A prova clara de que a batalha interna começava a dar sinais externos também. Respiro fundo algumas vezes e volto a focar nas lembranças boas.

Na tentativa de aplacar e abafar meus sentimentos procuro ocupar ao máximo minha mente. Vou para o escritório, faço pedidos, leio e escrevo contratos, confirmo entregas, arrumo pastas e documentos. Quando o trabalho ali termina, vou para o pequeno jardim¹ que mantenho nos fundos da padaria, o lugar onde, anos atrás, joguei pães queimados para a minha garota.

Mais uma vez meus pensamentos voam para ela. Minha doce Katniss. Minha droga. Meu vício. Minha cura. Ela mudou tanto desde que a conheço. Nunca a vi com tantos sorrisos. Até pode manter a pose de durona e dizer, com todas as letras, que não se importa, mas sei que isso não é verdade. Maryn disse isso uma vez, que antes, o sorriso de Katniss era algo forçado e agora quando dirige seu sorriso a mim, primeiro seus olhos brilham, depois os lábios se curvam em felicidade.

Deixo que essas lembranças me dominem a medida que trabalho no jardim. Aproveito o tempo para plantar algumas mudas de flores que comprei outro dia na floricultura que abriu aqui no centro. Limpo os canteiros, tiro pequenos ramos secos e ocupo-me com as plantas.

Estou novamente na cozinha distraído com algumas encomendas, quando Jhon vem me avisar que Katniss está na padaria e acompanhada por Gale. Imediatamente paro tudo o que estou fazendo para encontrá-la. Ela estava conversando com Maryn e nem notou minha presença, mas quando me vê, lá está o sorriso que eu tanto amo.

Vamos para o escritório e não posso deixar de ficar feliz quando ela aproveita esse pequeno momento a sós comigo para demonstrar carinho. Um lado da minha garota, que sei, é exclusivamente dirigido a mim. Ela pode ser doce, atenciosa e amável. E o é. Quando estamos sozinhos ela gosta de me agradar e surpreender. Ela pode não dizer o tempo todo o quanto me ama, mas em cada gesto demonstra e isso é muito mais do que um dia sonhei.

Gale vai com ela para a nossa casa e, vendo isso, toda a inquietação que sentia antes volta bem mais forte. Seguro-me na bancada da cozinha tentando, ao máximo, não me deixar levar pelas imagens brilhantes e coloridas que rondam meus pensamentos. Dessa vez tenho sucesso e logo tudo passa, deixando meu corpo cansado por ter ganho essa pequena batalha.

Depois do que parecem horas intermináveis, está na hora do almoço e os funcionários estão trocando de turno. Jhon e Maryn se despedem, enquanto Matt e Anna iniciam o expediente. Passo as instruções aos dois, avisando que volto a tarde para terminar uma encomenda.

Ansioso. É assim que faço o caminho de casa. Tenho medo do que posso encontrar, ou melhor, um lado tenta colocar medo em mim. Da entrada da Vila dos Vitoriosos percebo que a porta da frente está aberta e, sendo o mais silencioso que consigo, adentro nossa casa. Ouço vozes vindas da cozinha e sigo esse rumo.

– Mas você não tem medo de que ele se transforme em um bestante e tente te matar? - essa pergunta de Gale me faz parar. De onde estou não posso ser visto por eles, por isso permaneço ali.

– Não, Gale. Não tenho medo. Confio nele! - as palavras de Katniss formam um sorriso involuntário em meu rosto.

– Veja bem, - continuou ele – ele tentou te matar uma vez no Treze e aquela vez na Capital ele quase conseguiu. Mitchell tentou impedí-lo e foi jogado sobre um casulo.

“Desgraçado! Safado!” Ele é bom com os argumentos. Não usou nenhuma mentira, apenas verdades. Dolorosas, mas ainda assim, verdades.

“Você sabe que ela é uma bestante e deveria morrer”, diz aquela voz.

– Gale, você é meu amigo e eu gosto de você. Mas se você não parar de atacar o Peeta, vou ser obrigada a te expulsar dessa casa – Katniss falou séria e fico um pouco orgulhoso por estar me defendendo – Você nos respeite e respeite nosso relacionamento. Agora já que está sendo tão sincero, deixa eu ser também... - isso realmente me deixou interessado e também apreensivo. A batalha estava voltando e tento prestar atenção às palavras dela.

“... sabe qual a diferença entre vocês dois? Ele nunca falou mal de você! Ele é a pessoa mais doce, carinhosa e bondosa que eu conheço. Você, Gale, tem ódio suficiente e sempre foi assim. Não preciso de mais raiva me consumindo. Quem você perdeu? Sua família está bem e, mesmo assim, é egoísta a tal ponto de querer o que não pode ter. Peeta perdeu tudo, pais, irmãos, até mesmo suas lembranças por um tempo e o que ele fez? Ergueu a cabeça, voltou para casa e começou a refazer sua vida. Ele tem me ensinado que a vida pode prosseguir, independente do quão insuportáveis foram as nossas perdas. Que ela pode ser boa. E somente Peeta pode me dar isso (*). É dele que eu preciso. Você tem me julgado desde que voltei dos primeiros Jogos, mas ele nunca deixou que eu te odiasse.

Eu o amo, isso não vai mudar. E não foi uma escolha. Não é como se tivesse outra opção. Meu coração é dele. Sempre foi e sempre vai ser, eu que fui burra de mais para não ver antes.”

As palavras de Katniss conseguem acalmar um pouco a tempestade dentro de mim. Sim, acalmar, porque um pedaço da minha mente perguntava se aquilo era mesmo real ou era apenas uma nova armadilha. Permaneço quieto mais alguns minutos até me fazer notar.

Cumprimento os dois, tentando ao máximo não expôr como estou me sentindo. O fato de eu dizer estar bem não parece convencer Katniss, mas forço muitos sorrisos para ela não perceber nada.

Ainda não entendo o que tem acontecido comigo nessas últimas horas, mas meu estado não passa despercebido por Haymitch que me chama separado para conversar.

– Fala logo, garoto! O que há de errado com você?

– Nada, Haymitch.

– Não minta para mim. Conta, vamos!

– Só... Afasta a Katniss de mim caso eu perca o controle – pedi.

– Você acha que pode... - não o deixei concluir.

– Eu não sei! Não estou bem, só tenho medo de machucá-la.

Nossa conversa é interrompida por Katniss chamando-nos para almoçar. À mesa, falamos sobre as mudanças do Distrito e Gale conta o quão impressionado ficou ao voltar para cá.

– Mas diga, Caçador, qual o motivo da visita ao Doze? - Haymitch era sempre direto.

– Bom, - ele não parece confortável e olha para Katniss antes de falar – amanhã são as comemorações do primeiro ano do fim da Guerra. Amanhã completa um ano do fim do regime do Snow e Paylor pediu para algumas pessoas irem ao seu destino de origem para as festividades.

Como pude esquecer disso?” Então, amanhã também faz um ano que Prim morreu. Katniss pode surtar e ele sabia disso. Eu não posso deixar. Prim, a pequena era tão linda. Amanhã faz um ano! Minha mente começa a ferver.

Prim. Morte. Bomba. Explosão. Fogo. Chamas. Garota em Chamas. Katniss. Bestante!”

Não! Não posso me perder agora.

“Respira, Peeta. Respira... Assim... Ela te ama!”

“Ela te odeia!”

“Ela te ama. Ela te ama. Ela me ama!”

– Peeta? - sinto uma mão tocar a minha.

– Tudo bem. - suspiro.

Todos à mesa me olham preocupados. Haymitch e Katniss sabem o que estava prestes a acontecer e tento tranquilizá-los.

– Recebi uma ligação da Effie pela manhã, reclamando do fato de vocês nunca atenderem ao telefone, – nosso amigo mudou de assunto e eu o agradeci mentalmente por isso – quer saber se já marcaram a data.

Olho para minha noiva que me presenteia com um enorme sorriso. Sim, nós já vinhamos conversando sobre isso há alguns dias e, sendo teimosa como é, conseguiu exatamente no dia que queria.

– Sim – ela responde – daqui há quarenta dias, no aniversário do Peeta.

– Isso foi ideia sua, garoto? - questiona Haymitch com ar divertido. Ele sabia a resposta e estava apenas provocando.

– Claro que não! - Katniss se antecipa – Fui em quem quis – responde orgulhosa – e tive que ser bastante persuasiva para convencê-lo. - isso faz Haymitch soltar uma sonora gargalhada.

– Nem me conte que métodos você usou, acho que posso imaginar – fala, lançando um sorriso malicioso em nossa direção – De qualquer forma, Effie vai ficar louca quando souber que tem pouco tempo para preparar tudo. E aconselho a ficarem de olho ou ela faz desse casamento o evento do ano em Panem.

– Vou garantir que isso não aconteça, Haymitch. Por mim nós já teríamos feito a cerimônia do pão, somente nós dois, na lareira da sala. Peeta que insiste nessa coisa de Prédio da Justiça, festa, bolo, vestido, aliança e um pepel com seu sobrenome.

– Por você não haveria casamento, então? - pergunta Gale e, juro, por alguns minutos, tinha me esquecido de sua presença alí.

– Eu não disse isso – defende-se, Katniss – Eu disse que para mim, isso não tem necessidade. A cerimônia do pão nos faria casados, conforme a tradição do nosso distrito. Não me importo com coisas que podem estragar com o tempo, papel envelhece, roupa desgasta, objetos se perdem. O que nós temos, o que nós somos juntos, vai muito além disso, Gale. Ele me ama e eu o amo, pra mim isso basta.

Ponto para ela. Gale poderia ter ficado sem ouvir isso, mas acho que foi muito bom. Ele se calou e ficou assim o resto da refeição.

– Eu lavo a louça – digo depois de almoçarmos.

– Não, pode descansar – Katniss interferiu – Eu lavo e você, Haymitch, seca.

– Está doente, docinho? - provocou ele.

– Não e você vai! - disse firme.

– E quem vai me obrigar? - desafiou nosso amigo.

– Você seca ou me encarrego de que não receba mais seu precioso estoque de bebidas – fala fazendo Haymitch gargalhar.

– Está aí algo que você não conseguiria – retruca ele e eu apenas sorrio para a cena dos dois.

– Você ficaria impressionado com o que o nome de Katniss Everdeen é capaz de fazer!

Essa frase, definitivamente, mexeu comigo. “O que ela era capaz de fazer?”

Matar”, respondeu a voz. “Matar todos a quem você ama”.

Saio do transe quando ouço o barulho das louças sendo retiradas da mesa por um Haymitch bufando indignado.

– Muito petulante essa tua mulher, Garoto! - resmungou ele.

Apesar de tudo, não pude deixar de sorrir vendo os dois entrar na cozinha ainda discutindo.

– Eles são sempre assim? - pergunta Gale e só agora noto que estamos sozinhos.

– A maior parte do tempo – respondo.

– Eles se odeiam?

– Até parece que não conhece os dois. Eles se amam.

– Podem até não se odiar, mas amor é de mais, não?

– Você não diria isso ao conviver com eles. Katniss tem essa casca grossa, mas se preocupa com ele. Há alguns meses, Haymitch fez uma viagem, mas ligava todos os dias para conversarem. Um dia ele não ligou e Katniss não saiu do lado do telefone, chegou a dormir na cadeira ao lado do aparelho. Apenas quando informaram que a rede estava com problemas e por isso ele não ligava, ela saiu. Há uns vinte dias ela pegou uma gripe forte e Haymitch não saiu aqui de casa. Ficou dias dormindo na sala. Um momento precisei resolver um problema na padaria e quando voltei ele estava na poltrona, ao lado da cama, cuidando dela. Eles são muito parecidos e se amam como pai e filha. Só gostam de implicar um com o outro. - expliquei.

– Se você diz – deu de ombros – Parece que vocês realmente se conhecem. A Katniss está muito diferente do que um dia eu conheci dela.

– Ela sempre foi assim, -defendo-a – apenas não mostrava esse lado a todo momento. Com tudo o que ela passou é natural que ela mude e fico feliz por vê-la querendo viver. Katniss ficou meses presa em sua dor, não aceitava ajuda de ninguém. Ela sentiu sua falta. Espero que não estrague a amizade de vocês o fato de estarmos definitivamente vivendo nossas vidas juntos.

– Está aí um ponto interessante – e novamente o veneno escorre em suas palavras – ela nunca quis se casar. Como a convenceu? Você chegou em um momento em que ela estava frágil e quebrada. Aproveitou que eu estava longe e deu o bote, não?

– Do que você está falando? - me irrito – Não a obriguei a nada. Você ouviu o que ela disse? Ela quer isso tanto quanto eu, então não fale como se eu fosse um aproveitador. - defendo-me.

– Ela pode até te amar. Mas você estaria disposto a colocá-la em risco? Seus flashbacks ainda acontecem? E se você machucá-la? E se você matá-la? Conseguiria conviver com isso o resto dos seus dias?

“Matá-la”. Essa palavra ecoa na minha cabeça.

“Você pode matá-la, até mesmo ele acredita que você é capaz”, continua a voz.

“Não eu não vou machucá-la. Eu não posso”, começo a lutar.

“Você deve. Somente você pode”, continua.

Aperto as mãos e fecho os olhos com força na tentativa de afastar essas imagens e abafar as vozes que brigam em minha mente. A luta é grande. Levanto-me e seguro as costas da cadeira, preciso de algo sólido para me ancorar. Meus pensamentos se tornam uma mistura entre realidade e ilusão está passando através de borrões por meus olhos cerrados. Perco noção do tempo. Perco noção do espaço. Não sei mais onde estou.

“Sou Peeta Mellark. Moro no distrito Doze. Vou me casar com Katniss. Katniss, a garota a quem amo desde os cinco anos de idade...”, começo aquilo que aprendi com Dr. Aurélius.

“Ela é uma assassina. Não pode amá-la.”, sussurra a voz.

Antes que eu me perca dentro de mim mesmo, sou tomado por uma terceira voz que soa de forma suave e doce. A tempestade vai e volta, enquanto eu luto e peço em pensamento para que esse canto não cesse nunca.



Katniss



Haymitch e eu ficamos organizando as coisas da cozinha, até que Gale aparece chamando-nos. Definitivamente, pela sua expressão a coisa não é nada boa. Seguimos para a mesa onde ele e Peeta ficaram conversando. A imagem do meu noivo, agarrado a uma cadeira me deixa assustada. Um episódio, justo agora quando fazia tanto tempo que eles não aconteciam. Tento me aproximar mas sou impedida por eles.

– Katniss, não chegue perto. Ele pode te machucar – alerta Gale.

– O que você falou pra ele? - acuso.

– Eu não falei nada – defende-se – Por que acredita que eu tenha algo a ver com isso?

– Porque conheço você o suficiente e passei a manhã ao seu lado. Além do mais, os flashbacks não são aleatórios, fazia um bom tempo que ele não tinha um, e justo quando você aparece eles vem junto? - tento novamente chegar perto, mas sou barrada por Haymitch.

– Docinho, melhor não. Sabe que o garoto vai se sentir horrível se ele perder o controle e te machucar.

Não dou ouvidos às palavras dos dois. Minha preocupação agora é Peeta, ele precisa de mim e que amor seria esse se eu o deixasse quando precisa de mim? Já o abandonei vezes de mais para fazer isso mais uma vez. Lembro então, de ele dizer que se acalmava quando eu cantava.

Onde você estiver, estou perto / Aonde quer que você vá eu estarei lá / Sempre que você sussurrar meu nome, você verá / Como uma promessa, eu mantenho... - começo a canção que tinha ouvido um dia desses e tento me aproximar.

– Katniss... não... fica longe... - percebo o quanto Peeta está se esforçando para dizer essas palavras, posso ver seu maxilar apertando-se, os olhos pressionados em claro sinal de luta. Não respondo, apenas continuo cantando.

Porque que tipo (...) eu iria ser / Se eu te deixasse quando você mais precisa de mim / O que são palavras / Se você realmente não quer dizê-las (...)

– Kat... não é real... não é real... bestante... não... não... - ele sussurra e não paro com a música.

Quando é amor / Sim, você as diz em voz alta / Essas palavras, elas nunca vão embora (...) / E eu sei que um anjo foi enviado / Apenas para mim ...

De repente Peeta solta a cadeira e me abraça, fazendo de mim a sua âncora de sanidade. Não poderia ficar mais feliz. Ele não tentou me machucar. Ele lutou por mim. Por nós. Aperto os meus braços em volta do seu corpo sentindo seu calor.

E eu sei que eu devia / Estar onde estou / E eu vou estar / Bem ao seu lado esta noite / E eu vou estar ao seu lado / Eu nunca o deixaria quando mais precisa de mim – encerro a música dizendo a mais profunda das verdades.

Ficamos algum tempo naquela nossa bolha, impenetrável, invisível e inteiramente nossa. Esquecemos dos outros ali, simplesmente não existia mundo, apenas nós dois. Espero até que ele se acalme totalmente e se sinta confortável consigo mesmo e com seus pensamentos. Cedo de mais ele se afasta apenas para olhar em meus olhos, aquele azul que amo tanto. Meu céu, meu mar, meu oceano, minha cor preferida, o exato tom de suas orbes.

– Você fez uma loucura se aproximando, não sabe? - eu sorrio – Mas obrigada por estar aqui.

– “Mentalmente desorientada”, lembra? - brinco – Não poderia te perder, não é como se você fosse se livrar de mim tão fácil assim – sorrio - Onde quer que esteja, estou por perto / Em qualquer lugar que você vá, eu estarei lá / E eu vou estar aqui para sempre – cantei um último trecho da canção, apenas para reafirmar minhas palavras – Afinal, o que seriam as palavras se elas não traduzem o que você quer dizer? - faço referencia a letra – Eu disse que estaria com você e foi isso que eu fiz. É isso que eu vou fazer pra sempre – garanti.

Nossa bolha estoura quando ouvimos um pigarro de Haymitch. Olhamos então para os dois e vejo um sorriso nos lábios do nosso ex-mentor. Ele, tanto quanto nós, entende esses momentos.

– E depois você acha que eles estão errados, caçador? Peeta não faria mal a Katniss, ele tiraria a própria vida antes de conseguir isso. Se existe alguém que pode curar o garoto, é só essa teimosa aqui – ele sorri para mim – Não me pergunte como eles fazem isso, ou o que acontece na cabeça deles, porque isso eu nunca vou entender. Mas convivendo com eles, só posso te garantir tem dado resultado. Ela o resgata dos flashbacks e ele salva ela dos pesadelos. Katniss quase não dormia e quando fazia, podia ouvir seus gritos da minha casa. Eles vivem assim, uma para o outro. Um pelo outro. Um protegendo o outro deles mesmos e de qualquer coisa que tente separá-los.

– Acho que errei na minha análise. Pensei que a situação era diferente. Agora tenho ideia de como eles são. Desculpa. - ele fala e vejo que está envergonhado.

– Não, Gale, - estranho Haymitch chamá-lo pelo nome – você não faz ideia nenhuma do que se passa com eles. Isso – apontou para nós – não começou porque você não voltou para o distrito e eles foram obrigados a conviver. Você não viu eles defenderem um ao outro no trem, logo após a primeira colheita, eles simplesmente sabiam os pontos fortes de cada um. Peeta observava Katniss e era observado por ela também, sabia? - meu amigo nega – Sim, ela sabia muito sobre ele. Um queria que o outro vencesse. Nenhum pensou em si. Não tenho experiência em relacionamento, mas até onde eu sei, é isso o que faz dar certo, pensar no outro. A docinho pode até se achar egoísta, mas cada minuto, desde que entrou naquela arena, ela lutava pela vida dele. Foi assim desde que os conheço. Eles, mais do que ninguém merecem viver essa felicidade.

Fiquei surpresa e emocionada com as palavras de Haymitch. Nunca o vi como uma pessoa sentimental ou mesmo pensei que ele soubesse tanto sobre nós a ponto de nos defender de qualquer mínima ameaça, mesmo que ela seja meu amigo Gale.

Depois, sentamos na sala e conversamos mais algum tempo. Gale pede, novamente, desculpas e assume que falou de mais. Diz que não vai atrapalhar nossas vidas, afirma que Peeta é a pessoa certa para estar comigo pois me conhece melhor do que qualquer outro, mais até do que ele pensou conhecer. Convidamos ele para nosso casamento, apesar de tudo, ele é meu amigo.

Durante a tarde, Peeta vai para a padaria terminar umas encomendas e eu aproveito para levar Gale visitar Sae. Passamos momentos agradáveis ao lado dela e de sua neta. Mais tarde vamos para a padaria onde lanchamos e, ao final do expediente, levamos Gale até a casa de um amigo, uma das pessoas que ele salvou na fuga depois que destruíram o distrito, onde vai passar a noite. Apesar de toda a nossa insistência, ele achou melhor nos dar privacidade, mas confirmou que estaria conosco novamente no dia seguinte.

O dia das comemorações.

Tento, acima de tudo, não pensar no dia seguinte. Realmente são muitas as comemorações para esse dia, mas minha mente vai para tudo aquilo que foi perdido, todas as coisas que ficaram para trás em meio a Guerra.

Prim. Finnick. Boss. Família. Amigos. Companheiros de luta. Conhecidos. Desconhecidos. Sonhos. Tudo se perdeu. Tudo sendo deixado nas lembranças conforme o tempo passa.

Termino o dia exatamente onde deveria ser. Nos braços de Peeta. Olhando em seus olhos, sentindo seu corpo, doando e recebendo amor. Pois não há no mundo outro lugar onde eu queira estar se não junto a ele. Meu porto seguro. Meu amor. Meu anjo.



Eu sempre estou mantendo meu anjo perto”


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Notas finais do capítulo

¹ há uma fic, escrita pela linda Ana C., chamada Renascer, onde ela descreve um lindo jardim que Peeta teria construído nos fundos da padaria. Não copiei a descrição dela, até mesmo porque, imagino algo bem menor e mais simples. Mas sim, serviu de inspiração para essa cena.

(*) Citação do livro Esperança, da diva Suzanne Collins (página 269) – as palavras vão mudar conforme a tradução, edição e versão do livro. Mas no fundo é tudo a mesma coisa! hahaha


Gente! A fic está entrando na reta final, acredito que mais uns 3 capítulos, apenas.

Aguardo os comentários!

Beijos!