A garota ruiva sentia sua cabeça girar, instável, as pernas fracas apoiadas no braço do sofá, ela não se sentia nada bem. Abriu os olhos cuidadosamente, pestanejando por um longo tempo antes de conseguir mantê-los abertos por mais que 2 segundos. O lugar a sua volta começou a tomar forma, o Sol batia fortemente em sua face, e ela pode ver uma sala de estar comum: mesas, livros, televisões, e o grande sofá em qual estava acomodada, embora familiar, a garota se sentia confusa por estar no local. Algo estava errado.

Tentou se levantar, o mínimo movimento fez seu corpo estremecer e voltar à posição de antes, sentia como se um caminhão houvesse passado por cima de seu corpo por, pelo menos, 77 vezes.

Uma nova tentativa, mais dor. Talvez devesse ficar deitada por mais algum tempo.

Sua cabeça, que continuava girando, se esforçava para lembrar por qual razão a garota estava lá e o que havia a deixado assim, ou melhor, quem havia a deixado assim. Sua mente continuava vazia, negando lhe passar informações.

Quando ela ouviu sons de passos vindos de algum lugar próximo, a garota fechou os olhos rapidamente e fingiu estar dormindo. Porém o susto de ter alguém caminhando em sua direção deixou sua respiração descompassada, o que acabou denunciando que ela estava acordada.

– Longa noite, Lily. – disse uma voz masculina ao seu lado.

Lily gemeu, aparentemente qualquer barulho a deixaria mais zonza do que já estava. Ela abriu os olhos, sem ter que passar por uma série de piscadelas, e olhou para o garoto sorridente sentado no chão.

– Olá. – sua voz vacilou – Olá, Remus.

Remus Lupin era um amigo de longa data de Lily, ela não se recordava muito de como ou quando se conheceram, mas sempre foram bons amigos. A garota considerava Remus como um irmão mais velho, ele mesmo agia como tal, ele sempre estava lá para ajudá-la em qualquer situação; e provavelmente tivera salvado a garota noite passada, onde quer que ela tenha se metido.

– Eu estou na sua casa, não é? – perguntou Lily, agora mais em si do que antes. Lupin assentiu com um olhar divertido como se fosse engraçado ver a menina tão confusa – Ainda bem, pensei que você tivesse vindo me salvar da casa de algum aproveitador.

– Essa parece a casa de um aproveitador? – ele perguntou, ela assentiu.

Remus soltou uma risada leve e estendeu a Lily uma maçã que estava em sua mão. Ela olhou com certo nojo para a maçã, não gostava da ideia de ter que fazer nada naquele momento, ou durante sua vida inteira, comer não era uma exceção. Ela teria que se sentar, pegar a fruta com a mão, morder e mastigar; era muito para ela naquele momento. A garota negou brevemente com a cabeça.

– Tem certeza? Aposto que está ótima. – o menino murmurou para Lily, que logo negou novamente – Tanto faz, eu queria comê-la mesmo.

A ruiva sorriu ao ver o amigo dar de ombros e morder um pedaço da maçã, que parecia estar mesmo ótima; logo depois de 3 mordidas na maçã o garoto a deixou de lado em cima da mesa de centro perto do sofá e ajudou Lily a se sentar, sob protestos da mesma que reclamava seu direito de ficar deitada por mais tempo.

– Ninguém mandou ir a uma das festas de Marlene, você sabe como as coisas são por lá. – disse Remus sentando ao seu lado.

– Eu aposto que colocaram algo na minha bebida. – resmungou Lily, começando a se lembrar de algumas coisas que haviam acontecido na noite anterior.

Marlene McKinnon é uma das melhores amigas de Lily. Conheceram-se no ginásio, com seus quinze anos, e embora as duas fossem totalmente diferentes, elas acabaram se dando muito bem. Lily não era tão certinha como os outros julgavam que ela fosse, mas perto de Marlene, Lily era uma santa. A morena era conhecida por suas festas mensais, onde bebidas e drogas estavam liberadas para serem usadas do jeito que as pessoas desejarem. A ruiva evitava ir a esses eventos, nunca acabavam bem, não para ela, as coisas de algum modo sempre iam de mal a pior quando Lily bebia, ou quando ficava na companhia de Marlene bêbada.

– Você tem sorte que eu tenha ido te buscar. – ele pegou uma almofada e colocou em suas costas – Quando cheguei você estava prestes a dançar em cima de uma mesa.

A garota começou a corar, nunca mais iria a nenhuma festa de Marlene, de modo algum. Repetiu o gesto de Remus pegando a almofada, mas ao invés de colocar em suas costas o destino mudou para seu rosto. O menino soltou um riso e tirou a almofada de seu rosto.

– Está tudo bem, Lil?

– Claro. – respondeu pegando a almofada de volta e colocando em suas costas desta vez.

Ela sentia que algo ainda estava estranho, algo estava fora do lugar, errado. Ela pensou em falar sobre esse sentimento a Remus, mas pareceu um pouco sem sentido para ela. Já sentira coisas desse tipo antes, mas sempre passava uma hora ou outra. A ruiva tinha essa coisa de olhar para alguns lugares, ficar parada, apenas observando fixamente algo, um sentimento de vazio invadia a mesma e logo passava. Seu amigo sabia que às vezes a garota ficava assim, e aprendera a como reparar quando estes momentos chegavam. Ele a olhou com uma das sobrancelhas erguidas como se dissesse “está tudo bem mesmo?”, então ela sorriu.

– Eu acho que aceito uma maçã agora.