A Lenda dos Sete escrita por Lótus Brum, Martins de Souza


Capítulo 8
Vem os sete, vem dançar.


Notas iniciais do capítulo

"E era isso que vinha na mente de todos da cidade, as memórias mais tristes, os sentimentos mais dolorosos. Não havia um ser vivo que não estivesse sofrendo."



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Vocês garotos, quero que escutem com muita atenção agora. Não repitam essa música que irei cantar para vocês. Nunca! Jamais! Ela não é algo para ser cantado por essas suas bocas puras de criança, nem mesmo para ser contada por esses menestréis medíocres que passam de cidade em cidade tentando arranjar dinheiro. Não foi feita para cantigas de criança. Ela foi feita para atrair certas coisas. Não, ela não atrai sorte ou riqueza. Ela atrai morte.

Foi no meio da noite. A ventania invadia as ruas, quase arrancando as árvores do chão. E a tormenta que viajava de muito longe para aquela cidade já ameaçava desaguar sua chuva, e castigar o silêncio do sono dos vivos com seus raios e trovões. As últimas brasas das lareiras já morriam, e quando a última criança fechou os olhos e dormiu, bem no meio da cidade uma figura apareceu, como se a própria realidade houvesse sido reescrita para que ela estivesse ali desde o princípio. E talvez, realmente estivesse.

Então, na mais baixa e tímida das vozes, a pequena figura vestida em preta começou a murmurar uma melodia. Parecia alguma música infantil que crianças assoviam pela rua, ou cantam em roda. Mas ao mesmo tempo, não era. Estava carregada daquele tipo de sentimento que pesava no peito, que fazia com que o mais bravo dos homens ficasse parado e começasse a chorar. E todos na cidade escutaram quando a melodia ganhou letra naquela voz infantil. E cada um chorou lágrimas de medo.

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar.

E a música continuou, repetindo sempre as mesmas letras. E a voz parecia se espalhar por cada casa, cada estalagem, cada quarto. Toda luz restante de lareira acesa apagava, todo bebê acordava do sono chorando.

E o vento que fulminava a cidade e ameaçava arrancar as árvores do chão cessou, e o uivar do lobo que cantava para a lua cessou, e o choro do bebê cessou, e o respirar do homem cessou.

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar.

E já não restava mais barulho algum, e ninguém moveu um músculo. Ninguém teve coragem para mover um músculo. Naquela noite, o único barulho que seria escutado viria daquela figura minúscula, aquela música que podia ter sido regida pelo próprio demônio.

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar.

Nem nossos cinco heróis na estalagem moveram um dedo enquanto ouviam a música. Pete estava tremendo e chorando. Frey com os dentes cerrados tentava tampar os ouvidos, mas não tinha força alguma para isso. Mark ouvia tudo aquilo com a mão tremendo na espada. Damon, que era para ser o mais corajoso de todos, tremia com os dedos quase rasgando a madeira do parapeito da janela, enquanto olhava para o vazio. E Anne escutava tudo encolhida num canto do quarto, desabando em lágrimas, com memórias de um passado triste vindo à tona em sua mente. E era isso que vinha na mente de todos da cidade, as memórias mais tristes, os sentimentos mais dolorosos. Não havia um ser vivo que não estivesse sofrendo.

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar.

E a lua foi coberta pelas nuvens, e não havia mais estrela alguma no céu. Não restava mais nada além do breu e da música. Nada.

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar.

E repetiu.

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar.

E repetiu.

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar.

E repetiu.

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar.

E repetiu.

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar.

E repetiu, repetiu, e repetiu. Noite adentro, a música foi costurando sua trama de sombras, envolvendo cada indivíduo, consumindo cada foco de luz, amaldiçoando a vida.

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar

Corre chuva, foge agora

Vem os sete, vem dançar.

Corre chuva, corre chuva

Hoje é noite de cantar.

Corre chuva, foge agora

Eles vêm para brincar.

Corre chuva, sopra o vento

Hoje à noite, vão matar.

Então parou. Silêncio. Não havia mais música. Não havia mais nada. A própria vida havia ido embora, e toda a esperança havia sido tragada pela noite.

E os demônios desceram à cidade.


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