A ultima coisa que se lembrava é de Jaime enfiando a espada em seu coração. Doeu por alguns segundos, até que ela fitou os olhos verdes e umedecidos do Lannister, e depois as sombras a engoliram.

Sentiu mãos frias em seu corpo, e algo mais gelado ainda em seus lábios. Renly, esses são seus lábios de cadáver? Eu estou morta e finalmente vou ficar com você?

Quando abriu os olhos, viu que a Senhora Coração de Pedra havia lhe dado o beijo da vida.

Ela segurou a garganta, e pronunciou umas palavras. Dessa vez, Brienne entendeu, pois estava muito perto da mulher.

– Você me serviu bem, amiga. E provou que Jaime Lannister é inocente.

Brienne se levantou subitamente.

– Jaime... Jaime! Onde ele está? Ele acha que estou morta? - Catelyn balançou a cabeça em afirmativa. - Ele precisa saber que estou viva.

– Logo saberá. Mas não agora. Você precisa descansar, uma moça cuidará de seus ferimentos. Você e o Regicida tem muito o que fazer ainda. Me fizeram um juramento, lembra?– Senhora Coração de Pedra demorou muito para gesticular essas palavras, e Brienne esperou pacientemente até que ela terminasse. Assim que terminou, a donzela assentiu. - Mantenham seus juramentos, e a dívida está paga.

– Manterei. Eu prometo. - Disse Brienne, com dificuldade, sua bochecha parecia estar doendo cada vez mais.

A Senhora Coração de Pedra saiu do quarto, e logo em seguida, a moça que havia cuidado dela antes apareceu novamente.

– Senhora, precisa de leite de papoula. Vou queimar a carne apodrecida de sua bochecha para desinflamar, e costurar o que der. Vai ficar com uma cicatriz aí.

– Não tem problema. Obrigada, milady.

A garota sorriu.

– Não sou nenhuma milady, Senhora. Mas farei o possível para melhorar seus ferimentos.

Brienne sorriu e tomou o leite de papoula, e fechou os olhos. Se permitiu dormir, e dessa vez não teve nenhum pesadelo. Sonhou com Jaime.

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Quando acordou, viu que a garota que havia cuidado de suas feridas estava dormindo numa cadeira ao lado da cama em que ela se encontrava. Só agora que se deu conta de que não estava na caverna.

Onde estou? se perguntou, sentou-se na cama com uma certa dificuldade e olhou ao redor. Franziu a testa. Parecia um quarto em alguma estalagem qualquer.

Ouviu batidas na porta. Esperou alguns segundos e gritou, relutante:

– Quem é?

– Podrik, sor... Senhora.

Brienne abriu um sorriso quando ouviu sua voz.

– Pode entrar, Podrik.

– Minha senhora. - Ele disse ao abrir a porta, e se agachou ao lado da cama. - Como está? Quando vi o Regicida te matando, não acreditei. Você é muito melhor que ele! Não acredito que aquele estúpido tenha te matado.
Brienne deu um fraco sorriso.

– Estou tão feliz que você esteja vivo. - E puxou o garoto para perto de si, e o abraçou.

– Também estou feliz, minha Senhora. - Disse o garoto, ficando vermelho.

– E Sor Hyle? - Quis saber.

– Quando foi libertado, saiu correndo. Não creio que irá voltar.

A imagem de Hyle correndo como uma galinha assustada fez Brienne se divertir um pouco.

– E você precisa encontrar sua família, Podrik. Ou alguém com quem possa confiar.

– Eu não tenho ninguém, Senhora. Só você.

Isso a deixou com o coração apertado. Pegou na mão do rapaz.

– Você me lembra meu irmão mais novo. - Sorriu levemente, e sentiu sua bochecha doendo. - Mas assim como não consegui protegê-lo, não posso fazer o mesmo por você.

Lembrar do irmão morto a deixou com vontade de chorar. Lutou contra, respirou fundo e mudou de assunto:

– Tem que ter algum tio, alguma tia.

– Não tenho, Senhora.

– Então te enviarei para o meu pai, Selwyn Tarth. Direi a ele que não existe escudeiro mais leal que você, e você será nosso protegido.

Podrik abriu um sorriso de orelha à orelha, mas mesmo assim, disse:

– Minha Senhora, queria continuar com você.

– Eu sei. Mas Sor Jaime e eu temos tarefas perigosas a cumprir, e não quero ter que me preocupar se você vive ou morre. Prefiro saber que está vivo e em segurança em Tarth, até eu voltar. Você será meu escudeiro novamente, prometo. Mas não agora.

– Você vai viajar com Sor Jaime? Ele te matou!! - Podrik abriu os olhos. - Você foi ressuscitada, praticamente inteira, graças aos Deuses. Mas ele te matou!!

– Eu sei, Podrik. É uma longa história. Apenas confie em mim, tudo bem? - O garoto assentiu. - Ótimo. Amanhã te levarei até o porto, e te colocarei em um navio para Tarth.

– Como desejar, minha Senhora.

Brienne deu um meio sorriso.

– Agora deixe-me descansar um pouco.

Após isso, Podrik saiu obedientemente pela porta. Brienne se levantou e se olhou no espelho que havia ao lado da cama. Viu que usava um vestido azul apertado,e percebeu que sua bochecha estava costurada, e ficaria uma cicatriz não tão feia quanto imaginava no lugar.

Brienne abriu o corpete e visualizou o lugar onde a espada de Sor Jaime a havia furado. Passou os dedos pelo peito, sentindo o coração pulsando. Quase não acreditava que havia morrido, e voltado.

Nesses tempos, estar morto e estar vivo não significa muita coisa, pensou. Se recordou que a mocinha que havia cuidado de seus ferimentos disse mais ou menos isso para ela.

– Senhora? - A garota falou, meio sonolenta. - Está sentindo alguma dor?
Brienne se sobressaltou com a voz da menina, tinha quase se esquecido que ela estava ali.

– Não. Muito obrigada por cuidar de mim.

A garota sorriu e voltou a fechar os olhos. Nesse mesmo momento, bateram na porta do quarto. Ela se levantou e, ainda sonolenta, atendeu a porta.

– Brienne está aí? - Ao ouvir a voz familiar, a donzela de Tarth congelou.

Jaime.

– Sim. - respondeu a garota.

Rapidamente, Brienne amarrou seu corpete.

– Deixe-nos a sós.

A garota obedeceu. Jaime fechou a porta atrás dele, e encarou a Beleza de Tarth. Ela o fitou nos olhos verdes dos quais adorava. Engoliu em seco.

Jaime parecia completamente abatido. Nunca pensou que o Lannister ficaria tão mal com a sua morte.

– Sor Jaime.