Conselheiro Amoroso escrita por Ellen Freitas


Capítulo 29
Gaza || Katniss


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!!!
Quem achou que a Ellen tinha morrido levanta a mão!
Quem desejou que a Ellen morresse por demorar tanto a postar o final levanta a mão!
Quem se arrependeu do último desejo porque queria saber o final da estória levanta a mão! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Me desculpem meus amores, minha vida tava uma montanha russa essas últimas semana, sem falar na velha e boa rotina corrida. E ainda tive que passar pelo odioso bloqueio criativo, mas cá estou eu novamente com o final!!!

Mas primeiro, não poderia deixar de agradecer à Livia Sousa pela recomendação. Colocar meus leitores dentro do mundo que crio em minha cabeça é um dos melhores prazeres da vida.

Agora sim, aproveitem o capítulo. Peguem os lencinhos e boa leitura!!! Bjs*



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O sol queimava sobre minha pele e o vento bagunçou meus cabelos me fazendo quase ser atropelada por uma pequena quantidade de crianças mal arrumadas que tagarelavam em um idioma esquisito e pelos finos e sujos cadernos, pareciam se dirigir à escola.

Agarrei a alça da minha mochila e apertei com força o suporte da mala quando ergui o queixo deixando a rodoviária e indo em direção ao desconhecido, aproveitando-me da caminhada para refletir sobre o que me trouxe aqui.

~

#3 meses atrás

― O quê? ― gritei. ― Você está indo embora?

Eu estava interpretando a criança curiosa e tinha ficado observando Peeta finalmente revelar a paternidade para Prim. Confesso que chorei litros, já que tinha sido bem mais emocionante do que achei que seria, com a coisa dele falar para ela uma história tão triste como um conto de fadas.

O jantar tinha sido o pior possível, tive que negar várias vezes e chorar ao ouvir o apelo de Daniel para que eu me casasse com ele. O toque do meu celular com a marcha nupcial contrastou totalmente com minhas palavras, mas ao atender Gale dizendo que eu fosse para casa porque ele tinha conversado com Madge e Peeta estaria por lá, não pensei duas vezes antes de me despedir com um beijo em seu rosto triste e ir embora.

O plano era simples: me jogar em Peeta, não de um balcão dessa vez. Falar que enfrentaríamos Mike e Katherine juntos, que Danny era passado e que não via a hora de poder finalmente ficar junto dele para sempre. Tudo bem que depois do sequestro, ele estava bem estranho, mas faríamos dar certo. Isso até ouvir ele assumindo para a filha que viajaria por tempo indeterminado.

― Katniss... Não era para você...

― Não. ― o cortei me dirigindo ao meu quarto e batendo a porta com força.

Eu oficialmente tinha pego o azar do Peeta e minha vida que antes era tudo azul, estava se tornando algo cinzento em que nada dava certo. O loiro ainda demorou algum tempo fora do quarto, andando de um lado para o outro, o que pude notar por sua sombra que se movia impaciente.

― Eu posso explicar. ― ele falou quando fechou a porta atrás de si e se aproximou de mim. Pulei da cama fazendo uma caminhada frenética pelo quarto.

― Ah eu quero mesmo saber... Quero saber por que você está tentando me enlouquecer Peeta Mellark! Por que você diz que não gosta de mim, então fica interessado em mim, pra logo em seguida se mostrar desinteressado, então começa a dar em cima de mim... Então vai embora! Você está tentando me colocar numa camisa de força? Porque tá faltando bem pouquinho para conseguir, só avisando! ― eu queria que ele tivesse começado a gritar comigo, mas Peeta apenas sentou-se na borda do colchão.

― Me desculpe.

― Quartos acolchoados! Espero que meu quarto seja um desse, e se não for Peeta Mellark, você vai me pagar!

― Katniss...

― Como vou ver a Prim se estarei numa instituição mental?

― Katniss...

― Nem uma crise em paz você me deixa ter?! ― ele levantou-se devagar e me envolveu com seus braços. Foi o maldito abraço que quebrou toda minha suposta raiva e me fez desabar chorando, dessa vez não por uma emoção legal, como foi com Prim ainda a pouco.

― Me desculpe. ― ele repetiu com o queixo encostado no topo da minha cabeça, levando ainda alguns minutos para pronunciar a próxima sentença. ― Tá pronta pra me escutar agora?

Peeta me conduziu pela mão até sentarmos na borda da cama. Ele ainda passou algum tempo encarando meu rosto, e resolveu enxugar o caminho feito pelas lágrimas com muito cuidado e demoradamente, parecendo usar esse tempo extra para pensar em como dizer o que vinha a seguir. Eu até cobraria uma explicação urgente, mas não pude simplesmente rebater os toques, já que por algum motivo eu ficaria sem ele em breve.

― Eu não preparei um grande discurso pra você, já que ia pensar nele apenas hoje a noite. Na verdade, acho que nem cem anos me fariam pensar em algo realmente bom.

― Peeta... ― cobrei uma continuação quando ela pareceu engasgar mais uma vez.

― Essa semana eu saí com Finn e Mad, e concluímos que foi um ano bom, apesar de tudo. Cada um deles tinha seus motivos, mas no fim das contas, o meu estava bem claro: você.

Prendi a respiração.

Aquele loiro idiota tava fazendo uma porra de uma declaração agora? Justo agora, depois de anunciar que ia não sei para onde e sem tempo determinado para voltar?

― Eu amo Prim, mas sem você eu não a teria conhecido. Eu amo medicina, mas sem você eu não seria tão compreensivo com meus pacientes. Sem você eu não teria superado minhas tragédias familiares do passado ou minha ex manipuladora, e não estaria pronto para ser o pai que Prim precisa. Você me consertou Kat. ― meu choro voltou com tudo, e como não consegui falar, ele resolveu concluir. ― Sem você eu não saberia como amar de novo. Foram muitas voltas, algumas idiotices, a maior parte minha culpa, mas tudo isso nos trouxe aqui. Te amo Kat.

― E você me diz isso agora? ― as palavras escapuliram da minha boca antes que eu sequer pensasse sobre o que estava falando. Peeta deu um riso triste.

― Me desculpe por isso também.

― Você poderia parar de se desculpar e me ouvir então?

― Infelizmente não posso te ouvir. ― ele levantou-se da cama, dando um beijo no dorso da minha mão, que logo puxei de volta para mim.

― Como assim não pode me ouvir? ― o parei pelo braço impedindo-o de sair do quarto. ― Despeja a porra toda na minha cara e apenas sai andando?

― Mais um minuto com você aqui e...

― E o quê? Eu posso conseguir te fazer ficar? ― respirei fundo me acalmando. ― Pois fique. Fica comigo. ― deslizei minhas mãos de seus braços até entrelaçar nossas mãos.

― Não posso. ― Peeta fechou os olhos e balançava a cabeça como se travasse uma luta contra si mesmo. ― Eles estavam certos, a vida de vocês é melhor sem mim.

― Eles quem? Daniel? Pois saiba que...

― É sério Kat, me deixa ir...

― Não antes disso.

Levei as mãos dele até minha cintura e alcancei os lábios de Peeta com os meus. Eu não sabia bem o que esperar, mas tive uma alegria momentânea ao perceber que fui retribuída, suas mãos segurando firme minha coluna e seus lábios correspondendo prontamente. Entreabri levemente a boca, o que foi o suficiente para que o próprio Peeta aprofundasse o beijo, sua língua em contato com a minha, o gosto salgado das lágrimas mesclando-se ao leve sabor de menta.

Meus dedos foram para seus cabelos o trazendo para mim, quando senti o aperto em torno do meu corpo se frouxar e ele se afastar com uma expressão culpada.

Beijá-lo era minha última tentativa e parecia ter falhado.

― Adeus Katniss. ― uma lágrima que não me pertencia molhou minha bochecha antes dele ir embora.

Era isso, o homem da minha vida estava passando por minha porta sem me dar uma explicação convincente ou sequer a oportunidade de dizer o quanto eu o amava.

Eu ainda lembrava dos conselhos de Peeta sobre como não deveria me abater tanto em términos, passar muito tempo chorando por outra pessoa não era uma opção, mas não pude evitar que naquela noite meu travesseiro ficasse molhado com as lágrimas do fim do relacionamento não concretizado com meu lindo Professor.

~

Despejei o quarto pacote de salgadinhos sabor queijo na enorme bacia laranja.

Laranja, a cor preferida do Peeta, o que contrastava totalmente com sua personalidade que por muitas vezes se mostrou meio cinzenta. Se ele estivesse aqui eu já teria recebido uma série de lições de moral sobre como eu estava destruindo meu corpo colocando aquilo para dentro, assim como o de Prim, que deveria ter uma alimentação saudável desde a infância.

Ah Peeta... Uma lágrima escorreu solitária por minha face.

― Eu juro que estou tentando. Já comprei até umas revistinhas de piadas, mas nada consegue trazer meu segundo sorriso preferido de volta. ― Finnick tinha o ombro encostado no batente da porta.

― Hey Finn, não sabia que você também viria. ― dei uma fungada discreta, enxugando rapidamente a maldita e traidora lágrima.

― Madge ligou. ― assenti e voltei minha atenção aos comes e bebes da noite do filme em família, mais uma tentativa provavelmente frustrada dos meus amigos para me animar. ― Eu trouxe Annie.

― Legal. ― concordei sem dar muita importância ao fato, o que o fez sair e me deixar sozinha.

Eu não queria parecer uma vadia por não estar com o sorriso de orelha a orelha por Gale ter ganhado o processo contra os Cresta na semana passada, mas não conseguia esconder de todos a falta que Peeta me fazia. Aquele vazio que ficou depois do nosso beijo e que assisti ele sair por minha porta mais de dois meses atrás.

Equilibrei uma bandeja com sucos em uma mão e a bacia em outra e me preparei mentalmente para prestar atenção no filme, ou pelo menos tentar sorrir nas partes engraçadas, camuflando minha eterna vontade de voltar a dormir ou ir trabalhar.

Mas ao contrário do clima de bagunça que sempre estava presente quando todos se encontravam, ao entrar na sala meus amigos pareciam bem sérios, os cinco pares de olhos me encarando preocupados. A TV sequer estava ligada.

― Se isso for alguma daquelas suas intervenções idiotas Madge, passo. ― falei na defensiva colocando o que tinha em mãos na mesinha de centro e indo em direção ao quarto de Prim. ― E se vocês não vão escolher nada, eu e a Patinha iremos.

― Espera Kat. ― Mad ficou no meu caminho, me fazendo bufar impaciente. ― Estamos preocupados com você.

― Não vejo o porquê de tanto estresse. Estou aqui, viva e segura! Não é o que todo mundo vem buscando ultimamente?

― Peeta fez uma escolha. ― Finnick se manifestou entendendo sobre o que eu me referia. ― Não quer dizer que foi a certa.

― Eu realmente não estou a fim de ter essa conversa agora. ― levantei minhas mãos demonstrando impaciência enquanto tentava ir ao quarto da minha filhada para vermos logo o maldito filme e terminar logo aquela noite.

― Você passou o seu aniversário trabalhando. ― Gale interveio e rolei olhos.

― E daí?

― E daí que as festas de aniversário de Katniss Everdeen são conhecidas por serem épicas e absolutamente infalíveis.

― Sou uma pessoa diferente agora. Peeta me ensinou que não preciso ser tão vida louca para ser aceita.

― Peeta também te ensinou a não ficar chorando por causa de homem e olha pra você agora. Que droga Kat, você está se tornando ele!

― Desculpa, mas não estou te acompanhando Mad. ― falei mesclando minha irritação com confusão. Eles estavam com medo que eu me tornasse uma amargurada sem espaço para o amor, era isso?

― Eu vi meu melhor amigo traçar esse caminho e não vou deixar isso acontecer com você, Kat. Ele estava melhor quando foi, e você...

― Peeta parece não se importar tanto assim comigo, já que se não fosse por vocês, eu sequer saberia que ele está em algum lugar perdido na Palestina! Então se me dão licença, vou ver um filme só com a Prim em meu quarto.

Eles resolveram não me incomodar mais sobre o assunto, mas sabia que estavam loucos para meter o nariz em minha vida pessoal. Era isso. Eu tentaria levar a minha vida até que curasse. O tempo servia pra isso, certo?

Quase uma semana depois, eu estava indo trocar minhas roupas para sair do meu plantão no hospital quando mais uma vez encontrei o “quinteto fantástico” me esperando na sala. Dessa vez Primrose estava com eles.

― De novo não. ― reclamei e já ia dando as costas e indo embora, quando Finnick foi mais rápido, trancou a porta e ficou no meu caminho com os braços cruzados. ― Deixou de ser médico para ser segurança de porta Odair?

― Você não vai fugir dessa vez. Pelo menos não antes de escutar o que a gente tem pra te falar.

― Não quero. ― tentei passar por eles. Como eu conseguiria esquecer Peeta se meus adoráveis amigos não me deixavam em paz e sempre ficavam voltando no assunto?

― É só o seu presente de aniversário atrasado. Dois minutos e você pode ir onde quiser Catnip! ― cruzei os braços e bufei esperando uma explicação.

― Não quer sentar?

― Estou bem em pé, obrigada Annie. Direto ao ponto, pode ser? ― quando todos olharam para Madge, fiz o mesmo, sabendo que tinha dedo dela naquela coisa e já esperando a lição de moral.

― Você merece ser feliz Kat, e como seus amigos, estamos preocupados com você.

― E...

― E por mais que minha razão diga que essa coisa de amor eterno e indestrutível não existe, eu sei que sim. Temos exemplos aqui nessa sala. ― Gale sorriu de volta quando ela surpreendemente olhou para ele.

― Entendi, você e Gale, Annie e Finnick...

― Você e Peeta. ― foi Johanna a falar. ― Olha Kat, escute isso de alguém que já apanhou muito da vida, viu pessoas partirem, e que ainda não encontrou alguém para amar. Você não pode desistir daquele loiro idiota.

― O que eu posso fazer Jo, eu estou aqui, enquanto ele se mudou! E além do mais, ainda temos aquele maluco nos vigiando...

― Agora entra seu presente Kat-Cat. Prim?

Me agachei à altura da loirinha que me deu um embrulho colorido com uma fita azul. Dentro havia um jornal de hoje, vários cartões postais de Nova Iorque e dois passaportes em meu nome.

― O que é tudo isso?

― Abre o jornal na página 16. ― atendi o pedido de Madge, e arregalei os olhos ao ler a manchete da notícia no fim da página.

“JOVEM PRESA SUSPEITA DE SER AJUDANTE EM SEQUESTRO. Katherine Adams, 25 anos, foi acusada de ter participação passiva no rapto de uma menor. Ela servia como fonte de informações entre a família e o mandante do sequestro, que acredita-se ser Michael Willis, o famoso serial killer bilionário. Fontes relevam que imagens de câmeras de segurança ligam a jovem ao local de onde a criança foi levada. Ainda não se sabe a motivação para o crime.”

― O quê? ― questionei perplexa. ― Katherine foi presa por sequestrar Prim? Aquela filha de uma p... ― contive minha língua pela presença da minha afilhada.

― A gente sempre achou esquisito Mike ter tantas informações de dentro, Peeta também achava isso, mas tudo ficou claro quando Prim viu por acaso Katherine conversando com a “moça bonita” que ficou com ela naquele dia. Pedi para ver as filmagens das câmeras de segurança do banco que fica em frente à escola de Prim, e escondida em um beco, lá estava ela, minutos antes da menina ser levada. Consegui uma ordem de prisão ontem pela manhã.

― Gale, isso foi...

― Demais?! Eu sei. ― Madge abraçou o namorado. ― Meu gigante arrasa!

― Significa que finalmente estamos livres daquela criatura?

― Significa mais do que isso Kat... Você e Peeta poderão finalmente ficar juntos! ― Annie falou animada.

― Não querendo ser a pessimista do lugar, mas isso não é possível. Mike ainda está nos vigiando, com ou sem Katherine. Ela vai saber se eu viajar para o outro lado do mundo.

― Você subestima minha inteligência não é Kat? ― Madge soou falsamente ofendida. ― Você não vai viajar para onde Peeta está, pelo menos não agora. ― franzi o cenho não entendendo. ― Pra todos os efeitos, você conseguiu uma proposta irrecusável de trabalho e Nova Iorque e está se mudando para lá. Você vai, fica com meus pais uns dias e então...

― Peetniss vive novamente! ― um sorriso involuntário surgiu em meus lábios.

― Espera, eu não posso... Prim, meus pais e vocês...

― Por favor, né Kat? ― Finnick abriu a porta me dando passagem. ― Todos sabem como somos amigos incríveis, mas sua felicidade tá com aquele idiota, vá buscar! Ainda estaremos aqui quando os dois resolverem voltar.

Dessa vez meu sorriso tomou todo o meu rosto como não acontecia há meses. As coisas seriam diferentes, eu sabia, mas eu não via a hora de pegar de volta o pedaço do meu coração que Peeta levou. Ou melhor, dar a ele toda a parte que ficou comigo.

~

#Presente

Passei a outra alça da mochila pelo ombro, e enquanto ainda olhava o endereço, um vento o carregou para longe, me fazendo seguir correndo o pequeno papel que serpenteava até pousar sobre uma pilha de escombros. Não foi surpresa ver com meus próprios olhos a destruição que ainda se mostrava em cada esquina.

― Isso é meu! ― a curiosidade da criança que chegou no papel antes de mim se transformou em algo perto de amedrontamento. ― Me desculpe. ― me acalmei, e a menininha pareceu voltar o modo curioso. ― Você... sabe... onde... fica? ― mostrei o papel, mas falar pausadamente não estava ajudando em nada na comunicação ali.

Que ótimo Katniss!

Na teoria, empacotar as coisas e voar para o outro lado do mundo despistando um psicopata foi lindo, um gesto super romântico, mas na prática eu estava perdida e sozinha em um país que não entendiam uma palavra sequer do que eu falava e vice-versa.

― Ele? ― tive a ideia de mostrar uma foto de Peeta em meu celular. Uma ótima lembrança dele com Prim sobre os ombros, no dia do passeio no parque de diversões.

A garotinha mostrou os dentes tortos numa risada e nem acreditei quando ela balançou a cabeça afirmativamente, me fazendo correr atrás dela por alguns metros e entrar num prédio pequeno. O local era meio empoeirado, alguns itens médicos básicos posicionados nas escassas prateleiras e uma mesa no centro do ambiente.

A menina falou algumas palavras assim que entrou, o tom pareceu de cumprimento a alguém que ela já conhecia, foi quando o vi de costas, em um dos cantos, arrumando alguns materiais em potes nada convencionais e bem diferentes dos bem arrumados depósitos da sala de materiais do ESJ.

Por baixo do jaleco branco, Peeta usava jeans e uma camiseta cinza, e apenas ao ouvir a voz dele falando com a pequena no mesmo idioma, ainda sem olhar para a porta, fez meu coração acelerar mais do que já estava. Ele se abaixou para pegar um doce para dar a ela, foi quando resolvi me fazer notar.

― Nunca pensei em ver Peeta Mellark dar um doce não saudável a uma criança. ― contive a risada quando Peeta ergueu a cabeça no susto e a bateu na prateleira superior fazendo um barulho alto. ― Nossa, deve ter doído. ― franzi a testa enquanto ele piscava repetidas vezes me olhando.

A menina falou algo puxando a barra da camiseta dele, foi o que fez Peeta sair do seu estado de aparente choque.

― Dali, você pode... Quer dizer... ― o loiro terminou a sentença em outro idioma, então ela saiu correndo e feliz com seu pirulito em mãos.

― Não sabia que você falava árabe. ― equilibrei a mochila em cima da mala em um canto e entrei completamente no local.

― Há três meses, não falava mesmo. Mas nada que dicionários, alguns pacientes voluntários e muita mímica não ajude. ― ele começou a rir sem nenhum motivo aparente, me fazendo notar como sua pele estava mais bronzeada pelos poucos meses longe do frio do Colorado e que a notável falta de cuidado com o feitio da barba ou corte do cabelo só o deixaram mais lindo.

― Sério Peeta? Faixa de Gaza? ― ele deu de ombros.

― É o perfeito lugar para sumir. Apenas alguns quilômetros de terra para muita gente que precisa de cuidados médicos depois de anos de guerra. Como você descobriu que eu estava aqui?

― Madge e Finnick não são os melhores para guardar segredos. ― ele riu novamente. ― Você tá bem Peeta? É que tá sorrindo demais...

― Eu só estou esperando acordar, sabe?

― Acordar?

― Não me leve a mal Kat, mas eu sonhei com isso muitas vezes desde que te deixei naquela noite. Só estou esperando alguém vir bater na minha porta dizendo que tem alguma emergência. ― ok, esse é o momento que eu me derreto.

― Pois sinto muito lhe informar senhor Mellark, mas eu sou bem real. ― o semblante dele ficou sério de repente.

― Você não poderia estar aqui então. Mike...

― Sorte sua ter amigos que são verdadeiros gênios da estratégia e eu ser louca o suficiente para acatar os planos deles. Mas isso me leva aos dois motivos que me trouxeram aqui. ― caminhei firme até ficar próxima o suficiente para estalar um tapa na cara dele.

― Ai. ― ele acariciou o rosto. ― Mas acho que mereci isso.

― E também merece isso. ― comecei a estapeá-lo no peito e braços, enquanto ele tentava em vão se esquivar. ― Como você ousa me deixar daquele jeito? Eu sofri como nunca, seu idiota!

― Tá bom Kat, já entendi. Podemos passar pro motivo número dois?

― Você falou um monte, mas não me deixou terminar a droga do meu discurso! Quando você disse que me amava e me deixou lá em Denver, chorando sozinha no quarto, eu tive tempo para analisar como você tinha ferrado com minha vida Peeta. Eu era feliz, sabe? Tinha meus problemas com relacionamentos, mas era feliz. Então vem você cheio das suas regras e teorias...

― Katniss.

― Não me interrompa. ― ordenei. ― Mas pior que ter que aturar sua alimentação super saudável, suas normas de conduta, sua babaquice, foi me ver sozinha, e sem o amor da minha vida. ― respirei fundo, enquanto ele ainda me observava atento. ― Amo você Peeta, e não ligo pra Mike, Katherine ou se vou ter que morar com você aqui escondida no fim do mundo.

Eu ainda tinha algumas coisas para falar, mas fui interrompida pelos lábios de Peeta sobre os meus e suas mãos em torno do meu pescoço, sua barba rala fazendo cócegas na pele do meu rosto, foi quando entendi que com aquele gesto Peeta também estava dando seu grito de “dane-se” ao mundo e permitindo-se ser feliz. A lágrima que escorreu dessa vez do meu rosto foi de nada além que pura felicidade.

Quando nossos pulmões cobraram oxigênio e quebramos o beijo, me recusei a deixa-lo sair de perto de mim e o loiro parecia ter o mesmo objetivo, já que passamos um bom tempo abraçados sem falar nada no meio daquela salinha empoeirada.

― Você está mesmo disposta a deixar seus pais e seus amigos no Colorado e ficar aqui comigo, nesse lugar tão diferente do que está acostumada?

― Sim Peeta, eu já diss...

― E quer mesmo me aturar com todos os meus defeitos e com a iminente possibilidade que mesmo odiando isso, posso te machucar?

― É um risco que estou disposta a correr.

― Sendo assim, o anel da mamãe finalmente encontrou uma dona.

Meu coração parou por alguns segundos enquanto ele me levava até um quartinho nos fundos, onde a pouca bagagem dele estava arrumada ainda em algumas caixas de papelão empilhadas ao lado de uma pequena cama. Peeta remexeu nas gavetas da mesinha de cabeceira antes de tirar do meio de uma pequena echarpe estampada em vários tons de azul um anel.

― Peeta, o que você pensa que está...

― Adiantando o melhor inevitável da minha vida. ― prendi a respiração quando Peeta ajoelhou-se na minha frente, ainda sua mão presa à minha. ― Eu não vou poder te dar a vida que você merece, nem o casamento com toda a pompa e circunstância que você queria, mas estou aqui, sou todo seu. ― podia até ser o calor, mas eu sentia a palma de Peeta molhar a minha com suor e ele mastigar os lábios com força. ― Katniss Everdeen, aceita casar comigo?

O local era de longe o oposto que seria o pedido que sonhei. Aliás, tudo ali era o oposto de tudo que preenchia meus sonhos de casamento de Barbie. Tudo menos a pessoa na minha frente. Peeta era meu homem ideal e mesmo que parecesse loucura o pedido sem ao menos termos tido um dia de namoro, minha resposta não pode ser diferente de um engasgado e sonoro “aceito”.


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Notas finais do capítulo

Para mundo, vai acabar assim?
Sim meus amores, vai acabar assim... hehehehehehehehe
Espero que tenham gostado desse final não tão esperado pela maioria. E não irei me despedir agora porque farei isso no epílogo. Não se preocupem, já está quase finalizado.

E como alguns já sabem, não consegui resisti e já postei Como me (des)apaixonei por Oliver Mellark.
Mas de todo jeito, aqui vai a descrição nos nosso protagonista:
* Oliver Mellark: ou apenas Ollie, aos seus 17 anos (quase 18!), o filho de Katniss e Peeta parece ter crescido sem jeito, irresponsável e inconsequente, o exato oposto do pai. Expulso de várias escolas, sempre em busca de mais problemas para “divertir-se”, ele acaba com a missão de terminar o colégio na escola que os pais estudaram. Tudo se complica quando ele tem que conviver de perto com a sua prima Melissa, com quem ele também não simpatiza muito e provoca constantemente, por ser muito “certinha”. Tem carisma e beleza de sobra, e conquista tudo e todos ao redor, mas considera apenas ter duas amigas de verdade: sua prima Miranda e sua irmã mais velha Madge. Admira o pai, entretanto entra em conflitos constantes com a mãe.

Link da fic: https://fanfiction.com.br/historia/646905/ComomedesapaixoneiporOliverMellark/

Até os reviews... Bjs*