Durante aquela tarde Lily vira que Sirius não era de todo mau, e que sabia fazer ótimos sanduíches também. Ficaram a tarde inteira jogando jogos, em quais Sirius venceu a maioria, o que na opinião da ruiva havia acontecido algum tipo de trapaça. Ele era um garoto legal, no fim de tudo. Eles estavam no meio de uma jogada de Detetive quando alguém batera na porta. Sirius caminhou preguiçosamente até lá e a abriu, revelando um James agitado.

– Entra aí, cara. – Black deixou que James passasse, que ao notar a presença de Lily pareceu ficar mais agitado.

– O que ela está fazendo aqui?

– Se escondendo... – Sirius retornou a sentar no chão e jogar os dados – Se bem que aquelas meninas deixaram de vagar por aqui faz horas.

– Nunca se sabe. – Lily deu de ombros e sorriu para James.

– Fiquei sabendo o que aconteceu na escola. – o garoto se sentou ao lado de Sirius, que mexia o seu bonequinho no tabuleiro – Se fossem garotos eu bateria neles pra você.

– Valeu, James. – ela disse e jogou os dados, logo depois entrando em uma das salas que havia no jogo – Eu acho que já sei tudo.

– Conte. – Sirius disse.

– Okay, eu acho que foi o Professor Black... – Sirius olhou divertidamente para ela – Com a chave inglesa na sala de estar.

Sirius pegou o envelope no meio do tabuleiro e o abriu lentamente, logo depois fez uma careta e o jogou para o lado; ela havia acertado.

– Vamos jogar outra coisa. – ele disse jogando as cartas dele no chão.

– Não pode. – James disse – Tínhamos que fazer aquela coisa, se lembra?

– Que... – Sirius pareceu pensar por um segundo e logo depois empalideceu – Ah sim, aquela coisa, ah, me desculpe ruiva, vamos ter que deixar pra outra hora.

– Eu posso ir junto com vocês? – Lily perguntou reunindo as suas cartas e as de Sirius. Os dois meninos se entreolharam.

– Melhor não. – os dois responderam em um uníssono.

A ruiva passara a perceber que eles sempre se olhavam quando estavam a esconder algo da garota. Ela poderia ir embora. Poderia. Eles a jogavam para dicas para descobrir algo que ela não fazia ideia do que era, mas nunca acabava em respostas e sim em mais perguntas. Estava na hora de começar a desvendar tudo de ponta a ponta, começando com o que os dois escondiam dela.

Então, eles saíram e ela começou a andar no caminho da casa dela, fazendo-os pensar com que ela estivesse se dirigindo para lá, porém quando eles não prestaram mais atenção no que Lily fazia, a garota mudou o rumo e começou a segui-los discretamente.

Os três andaram por várias ruas antes que os dois garotos chegassem num lugar conhecido: o galpão. Havia uma luz fraca de dentro do local, uma vela talvez, e vários vultos passavam de um lado para o outro. James e Sirius entraram no lugar, antes olhando a rua para terem certeza de que não havia alguém olhando, isso não foi um problema para Lily, já que a mesma estava escondida atrás de um arbusto largo.

Assim que os meninos entraram, a ruiva saiu de lá e andou rapidamente até o galpão, se agachou em baixo de uma janela e torceu para que conseguisse ouvir algo, as vozes falavam baixo, mas se Lily focasse um pouco naquilo conseguiria distinguir as palavras.

A ruiva se levantou um pouco para tentar enxergar algo dentro do lugar, ela conhecia todos que estavam lá. Remus, Hestia, Gwen, James e Sirius. Falavam todos de uma vez, e James parecia estar prestes a agarrar o pescoço de Remus, que parecia contrariado com algo. Lily aguçou os ouvidos para tentar ouvir o que estava acontecendo por lá.

– Você não tem o direito de chegar aqui e estragar tudo. – Gwen esbravejou para James, que apenas revirou os olhos.

– E você nem deveria estar metido em toda essa história. – Hestia disse olhando ferozmente para Sirius.

Alguém se aproximou da janela e Lily se agachou rapidamente, seu coração acelerou quando ouviu alguém abrir o vidro e colocar as mãos no parapeito.

– Esse lugar está sem ar. – ele disse para alguém – Não era assim antigamente.

– Já teve dias melhores. – James se aproximou da janela.

Ela viu mais um par de mãos se apoiarem na janela, Lily começou a pensar no que iria dizer se fosse pega espionando-os, a garota não era uma boa mentirosa e não sabia inventar desculpas, iria se encrencar. Ela ouviu Remus suspirar enquanto os outros três permaneciam discutindo numa parte mais afastada do galpão.

– Não vai melhorar nada na vida dela saber a verdade, James. – Remus disse.

– Ela merece saber. – James respondeu batucando os dedos de leve.

– Ela não mudou muito. Continua saindo escondida com você.

– Gosto que ela não tenha mudado tanto. – ele riu – Ainda estranho as roupas que usa.

– Ah sim, as roupas. – Remus começou a rir também – Mas já vi garotas piores por aqui.

Eles pararam de rir depois de um tempo e ficaram calados. Lily pegou o celular cautelosamente e o colocou para gravar, aquilo poderia ser útil. A briga atrás dos meninos parecia ter cessado, até Sirius fazer algum comentário sobre Hestia, que começara a gritar com o garoto.

– Como ele ficou sabendo?- Remus perguntou.

– Apenas desconfiou e começou a pesquisar. – James disse – Mas ele é legal, tem me ajudado com a ruiva.

– Ela já descobriu muito?

– Não tanto. – o garoto suspirou – A cabeça dela explodiria se desse muita informação de uma vez.

– Tem razão.

– Ela viu Leonor. – James tirou as mãos da janela – Não sabe que conclusão tirar sobre isso.

– Não quero estar lá quando ela descobrir. – Remus deu uma risada leve – Ela descobriu sobre os pais?

– Sobre isso... Vocês não deixaram nada dela por lá?

– Não pensávamos que ela fosse olhar, não pensávamos que você viria até aqui... – o menino estalou os dedos – Apenas colocamos algumas informações na ficha de uma garota ruiva.

– Alana, sim. Eu reparei que...

– Coincidências acontecem. – Remus tirou as mãos do parapeito – Não tivemos muito tempo para planejar algumas coisas, o orfanato se inclui nisso.

Lily tentara processar tudo e conectar com o que havia acontecido nos últimos dias, sua cabeça não conseguia pensar muito naquele momento e agradeceu por estar gravando tudo o que os garotos diziam.

– Marlene não deveria ser amiga de Lily? – James perguntou após um tempo – Elas não estão se falando, pelo o que sei.

– Fizemos com que fosse para ser amiga de Lily, mas não posso controlar os acontecimentos e as consequências. – Remus respondeu suspirando.

– Dorcas parece ter tido mais sucesso nesse quesito.

– Ela é “problemática”.

A ruiva fez uma careta, sabia que a amiga gostava de Remus e lá estava ele chamando a garota de problemática. Então ela ouviu James soltar uma risada.

– Ela acordou, não foi? – ele perguntou.

– Foi. Ela pode saber de coisa que não deveria. – Remus retornou com sua mão na janela.

– Dizem que ela gosta de você. – James disse e Lily pode imaginar o outro garoto ficando envergonhado, ele nunca gostara quando a ruiva tocava nesse assunto – Acha que vamos voltar?

– Eu espero que sim, mas não sei se ela vai querer. – ela ouviu Remus se afastar – Ela já se apegou a muito daqui.

– Eu não sinto necessidade em voltar tão rápido.

– Eu também não iria querer voltar se fosse você. – a voz de Remus estava um pouco mais distante.

– Você sabe que não fiz por querer. – James começou a se afastar.

– Só sei que estou feliz por não estar na sua pele. – Remus disse – Ser acusado por matar sua namorada não deve ser fácil.