Conselheiro Amoroso escrita por Ellen Freitas


Capítulo 9
Protetor || Katniss


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!

"Uau Ellen, você está postando tão regularmente agora..."
"Eu sei, vocês merecem! E estou de férias pípol."

Olaaaaaaaaaa!!!
Mais um capítulo de CA pra vocês. Passei por mix de emoções o escrevendo. Tem muita coisa nele, espero que gostem. E então... primeiro dia de Katniss no ESJ!!! Riam, arrepiem-se, roam unhas, queiram matar pessoas, digam "anwww".

Até as notas finais! Bjs*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/556919/chapter/9

Bloco de anotações. Caneta. Duas canetas. Jaleco. Crachá. Adesivos de estrelas douradas para as crianças. Celular.

Espera, onde está a merda do celular?

— Já volto Clove! — avisei já voltando correndo pro meu carro.

— Que droga Katniss, o que você esqueceu dessa vez?

— Telefone.

Finalmente o período de férias tinha passado e hoje era o primeiro dia de estágio. Na verdade o segundo, mas ontem nem contou direito. Eu nem lembro qual foi a última vez que fiquei tão ansiosa pra começar alguma coisa, talvez apenas no início do curso ou quando saí da casa dos meus pais. Não que fosse minha primeira experiência prática na área, mas dessa vez era diferente. Eu poderia finalmente definir a especialidade a seguir depois de formada, conseguir um emprego e ainda tinha...

— Professor! — gritei acenando e já indo ao seu encontro quando o vi parar o carro do outro lado do estacionamento. — Hoje é o grande dia!

— Oi Katniss. — ele falou sem o mínimo ânimo fazendo meu sorriso morrer.

— Liga não amiga, hoje ele está inexplicavelmente mais chato. — Madge falou vindo me abraçar. — Preparada?

— Ansiosa, na verdade. Você que é médica me responde: faz mal misturar cinco xícaras de café com dois calmantes e uma taça de vinho? — Mad riu alto quando caminhávamos pra entrada.

— Olha Peet, parece comigo no nosso primeiro dia. Não se preocupa, vai dar tudo certo.

— Pensei que viria ontem.

— Eu vim, mas apenas para conhecer e saber de algumas regras. Inclusive essa do aplicativo de celular que vocês falaram.

— Se o preceptor de vocês for um monstro como a nossa, vocês estão ferrados.

— Ela é rígida sim, mas parece um amor de pessoa. Vocês conhecem Dra. Paylor?

— Sério que vocês ficaram com ela? Que sorte! — chegamos à entrada, onde Clove me esperava.

— Ei Clo, essa é a Madge e o cara amarrada ali é o Peeta. Clove é minha amiga da faculdade e vai estagiar aqui também.

— Oi pessoal. — ela cumprimentou e os outros dois apenas acenaram com a cabeça em resposta. — Podemos entrar agora ou você esqueceu outra coisa Everdeen? Se você me atrasar logo no primeiro dia...

— Olha Peeta, outro indivíduo da sua espécie geek mal humorada e bonitinha. Já estou shippando! — Madge falou rindo. — Prazer Clove, esse é Peeta Mellark, solteiro, lindo, médico dedicado, solteiro e inteligente. Eu já disse solteiro? — não pude deixar de rir quando vi que Peeta e Clove começaram a avermelhar um pouco. Ela bem mais que ele, na verdade. Eu até poderia fazer piada também, mas não estava no clima de atormentar os dois agora.

— Guarde as fechas cupido, que hoje vamos nos focar no trabalho. Então Mad, onde estão os caras mais lindos daqui? — pisquei maliciosa enlaçando nossos braços como faria com uma amiga na escola, ambas rindo muito.

— Focar no trabalho, pode ser? — Peeta passou entre nos duas, falando com a voz áspera.

— Qual o problema dele? — perguntei a Madge que apenas negou com a cabeça escondendo um riso no canto dos lábios. Corri até ele e o parei em frente a mim segurando seu braço. — Ei Professor, o que está acontecendo?

— Nada.

— Bléh, resposta errada. Te conheço, o que foi? É porque vou trabalhar aqui? Apesar desse hospital ser referência a minha área, posso tentar transferir para outro lugar, se for tão desconfortável pra você.

— É desconfortável pra mim, por favor, se transfira. — ele respondeu seco e me forcei a rir e não deixa-lo atrapalhar meu bom humor.

— Qual é Professor, vai ser divertido! Vamos ter tantos intervalos juntos e imagine quantos caras eu posso conhecer aqui e você vai me ajudar bem de perto. E ainda tem a Madge e o Finnick, que posso ficar mais próxima deles. Ai, vai ser tão legal! — bati palmas animada.

— Isso aqui não é brincadeira ou um passatempo qualquer Katniss. Pessoas morrem todos os dias e não temos espaço para adolescentes de 22 anos que não gostam de levar as coisas a sério! — ok, ele oficialmente conseguiu baixar meu humor. Desmanchei meu sorriso.

— Se essa é a sua preocupação Peeta, você não vai nem notar que estou aqui.

— Ei, também não precisa ficar ofendida.

— E como quer que eu fique, você me dizendo essas coisas? — nesse momento nossos celulares começaram a apitar e conferimos para onde era o chamado. — Deixa pra lá, cada um pro seu lado. E pra você saber, vou pro quarto 207, se quiser manter a distância.

— Isso só pode ser brincadeira. — ele virou a tela do própria telefone pra mim. Estávamos sendo chamados para o mesmo lugar!

Acenei me despedindo de Clove que também já se dirigia para algum lugar e segui Peeta pelos corredores e escadas, já que o elevador estava com problemas, até chegar ao local indicado. Nossas preceptoras esperavam do lado de fora do quarto. Um guarda uniformizado com uma arma gigante guardava a entrada.

— Atrasado. — Dra. Coin rosnou quando chegamos.

— Desculpe. — Peeta pediu educado. Eu ainda teria que conversar com ele sobre essa submissão. Isso quando minha raiva passasse, claro.

— Que não se repita.

— Deixa de ser insuportável Alma, os meninos estão no horário. — Dra. Paylor falou rindo e eu e Peeta nos encaramos estranhando a cena.

— Paciente Michael Willis, 27 anos, admitido dois meses atrás com concussão devido a uma queda por um desmaio, acredito que você foi o médico a atende-lo, estou certa? — Peeta assentiu recebendo o prontuário, mas algo no rosto dele me incomodou. Era como se tivesse alguma coisa diferente nesse paciente. — Durante a madrugada de ontem ele teve uma crise dispinéica, tosse com sangue, dor para-esternal descrita com sensação de queimação e entorpecimento, desmaiou novamente e foi trazido pra cá. Os sintomas pioram quando ele come, respira fundo ou se curva, e apresenta também taquipnéia e taquicardia. Qual o provável diagnóstico Dr. Mellark?

— Embolia pulmonar. — ele respondeu automaticamente e minha cara ficou tipo: uau! Eu mesma não entendi metade do que a vaca do cabelo cinza falou.

— Procedimento?

— Exame físico nos membros inferiores e tórax, de sangue e de imagens.

— Imagens? — Dra. Coin perguntou irônica. — Você precisa ser mais específico doutor.

— Raio X da região do tórax e ultrassom. Tomografia computadorizada e exame de ressonância magnética, se necessário. Vou pedir também uma análise da perfusão pulmonar e uma angiografia pulmonar, além claro do ecocardiograma. — Peeta falou sem hesitar e olhei pra ele de boca aberta. Ele era bem mais inteligente do que sempre achei e olha que minhas expectativas já eram bem altas.

— Bom, pelo menos não vai matar meu paciente.

— Bruxa. — sussurrei quando ela saiu. Dra. Paylor me olhou divertida girando o indicador perto do ouvido. — Por que estou aqui?

— O idiota advogado da família dele está entrando com uma ação pra alegar insanidade e conseguir uma redução de pena ou transferência pra uma instituição mental, coisa que não vou permitir. Preciso que você faça algumas perguntas desse formulário e depois analisaremos juntas. — ela me entregou uma prancheta.

— Perfeito. Mas qual o porquê do guarda? Ele fez algo muito ruim? — questionei não escondendo minha animação por já estar com um caso polêmico logo no primeiro dia.

— Melhor não saber Katniss, pode alterar seu julgamento. Boa sorte crianças. — ela deu dois tapinhas no ombro de Peeta e já ia saindo quando ele a parou.

— Tem como a senhora colocar outra pessoa pra fazer isso comigo? Katniss pode não ser adequada. — abri minha boca para protestar, mas minha preceptora falou antes.

— Katniss vai ficar bem. Falo com vocês depois.

Não fiquei parada para ouvir quais as desculpas de Peeta, fui logo para entrada do quarto, onde o guarda recolheu meu crachá ou qualquer outra coisa afiada ou cortante que pudesse ser usada como arma. Procedimento padrão, acredito. Observei pela minha visão periférica que Peeta fazia o mesmo, ainda com o rosto sério e a mandíbula trincada.

Quando abri a porta, meu queixo caiu aberto. O homem deitado em cima da cama era deslumbrante. Parecia ser alto, tinha porte atlético, cabelos castanhos, rosto em um formato quadrado, forte e imponente e olhos azuis. Lindos olhos azuis esverdeados. Poderia ser facilmente um supermodelo ou Mister Universo.

— Nossa, você parece o Super Homem! — me xinguei por ter perdido o controle da minha boca logo no início. O homem deu um riso presunçoso.

— Mike Willis, milionário a seu dispor. — o nome me pareceu levemente familiar, mas eu não conseguia lembrar de onde. Ele estendeu a mão para me cumprimentar, mas foi impedido pelas algemas que o prendiam nas laterais da cama. — Ah, tinha esquecido dos meus braceletes especiais. E aí Jhonny?

— Jhonny? — perguntei a Peeta.

— O apelidinho que dei ao doc: Jhonny Bravo. — ele gargalhou. — Você vai ser minha Lois Lane, a menos que queira me dizer seu nome real. — Peeta ficou entre nós dois começando a examinar as pernas dele. Fomos alertados na entrada em não revelar nomes por questão de segurança, então apenas ri.

— Lois está bom. Sou sua psicóloga hoje.

— Já vou recomendar uma ótima doação pra esse departamento.

— O departamento agradece.

— Você parece estar com embolia pulmonar. É grave, mas tratável. — Peeta nos cortou escrevendo algo no prontuário. — Vou pedir uns exames e depois voltamos aqui pra te avaliar. Vamos?

— Tão cedo? Fica mais um pouquinho comigo Lois. Vamos conversar.

— Volto depois pra fazer sua avaliação. — foi a única coisa que ainda tive tempo para dizer antes que Peeta quase me arrastasse pelo braço pra fora do quarto. — Qual é o seu problema? — bufei tirando a mão dele de mim e indo pegar minhas coisas com o guarda.

— Você não deveria ter dado tanta liberdade pra ele falar com você.

— O que esse cara fez afinal? Matou a mãe?

— Só me prometa que nunca, em hipótese alguma, vai entrar nesse quarto sozinha. Entendeu Katniss? Nunca!

— Isso tudo é ciúmes?

— Só... — o celular apitou e ele conferiu rapidamente. — Só faz o que estou pedindo, pelo menos dessa vez. — Peeta saiu apressado entregando alguns papeis no posto de enfermagem e já indo para outro corredor.

Logo fui chamada para acompanhar a Dra. Paylor em algumas de suas consultas, alternando com meus colegas, e pude conhecer apenas superficialmente alguns dos pacientes.

Uma das que se destacou foi uma jovem de cabelos escuros e olhos verdes, chamada Annie Cresta. Ela foi diagnosticada com transtorno bipolar e estava em uma de suas consultas regulares, mas quem conversasse com ela no momento dificilmente desconfiaria que a garota de 21 anos tivesse alguma coisa errada. Mas como minha preceptora explicou, a doença dela estava sob controle de medicação, por isso nada irregular estava à vista.

— Ela é um amor. — comentei quando ficamos a sós.

— Sim, ela é. Você pode ir pro seu intervalo agora, tenho que acompanhar outro estagiário. Alguns dos meus alunos gostam de ir pra cafeteria do hospital. Peça torta de limão e fuja do bolinho de siri, é nojento. — ela fez uma careta.

— Obrigada.

Passei ainda cerca de vinte minutos rodando perdida até achar o caminho da cafeteria, o hospital era enorme. Quando cheguei lá, logo avistei de longe em um dos bancos acolchoados do fundo Madge e Clove conversando. Paguei por uma fatia de torta de limão e fui até lá.

— Kat, essa sua amiga é muito igual ao Peeta. — Mad gargalhava.

— Não entendo a graça. — Clove arrumou os óculos.

— Viu? — não pude evitar rir também, colocando um pedaço de torta na boca.

— Nossa, isso aqui é muito bom.

— Bom como eu? — Finnick se jogou ao meu lado no banco roubando a colher da minha mão e colocando na boca. — Oi Kat-Cat.

— Hey Finn. — dei um beijo em seu rosto.

— E você é... — ele colocou mais um pedaço de torta na boca, e apontou a colher de plástico na direção de Clove.

— Minha amiga, Clove. Clo, esse é o Finnick, o cara do encontro falso.

— É assim que você me apresenta pras pessoas Love?

— Basicamente, ladrão de tortas.

— Muito prazer, Finnick Odair. — ele se inclinou por cima da mesa e beijou a mão dela, o que a fez corar. — E então, como está indo o primeiro dia?

— O meu muito bom, mas bem parado.

— Já o meu está animado. Acredita que meu primeiro paciente era um presidiário? Michael alguma coisa. Estou em dupla com o Professor nesse. Por falar nele, por que todos vocês tem folga e ele não?

— Dra. Coin ama o Mellark, por isso enche ele de trabalho mais do que aos outros. Não que eu esteja reclamando nem nada.

— Conceito estranho de amor.

— Ela e a preceptora de vocês, a Dra. Paylor são irmãs, só pra saberem. — Madge falou e Finnick confirmou com a boca cheia da minha torta. Nem queria comer essa coisa deliciosa mesmo!

— Ah, por isso Dra. Paylor chamou a bruxa de insuportável. A cada segundo admiro mais nossa chefe Clove.

— Falando nela... — Clove mostrou o celular. — Tenho que ir, até mais pessoal.

— Foi um prazer Clo. — Finn comentou malicioso olhando para a bunda da minha amiga quando ela ia embora. Dei um tapa em seu braço.

— Deixa de ser safado!

— Sua amiga é bonitinha Katniss. De um jeito nerd fofo.

— Clove não tem nada de fofa, e não é pro seu bico Odair.

— Não fica com ciúmes Kat, você ainda é minha preferida. — ele roubou um beijo sujo de torta do canto da minha boca. Passei a língua no local experimentando um pouco do sabor da cobertura de limão e o provocando.

— Se Peeta vê vocês dois nesse climinha, a primeira cirurgia dele vai seu sua castração Finn. — começamos a rir. — Por falar nisso, ouvi dizer que nossa amada chefe vai escolher hoje o primeiro de nós a ir pra sala de operação. Alguém tem dúvidas em quem vai ser o escolhido?

— Tomara que ganhar isso o ajude a relaxar. Hoje ele tá insuportável. — reclamei. — Praticamente me arrastou pra fora do quarto de um dos caras mais lindos que já conheci.

— Espera, lindo? O tal do Michael? — Madge perguntou.

— Esse mesmo, já viu o cara? Parece uma versão bandida de Clark Kent. E ele chama o Professor de Jhonny Bravo. — eu ri, mas os dois trocaram um olhar preocupado. — O que foi?

— Aquele é Mike Willis, você não vê jornal Katniss? — balancei a cabeça em negativa para Madge.

— O nome pareceu familiar, mas não lembro.

— Mike Willis, foi preso ano passado. O escândalo do playboy que estuprou, torturou e matou oito jovens mulheres antes de ser preso. A família é multimilionária, mas as evidências eram inegáveis. — senti meu estômago afundar e apertei a borda da mesa com força. O perigo estava tão perto e eu nem cheguei a notar. Flertei com um monstro!

— Kat, você tá bem? Ficou pálida de repente.

— A Dra. Paylor falou que eu não deveria saber, ou afetaria meu julgamento. — falei baixinho quase que para mim mesma.

— Tá vendo Odair, olha o que você fez! — Madge atirou um guardanapo no rosto dele.

— Desculpa Kat, mas não precisa se preocupar, é totalmente seguro. Tem o guarda e você está com o Peeta. Pode relaxar e tratar como um paciente normal.

Meu celular apitou e por uma terrível coincidência, eu deveria estar o quarto do tal Mike. Respirei fundo me levantando da mesa acenando uma despedida rápida para os dois.

Calma Katniss, calma.

Durante o resto da minha carreira, eu teria que lidar com todo tipo de pessoas, boas e ruins. O ideal seria que todos fossem como Annie, mas não era mesmo possível. Eu teria que me adaptar, entrar naquele quarto e fazer a lista de perguntas como se eu não soubesse o que o monstro que estava na minha frente havia feito.

Cheguei na porta e o Peeta não estava, e nem o guarda. Pausa pro café, quem sabe. Olhei para os lados e nem sinal deles vindo. Abracei a prancheta e tomei mais fôlego. Aquela era minha prova, eu teria que fazer aquilo sozinha se quisesse ser mais que uma “adolescente de 22 anos” pra sempre. E o cara tinha sido gentil certo? Senti meus dedos tremerem um pouco quando agarrei a maçaneta e abri a porta.

— Lois! Jhonny não veio com você?

— Ele está a caminho com seus exames, mas vou me adiantando com as perguntas, pode ser?

— Você está bem Lois?

— Estou, só vamos nos focar aqui, ok?!

— Ah, já sei... Te contaram o que acham que eu fiz.

— Não me contaram nada, estou bem. Primeira pergunta...

— Não foi culpa minha, só pra você saber.

— Isso não está em questão aqui.

— Estou vendo nos seus olhos que você me acha culpado. — meu grito saiu abafado quando a enorme e gelada mão dele se fechou em torno do meu pulso.

— Me solta ou eu grito. — grunhi.

— Eu não fiz nada que elas não merecessem. Elas pediram com o olhar, assim, como você pede agora. Eu já consigo te imaginar sem toda essa roupa toda entregue pra mim, toda minha. Eu vou te fazer o que nenhum homem nunca conseguiu e você vai implorar por mais, e mais forte, mais rápido, mais fundo. Vou deixar minhas marcas nessa sua pele branquinha, meus dedos nesse seu pescoço perfeito. Seu cheiro ainda vai estar em mim quando você implorar pela morte e eu vou te dar isso, bem lentamente, cada corte profundo, o vermelho ganhando vida, tirando sua vida. E quando ela se for, ainda vou usar esse seu corpo pra...

— Tira as mãos dela! — Peeta rosnou, pressionando com força o ombro dele contra o colchão do leito, fazendo o aperto em torno do meu pulso afrouxar e Mike gritar de dor.

— Calminha Jhonny, estávamos só conversando.

— Vamos sair daqui. — Peeta sustentou meu braço, me guiando pra fora.

— Até mais Lois. Ou devo dizer... Katniss Everdeen? — a gargalhada dele ainda ecoava pelo quarto quando Peeta fechou a porta nas nossas costas. E ele sabia o meu nome. Como ele sabia? O crachá! Esqueci de tirar a porra do crachá!

— Ele sabe meu nome. — solucei, lágrimas descendo do meu rosto. — Ele sabe meu nome.

— Ei, nada vai te acontecer, estou aqui. — Peeta tomou meu rosto entre suas mãos, tentando sem sucesso conter minhas lágrimas com os polegares.

— Fiquei com tanto medo Peeta, ele disse...

— Eu sei, mas enquanto eu estiver com você, nada de ruim vai te acontecer. — ele abriu os braços pra mim e me encolhi em seu peito, recuperando minha respiração aos poucos.

Peeta me levou para algumas cadeiras vazias em um local menos movimentado e logo me trouxe um copo de água. Ele me avisou, me pediu, e como sempre tive que ir contra qualquer ordem. O que acha agora de tudo isso Katniss?

— Está melhor?

— Desculpa por não fazer o que você pediu.

— Tudo bem, o que importa é você ficar melhor. — ele acariciou meu rosto e colocou uma mecha pra trás das minha orelha. — Me dá essa prancheta aqui.

— Eu tenho que fazer isso.

— Se eu deixar aquele cara colocar os olhos em você de novo, por favor, me interne. — ele elevou um dos cantos da boca, num riso disfarçado. — Preencho essa coisa, você avalia com sua preceptora. Volto já.

Peeta saiu em direção ao quarto e fiquei mais alguns minutos sentada ali, mas logo a impaciência me fez começar a andar de um lado a outro, até parar na porta, ao lado do guarda. As vozes dos dois poderiam ser ouvidas dali.

— Vamos tentar o tratamento com medicação, e torcer pra não precisar de cirurgia ou de um cateter. Volto depois com a receita.

— Ok Jhonny. E manda um beijo de língua pra Katniss.

— Olha aqui seu filho da puta: mais um olhar, uma palavra sequer sobre ela e te dou alta agora e você vai morrer dessa porra que você tem, naquele buraco que você merece ficar pra sempre!

— Não tenho medo de suas ameaças, sou rico e poderoso dourtorzinho de merda. Quando eu sair, e eu vou sair, acredite, vou atrás dos dois e cumprir a promessa de fazer cada uma daquelas coisinhas deliciosas com ela enquanto você assiste. Então mato você também.

— A diferença é que eu sou o médico aqui e você é pessoa que pode morrer a qualquer momento se não for tratado por mim!

Olhei pro guarda esperando que ele entrasse no quarto para interromper a briga iminente que custaria muito mais que machucados pro Peeta, quando o loiro irrompeu para fora caminhando rápido. O segui até o local que descobri serem as salas de repouso e me assustei quando ele esmurrou a parede ao ponto de rachar um pouco o reboco.

— Peeta, se acalma. — ele estava muito vermelho e a respiração acelerada. Eu mesma nunca tinha vista nada perto daquela fúria que ele tinha no olhar.

— Eu quero matar o desgraçado! Filho da puta do caralho! Eu quero enfiar um bisturi na pele dele e deixar ele sangrar até morrer como ele fez com aquelas meninas. Como ele queria fazer...

— Ei. Estou aqui, ok? Ele não vai me machucar enquanto eu estiver com você. — o abracei, mas não recebi o carinho de volta. Ele ainda estava enraivecido.

— Eu não consegui me conter no final. Eu queria matá-lo quando entrei lá, mas me controlei. Mas ouvir ele falando de você, citando seu nome... — ele segurou meus ombros me afastando e me permitindo encarar seus olhos. — Eu tenho essa necessidade de te proteger... — Peeta aproximou as mãos espalmadas do meu rosto, mas desistiu na metade do caminho. — ... de não deixar nada de ruim de acontecer, de não deixar ninguém te fazer chorar. Eu nunca senti isso com ninguém, e às vezes posso parecer protetor demais, mas...

— Mas nada! Obrigada por estar na minha vida Peeta Mellark. — o abracei novamente e dessa vez ele retribuiu, me envolvendo com uma força quase ao ponto de machucar, mas eu não me incomodava, pois me dava a nítida impressão de que ele sempre estaria ali pra mim e eu não poderia pensar em nada melhor pro resto da minha vida. Só nos separamos quando o telefone dele começou a bipar.

— Tenho que ir. Fica bem. — ele beijou meu rosto antes de sair do dormitório.

Fui analisar o que Peeta preencheu com a Dra. Paylor em seguida, e fiquei satisfeita quando concluímos que o cara era só um sociopata que não merecia mesmo ter liberação do presídio, mas que deveria ter acompanhamento psicológico. Menos mal.

Ainda conheci mais alguns pacientes, passei pra ver Haymitch que ainda estava internado no hospital e conversei um bom tempo com ele, já que naquela manhã Peeta não estava tendo tempo de vê-lo. Os outros que conheci naquele dia com o Professor já haviam recebido alta.

Quase no final do expediente, comprei um copo fumegante de chá e parti em busca de Peeta pelo hospital. Eu tinha quase certeza que ele ainda não havia se alimentado o dia inteiro e como a criatura era teimosa em relação ao café, talvez algo doce o ajudasse. O encontrei preenchendo uma ficha no segundo andar.

— Finalmente. Toma isso agora.

— Não tomo café. — ele nem me olhou pra responder. — Quando os exames do 215 chegarem, você me avisa, ok? — Peeta deu duas batidinhas com a caneta no balcão antes de sair caminhando.

— Isso é chá e toma todo de uma vez. — ele franziu as sobrancelhas pra mim quando parou na metade do corredor. — Rápido Peeta!

— Teimosa! — ele começou a virar o copo, bebendo em um só fôlego.

— Você cuida de mim e eu cuido de você. — pisquei pra ele.

— Jhonny... Lois... Socorro. — a voz quase inaudível pode ser ouvida de dentro do quarto.

— O que aconteceu? — perguntei ao guarda.

— Esse cara é insuportável, deve estar fazendo outra cena. — Peeta checou os aparelhos por entre as frestas das persianas.

— Dessa vez não. Parece uma parada respiratória. — o loiro abriu a porta, mas não entrou, apenas ficou olhando para o homem que ofegava um pedido de socorro, as mãos fechadas em punho, parecendo decidir ou não se ajudava. — Merda! — ele se xingou adentrando e apertando um botão próximo à cama.

Em questão de segundos um alto-falante anunciou a emergência e vários profissionais correram para lá, começando a trabalhar, enquanto eu observava do lado de fora pelos minutos seguintes.

— Não culpe seu namorado por hesitar. — o guarda falou chamando minha atenção. — Eu tenho uma filha da sua idade e das meninas que esse bandido matou, e por mim eu teria tirado a vida do filho da mãe assim que pus os olhos nele.

— Eu sei, é só que eu nunca vi Peeta fazer isso. Ele sempre cumpriu seu juramento de “fazer o bem sem olhar a quem”, isso agora foi estranho. E ele não é meu namorado. — ele olhou pra mim depois pra Peeta e riu.

— Vocês jovens são tão engraçados.

— Como assim?

— O desgraçado vai viver. Eba! — Peeta falou irônico saindo da sala e descartando as luvas no lixo.

— Parabéns por isso Peeta. — acariciei suas costas. — Sei que foi preciso mais força pra fazer alguma coisa do que apenas ficar parado.

— Não mereço os parabéns por salvar um assassino Katniss.

— Mas ainda assim, parabéns. E agora, você pode fazer um intervalo pra comer algo de verdade?

— Que horas são? — ele tirou o celular do bolso. — Droga, tive um chamado da Dra. Coin quase cinco minutos atrás. Tenho que correr. — o acompanhei pelas escadas em direção ao quarto andar. Péssima hora pro elevador quebrar, péssima! Lá, um grupo de residentes já se aglomerava em torno da insuportável mulher. Minha turma também estava por ali com nossa preceptora.

— Resolveu aparecer Dr. Mellark?

— Desculpe Dra, tive uma emergência.

— Uma fugidinha com a nova estagiária? — ela olhou pra mim por cima do ombro dele. — Você acabou de perder a chance de ser escolhido pra fazer uma cirurgia, sinto muito. Na verdade, não sinto.

O semblante dele entristeceu-se instantaneamente, e ele passou as mãos pelos cabelos em um gesto nervoso. Todos os outros o observavam com pena. Pelo pouco que eu sabia, Peeta era o mais dedicado e estudioso da equipe e aquele era seu sonho. Um sonho adiado porque ele resolveu fazer a coisa certa, mesmo sem vontade, apenas porque era a coisa certa.

— Isso não é justo. — sussurrei e acho que só ele ouviu.

— Deixa quieto Katniss.

— Não. Isso não é justo. — caminhei em direção à Coin. — Peeta vai fazer essa cirurgia porque ele merece!

— Quem é você mocinha? — ela estreitou os olhos pra mim.

— Eu sou a amiga do cara mais dedicado, inteligente e de coração mais bondoso do mundo. O cara que deixa de comer, dormir, se divertir, porque está dedicando a vida pra cuidar de pessoas, seus pacientes! Sabe por que ele se atrasou? Porque estava salvando a vida do cara que ameaçou a minha vida e a dele, simplesmente porque era a coisa certa a se fazer! E agora você, a poderosa Dra. Coin, que ele idolatra, vai me dizer que esse errinho bobo, vai custar parte do sonho dele? De jeito nenhum, eu não vou deixar! — olhei ao redor e a atenção de toda aquela ala do hospital estava voltada para nós. Comecei a corar. Provavelmente acabei de arruinar todas as chances dele. Parabéns Everdeen!

— Me desculpe Dra, Katniss não quis... — Peeta passou na minha frente começando a se desculpar.

— Shiu garoto. — ela ergueu a mão o fazendo calar. — A cirurgia é sua e não faça eu me arrepender por isso. Estão liberados por hoje. — ela saiu dali deixando a mim e Peeta boquiabertos em choque.

— Você conseguiu Peet! — Mad chegou o abraçando e logo foi seguida por Finnick e os outros colegas.

— O que dá na sua cabeça quando faz essas coisas? — Clove me puxou para junto da minha própria turma. — Aquela é uma das médicas de maior influência no hospital onde você é só uma simples estagiária. Você não quer conseguir o ódio dela logo de cara.

— Mas agora você conseguiu minha proteção. — Dra. Paylor chegou junto de nós. — Estou cansada de enfrentar minha irmã sozinha, bom saber que vou ter companhia pra isso. Venham, vamos pra minha sala, temos que conversar sobre os erros e acertos do dia de hoje.

A reunião não durou muito. No geral, fomos parabenizados pela dedicação, incentivados a continuar assim até o fim da carreira e liberados para ir embora. Me despedi dos novos colegas e de Clove que voltaria de carona com uma das garotas que morava a duas quadras dela.

Rumei às escadas, dobrando meu jaleco, guardando tudo de qualquer jeito na bolsa e já pegando meu casaco pra enfrentar o frio lá fora, o vestindo desajeitadamente.

— Foi como você esperava? Seu primeiro dia? — olhei para o local de onde veio a voz e vi através dos meus cabelos bagunçados e da gola do meu casaco Peeta descendo com as mãos nos bolsos. — Por Deus Katniss, você não consegue nem se vestir sozinha?

Me ajuda tio? — imitei a voz de Prim e estendi meus braços pra ele. Ouvi sua risada quando ele segurou minha bolsa e me ajudou a passar os braços pelo casaco.

— Só você mesmo... Geralmente as garotas me pedem pra tirar a roupa delas.

— Isso não é da minha conta. — cantarolei.

— Mas me responde: o que achou do primeiro dia?

— Bom, teve uma doce bipolar, uma chefe super legal, um psicopata, uma briga nos corredores e a companhia do meu melhor amigo. Acho que no fim das contas, o saldo foi positivo.

— Obrigada por fazer aquilo por mim, mas você poderia ter perdido seu estágio.

— Você pode simplesmente agradecer e parar de analisar as consequências de tudo Professor? — ele rolou olhos. — E eu te devia uma por não ter feito o que você pediu, e por consequência você quase ter quebrado a mão naquela parede.

— A parede sofreu mais. — ele envolveu o braço sobre meus ombros, me dando um aconchego gostoso. — Onde está a sua amiga?

— Já foi. E Madge?

— Saiu pra beber com Finnick e alguns outros da minha turma pra comemorar minha cirurgia, acredita?

— Por que não foi com eles?

— Sei lá, pensei em algo mais legal, com alguém que eu devo agradecer. — olhei pra cima até encontrar seus olhos sorrindo pra mim. — Quer comprar aquela massa do seu restaurante italiano preferido, jantar lá em casa, ver um filme e falar bobagem? Aquele apartamento ficou silencioso demais depois daqueles dias.

— Tá me chamando pra sair Professor? Tipo um encontro? — perguntei divertida. Ele meneou a cabeça ainda rindo.

— Estou te chamando pra ficar, na verdade. Lá em casa.

— Parece divertido.

— Quer saber de uma coisa Katniss? Eu vou falar só uma vez e vou negar ter dito a qualquer um que perguntar.

— Fala Professor.

— Pode ser bom ter você trabalhando aqui.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ain gente, que fofo! Teve tensão, mas foi fofo...

Espero que tenham gostado. E como eu disse no início, estou de férias, e o que mais gosto de fazer na vida é dormir. Logo, me deem incentivos (como recomendações) pra sair dos meus aconchegantes lençóis, certo?!

ALERTA DE SPOILER ABAIXO:
O próximo capítulo é de Peeta e chama-se "Katherine". Ansiosos? Curiosos?
Até os reviews! Bjs*