Distrito 6, 25 de Setembro de 3115.

Ao Tordo;

Meu nome é Kael Morkken, tenho catorze anos e vivo no distrito 6, juntamente com meus pais Kairo e Analia e minha avó materna Tirza, que recentemente tivemos de deixar escondida em um angar, porque com a saúde frágil, estar nas ruas seria um risco ainda maior para ela.

Aqui no 6, estamos no total escuro. Não sabemos absolutamente nada sobre o andar da guerra. Alias somente soubemos da revolução recentemente quando nos foi liberado uma propaganda do presidente anunciando que metade dos tributos do massacre quaternário sabiam sobre a rebelião, rebelião essa que, aparentemente nosso distrito também tinha conhecimento, pelo menos os tributos escolhidos.

Ninguém se atreve a falar uma só palavra sobre a guerra ou sobre voce.

A maioria se resguarda porque aqui no seis, a regra que se segue é literalmente "em boca fechada não entra mosca."

Entretanto as crianças menores perguntam o porque de não poderem mais brincar nas ruas ou o porque de não estarem indo a escola. Perguntas muitas vezes respondidas com mentiras simples.

Todavia nós, as crianças mais velhas sabemos que algo muito ruim acontece em Panem, que a situação não é favorável a ninguém.

Vou confessar que sinto vontade de desafiar a inercia de todo esse povo mas como poderia faze-lo sem ser condenado a morte?

Sim, porque já vi pessoas morrerem por se aliar ao Tordo, antes mesmo dessa guerra começar de fato. Imagino o que fariam com um militante a essa altura do campeonato. Morte? Tortura? Mutilações? Talvez todas as três juntas.

O motivo pelo qual escrevo é que preciso compartilhar meus medos. Não há com quem se possa conversar, porque a maioria está desesperada, mesmo sem saber o que anda acontecendo, a sensação é de que podemos ser destruídos a qualquer momento.

Poque essa sensação? Bem, vimos as propagandas da Capital e pelo olhar do presidente dá pra sacar que as coisas não andam bem.

Os pacificadores nas ruas, os muros altíssimos construídos ao redor do distrito, as estações de trem, rodovias e pistas de pouso fechadas por tempo indeterminado, as constantes visitas de técnicos da Capital nos fazem ficar fechados em casa. Dá pra acreditar? Os cidadãos se trancam enquanto os verdadeiros vilões vivem em liberdade.

No meio de toda essa situação, eu rezo para que não encontrem minha família, nem vasculhem minha casa, porque guardo secretamente um pequeno tordo feito de lata. Foi um presente de uma amiga que já não se encontra viva e por esse motivo não tenho coragem de me desfazer do mesmo.

Ouça Tordo, o distrito seis embora amedrontado, de maneira geral apoia a revolução e mesmo que não saibamos as reais proporções da guerra, desejamos que você tenha o máximo de força porque sabemos o poder do Presidente. Afinal, experimentamos toda sua raiva durante 75 anos.

No momento, a unica certeza que temos é que voce decidirá nosso futuro. Seja ele bom ou ruim, a única esperança é esperar que o melhor aconteça.O

Sem mais,

Kael Morkken