A Lenda dos Sete escrita por Lótus Brum, Martins de Souza


Capítulo 18
Estranhos e Becos


Notas iniciais do capítulo

"— Meu Sol em corpo de mulher — e tocou gentilmente o véu que cobria o rosto de sua noiva. — Prometo te fazer feliz até o final de nossas vidas." Zen, o Atormentado.



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Vocês já tiveram que ficar de molho a noite toda na casa de uma curandeira? Acreditem no que eu digo, isso não é nada comparado a ficar numa Casa de Sariel. Primeiro, lá as Senhoras da Cura não te dão doces como fazem as curandeiras. Não tente negar, Frank! Você ficou uma semana doente na casa da Liantris, e voltou gordo feito uma porca! E também, o que elas te dão lá para comer e beber, irc! Sopas de sapo, chás de morcego, língua de baiacu teimoso, suco de suor de Yord! Sem contar com as agulhas, elas te enchem delas! E te viram, desviram e reviram! Torcem seu corpo, jogam de um lado para o outro, e no final, você acaba mais machucado que estava quando chegou! E se não bastasse isso, elas usam bruxaria e fazem você se curar tão rápido, que você até dúvida que estava mesmo doente! Medroso é você, seu moleque fedido! Onde eu estava? Ah sim. E não há absolutamente nada que você possa fazer além de pensar e pensar, num silêncio eterno, olhando para um teto branco e liso, esperando a próxima vez que alguém vai aparecer para espetá-lo com agulhas e torcer todo seu corpo.

E lá estava o Zen, nessa mesma situação, olhando para aquele teto branco. Tinha um cheiro insuportavelmente doce de incenso no ar, e no quarto do lado um velho que estava para morrer não parava de tossir, negando o sono ao pobre rapaz. Só restava então aguardar, esperar pela próxima vez que aquele monstro que diz ser uma Senhora da Cura entraria, e começasse a jogar seu corpo de um lado para o outro, como uma boneca de pano. Tudo aquilo por não ter seguido seu código de conduta. Se tivesse feito como sempre fazia, teria ido embora na mesma noite em que lutou. Claro que ele estava ferido, mas já esteve pior no passado, e nunca precisou ir numa Casa de Sariel para se recuperar. Mas falar isso, e fazer aquela Cavaleira deixar ele ir embora eram coisas completamente opostas. Que mão pesada que ela tem, ele pensou, foi mais perigoso que lutar contra aquele Aurug. Esse é o nome daquele homem touro gigante que o Zen derrubou, Aurug. Não sua besta, a espécie se chama Aurug, não o monstro. Se não me engano eles vieram de algum lugar ao norte de Sarkon, mas quem liga para isso? Vamos continuar a história. Quando eu sair daqui... Tosse. Quando eu der o.. Tosse. Quando eu por meus... Tosse. Uma veia saltou na testa do rapaz.

— Rey! — quando ele pronunciava o “i” de Rey, o garoto surgiu ao lado da cama de Zen.

— Chamou? — ele tinha um sorriso no rosto.

— Mande alguma enfermeira dar um jeito nesse velho aí do lado — ele apontou com o dedão para a parede atrás da cama —, não consigo nem pensar com tanto barulho.

— Não prefere que eu de um jeito nele? — disse isso com um sorriso malicioso, passando o fura-bolo na frente da garganta. Completou toda a cena com uma risada maligna.

— Ah, mas que ideia maravilhosa — Zen acompanhou a risada do garoto, abrindo o mesmo sorriso. Ficaram rindo desse jeito por uns cinco segundos, até Rey tomar uma pancada na cabeça do enfermo. — E quem raios é você, Zael o Assassino? — franziu o cenho, enquanto o garoto esfregava a cabeça. — Vai logo falar com aquelas bruxas, eu quero dormir.

— Za o que? — Zen balançou a cabeça.

— Ninguém, vá de uma vez — ele fechou os olhos, enquanto o garoto saia do quarto.

Ouviu alguns gritos sufocados do outro lado da parede, que o fez franzir o cenho, mas o Senhor do Sono levou todas as suas preocupações embora. Afinal, o Mundo dos Sonhos não tem espaço para elas. E que sonho estranho foi aquele.

Era uma colina coberta de grama verde, no céu não havia nuvens. O Pai Sol brilhava forte no meio do céu, dividindo-o com cinco milhões de estrelas multicoloridas. No topo da colina, um arco enfeitado com flores e joias, e logo adiante do arco, uma multidão de pessoas. Não uma multidão, no máximo umas trinta ou quarenta. Vamos dizer um grande número de pessoas então. E todas elas observavam a dupla embaixo do arco. Zen olhou para os lados, e percebeu que ele era parte da dupla, e em sua frente, alguém vestindo um belo vestido amarelo. O rosto coberto por um véu branco quase transparente, mas não transparente o suficiente para ele poder ver quem era. Olhou os presentes ali, e viu tantos conhecidos quanto desconhecidos. Rey, aquele elfo, e... Eles. Todos os cinco, ali juntos, sorrindo para ele. Zen sorriu de volta, enquanto uma lágrima escorria de seu olho.

Filho, você aceita? Zen olhou para o lado e viu o Casamenteiro.

Sim e o velho Casamenteiro sorriu.

Então os declaro, marido e mulher! e abriu uma gaiola, de onde uma ave saiu voando. Que o Pássaro Eterno olhe por vocês! Agora, pode beijar a noiva.

Zen olhou sua noiva, vestida em luxo, com requintes de realeza. Só poderia ser ela, quem mais poderia suportar alguém como ele? Suportar todas as dores de seu passado? Apenas ela. Se fosse por ela, Zen faria qualquer coisa, até mesmo entrar nessa aventura sem volta que chamam casamento.

Meu Sol em corpo de mulher — e tocou gentilmente o véu que cobria o rosto de sua noiva. Prometo te fazer feliz até o final de nossas vidas.

Levantou o véu, e seu rosto tornou-se uma máscara de horror. Cobriu de novo o rosto de sua noiva, e sorriu novamente, engolindo em seco.

M-meu Sol em corpo de mulher e tocou outra vez o véu. Pro-prometo te fazer feliz até o final de nossas vidas.

Levantou de novo o véu, e teve a mesma visão. Baixou de novo o véu.

M-m-m-meu S-s-sol em corpo de mulher e levantou o véu. Ali, atrás do véu, estava a velha dona da Casa de Sariel.

— Meu amor! — a velha gritou, se jogando em cima de Zen, moldando os lábios num beijo.

Zen gritou horror.

E acordou gritando, levantando, quase saltando da cama. Mal ergueu a cabeça e bateu a testa em alguma coisa com força. Ou melhor, alguém. Esfregando a testa, olhou para o lado e viu uma loira sentada no chão. Ela esfregava a mão no mesmo lugar que Zen, e lançou um olhar de raiva para o enfermo.

— Que ideia é essa de levantar do nada?! — ela gritou, fazendo Zen levantar os braços. Talvez ele estivesse tentando se proteger das palavras dela, as vezes cortavam como lâminas.

— E que ideia é essa de invadir meu quarto e ficar me olhando enquanto durmo? — ele gritou para ela, baixando os braços.

— Não é culpa minha se você parece morto enquanto dorme! Parece até que não está respirando! E do nada dá um grito e levanta! — ela gritou de volta. — Que problema você tem afinal?!

— Eu estava tendo um pesadelo! Você nunca teve um pesadelo não?! — ele gritou outra vez.

— Dá para os dois calarem as matracas?! — a velha dona da Casa de Sariel abriu a porta com um estrondo, gritando mais alto que os dois.

Lillian baixou a cabeça, parecia arrependida. Zen, por outro lado, desapareceu. A loira olhou para todos os lados e foi encontra-lo debaixo da cama. A velha nada falou, apenas suspirou e fechou a porta. A loira baixou a cabeça, até ficar na altura de Zen debaixo da cama.

— Ei, por que está se escondendo aí? — ela deu um sorriso debochado. — Está com medo daquela senhorinha?

— C-c-claro que não! — ele começou a tatear de um lado para o outro. — Eu só estou procurando minha espada, acho que deixei ela cair aqui embaixo!

— Sua espada está encostada do lado de sua cama — ergueu a sobrancelha. Zen quase conseguiu ler a mente dela chamando-o de tapado.

— Oh, oh hoho! Então era aí que estava! Ótimo! — e saiu de debaixo da cama. Lillian levantou junto dele.

Os dois ficaram parados ali no meio do quarto, encarando um ao outro. Para Zen, aquilo por mais estranho que parecesse, não era. Manteve um olhar de peixe morto, enquanto encarava a loira. Ela por sua vez parecia incomodada. Tinha os braços cruzados, e mordia o canto do lábio enquanto o encarava. O que ela quer afinal? Pensou.

— O que você quer afinal?! — ela disse, talvez fosse raiva na sua voz. Zen ergueu uma sobrancelha, sem entender nada. — Está mudo, agora?!

— Não! — ele respondeu, recuando um passo. — O que eu quero? Eu — ele recuou mais um passo e encontrou a parede. Precisava pensar numa resposta, e rápido. — Eu quero ir lá fora.

A raiva da loira aliviou, sorte. Ela aquiesceu, enquanto descruzava os braços. Pôs a mão direita na empunhadura da espada, e com o queixo levantado disse.

— Certo, vamos lá para fora então — e virou-se para a porta, saindo do quarto. Ainda sem muita reação, Zen foi atrás.

***

Que dupla estranha eles formavam na rua. Uma mulher vestida com uma armadura de guerra, e um homem vestido nas roupas brancas da Casa de Sariel. É claro que todos conheciam Lillian, afinal ela era “a” Cavaleira, mas quem era aquele estranho enfermo? Uma testemunha de algum crime horrível que precisava de proteção? Ninguém ousaria perguntar para ela.

Zen novamente não se incomodava com aquilo. Apenas caminhava com as mãos enfiadas nos bolsos, olhando de um lado para o outro com olhos desinteressados. Não pretendia fazer nenhum comentário idiota, ou brincar como brincava com Rey. Lillian certamente não riria, pelo menos era o que Zen achava. A loira por sua vez, estava sim incomodada. Andava com os braços cruzados, e mordia o canto do lábio como sempre fazia quando algo não estava certo com ela. Afinal, era a primeira vez que tinha que agir como babá.

— Que lugar morto esse — comentou Zen. — Não tem crianças brincando na rua, e toda vez que olho para alguém ela parece triste — alcançou o lado de Lillian, que apenas olhou-o de canto. — O que há com essa cidade?

Ela voltou a olhar para frente, enquanto caminhava. Parou de morder o lábio, assim como parou de andar. Suspirou, encontrando encosto numa tora que servia de apoio para uma varanda.

— Escute, se você quer tentar dar uma de herói e tentar resolver os problemas dessa cidade, vou logo te dizendo que — ela foi interrompida pelo Zen.

— Ei ei, calminha mulher. Eu só queria saber onde posso encontrar um bar para encher a cara — ele disse, sem alterar a expressão de peixe morto.

A honestidade dele a fez ficar perplexa, e depois novamente com raiva. Desencostou-se da viga e seguiu caminhando, pisando firme, enquanto murmurava qualquer coisa. Zen, coçando o ouvido com o dedo mindinho deu de ombros e seguiu caminhando para o outro lado. A loira nem percebeu quando ele se enfiou numa ruela qualquer e escapou de seus serviços de babá.

— Qual é o problema dela? — o final do beco deu numa rua mais movimentada. Ele olhou para os lados, e decidiu seguir para a direita. — Agora, onde achar uma taverna?

Deve ter falado alto demais, ou quem sabe, aquele homem que surgiu em sua frente tinha um ouvido bom demais. Foi assim, do nada, que ele apareceu, esfregando as mãos e dando um sorrisinho malicioso. Aquele homem gritava “eu vou te roubar!”, e Zen escutou muito bem esse grito. Mas decidiu continuar com o jogo.

— Você disse taverna, meu rapaz? — pensem na voz da pessoa mais irritante que vocês conhecem, eu não vou imitá-la. Não tenho mais garganta para isso.

— Sim eu disse — respondeu.

— Taverna foi? — perguntou de novo.

— Sim, uma taverna — respondeu de novo.

— Ah, uma taverna! — e completou com uma risada.

— Você é surdo ou retardado? — Zen ergueu a sobrancelha direita, olhando-o com certo desprezo. O estranho continuou rindo.

— Ah, eu conheço uma taverna. Venha, venha comigo! — e foi se esgueirando pelo meio da população que passava por ali. Zen apenas seguiu, estranhamente despreocupado.

Entraram em outro beco, onde havia algumas pilhas de caixotes e roupas velhas. O homem, que aliás tinha uma barba fina, seguiu apressado até o final do beco e virou a esquerda. Zen foi seguindo em passos calmos, com as mãos nos bolsos. Eis que de repente, de trás dos caixotes e de baixo das pilhas de roupas, surgem cinco homens. Se eu quiser eu falo “Eis que” durante a história toda! Então fica de bico fechado aí, moleque! Zen deu um assovio e olhou para o círculo que se fechava ao redor dele. Lá no fundo do beco o bigode-fino surgiu, dando pulos e risadas.

— Pegamo ele! Pegamo ele! Ele não tem escapatória! Mata e rouba ele! — o bigode-fino gritava entre uma risada e outra.

Os cinco começaram a rir também, enquanto iam fechando o pequeno círculo. Eram brutamontes, vestidos em trapos, com adagas na cintura. Muito ameaçadores para qualquer outro, mas Zen não sentiu medo. Pelo contrário, começou a rir junto, mais alto que todos eles aliás. Um riso forçado, mas ainda sim um riso. Os cinco pararam e ficaram olhando perplexo o rapaz, até mesmo o velho no fundo do beco parou de rir e pular. O único rindo agora era Zen, com as mãos nos bolsos, sem arma alguma para se proteger. E por que precisaria? Ele próprio era uma arma. Sua mão foi ágil, quando acertou o primeiro logo a frente. Ele caiu no chão com o nariz sangrando. Os outros quatro ficaram sem reação, enquanto o estranho no fundo do bico parecia amedrontado. E foi ele que fez os quatro reagirem.

— Mata ele! — gritou, apontando para Zen.

Os quatro avançaram, e Zen também. Quando o primeiro ia puxar a adaga, nosso herói já tinha executado seu movimento sobre ele, e caiu no chão sem nem puxar a arma. O segundo era mais rápido, pena que Zen era muito mais. Dois chutes na barriga o botaram em seu lugar. O terceiro foi traíra e veio pelas costas, mas vocês acreditariam se eu dissesse que o rapaz tem um olho atrás da cabeça? Não? Nem eu, porque ele não tinha e tomou o golpe em cheio. Suas pernas bambearam enquanto ele tentava firmá-las no chão para não cair. O último deles aproveitou-se disso e atacou. Um soco direto nas costelas, bem numa das que tinham sido fraturadas. Zen cerrou os dentes, e também os punhos. Sua perna podia estar bamba, mas a fez encontrar forças para firmar-se no chão. Podia sentir a dor invadir seu corpo, mas expulsou-a para longe. Seus olhos amarelados encheram-se de frieza, enquanto sua mente encontrava o silêncio e o vazio negro.

Um, dois, três. Os dois restantes caíram, nocauteados.

Zen olhou para o fundo do beco, onde o bigode-fino estava sentado no chão, coberto de medo. Como um enfermo poderia fazer algo como aquilo? Ainda mais derrotar cinco homens como aqueles! O bigode-fino não pôde perguntar nada, um chute foi o bastante para desmaia-lo. Quando tudo acabou, o vazio quebrou-se, e com ele a dor voltou com tudo. Zen apoiou-se na parede do beco, arfando. Não recuperei nem metade de minha força ainda, ele pensou. Mesmo com as dores invadindo seu corpo, ele desencostou-se da parede e seguiu caminhando para fora do beco, com uma mão onde havia recebido o soco. Para onde era mesmo a Casa de Sariel? Era a última opção que restava, infelizmente. Mesmo não sendo do agrado dele, aquelas Senhoras da Cura sabiam o que fazer para aliviar dores.

Ele saiu do beco e seguiu andando pelo meio da população, desviando de quem surgia em seu caminho. Olhava para os lados, tentando lembrar do caminho que havia feito, em qual beco havia passado, mas eram tantos, com tantas pessoas dentro, que ficava até difícil de encontrar o caminho. Viu neles mulheres da vida, um rapaz de cabelos cor de areia caminhando um tanto furtivo demais, alguns bandidos quaisquer, até mesmo o Rey estava num deles! Espere, aquele era o Rey? Olhou de novo e lá estava o garoto, falando com dois homens. E Zen poderia perder a espada, mas podia apostar ela que eles eram bandidos. No que você está se enfiando Rey? Começou a caminhar na direção do garoto, quando uma mão agarrou seu braço. Uma mão firme, mas macia. Mão de mulher. Ele sorriu, o que quer que o garoto estivesse fazendo, poderia esperar. Virou-se para encarar a dama que o havia segurado, e só encontrou foi uma tristeza enorme. A velha dona da Casa de Sariel estava em sua frente, ajeitando os óculos de grau sobre o nariz.

— O que você está fazendo fora da cama? — ela perguntou, ríspida.

— E-eu só vim dar uma volta — deu um sorriso forçado, acompanhado de uma risada.

— Volte — ela não achou graça alguma, apenas olhou-o com frieza. — Agora.

— Sim senhora — ele aquiesceu, engolindo em seco. Olhou uma última vez para onde estava Rey. Ele havia sumido.

— Ande! — a velha gritou, e o rapaz começou a caminhar apressado, com a velha em seu encalço.

***

— Às vezes eu me pergunto quão retardado alguém consegue ser, mas acho que você supera todas as minhas expectativas — Lillian disse, o mais cruelmente possível. Estava sentada ao lado da cama de Zen, o enfermo deitado ali.

— Você é má, loira — lamentou-se. — Seus pais nunca te disseram para não tratar mal um moribundo?

— Um moribundo não sai da cama para surrar cinco moribundos e quebrar a costela outra vez — ralhou a loira. — E não me chame de loira, meu nome é Lillian.

— Mas você é loira, loira — disse, de olhos fechados, com uma expressão de dor.

— Você é um imbecil, e nem por isso fico te chamando de imbecil — ela respondeu, olhando-o com um olhar de desprezo.

— Mas você me chama de imbecil, loira — isso a fez ficar sem resposta. Zen abriu um dos olhos, e com um sorriso disse. — Touché — tomou uma pancada na cabeça por isso.

— Touché a sua cara! — ela levantou-se da cadeira, indo até a porta com passos pesados, cheia de raiva. Parou antes de sair, virando-se para ele. — E se fugir de mim mais uma vez como fez hoje, vai preferir encontrar mais bandidos — e deu um sorriso sádico, deixando a ameaça no ar.

Quando ela saiu, deu uns cinco segundos antes de Rey entrar, olhando para os lados com uma cara de tédio. Zen o encarou durante todo o percurso, até o garoto sentar na cadeira onde antes estava Lillian. O garoto estendeu a mão e soltou algumas balas.

— Coma todas agora ou as esconda — disse Rey, sussurrando, enquanto olhava para a porta. — As bruxas não deixam comer doce aqui dentro!

Com uma sobrancelha erguida, Zen pegou uma das balas e deu uma delas para o garoto. Com um sorriso, o garoto agarrou a bala e jogou-a para boca. Zen fez o mesmo, e ficaram ali em silêncio, apreciando a doçura revigorante invadir seus corpos.

— Ei Rey — o garoto olhou para Zen. — Eu te vi hoje falando com uns caras estranhos — o garoto parou a boca um segundo, desfazendo o sorrido, e voltou a chupar a bala.

— Uhm — disse apenas isso, Zen olhou-o de canto.

— Eles são bacanas? — voltou a olhar para o teto.

— Uhm — o garoto aquiesceu, sem expressão alguma no rosto.

— Bacanas, uh? — pegou outra bala, jogando-a para a boca. — Talvez eu possa conhece-los algum dia, não é? Quem sabe eles me apresentam algumas beldades de Balran.

Nisso, o garoto pulou da cadeira para o chão, e a empurrou até o lugar de origem dela, ao lado de uma pequena mesa. Zen ficou olhando o garoto fazer isso, e acreditem, o rosto de Rey era uma parede gigante para seus sentimentos. Zen, que sempre foi bom em ler uma pessoa, não conseguia dizer nada sobre ele naquele instante.

— Ei, o que está fazendo? — perguntou.

— Tenho que ir — ele respondeu depressa, assim que Zen fez a pergunta.

— Ir? Para onde? — o garoto não disse nada, apenas seguiu na direção da saída. — Ei, me responda! — Rey bateu a porta, deixando Zen novamente com o silêncio e o teto branco e liso.

O enfermo olhou para o teto, ruminando qualquer coisa. Suspirou, fechando os olhos.

— Cuidado, garoto.


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