Garota Imperfeita escrita por kathe Daratrazanoff


Capítulo 6
Você por acaso é vidente?


Notas iniciais do capítulo

Agora essa fic será atualizada duas vezes por semana ao invés de uma tuts tuts.
Mas isso só temporário, pra ver se aguento o ritmo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/555303/chapter/6

Eu não queria estar escrevendo em você agora, diário. Gosto de escrever, porém, acho tolice colocar meus pensamentos numa porcaria de papel. O fato é que eu preciso, preciso desabafar.

A minha mãe enche minha cabeça com frases que não suporto mais ouvir. "Só vive com essa cara emburrada", "não faz nada que presta", "lava uma louça e acha que fez muito", "eu nem te reconheço mais", "não sei o que fazer com você".

Tem muitas coisas que eu gostaria de dizer a ela. Coisas que estão presas aqui dentro por muitos anos, e eu sei que ela nunca vai saber. Sabe por quê? Porque jamais direi.

Tem dias que eu só quero ficar no quarto, na minha cama, e fazendo o que me der vontadr. Vendo televisão, lendo um livro, na internet, dormindo. Ou apebas deitada, pensando. Ela acha que tudo isso pode ser sinal de depressão.

Sabe o que me irrita? Eu querer ficar sozinha e ela não entender meu desejo. Nâo sou uma louca sociopata que odeia sua famìlia. Será que mais ninguém nunca sentiu isso? Aquela vontade de se perder em seus pensamentos?

Outra coisa que ativa o botão "raiva" no meu sistema, é quando ela tenta adivinhar o que estou sentindo e o que me deixou assim. Como da vez em que uns garotos tinham me zuado na escola. Cheguei triste em casa, porque não é legal quando falam que você ta gorda ou que seu cabelo ta bagunçado. Alguns comentários são ofensivos demais quando se tem 10 anos, e ficam com você.

Minha irmã pequena tinha mexido nas minhas coisas, e aquilo foi a gota d'água. Briguei com ela e fui sentar no quintal, emburrada.

– Você não gosta da sua irmã, é isso? Por isso fica aí, com essa cara.

Foi o que minha mãe disse. Ou melhor, acusou. E eu ficava calada, ouvindo ela brigar comigo, por algo que não tinha nada haver. Ela gritava primeiro, depois (se estivesse de bom humor), perguntava.

Estou dizendo isso porque ela brigou mais uma vez comigo e não foi pelo motivo certo. Se não quero ir pra escola, não é porque estou insatisfeita com a minha vida. É porque por causa de uma idiota, eu fiquei constrangida e estava com vergonha de ir pra escola.

E uma parte de mim sabe que isso é imaturo. Já é quinta-feira e nâo fui uma vez pra escola essa semana. Daqui a pouco tem consulta com o psicólogo e honestamente, estou de saco cheio disso.

Tudo o que eu queria é ficar um tempo sozinha. Sabe, sem ninguém me perturbando? Ninguém por perto. Andar por ruas, sentindo a brisa do vento. Sentar em uma pracinha, olhar as árvores, comer um salgadinho.

E ficar com "essa minha cara de merda", do jeito que eu quiser. Sem ter que ficar forçando sorrisos quando eu não quero.

*---*---*---*---*---*

Minha mãe insistiu em me acompanhar hoje. Ela disse que queria ter uma conversa com o Mitchell, e isso queria dizer "caguetar o que minha filha vem fazendo pra ver se ele faz mágica e concerta". Que ótimo.

O doutor Fuller ouvia atentamente o que minha mãe dizia, e volta e meia anotava algumas coisas. O ponto alto foi quando ele pediu pra minha mãe esperar na sala de espera enquanto teria uma "conversinha" comigo.

Assim que ela passou pela porta, ele colocou os braços na nesa e olhou atentamente pra mim.

– Vamos fazer um jogo de perguntas - ele disse. - Você responde a primeira coisa que vier na sua mente

– Tanto faz. - eu respondi, totalmente desinteressada.

Só que a brincadeira até que foi ficando legal. Começou com algo como :

* Uma banda ?
Slipknot

* Uma música ?
Snuff

* Um filme?
Harry Potter.

* Uma pessoa?
Minha mãe.

* Sua matéria favorita?
Geografia.

* Sua melhor amiga?
Milena.

* Última vez que falou com ela?
Não é da sua conta.

* Um aluno da sua escola.
Bianca.

* Quem é ela?
Uma aluna.

* Uma cor?
Roxo.

* Uma casa?
De dois andares.

* Um amigo?
Não tenho.

* Uma profissão?
A sua.

Durou por uns dez minutos. Algumas perguntas eram meio chatas, outras eram legais. E ele não me deixava pensar na resposta, eu tinha segundos pra responder. Até que me distraiu, só que aí começou a fase dois. Eu tinha que completar frases e responder umas perguntas meio difíceis.

*Sua banda favorita é...
Guns n Roses

*Porque...
Eles tem músicas legais. Digo, eu consigo relaxar ouvindo a banda. E também gosto de Bon Jovi, então as duas.

*Só pode escolher uma.
Vai Bon Jovi.

*Porque...
As músicas são legais.

*Defina legal.
Algo que eu goste, que eu ache maneiro.

*O que você acha legal?
Ouvir músicas, ver filmes. Isso é legal.

*O que faria você gostar de uma música?
Ela ter um ritmo legal, a voz do cantor ser boa, a letra e significado forem bons.

*Sem usar as palavras "bom" e "legal", me diga o que faria você gostar de um filme.
Ter um enredo le... Digo, ter um enredo... Você sabe... Eu acho que... Personagens marcantes, ter fantasia e aventura. É, eu gosto disso. Algo fora do comum, que vai além da imaginação.

E acabou quando ele disse que já era o bastante por hoje, e pediu pra que eu trouxesse, na próxima sessão, uma redação sobre como era as minhas consultas, e o que eu achava delas. Quando ele disse isso eu sorri. Mas ao invés de ficar preocupado, ele só olhou de uma ficha pra mim e disse :

– Sai com a sua amiga, Milena. Ou só manda uma mensagem pra ela, dizendo o que houve na escola.

O que só me fez ficar encarando ele de volta, tentando não demonstrar nenhum sentimento. E bateu um certo desespero, confesso, algo do tipo "sai de perto dele que ele é psicólogo".

– Não aconteceu nada na escola. - eu neguei.

– Deve realmente ser um tédio lâ, jâ que você se recusa a ir. - ele respondeu, guardando umas folhas.

– Você é psicólogo. Não devia me ouvir e anotar qualquer coisa? E não me dar conselhos. - eu disse algo parecido com isso.

Ele só me olhou com uma cara estranha e pediu pra que eu olhasse a porta. Olhei pra ela e arqueei as sobrancelhas, do tipo "e daí?".

– Além me nestrado em psicologia, tenho doutorado em psicanálise.

Acho que era pra isso ter dado um grande efeito ou um susto em mim, mas eu não sabia o que significa, além de ser "sou pago pra tratar de gente problemática".

Olhei para o relógio e perguntei a ele até que horas ia tudo aquilo. Ele só me deu um livro e um filme.

– Desvendando Segredos da Linguagem Corporal e 10 Coisas que Odeio em Você? O que quer que eu faça com isso?

– Uma resenha e uma crítica. - Pensei em dizer algumas coisas sobre isso, mas ele me dispensou. - Até terça-feira, senhorita Katherine.

Eu estava quase passando pela porta quando ele me chamou.

– Senhorita Katherine?

– Sim? - eu respondi, com receio.

– Diga a sua mãe que na segunda, você já volta pra escola.

Haha. Até parece.

– E por que eu diria isso? - perguntei, irritada. Aquele jeito dele estava me cansando.

– Porque você não vai querer ficar sem internet.

Engoli em seco e saí dali. Droga. Segunda-feira eu iria pra escola, e terça pra uma consulta com um vidente. Será que olhando pra minha mãe, ele saberia do meu futuro?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai, tão gostando? Beijoos



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Garota Imperfeita" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.