Contos Brasileiros escrita por J R Mamede


Capítulo 4
Internéticos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/556260/chapter/4

L e J são dois jovens que se conheceram através dos suportes dos tempos modernos.

Ele, goiano.

Ela, carioca.

Foi pelo aplicativo mais badalado da atualidade que os dois começaram a se conhecer. Quando menos esperavam, já estavam envolvidos emocionalmente um com o outro.

J é uma garota bonita de cabelos negros como as trevas e pele branca como a luz. L, um rapaz extrovertido de epiderme morena, soube muito bem como cortejar sua amada.

“Vou tomar banho”, comentou J digitalmente.

“Eu também”, completou L. “Será o destino?”.

Por mais que os gracejos fossem em um tom de brincadeira, no fundo, os dois estavam apaixonados.

A história de amor do século XXI poderia perder um pouco do charme e do romantismo, mas não na vida de L e J. Por mais que as conversas não fossem físicas, a ligação entre eles era muito mais forte e poderosa do que qualquer distância bloqueadora.

“Então venha tomar banho comigo”, sugeriu ela, usando o rostinho sapeca que o aplicativo disponibiliza para dar apoio às reações por meio das mensagens.

“Estou indo!”, aceitou L animadamente, seguido pelo mesmo rostinho traquina utilizado por J.

“Vou dormir”, falou J. “Boa noite!”.

“Venha dormir comigo. Há espaço para nós dois”.

“Vou levar os cobertores, então”.

A relação de L e J foi crescendo, a ponto de realizarem um casamento virtual. Ele fez o pedido, desenhando uma aliança em uma fotografia de sua mão. Ela, envolvida com a brincadeira lisonjeira, pôs-se logo a aceitar, antes que ficasse sem o marido.

Pronto!

L e J estavam efetivamente casados, pela bênção da internet e dos amigos que ali presenteavam a pequena e simbólica cerimônia.

Desde então, L e J se tratam como marido e esposa.

Durante as conversa, coraçõezinhos despencavam enlouquecedoramente na tela do celular de ambos. Conversas sempre bem humoradas, com toque de amor e carinho, e, por que não, de erotismo.

Sim, por mais que o romantismo rolasse solto pelas mensagens, não podiam deixar de falar vulgaridades apimentadas, a fim de aquecer a relação à distância. Da adorável comédia romântica, o filme transformava-se em pornografia num piscar de olhos.

Já não havia barreiras vocabulares entre L e J.

Há muito deixaram de ter vergonha de falar sobre qualquer coisa.

J e L se entendiam muito bem.

Às vezes, é claro, uma pequena briga acontecia durante o papo animado.

“Estou com crise de sinusite e tenho provas amanhã”, disse L uma vez.

“A gente toma banho para relaxar amanhã, L”, insinuou J. “Fica tranquilo”.

“Tem que ser só durante o banho mesmo?”, apontou o rapaz. “Estou achando meio curto o tempo”.

“Não”, garantiu a jovem. “Podemos prolongar isso”.

Como resposta, e, assim sendo, a ruptura do clima, L mostrou à J uma fotografia de sua televisão rodeada de livros e DVDs.

“Só escolher”, zombou.

“Babaca!”, fora a resposta de J, seguida por uma típica risada de internet de k’s. “Não vamos mais tomar banho juntos”, fora sua ameaça.

“Não diz isso! Nosso amor não pode derreter assim”, suplicou o garoto, obviamente, fazendo o uso de um rostinho com o semblante desesperado. A internet tem destas artimanhas: faze-nos capazes de mostrar expressões que nem ao menos estamos realizando.

“Já que você implorou direitinho”, J fez charme, “pode tomar banho comigo sim”.

J, após um comentário desagradável de L, afirmara ser perigosa. Entretanto, L não se abalou com a notícia. Pelo contrário! Isso até agradou ao rapaz, possibilitando-o a fazer a seguinte anotação:

“É perigosa mesmo. Até roubou meu coração”.

“Se ferrou”, respondeu J prontamente. “Não vou devolver!”.

“Melhor assim”, L rebateu. “Pois assim vou buscá-lo aí”.

L está sempre disposto a agradar sua querida J. Os flertes são sempre despojados e vívidos; amorosos e salientes.

Por mais que pareça tudo estranho e repentino, não tem como, para quem conhece a dupla, deixar de torcer pela união feliz. Não é isto o amor, o ser complexo e misterioso que invade nossas vidas sem que lhe demos permissão?

“A noite é sua, amor. Façamos o que for preciso”, garantiu L à sua J.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Contos Brasileiros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.