Conselheiro Amoroso escrita por Ellen Freitas


Capítulo 10
Katherine || Peeta


Notas iniciais do capítulo

Hey people!!!! Coméquicêstão? HAHAHAHAHAHAHAHA

Falei que não demoraria se vocês fossem legais comigo e UAU!!! ~parafraseando Katniss~
Enfim, aos agradecimentos...
— A todos todos que deixaram lindos, emocionantes e raivosos reviews. Fico lisonjeada em saber que alguma coisa que escrevo envolve tantas pessoas, então obrigada.
— Maysa e Jakegranger: escrever reviews de quase mil palavras não é pra todo mundo e fiquei sem palavras ao lê-los. Depois tive que recuperá-las para lhes dar uma resposta à altura. Thanks!
— E finalmente, meu muito, muito, muito, muito obrigada vai para:
* Mary Mellark
* Flame Crown
Amei as recomendações, me incentivou a escrever mesmo doente, fez minha criatividade voar e cá estou eu mais cedo por causa disso. Valeu mesmo!

Mas finalmente vamos a um dos capítulos bem esperados e que está projetado desde o início da fic. Espero que gostem e segurem os forninhos. Até as notas finais! Bjs*



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Então a linha da esquerda passa por dentro do arco...

As batidas espalmadas em minha porta fizeram meu coração bater acelerado e sem querer larguei as linhas já finalizavam um cuidadoso ponto em uma laranja.

Abre isso aqui Mellark! — fingi que não estava em casa, peguei a fruta no chão e arrumei novamente em cima da mesinha de centro. — Não adianta fingir que não está, estou vendo a luz acesa. — rolei olhos. — Eu não queria usar isso, mas você me obrigou. — ouvi a chave girar na fechadura e a porta foi aberta.

— Que droga Madge, estou ocupado! E como você entrou? — falei bufando. Ela me olhou de cima a baixo e franziu a testa numa careta de nojo, o que me fez conferir se havia algo de errado em mim. Nada de mais.

— Eca.

— Como você entrou?

— Com a chave reserva, e claro.

— Não tenho chave reserva.

— Ela não é sua, é minha e da Kat, pra quando precisarmos entrar aqui. — Privacidade que é bom, ninguém me dá!

— Devolve. — levantei estendendo a mão pra ela.

— Nunca. Vou escondê-la novamente, assim que você virar as costas e... O que diabos aconteceu aqui? — ela olhou em volta. Meu apartamento parecia normal pra mim, fora as caixas de comida pronta, garrafas, latas, copos e quase uma centena de laranjas com vários pontos nelas espalhadas por todos os lados da sala.

— Passei o dia praticando. Minha cirurgia é amanhã e a Dra. Coin me deu folga hoje. — voltei a sentar no meu lugar original no sofá.

— Ela te deu folga pra descansar, não arrumar uma LER*! Você quer que suas mãos falhem amanhã? — ela estava certa. Merda! Soltei os instrumentos.

— O que você quer loirinha?

— Preciso conversar com você, mas principalmente preciso te tirar daqui. É sério Peeta, você tá fedendo e sua casa tem cheiro de laranja podre.

— Grease vem arrumar amanhã.

— Peeta, já pro banho! — Madge segurou meu braço e me arrastou em direção ao quarto, logo voltando pra sala. — Que nojo, acho que sujei minhas mãos pegando em você. E se arruma rápido!

— Vamos sair? Porque eu não pretendo mesmo deixar esse prédio hoje.

Então vamos até o meu apartamento.

O banho demorou mais que eu previa. Depois de tantas horas trancado em casa revisando os procedimentos teóricos e práticos de uma cirurgia para remoção de um apêndice supurado, eu estava mais sujo do que achei. Dra. Coin disse ser simples, mas toda coisa que você faz pela primeira vez tende a ser meio desastrada e corre mais riscos de fracasso. Coloquei apenas camiseta, bermuda e chinelos, pois pelo modo como Madge estava vestida, ela também não parecia propensa a festas hoje.

— Pronto.

— Vamos. — ela enlaçou o braço no meu. — Finalmente consigo chegar perto do meu melhor amigo de novo, sem toda aquela camada de sujeira.

— Divertida. Você é uma pessoa muito divertida. — comentei irônico fechando a porta atrás de nós.

— Meus namorados nunca reclamaram. Ah, e depois liga pra Katniss, ela está preocupada.

Quando entrei no apartamento dela, pude perceber o contraste com o meu, que estava realmente uma verdadeira bagunça. E isso porque Madge nunca foi conhecida por sua organização e zelo. Me joguei no sofá, já buscando meu celular no bolso pra revisar algumas coisas pra amanhã com um aplicativo novo de perguntas e respostas.

— Larga isso. — ela pegou o aparelho das minhas mãos e jogou em qualquer canto do sofá. — Quero te mostrar uma coisa. Quanto você cobra por conselhos amorosos?

— Não me mete nas tuas fofocas nem nos teus esquemas, por favor Mad.

— Não é esquema, foi uma mensagem. Do Gale.

— Gale? O mesmo Gale amigo da Katniss que você odeia?

— Eu não odeio o cara, só não vou com a cara dele. Mas ontem ele me mandou um endereço de um restaurante com data e horário para um encontro.

— Uau, isso foi surpreendente.

— Eu sei!

— Espera, como ele tem seu número? E como você tem o número dele? — perguntei estreitando os olhos pra ela. — Vocês trocaram telefones? — perguntei malicioso.

— Viajou Peet. Eu não sei ele, mas eu tenho daquele grupo “Prim” que Katniss criou no WhatsApp.

— Eu não estou nesse grupo.

— Por que você saiu senhor “não quero meu celular travado por mensagens idiotas”! — assenti concordando. — Continuando... Então eu liguei. Ele falou que tinha mandado pro contato errado, achou que era pra uma garota normal.

— Eu falei “eu sou uma garota normal.” E ele “só se for no hospício.”

— Mad, tem como resumir, tá parecendo as histórias da Katniss.

— A gente gritou pela meia hora seguinte até que no fim das contas ele me desafiou a ser menos patricinha e irritante. Patricinha, eu? Acredita?

— Pois é, absurdo. — comentei louco pra pegar meu telefone de volta e fazer qualquer coisa que não escutar o dramalhão mexicano.

— Então eu disse que não era assim, e ele falou que eu tinha que provar. Então eu chamei ele pra sair amanhã.

— Você vai sair com o Gale amanhã? Vocês vão em um ringue de luta livre ou coisa assim? — gargalhei.

— Isso é sério Peeta. Eu fiz errado?

— Ok, tenho duas coisas pra falar. Primeira: você nunca me pediu conselhos, por que isso agora? Segunda: qual o seu objetivo nesse encontro?

— Muito simples loiro azedo, a resposta é a mesma para as duas perguntas. Quero mostrar a ele como sou incrível e como ele nunca vai ter chances comigo. E fala sério, o idiota é um gato!

— Então pra provar que ele não tem chances, você dá uma chance? — ergui uma sobrancelha a questionando e contendo um riso. Ela pensou por alguns segundos antes de arregalar os olhos como se entendesse alguma coisa.

— Que merda! Você tem que cancelar isso pra mim. — ela me estendeu o telefone.

— Mas nem pensar! Se vire com seus problemas.

Alcancei o controle da TV e fiquei passando vários canais até achar um documentário sobre história que me agradou. E pra minha sorte ainda tive que passar o resto da noite ouvindo as lamúrias da minha amiga e claro, os planos de ferrar com o pobre do Gale.

Pelo menos essa distração me fez ter uma noite tranquila e no dia seguinte eu já estava pronto para o trabalho. Arrumei minhas coisas e fui direto e cedo para o hospital, já que noite passada Madge me disse que não precisaria de carona pois sairia direto pro “encontro dos infernos”. Palavras dela, não minhas.

O plantão transcorreu normalmente e meu coração acelerava a cada vez que eu pensava que se aproximava a hora da tão esperada cirurgia. A única coisa estranha de tudo isso foi que eu não vi Katniss durante todo o dia. Desde que ela começou no Exempla, uma semana atrás, cada mísero minuto de intervalo que eu tinha era preenchido com as conversas dela sobre os assuntos mais aleatórios possíveis.

Quando Dra. Coin me chamou para me preparar, senti um nó na garganta em pensar que não recebi seu abraço afetuoso e encorajador, que muitas vezes rejeitei, mas que agora sentia falta. Eu precisava da força, graça e carinho dela, mas não tive. Finn não estava de plantão no dia e Madge estava atolada de trabalho por minha eventual ausência. Mais uma vez eu estava sozinho em um dos momentos mais tensos e importantes da minha vida.

— Nervoso? — Dra. Coin perguntou com uma sobrancelha erguida enquanto lavávamos as mãos já olhando a paciente deitada da sala de cirurgia, uma menina de treze anos.

— Não. — menti.

— Só faça suas mãos pararem de tremer quando pegar o bisturi, ok?! — percebi que ela observava minhas mãos e engoli seco.

Como se a pressão que eu mesmo estava colocando em mim não fosse o bastante.

Respirei fundo e entrei de costas na sala gelada, sendo auxiliado para vestir a roupa estéril e indo em direção à mesa.

— Oi Dana, você está pronta?

— Confio no senhor.

— Te vejo daqui a pouco quando você acordar. — fiz sinal para que o anestesista começasse seu trabalho.

— Ela está pronta doutor. — ele anunciou depois de alguns poucos minutos e a menina já dormia calmamente.

Olhei para a mesa ao meu lado com mais de trinta diferentes tipos de instrumentos e fechei os olhos controlando minha respiração.

Você pode fazer isso Mellark!

— Quer que eu pegue um café ou algo assim pra você garoto? — Dra. Coin ironizou.

— Eu não tomo... — abri os olhos e a vi. Através da mini janelinha de vidro da entrada da sala, Katniss estava quase pulando para tentar ser vista e acenando sorridente pra mim. Foi o incentivo que eu precisava para continuar. — ... café.

A partir daí foi como se eu tivesse feito aquilo minha vida toda. Cortes firmes, o nome de cada instrumento veio à minha mente, assim como o procedimento seguinte e depois o seguinte. Antes que eu notasse já dava o último ponto fechando o local.

Olhei para a Dra. Coin em busca de alguma correção, algum comentário, mas ela apenas moveu os olhos de mim para a cicatriz cirúrgica e de volta pro meu rosto ansioso.

— Bom. — relaxei os ombros respirando aliviado. Ela saiu da sala.

— Podem acordá-la. Obrigado equipe.

— Trabalho perfeito doutor. — recebi tapinhas nas costas de felicitações de toda a equipe, enquanto eu tirava as luvas e descartava em um lixeiro.

— Conseguimos Dana. — falei baixinho próximo ao ouvido da menina, fazendo um carinho em seu rosto, mesmo tendo a consciência de que ela não ouviria.

Assim que abri a porta e saí, fui envolvido pelos braços de Katniss em torno do meu pescoço. Sustentei minha mão em suas costas descansando levemente meu queixo em seu ombro, retribuindo ao abraço.

— Nossa, com uma recepção dessas, até eu faria uma cirurgia. — um dos sorridentes maqueiros comentou passando por ali, o que arrancou uma risada de nós dois.

— Você. Foi. Incrível. — Katniss me olhava realmente impressionada, com os olhos arregalados e a boca aberta. — Lembra aquela hora que você disse: “sucção”. E depois saiu pedindo um monte de pinça como nome de gente, tipo Kelly, Crile, Ashton Kutcher.

— Olsen-Hegar. — a corrigi, mas eu estava rindo bobamente enquanto começamos a caminhar lado a lado. Mas é claro que eu estava rindo, tudo estava perfeito. — O que faz aqui?

— Ah Professor, achou mesmo que eu perderia sua primeira cirurgia? Eu corri o dia todo sem intervalos nem nada, tudo pra adiantar meu trabalho e poder assistir tudo e ficar com minha cara de “uau”. Por que, você não gostou?

— Se não gostei? — envolvi meu braço em torno de seus ombros e olhei para baixo vendo sua expressão ansiosa e preocupada se tinha feito algo errado. — Muito obrigado por estar comigo Katniss. — apoiei minha mão do lado de sua cabeça e dei um beijo demorado em sua têmpora, sentido o cheiro dos seus cabelos sobrepujar todo odor ruim de hospital e me dar a sensação de segurança.

— Que bom que você está feliz, já que vamos sair agora pro happy-hour. — ela fez uma dancinha esquisita e meio constrangedora no corredor.

— Meu plantão não acabou Katniss, e eu ainda tenho que checar minha paciente, quando ela acordar.

— Relaxe, nós esperamos.

— “Nós”?

— Sim, eu e toda sua equipe e minha equipe, claro. Temos que comemorar!

Não falei mais nada, mas eu já tinha decidido aceitar, logo porque nada faria ela desistir. E tinha sido um dia bom no fim das contas, não custava nada soltar um pouco a rédea e me divertir um pouco.

~

Um passo em falso à frente e acabei batendo a testa na porta fechada do meu apartamento, antes mesmo de conseguir pegar as chaves no meu bolso.

— Ai meu Deus, machucou?

— Estou bem Kapsniss. — ela gargalhou pegando as chaves da minha mão e abrindo a porta. — Qual a graça?

— Você Professor, você. Nunca te vi bêbado.

— Não estou bêbado, só mais feliz que o normal. — tateei a parede, mas a porra do interruptor tinha sumido.

— Aqui. — Katniss acendeu as luzes apertando o botão na parede oposta.

Ela estava tão linda naquela calça jeans azul escura e a blusa preta com estampas retrô, seus cabelos em ondas meio desarrumadas enquanto ela tirava o casaco. Finalmente ela tinha entendido que mostrar pele demais não era necessário e qualquer um poderia se apaixonar apenas por aquele sorriso. Qualquer um que se apaixonasse, o que não era o meu caso.

— Dança comigo? — segurei sua mão a girando no meio da sala e a trazendo pra mim, sustentando minha outra mão em suas costas.

— Eu preciso te embebedar mais vezes Professor. — Katniss espalmou as duas mãos do meu peito e aproximou seu nariz da minha boca. — Mas agora, você precisa de banho pra ajudar nessa ressaca.

— Vocês garotas precisam mesmo parar de me mandar tomar banho. Estou começando a ficar ofendido.

Rumei ao quarto pescando uma toalha no caminho e indo tomar um banho quente, o que melhorou consideravelmente meu nível de atordoamento, mas ainda deixou minha dor de cabeça. Coloquei só uma calça e Katniss, se quiser, que lide com a vergonha e suas bochechas coradas.

— Muito bem, bonitinho, cheirosinho. — ela mordeu o lábio quando baixou o olhar pro meu peito nu. — Porra Peeta, põe uma camisa!

— Te incomodo? — soltei uma risada presunçosa. Era impressionante e engraçado ao mesmo tempo como alguém tão atirada pra cima dos homens poderia corar tão facilmente, em situações tão comuns. Eu e Finn sempre ficamos bem à vontade aqui em casa ou na nossa sala de repouso do hospital e isso nunca incomodou Madge.

— Você pode adoecer de novo, parece que já esqueceu como foi! Deixei uma aspirina e uma vitamina pra você no quarto.

— É de quê? Eu não gosto de mamão.

— Você é oficialmente o adulto mais complicado pra comidas e remédios que eu conheço! É pior que a Prim, às vezes.

— Eu. Não. Gosto. De. Mamão. — falei pausadamente o que a fez rir.

— Entendi Professor. — Katniss começou a me empurrar em direção ao quarto. — Relaxe, eu coloquei maçã, banana e alguns dos seus cereais nojentos que achei na cozinha.

— Bem melhor assim aluna. Ei, aquela sua massagem cairia super bem agora.

— Você nunca me pediria isso se estivesse sóbrio.

— Eu estou muito sóbrio.

— Claro que está. Vai toma, tudo de uma vez e senta aí. — enquanto me posicionei na cama com meu copo nas mãos, ela ficou de joelhos no colchão atrás de mim, já com os dedos ágeis nos meus ombros tensos. — Quando foi seu maior porre Professor?

— Hm... — pensei por um instante. — No dia que meu coração foi arrancado pela Katherine. — as mãos dela pararam o movimento que estavam fazendo. Eu podia imaginar claramente seu olhar curioso sobre mim. — Não para Katniss, ou não te conto a história.

— Você vai me contar?

— Você é minha amiga, não é?

— Pode-se dizer que sim.

— Que tipo de resposta é essa Katniss: “pode-se dizer que sim”? É ou não é? — ela apoiou as mãos em meus ombros para se inclinar e poder responder me olhando nos olhos.

— Sou Peeta, eu sou.

— Agora não quero mais falar. — ela rolou olhos e voltou à massagem.

Mexer em feridas sobre amores antigos e superados não é algo que as pessoas façam por prazer. E a coisa ruim das histórias tristes de amor é que mesmo depois de cicatrizado, qualquer leve machucado no local corre risco de abrir a porra da ferida.

Mas com Katniss podia ser diferente certo? Ela era minha amiga e compartilhar segredos é o que os amigos fazem. Ela me dizia diariamente até a cor da lingerie que ela usava, então contar isso deveria ser fácil. Mas não era, nem um pouco.

Foda-se.

— Eu a conheci no dia 02 de setembro às 08:02 da manhã. Às 08:10 eu já estava completamente apaixonado. — Katniss desistiu da massagem e sentou-se na minha frente me olhando atenta.

— Nossa, isso foi rápido. E você falando de mim...

— Katherine não era como esses caras que você conhece em um bar, num parque e já querem te levar pra cama Katniss. Ela era simplesmente... Katherine. — não pude evitar as notas de adoração que emanaram da minha voz.

— Parece ser grande coisa.

— E foi. Ela se mudou pra Louisville pra cursar o ensino médio e entrou na escola sem conhecer absolutamente ninguém. Eu fui seu guia no primeiro dia.

— Deixa eu adivinhar: amor instantâneo de ensino médio. O capitão do time com a garota novata que logo vira a chefe das líderes de torcida. — quando comecei a gargalhar como um louco, Katniss me olhou confusa. — O quê?

— Você tinha razão antes, eu sou um nerd. Quer dizer, fui um, durante quase toda minha vida escolar. Do tipo bem clichê, com espinhas, óculos, aparelho e cabelo com corte bem feio.

— Não consigo te imaginar assim Professor, me desculpa. — me inclinei em direção ao meu criado mudo, deixando o copo lá e tirando uma foto que eu guardava escondida entre vários papeis. Uma foto minha com 16 anos. — Uau. — foi só o que ela disse.

— Exato. Enquanto eu era esse cara, Katherine era a pessoa mais forte que eu conheci. Ela tinha esse poder de convencer as pessoas a fazerem o que ela queria, era muito inteligente, divertida, determinada, persuasiva. E muito bonita, deslumbrante mesmo, bem parecida com você nesse aspecto, pra ser sincero. Não levou um mês para ter a escola toda a seus pés, todos a idolatravam.

— E você era o amigo nerd?

— O primeiro dia foi o único momento que conversamos, então depois foi como se eu não existisse na vida dela. A observava de longe, sabia de todos os caras com quem ela ficava, sem nunca namorar nenhum pra não perder o poder sobre os outros. Isso foi assim por um ano inteiro, ela a rainha daquele lugar e eu o idiota apaixonado escondido atrás dos armários seguindo cada passo dela.

— Como você poderia continuar apaixonado por uma pessoa assim? Me desculpa Peeta, mas ela não me parece tão legal.

— Ela não era ruim. Ela dava para as pessoas o que elas queriam. Por exemplo, se uma garota desengonçada queria ser mais bonita, ela ajudava. Se um cara não tinha coragem de chegar numa menina, ela se fazia de amiga dela, então arrumava isso pros dois. Katherine reinava não por temor, mas por adoração mesmo. Metade das pessoas deviam favores a ela e a outra metade queria dever. Então no ano seguinte, ela não apareceu no primeiro dia de aula.

— Meu Deus Peeta, ela morreu? Alguém matou, sumiu com o corpo e... — Katniss levou as mãos à boca.

— Não. Você anda vendo muito aquela série** de suspense feminina que Madge adora. — ela riu.

— Desculpa, continua.

— Eu soube através do meu pai que o dela havia sido demitido. Nossa escola era particular e parece que eles não conseguiram manter as mensalidades. Então esse foi o momento que eu fiz uma das maiores besteiras não arrependidas da minha vida.

— Não faço ideia.

— Lá em casa, nós também não tínhamos muitas posses, eu trabalhava meio período numa oficina pra pagar o colégio. Então eu tranquei minha matrícula na escola e conversei com o diretor para direcionar meu salário pra pagar a mensalidade dela, pra ela ter a vida de volta. Claro que não dava pra sustentar os dois, então eu fui pra escola pública, e fiz o diretor jurar que nunca contaria isso a ela ou a ninguém, que falasse que foi uma bolsa, doação ou coisa assim.

— Peeta... — Katniss acariciou minha mão. — Essa provavelmente é a coisa mais doce que alguém já fez por outra pessoa.

— Ela descobriu cerca de um mês depois. Como eu disse, Katherine era muito inteligente, eu fui iludido em achar que ela receberia o favor e ficaria quieta. Naquela tarde, ela foi na minha oficina e me beijou. Foi meu primeiro beijo.

— Com 17 anos? — ela perguntou de boca aberta. — Mentira.

— Com 17 anos. — confirmei. — Por que é tão difícil de acreditar, você viu minha foto!

— As garotas babam por você Peeta. Quando a gente anda por aí, elas me olham com raiva porque acham que a gente namora. E você sendo tão doce, não tem como ninguém ter te notado antes! Eu teria notado.

— Eu sinceramente não sei se alguém me notou Katniss, meu coração era só da Katherine.

— Então vocês começaram a namorar? Essa história não é tão triste quanto você fez parecer no início, é muito fofa na verdade.

— É porque ela só está na metade. — ela confirmou com a cabeça e sentou-se sobre os joelhos. — Depois desse dia, ela vinha sempre à minha casa, dizendo que precisava de ajuda pra estudar. Eu também passei a frequentar a casa dela, os pais dela me amavam, diziam que eu era a melhor pessoa com quem a filha deles poderia estar. Mas ainda levou uns três meses pra eu ter coragem pra pedi-la em namoro.

— Eu poderia te dar uns conselhos na época Professor. — Katniss piscou pra mim e eu ri. — E ela disse sim?

— As exatas palavras dela foram: “como posso não amar alguém que me ama tanto?” — juro que pude ver um brilho de lágrimas nos olhos de Katniss. — Então seguiram-se os melhores meses da minha vida, quando ela se tornou meu amor, minha Kath. O pai dela conseguiu um novo emprego e eu voltei pra escola no segundo semestre, namorando a garota mais desejada da história daquele lugar. Ela perdeu parte do “poder” de antes por estar comigo, mas ela não parecia dar a mínima pra isso. Foi a época também que me livrei do aparelho e das espinhas.

— Começou a ficar gato?

— Nem tanto. Kath ainda tentou me convencer em ir à academia e essas coisas, mas preferi me focar no último ano e em conseguir entrar na faculdade de medicina. Eu estava estudando mais e a gente se via menos, mas isso não impedia que meu amor crescesse. Ela também parecia satisfeita, o sexo era muito bom, eu buscava me atentar em detalhes que ela achava importante e nunca esquecia as datas. Kath inclusive me incentivava a perseguir meu sonho de ser médico. Ela dizia que quando terminássemos o colégio, nós dois íamos morar aqui em Denver juntos, eu fazendo meu curso e ela o dela: psicologia.

— Ainda parece uma bela história pra mim. O tipo de amor que eu queria pra mim, sabe. Sem toda a frescura de aparência, dinheiro ou poder. — eu ri sem humor. Meu amor cego por Katherine era o oposto do que eu queria que Katniss tivesse na vida. guardei o comentário pra mim e continuei a contar.

— Algumas semanas antes da formatura minha vida começou a desmoronar. Cada coisa que era importante pra mim foi sendo perdida sem chances de retorno, me destruindo completamente, até sobrar apenas ela, pelo menos era o que eu achava.

— Como assim perdida? — eu sabia que Katniss ia perguntar aquilo, mas eu ainda não estava pronto a ir tão fundo no meu passado.

— Eu não fui ao baile, nem à formatura e ela não veio à minha casa. Fazia umas duas semanas que a gente não se via. — continuei ignorando sua pergunta. — No dia seguinte, saiu a notícia nos jornais que um dos nossos colegas, um dos principais valentões que me aterrorizava na escola, havia sofrido um acidente de carro por dirigir embriagado, depois da festa. Ele estava saindo da cidade e a única testemunha no local era uma garota. Katherine estava com ele e escapou apenas com alguns arranhões. Encontraram também malas de viagem e um bilhete de motel. Ela estava indo embora. — senti meus olhos arderem, lágrimas teimosas brotando dali, mas respirei fundo e me forcei a não chorar. Eu já tinha prometido que não faria mais isso por causa dela. — Foi nesse dia o maior porre da minha vida. — encarei os lençóis no espaço entre nós dois.

— Eu sinto tanto Peeta. — Katniss se ajoelhou e me abraçou fortemente. Notei que ela também chorava, pois como sempre, ela tinha essa incrível capacidade de sentir a dor dos outros.

— Deixa pra lá, já foi. Faz muito tempo.

— Não o suficiente pra te fazer deixar pra lá. O que aconteceu com ela depois disso?

— Não faço ideia. Depois que me curei da bebedeira insana, empacotei o mínimo de coisas possível e me mudei pra cá pra viver o verão mais louco da minha vida. Eu fiz nesses três meses tudo que deixei passar enquanto estava apaixonado por ela, e mais um pouco confesso. Foi na época que conheci a Johanna, por isso ela me odeia.

— Você estava quebrado. — ela tomou minhas mãos entre as suas.

— Eu estava sem coração Katniss. Eu não me importava se machucava alguém no processo, eu só queria passar o maior tempo possível bêbado, drogado ou na cama com alguma mulher desconhecida. Enquanto eu não estivesse em mim, eu não lembraria dela e da vida horrível que eu tinha.

— O que te trouxe de volta?

— As aulas começaram, então foquei na medicina e no bem que eu poderia fazer para as pessoas. Foi o que me fez voltar à sanidade e me manteve assim até hoje. Ah, e criei minha regra do único encontro. Eu não poderia correr o risco de me apaixonar de novo.

— É uma história e tanto. Daria um belo livro.

— Eu queria que fosse só um dos seus livros.

— Peeta... Você disse que ela se parecia comigo. Como ela era? Fisicamente, eu digo. — respirei fundo antes de ter que trazer à mente novamente a imagem da criatura.

— Cabelos castanhos, corpo perfeito e os raros olhos cinzas. Os únicos que eu tinha visto até conhecer você. — Katniss ficou com o olhar distante até me encarar um pouco nervosa.

— Olhos... cabelos... psicologia... Kath. — ela sussurrou pausadamente, para si mesma. — Por isso você me afastava no início. Por isso se recusa a me chamar de Kat. Eu sou a cópia da pior lembrança da sua vida! — ela levou as mãos à boca e começou a chorar.

— Ei, ei, não chora.

— Como não Peeta? Essa garota te jogou no fundo do poço e cada vez que você olha pra mim, não tem como não lembrar dela.

— Você não é nada como ela. — levei minha mão ao seu rosto enxugando suas lágrimas. — No início, claro que lembrei, mas depois eu vi que não. Você é doce, gentil, empática, coisas que ela nunca foi com ninguém, nem comigo quando dizia que me amava. Você se preocupa em ver as pessoas felizes, não em apenas conseguir seguidores. A semelhança física é impressionante, mas tem alguma coisa em seus olhos...

— São da mesma cor.

— São diferentes. — me aproximei mais alguns centímetros para olhá-los de perto. — Você tem mais luz neles, não consigo explicar, apenas tem.

Na íris cinza de Katniss podia-se ver pequenos traços que se assemelhavam-se a raiozinhos que saíam do centro e migravam para as extremidades, formando uma clara imagem de um céu nublado prestes a cair um temporal. O interessante era que isso contrastava totalmente com a personalidade dela, que era como uma manhã ensolarada de domingo, daquelas que você torce para que o tempo congele e lhe prenda nesse universo paralelo pra sempre.

Eu ainda estava concentrado em analisar seus olhos, pela primeira vez tão de perto, quando a respiração quente dela fez cócegas o meu nariz. Desci meu olhar e ela umedeceu os lábios com a língua me vendo encarar sua boca. Meu movimento seguinte foi quase automático quando fechei os olhos e me inclinei na direção dela, buscando sua boca com a minha. Senti o leve toque de seus dedos sobre minha mão, a tirando de seu rosto e ela própria se encolhendo no colchão.

— Eu tenho que ir. — Katniss saltou da cama já caminhando em direção à saída.

— Me desculpa. — pedi sem coragem para encará-la. Eu mesmo não entendia o que eu tinha acabado de tentar fazer. — As lembranças...

— Ok, eu... eu entendo. — ela procurava meio desnorteada algo pelo quarto, talvez a bolsa ou o casaco, que na verdade estavam na sala. — Pode... Pode ficar aí. Eu já vou... A porta, eu mesa tranco... Estou atrasada pra... Tchau. Durma bem. — e saiu.

Dormir? Como conseguir depois do dia de hoje? Entre uma primeira cirurgia, um leve porre, relembrar do meu primeiro e único amor, e quase beijar minha amiga que me considera um irmão, eu estava realmente fodido.

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.

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*LER: Lesão por Esforço Repetitivo

**Sim, estou falando de Pretty Little Liars!


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Notas finais do capítulo

E foi quaaaaase...

Peeta finalmente abriu o coração pra Katniss e contou parte de sua história, o que quase resultou em um beijo ali mesmo. Foi a bebida? Foram as lembranças? Foi outra coisa?

E o que acharam da Kath? O final pode até ter sido bem ruim, mas não podemos negar a beleza da construção do primeiro amor do nosso loiro! #Peetrine

Me digam o que acharam nos reviews, não me decepcionem, vejo todos lá...
Bjs*

p.s.: Algumas recomendações não estão chegando, deve ser algum problema no Nyah. Não desistam lindos da tia Ellen! ;)