Conselheiro Amoroso escrita por Ellen Freitas


Capítulo 14
Hipoteticamente || Peeta


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!!

Gente, olha a Ellen postando agora toda semana!!! É isso aí pessoal!!!

Hoje não vou enrolar muito aqui, sei como acabou o último capítulo e estou ansiosa que leiam esse. Como já disse várias vezes e para várias amigas, é o meu preferido, por tantos motivos!!!

Ah, desculpem por ainda não ter respondido os reviews, minha vida está uma loucura, o tempo cada vez mais curto. Só estou postando hoje porque abri mão do meu sono e já tinha uma grande parte escrita!!!

Agora ao agradecimento mais especial da noite (ou dia, não sei que horas serão quando você ler isso): PETNISS2!!! Essa linda escreveu uma recomendação lindona que amei muito!!! Já não basta ela ser Olicity, ainda me manda recomendações? Já amo!! Kkkkkkkkkkkkkkkk

Agora ao capítulo... Boa leitura!! Bjs*



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/556919/chapter/14

— Cara, isso vai dar merda. — rolei olhos, mesmo sabendo que Finnick não veria, já pegando minha lata de cerveja na geladeira e indo me juntar a ele no sofá da sala.

— Concordo com ele. — Madge colocou o disco no aparelho de DVD e se jogou entre nós. — E se você machucar a Katniss, Gale te quebra. Já viu o tamanho da mão do homem?

— Prefiro não pensar nos tamanhos de Gale agora Mad.

— São enormes. — ela arregalou os olhos gesticulando com as mãos, fazendo eu e Finn a olharmos fazendo uma careta de nojo.

— Acontece que eu não pretendo machucá-la. Que merda de melhores amigos são esses que nem me conhecem? É só um encontro hipotético. — dei de ombros.

A ideia me veio ao ver Katniss chorando no banheiro daquele restaurante por culpa de um idiota qualquer que não sabia valorizá-la. Eu já tinha alertado sobre o cara (que tive o prazer de dar um belo de um soco que Katniss nunca ficará sabendo!), mas como dizer um “eu te avisei” não adiantaria de nada, sugeri de sairmos juntos, esclarecendo logo em seguida que seria apenas para mostrá-la que ela não precisava ser como os outros queriam que ela fosse. Ser Katniss já era o suficiente.

— Por que não a chama para sair num encontro real e esquece essa desculpa Peet?

— Porque não. — Que ideia mais absurda! Katniss e Peeta como um casal de verdade? Nunca!

— “Porque não” não é resposta. — Finnick pontuou. — Aliás, é uma resposta de quem foge da pergunta.

— Eu não pretendo namorar Katniss, em hipótese alguma desse universo. Só estou tentando ajudar a...

— Essa de “ajudar” parou de colar quando você me confessou que quase a beijou um dia desses.

— Opa, você quase o quê? — Madge sentou-se sobre os joelhos se virando pra mim. — Como não me conta isso Peeta Mellark? — a loirinha deu um tapa nada fraco no meu braço.

— Valeu mesmo Finn. — falei irônico, e em resposta ganhei apenas uma continência de “disponha” e uma piscadela. — Não foi nada ok? Eu apenas fui levado por uma lembrança de outro momento. E estava meio bêbado.

Foi essa justificativa que usei pra Katniss, para Finn e que repetia a cada dia para mim mesmo. Por mais que eu tentasse convencer minha idiota consciência de que as semelhanças entre Katniss e Katherine foram a causa do “quase beijo”, no fundo eu sabia que foi justamente o oposto. Foram as diferenças entre as duas que atraíram minha boca direto pra dela. Mas nunca, em nenhum país do mundo, atração significou amor.

— Eu saio com ela então. — Finnick me trouxe de volta ao presente. — Se é só algo hipotético, faço esse “sacrifício” de novo. — ele colocou a mão no peito e fez cara de drama.

— Mas nem fodendo! Não quero ter que juntar os caquinhos da Katniss se ela começar a gostar de ti e você for o babaca de sempre. — ouvi um sorriso que não entendi escapar dos lábios da minha amiga, mas preferi nem dar importância.

— Qual é Peeta? Eu sonho com aquela mulher todos os dias. Ontem mesmo eu bati uma pensando nela. — Finn mordeu o lábio num gesto obsceno demais pro meu gosto. A vontade de praticar tiro ao alvo com bisturis na testa dele de repente me surgiu com força total.

— Eca Finn, que nojo. Dama no recinto. — Madge reclamou.

— Onde? — ele olhou ao redor gargalhando e eu acabei fazendo o mesmo.

— No meio do seu orifício anal!

— Tão educada, tão pequenininha, tão gentil. — envolvi meus braços ao redor de sua cabeça, gesto que minha amiga nunca gostou pois destacava a pouca estatura dela.

— Vai se ferrar você também Peeta! Nenhum dos dois alérgicos a compromissos merece a Kat.

— E quem merece? O seu perfeitinho Gale, pra quem você já deu o maior fora? Você é pior que a gente Mad, fato. — Finn deu um gole despreocupado em sua cerveja.

— Calado Odair!

— Ele tá certo loirinha, você é nossa versão feminina e anã.

— Pelo menos eu não namoro porque não quero, e não porque quero espalhar minha sementinha pelo mundo ou porque estou me apaixonando por alguém que diz ser meu irmão. — abri minha boca levemente surpreso com as palavras dela. — O que foi Peet? Não sabia que estava se apaixonando? — ela me desafiou com o olhar. Finnick que a observava atento, voltou-se para mim aguardando uma resposta.

— Eu não estou me apaixonando.

— Parando pra pensar agora, parece que sim cara. Há quando tempo você não tem uma boa foda? Parece que perdeu o jeito.

— Isso não é da conta dos dois fofoqueiros de plantão! — falei na defensiva, odiando admitir que fazia mais tempo do que eu realmente achei que poderia conseguir.

— Eu sabia! Bate aqui Mad! — os dois tocaram as mãos no alto.

— Isso não é verdade e eu provo pra vocês. — peguei meu celular em cima da mesinha. — Vou marcar uma saída pra hoje. Acho que vou ligar pra... Glimmer. — falei o primeiro nome que veio à minha mente já buscando o contato.

— A vaca vai achar que você quer namorá-la.

— É mesmo. — Finnick concordou com Madge. — Quebrando a própria regra e indo pra um segundo encontro Mellark?

— Que merda, é verdade! Glimmer fora de questão. — eu tinha esquecido completamente que já tinha saído uma vez com nossa colega loira, mesmo o final tendo sido um total desastre. Deslizei a tela mais um pouco. — Essa vai servir. Cashmere.

— Quem diabos é Cashmere? — Madge questionou.

— Aquela menina de uma loja no shopping que nos atendeu quando fomos comprar umas camisas mês passado, lembra Finn?

— E como lembro, gostosa pra caralho! Quando você pegou telefone, eu estava com os dois o tempo todo!

— Tinha um defeito numa peça. Voltei lá pra trocar.

— Cara, retiro o que eu disse de você perder o jeito. Na verdade, preciso saber como você faz essas porras Peeta. Um “por favor” ou “obrigado” depois, e as garotas já se jogam como se você algum tipo de estrela de cinema.

— Tente ser mais gentil com elas senhor sou-lindo-demais-pra-qualquer-uma. E não é como se você pudesse reclamar de falta de sexo. — ele gargalhou.

— Somos um trio e tanto. Um brinde a isso. — tocamos nossas latinhas e Mad usou a capa do DVD para brindar.

— Ah não, Grey’s Anatomy de novo não Madge! A maior parte do nosso tempo estamos em um hospital, já não é o suficiente pra você?

— Quieto Finnick, você não sabe o que é bom.

— Com licença. — pedi antes de sair pro meu quarto não querendo mesmo ouvir aquela discussão de novo, e para ter mais privacidade ao telefone.

Não foi preciso mais de um convite para ter o encontro marcado. Se ela tinha algum compromisso desmarcou, e se colocou à disposição para qualquer coisa. Apesar dessa atitude inflar meu ego masculino, tive que resistir ao impulso de começar a aconselhá-la que ela deveria se valorizar um pouco mais, e que atender e aceitar tudo assim de cara soaria carente e desesperado, exatamente como faria com Katniss. Minha “aluna” rebateria me chamando de chato e conservador, coisa que nem me afetava, enquanto argumentaria sobre a importância de ser feliz e viver a vida.

Espera, Katniss de novo em minha mente?

~

Abri meus olhos no susto quando minha cabeça pendeu para fora da minha mão, me fazendo perceber que tinha dormido no meio da explicação da Dra. Coin. Pra minha sorte ela não chegou a notar, mas pro meu azar Finnick sim.

— Eu sei que você já sabe disso, mas preciso dizer: tua cara tá péssima! — ele disse quando saímos da sala de reunião, cada um já indo começar as atividades daquela manhã.

— Dormi mal noite passada.

— Eu até ficaria com pena se não soubesse o que você estava fazendo a noite toda com aquela loira gostosa.

— É sim, foi por isso.

Confirmei mesmo sabendo não ser esse o motivo da minha insônia. O encontro com Cashmere foi real, mas a culpa por ter feito aquilo me acompanhou o restante da noite, impedindo que eu conseguisse relaxar e dormir pelo menos um pouco.

— Cara, isso vai dar uma merda tão grande!

— O quê? — perguntei quando notei que ele parecia ler meus pensamentos.

— Você tentando provar algo.

— Por mais que seu egocentrismo extremo ache que tudo gira em torno dos seus olhos verdes, saiba que não saí com a garota ontem para provar nada pra você ou pra Madge.

— Eu sei, mas não estou falando de mim ou da loirinha. Você estava tentando provar pra si mesmo. — ri disfarçando.

— Eu acho foda esses seus momentos que você jura que falou algo mega inteligente, mas na verdade a coisa não faz o mínimo sentido.

— Vai rindo Mellark, vai rindo... Você ainda vai me ligar pedindo conselhos.

— Cala a boca Odair!

— Isso, cala a boca Odair! — Katniss chegou por atrás de mim apoiando as mãos em minhas costas enquanto olhava para Finn por cima do meu ombro.

— Kat-Cat! — Finnick mostrou todos os dentes brancos em um sorriso (desnecessariamente só pra constar!). — Saudades de você Love. Parece que faz um século que a gente não se vê.

— Isso é estranhamente verdade.

— Mas é a vida né?! Enquanto você fica aí com Peeta pra todo canto, eu tenho que trabalhar para manter essas pessoas aqui tratadas, e ainda aturar a Dra. Coin, aquele poço de simpatia. — ele dramatizou.

— Ah, não faz esse biquinho. Alguém aqui precisa de um abraço. — ela cantarolou.

— Preciso mesmo. — Katniss se soltou de mim e envolveu o pescoço dele, enquanto o futuro defunto que eu considerava meu melhor amigo apertava demais a cintura dela e ainda fez questão de me lançar uma piscadela antes de beijá-la demoradamente no rosto.

Eu peço uma coisa para ele, uma apenas: fica longe da Katniss! E o filho da puta usa isso para me provocar, simplesmente porque acha que estou apaixonado. Me preparo para sair sem aviso e não dar a Finnick o gostinho de me ver com raiva, quando Katniss me para segurando meu braço.

— Onde você vai Professor, preciso falar com você.

— Ia dar privacidade para os dois pombinhos. Eu tenho que trabalhar de verdade.

Katniss estreitou os olhos observando minha reação, então seus lábios se esticaram em um discreto sorriso. Finn cochichou algo em seu ouvido, o que a fez negar com a cabeça e abrir ainda mais o riso, quase chegando a uma gargalhada.

— O que ele te disse?

— Você não vai gostar de saber.

— Agora eu preciso saber! — exigi.

— Deixa de ser curioso, que o assunto que eu tenho pra falar é mais importante. — Katniss totalmente ignorou minhas reclamações e me empurrou para um canto menos movimentado e começou a andar de um lado para o outro. — Eu estou surtando.

— Estou vendo, mas por quê?

— Como assim por que Peeta? A gente vai sair hoje.

— Sim.

— Em um encontro. — ela cochichou.

— E daí? — tentei parecer natural, mas ela tocar no assunto nesse momento me fez ficar ansioso.

— E daí que a gente é irmão. Ou quase... Katniss e Peeta como um casal de verdade seria o cúmulo do absurdo! Sei lá, e se for estranho? E se isso ferrar com nossa relação? E se eu não puder mais te ver, ou não querer mais de ver, ou vice versa? Eu preciso de você na minha vida, de qualquer jeito!

— Minha linda... — minha língua foi mais rápida que minha mente e soltou o apelido da hora, o que claramente a assustou um pouco. Resolvi tentar corrigir. — Katniss. Concordo com você e por isso será tudo hipotético. Não vou ser o seu Professor, Peeta Mellark, vou ser um cara aleatório que te chamou pra sair. Posso até usar outro nome, se quiser. — ela ainda me olhava, uma angústia visível em seus olhos. — Mas se não quiser fazer isso...

— Não! Quer dizer, quero. Mas me promete...

— No fim da noite de hoje, ainda vai estar tudo bem entre nós, eu juro.

— De mindinho? — Katniss riu e estendeu o dedinho imitando o cumprimento infantil.

— De mindinho. — enlacei meu dedo no dela, que me surpreendeu se inclinando para dar um beijo rápido em nosso embolado de dedos. Acabei rindo. — O que Finnick te falou?

— Talvez eu te diga hoje à noite. — ela piscou já saindo na direção oposta que eu deveria ir.

~

Retirei parte do suor das palmas das minhas mãos no tecido grosso da calça jeans e bati na porta de Katniss. Eu não estava nervoso porque realmente achava que não precisava estar, até receber o boa noite do porteiro. E para completar, a morena escolheu hoje para não ser desesperada e pontual ao abrir a porta.

Será que ela fugiu? Insegura como estava, eu não duvido que ela possa...

Oi, desculpa a demora, eu me enrolei com... Sei lá, eu me enrolei. Não me culpe por ainda estar surtando, na verdade, mais ou menos. Você não é muito bom em acalmar pessoas Peeta Mellark, mas enfim... Aqui estamos nós. Prim ainda não voltou com Johanna, depois você vê ela e tal. Eu só preciso ir pegar meu casaco pra gente sair. Dois segundos. Você tá de terno, é esquisito. — e entrou em direção ao quarto.

Eu não dava a mínima para a tagarelice de Katniss, já que eu mal ou vi as palavras, pois que estava impressionado demais para me importar com isso. Ela usava um vestido preto de mangas longas de renda, com um cinto finíssimo com detalhe em pedras que marcava bem sua cintura fina. O comprimento da peça chegava apenas até a metade das coxas que estavam cobertas por uma meia calça preta e saltos altos.

Relembrar como Katniss se arrumou para o “primeiro encontro” mais de seis meses atrás, com um vestido curto e justo demais, e como ela estava agora, me fazia encher o peito de orgulho em saber que fiz parte dessa mudança. A mudança que transformou uma garota carente e com escolhas um tanto vulgares para a mulher mais linda que já conheci.

— Professor, você está bem? Parece distante...

— Estamos fazendo isso errado. — ela me olhou assustada.

— Quer cancelar agora?

— Não, claro que não. É que combinamos a coisa do hipotético lembra? Não estamos fazendo certo.

— Tive uma ideia. — ela disse divertida me empurrando para fora do apartamento. — Comece de novo. Ah, e seu novo nome... Que tal Josh?

— Josh é perfeito. Como nos conhecemos?

— Em um consultório pediátrico. Fui levar minha afilhada Prim e você seu sobrinho.

— Eu não tenho irmãos, então não posso ter sobrinhos. — ela me repreendeu com o olhar. — Ah, hipoteticamente, desculpe. Pode continuar.

— Eles começaram a brincar, eu fiz uma piada sobre ele não se parecer com você e babás masculinos, você pegou meu telefone e assim que entrei no consultório e perdemos contato visual, você ligou me convidando para sair.

— Eu não estou parecendo muito desesperado? — brinquei.

— É porque você está solteiro a mais de três anos.

— Resumindo, sou Josh que não tem vida amorosa a tempos, fica cuidando do sobrinho e convida pessoas aleatórias pra sair? Tenho uma profissão pelo menos?

— Engenheiro.

— Não sou fã de números.

— Supere-se. — ela desdenhou com a mão.

— Você pensou em tudo mesmo.

— É o que acontece quando estou surtando. Se você acha que falo rápido, não queira saber a velocidade dos meus pensamentos. Agora sai.

Quando Katniss fechou a porta na minha cara, respirei aliviado. Nossa brincadeira de criar outro nome e história para mim acabou diminuindo a tensão que nós dois apresentávamos. Encarnar Josh, era isso que eu precisava.

Bati os nós dos dedos na porta e dei um passo atrás.

— Boa noite. — Katniss cumprimentou abrindo a porta.

— Boa noite. Devo dizer que você está lindamente deslumbrante. — “lindamente deslumbrante?” Sério Peeta?!

— E você como sempre gentil. Quer dizer, não sei, só te vi uma vez.

— E foi o suficiente. — estendi meu braço para ela. — Vamos?

~

Segurei a cintura de Katniss e a puxei para junto de mim na calçada, chocando suas costas contra o meu corpo, dois segundos antes que ela fosse atropelada por um carro escuro que mal pude ver pela velocidade que ele estava.

— Ops. — ela me olhou por cima do próprio ombro e riu.

— Você quase morrer agora deve ser um sinal pra gente ir pra um lugar mais calmo.

— Que nada, é um sinal pra você andar mais rápido. — a morena segurou minha mão e me arrastou para o outro lado da rua, onde um barulho ensurdecedor e uma fila gigantesca me fez fazer uma careta.

— Isso é muito injusto.

— Aposta é aposta.

Durante o jantar Katniss me fez apostar que o casal da nossa mesa ao lado namorava. Eu estava tão certo que era apenas amizade que resolvi deixá-la escolher para onde iríamos se acertasse. O fato é que eles eram sim melhores amigos, mas noivaram dois minutos depois de fecharmos a aposta. Katniss fez questão de cumprimentar o casal.

“Às vezes o amor da nossa vida está fantasiado de melhor amigo o tempo todo.” Foi o que a garota respondeu mostrando orgulhosa o anel, enquanto trocava um olhar apaixonado com o rapaz. “Vocês também formam um belo par.” O noivo completou antes dos dois saírem abraçados.

Eu até tentaria um “somos apenas amigos”, mas considerando as condições hipotéticas do nosso encontro e a história dos outros dois, não seria a melhor coisa a dizer quando na verdade você estava com alguém que se dizia sua irmã. E tudo isso nos colocou novamente em frente à Panem’s Home, onde Katniss me obrigou a vir hoje, e onde tudo começou meses atrás.

— Mas não gosto desse tipo de ambiente.

— Claro que gosta, você me disse.

— Quando?

— Quando nos conhecemos na clínica. — ela piscou para mim e caminhou em direção ao segurança.

— Você está abusando dessa coisa do personagem. — falei, mas acho que ela nem chegou a ouvir, já que cochichava e ria com o segurança, para logo depois me chamar para entrarmos direto. Agradeci a ele com um gesto de cabeça. — Como consegue convencer todo mundo a fazer o que você quer?

— Conheço o cara, ele é o pai da Clove, minha amiga.

— Sua colega de turma meio bruta, certinha e disciplinada?

— Exatamente essa. E não é justo ter um pai que consegue entradas vips e não usar isso certo?! Me aproveito mesmo.

Entramos no lugar e estava incrivelmente lotado, bem mais do que a primeira e única vez que estive aqui.

— Vamos para o bar. — Katniss gritou por cima do barulho.

— Por que aqui? — a puxei pela mão, que ainda estava ligada à minha, pra perto de mim.

— Sei lá, gosto desse lugar. — Katniss deu de ombros. — Foi por aqui também que conheci alguém muito importante.

— Devo ter ciúmes desse alguém importante? — brinquei, falando mais alto que o normal mesmo agora estando com a boca junto ao seu ouvido.

— Não, você não precisa. — ela fixou o olhar no meu. — Vamos?

Depois de meia hora, eu ainda estava encostado no balcão com Katniss dançando sentada no banco ao meu lado. Até tentamos conversar, mas o som alto exigia gritos, e eu não estava mesmo afim de estragar minha voz.

— Você está sendo chato Josh.

— Eu não estou sendo chato, apenas não gosto de dançar, não quero beber e não consigo conversar nessa balbúrdia.

— Como eu disse, chato. Vou ter que te embebedar pra conseguir uma dança?

— Pensei que a decisão de nos manter sóbrios hoje tinha sido sua.

— Já me arrependo. — ela cruzou os braços.

— Ah, não faz essa cara. O jantar não foi maravilhoso? — um pequeno riso cruzou seus lábios nesse momento.

— KATNISS! — nos viramos na direção da voz escandalosa que vinha do meio da multidão agitada. — KATNISS!

Uma garota de cabelos ruivos na altura dos ombros, olhos verdes e que estava claramente afetada pela bebida a abraçou forte.

— Lily, esse é Josh. Lily é minha colega de faculdade.

— Muito prazer. — a cumprimentei.

— Uau amiga, esse aí superou hein?! — ela me olhou maliciosa e falou no ouvido de Katniss aos gritos tendo a plena consciência que estava sussurrando. — Vem, vou te apresentar um cara que eu conheci aqui e vai ser meu futuro marido. Esse lugar tem dessas coisas, não é?!

Katniss a acompanhou (lê-se foi carregada) rindo muito, não sei se por causa da amiga, da minha cara envergonhada ou simplesmente feliz por ter sido tirada do tédio.

— Peeta Mellark, você não está mesmo morto. — Era só o que me faltava! Respirei fundo antes de me virar. — Por alguns dias eu desejei que você realmente tivesse morrido.

— Isso não é algo legal de se dizer Enobaria.

— “Não me ligue pois não vou atender, e obrigado pela noite” também não é.

— Em minha defesa, eu avisei antes de sairmos. — ri disfarçando o desconforto. — Mas me perdoe mesmo assim. Eu apenas não estou disponível pra esse tipo de compromisso.

— Como dizer não pra esses olhos? — a garçonete colocou a mão sobre a minha, logo subindo o carinho pelo meu antebraço exposto pela manga dobrada da camisa. Estava pronto para me afastar quando Katniss chegou me abraçando pela cintura.

— Ei, baby! Te deixo dois segundos sozinho... Obrigada por cuidar dele querida, pode deixar que assumo daqui. — ela lançou um sorriso forçadamente simpático e quase me derrubou do banco ao me arrastar pelo braço para o meio da pista.

— Lidou bem com a situação. — elogiei.

— Juntei todas minhas forças pra não nocautear ela ali mesmo. Ela não viu que você estava acompanhado, que merda! — éramos as únicas duas pessoas paradas no meio de tudo.

— Seus ciúmes são fofos. — ela começou a rir.

— E os seus?

— Meus? — a olhei desconfiado.

— Foi o que Finnick me disse mais cedo. — ela se aproximou do meu ouvido e começou a sussurrar. — Você. Morre. De. Ciúmes. De. Mim.

— Ele é um idiota.

— É mentira? — ela se afastou mordendo a unha do polegar.

— Vamos dançar.

Peguei sua mão e a girei, fazendo a morena gargalhar.

O ritmo agitado logo começou a esquentar o sangue em minhas veias. Isso ou o fato de que ter Katniss dançando tão provocantemente perto, que se tornou um misto de excitação com constrangimento, mais uma sensação de bem-estar que eu não conseguia descrever.

— Você não é tão ruim quanto achei que fosse.

— Valeu.

— É sério! Daria um perfeito príncipe de festa de debutante.

— Você não sabe. Nunca dançou comigo uma música lenta. — como um arranjo do destino a batida agitada deu lugar a uma música suave.

— Parece que vou saber agora.

Quando a primeira estrofe de Fix You ecoou no enorme local, Katniss se aproximou de mim, sua mão esquerda alcançando meus ombros e sua mão direita encontrando minha esquerda, que eu logo trouxe para junto do meu peito, onde ela debruçou a cabeça levemente e começamos a balançar ao ritmo da música.

— Sabe Katniss... — parei sem ter ideia no que dizer a seguir.

— O quê?

Eu não tinha o que falar. Eu não sabia o que falar, tudo na minha cabeça estava uma bagunça generalizada. Mas com ela nos meus braços, me olhando de perto, o sorriso em seu rosto destacando suas bochechas coradas, eu soube o que queria fazer. Não, o que deveria, mas o que queria, de verdade. Levei a mão ao lado da sua face, logo vendo-a fechar os olhos e descansar a cabeça. Passei a língua nos lábios antes de me inclinar em sua direção, quando a segunda estrofe começou.

*

And the tears come streaming down your face/E as lágrimas escorrem pelo seu rosto

When you lose something you can't replace/Quando você perde algo que não pode substituir

When you love someone but it goes to waste/Quando você ama alguém, mas isso se desperdiça

Could it be worse?/Poderia ser pior?

*

Parei instantaneamente. A música, a letra, minha história, eu.

— A gente tem que ir.

— Como assim? — ela abriu os olhos surpresa.

— Vem, te deixo em casa. — foi minha vez de pegar sua mão e sair a arrastando para fora do local.

— Por que agora? Mal chegamos. — ela parou, fazendo eu me voltar pra ela.

— Vamos embora Katniss, por favor.

Depois de analisar minha expressão por alguns segundos, ela finalmente cedeu, me deixando guiá-la até o carro e não pronunciando mais nenhuma palavra até em casa.

Deixar minhas emoções e lembranças estragarem a vida de outras pessoas além de mim, às vezes se tornava pior do que meu próprio sentimento. Era por isso que eu não deixava transparecer, não compartilhava. Eu não queria ver a tristeza no rosto de pessoas que eu me importava.

— Entregue sã e salva. — puxei o freio de mão com um riso, sem olhá-la, tentando disfarçar o nervosismo que ainda dominava um pouco meu batimento cardíaco desde a nossa última dança. Fix You foi mais revelador do que Katniss poderia imaginar. E o quase beijo? Eu tenho mesmo que parar de quase beijá-la!

— Me saí bem? — ela perguntou encarando as próprias mãos no colo. — Quando você pediu pra ir embora, achei que eu... — ela finalmente resolveu falar.

— Não precisa colocar a culpa das coisas que não derem certo sempre em cima de você, não se rebaixe a esse ponto. — desliguei o carro. Eu não queria mesmo começar um sermão, principalmente quando a culpa das coisas erradas era minha. — Você foi perfeita, na verdade.

— Não pareceu. — ela estava chateada. Mas é claro que estava gênio, você praticamente saiu correndo de uma boate, a puxando pela mão, no justo momento que estavam quase se beijando!

— Me desculpe, aquilo não foi sobre você.

— Mas deixa eu adivinhar, você não vai me contar. — abri minha boca ligeiramente, tentado a despejar toda minha história em cima dela, mas apenas a menção disso em pensamento me fez desistir. Katniss não merecia carregar aquilo em sua consciência e meu eu egoísta também me lembrava que eu poderia afastá-la. Apertei o volante entre os dedos encarando a rua escura e deserta à frente sem olhá-la. — Claro que não. — ela atestou já abrindo a porta. — Foi ótima noite, mesmo, sem ressentimentos. Eu já vou entrar.

— Ei, espera. — segurei seu pulso antes que ela deixasse o veículo. — Te levo até a porta.

— Sempre o cavalheiro. — ela riu.

— É quem eu sou. — pisquei pra ela, saindo do carro e dando a volta, oferecendo minha mão para auxiliá-la a sair com aqueles saltos.

— Pensei que hoje fosse sobre você não ser você. Quer dizer, claro que você ainda é você, mas pensei que você fosse ser o outro você, o Josh engenheiro-desesperado da Katniss. Pelo menos até o fim da noite.

Eu não tinha resposta teórica, inteligente ou divertida para aquela tagarelice de Katniss. Em um encontro hipotético apenas para ajudar uma amiga, eu acabei me deixando levar demais. O personagem que eu deveria interpretar foi sumindo à medida que os ponteiros corriam, mas eu não podia estragar o encontro perfeito pra ela.

Josh precisava voltar agora!

— A noite não acabou ainda. — deslizei minha mão gentilmente em suas costas a guiando pela recepção até a porta do apartamento, mesmo que aquele fosse o prédio dela. — Me desculpe de novo Katniss.

— Tudo bem. Cansei de tentar fazer você se abrir comigo. Você fará isso quando estiver pronto, como fez com a história da sua ex, certo? — e olha como quase acabou daquela vez!

Ela riu em busca das chaves na bolsa e repetiu um gesto que desde que a conheci me chamava a atenção: o morder do lábio inferior. Era irritante como ela fazia aquilo quase sem pensar tantas vezes que me dava agonia. Fazia quando estava nervosa, quando estava feliz ou irritada. Quando planejava algo, quando me contava sobre algum idiota ou apenas sobre seu dia. Ela fazia isso até dormindo ou falando ao telefone, não me pergunte como eu lembrava disso.

Mas dessa vez foi diferente. O sorriso ainda estava lá no canto do lábio ainda colorido pelo batom rosa claro, enquanto seus dentes superiores estavam puxando o outro canto que entrou em contato com sua língua rosada. Aquilo era extremamente sexy!

— Katniss? — a chamei sem desviar o olhar de seus lábios. — Ainda estamos no encontro hipotético, certo? — a pergunta a fez erguer o rosto e me pegar em flagrante encarando sua boca. Merda!

— Sim, nos últimos segundos dele. O que foi Josh?

Josh! Eu não era mais Peeta.

Peeta já estaria na cama à meia luz sem nenhuma peça de roupa entre nós. Peeta estaria planejando um modo de sair sem incomodar a garota e apenas deixar um cartão de agradecimento pela adorável noite e nunca mais ligar. Peeta jamais se comprometeria com um segundo encontro, muito menos com um relacionamento, não mais.

Mas eu não era Peeta!

— Hipoteticamente, digamos que devido à nossa maravilhosa noite, talvez uma finalização mais adequada fosse exigida. — Katniss estreitou os olhos analisando aquela frase.

— Hipoteticamente?

— Só hipoteticamente. — esclareci.

— Talvez sim.

— E se eu, hipoteticamente claro, me inclinasse pra dar um beijo de boa noite em seu rosto, você me afastaria?

— Considerando tudo que meu professor particular me ensinou nos últimos meses, não vejo motivo pra afastar. — umedeci meus lábios com a língua em um movimento automático, e ela direcionou seus olhos para aquela região, quando um discreto rubor chegou às suas bochechas.

— Você corou? — perguntei divertido, a fazendo enrubescer mais um pouco.

— Foi a bebida.

— Você não bebeu.

— É o frio então.

— Então vou te deixar entrar. Boa noite Katniss. — vi uma centelha de decepção cruzar seus olhos cinzas, então ela mordeu o lábio. Katniss, a culpa do vai acontecer é totalmente sua por não parar de fazer essa porra de movimento com os dentes!

Em um impulso segurei seu rosto entre minhas mãos, capturando sua boca na minha, meus lábios envolvendo o seu superior e mantendo a posição por alguns segundos, finalmente sentindo o toque suave e o gosto levemente adocicado do batom misturado ao suco de frutas vermelhas que ela havia tomado.

À medida que suas mãos subiram buscando apoio no meu pescoço e gola da camisa, as minhas desceram até sua cintura, a trazendo mais pra perto de mim, seu perfume inebriando meu olfato e grudando-se às minhas roupas. Um pequeno movimento não intencional (juro!) da minha língua em seu lábio superior, a fez abrir um pouco a boca, um claro que convite pra que eu aprofundasse o beijo.

Antes que eu fizesse isso, brinquei com seu lábio inferior, o mordiscando levemente, ansioso por descobrir o segredo dela fazer tanto aquilo e já me preparei pra sentir o toque de sua língua na minha, quando sua boca afastou-se repentinamente, Katniss escapando do meu aperto e abrindo os olhos assustados e surpresos. Ainda arqueei meu tronco institivamente em sua direção, meu cérebro dando comando aos meus músculos, ossos e articulações e exigindo que eu continuasse a beijá-la, mas Katniss se soltou de mim e deu dois passos para trás.

— Boa noite Peeta. — sua mão estava meio trêmula quando ela direcionou as chaves à fechadura, errando não uma ou duas, mas três vezes o encaixe. — Chave estúpida! — ela praguejou antes de finalmente girá-la, abrir a porta e entrar sem me olhar.

Foi quando eu soube. Eu tinha acabado de foder com minha amizade com Katniss!

Tapei os meus olhos com os dedos, respirando pesadamente, ainda parado no mesmo lugar. Peeta Mellark, seu grande idiota! Na emoção e no desejo do momento acabei esquecendo com quem eu estava lidando. Um beijo, que para mim poderia ser algo corriqueiro e sem significado, na cabeça adolescente de Katniss poderia se transformar em uma trilogia best seller de romance.

Mas esse era só a metade do problema.

Aquele beijo não foi nada corriqueiro e sem significado. Me sentir atraído pela morena seria normal, ela era linda e vivia me agarrando com beijos molhados e abraços cheirosos. O problema aqui foi que, me escondendo atrás de um personagem que nunca chegou a existir, eu fiz o que não assumia querer há tempos. Não apenas beijar uma mulher linda. Beijar Katniss.

— Finn. — falei assim que meu amigo atendeu do outro lado da linha.

Deixa eu adivinhar, deu merda?

— Você está por perto da minha casa? Posso estar precisando de um conselho.

Eu te aviso pra você não fazer uma coisa, você faz e ainda me liga pra te ajudar a resolver? Se eu tivesse saído com ela, não teria esse problema.

— Você pode ou não, porra?

Estou chegando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como estão os forninhos depois dessa?! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Menos complicação, pode ser Peeta?! Obrigada. De nada.

Se você gosta da fic, dos personagens, do enredo ou de mim, aguardo os reviews, recomendações e aquela coisa toda!!!
Até logo meus queridos!!! Bjs*