Desconexão escrita por Jafs


Capítulo 23
Extra


Notas iniciais do capítulo

Obrigado a você leitor por ter lido a fanfic “Desconexão”. Foram alguns meses para finalizar esse texto e, sendo esse o meu primeiro trabalho, foi uma experiência e tanto. Para quem ainda não viu, eu 'remasterizei' os textos e coloquei algumas imagens novas. Vale lembrar que nenhuma dessas imagens me pertence.
O que você verá nesse capítulo especial são alguns rascunhos que não viram a luz do dia durante o planejamento do enredo. Pode se dizer que são as ‘cenas que foram cortadas’. Cada rascunho estará acompanhado dos meus comentários no final.



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O sinal toca. Fim do intervalo do almoço.

Os alunos, com pressa e congestionando os corredores, procuram retornar para suas salas de aula.

“Vamos Kyouko.” Sayaka seguia à frente, procurando um caminho no meio daquele povo.

Contudo, Kyouko tinha outros planos. “Vai indo que eu te alcanço. Vou tomar uma água.”

Sayaka fez cara feia. “Kyouko!”

Kyouko gesticulou, ignorando a reação da Sayaka. “Qual é! Eu já sei onde fica a sala. Não esquenta.”

“Ok.” Sayaka respirou fundo. “Só não vai fugir da aula. Hein?”

Kyouko deu uma piscadela.

Não sabendo o significado daquela resposta, Sayaka ficou tensa. Mesmo assim foi embora, não queria causar uma cena.

Kyouko foi até o bebedouro, onde teve que aguardar em uma pequena fila.

...Só não vai fugir da aula...

“Tch... ‘Aula’. Dane-se essas aulas! Eu não entendo nada!” Kyouko esbravejou. “Merda Homura! Onde tu tava com a cabeça quando decidiu me por aqui.”

Alguns dos que estavam na fila olharam de relance.

“Que foi? Anda logo aí...”

Depois de beber, Kyouko retornava para sala pelos corredores agora mais vazios. Através das paredes transparentes de vidro, era possível observar o transcorrer das aulas.

“Pior que eu não posso mastigar algo durante a aula. Saco.” Kyouko disse, bufando.

Nesse momento algo chamou a atenção dela, mais especificamente uma pessoa que estava se aproximando de um mural no fim do corredor.

Mas aquela não é a...

Homura estava de costas para Kyouko, enquanto colocava um pôster com um aviso sobre a enfermaria.

Kyouko estreitou o olhar...

Eu posso matar ela agora.

...e ficou remexendo os dedos da mão esquerda.

Basta eu projetar minha lança a partir da gema no anel. Todo mundo vai ver, mas não importa. Estará tudo acabado.

A gema violeta no brinco da Homura balançava enquanto ela colocava os últimos alfinetes.

Nah.

Kyouko fechou a mão.

Tenho que descobrir mais sobre o que essa doida andou aprontando.

Ignorando Homura, Kyouko seguiu caminho até a sala. A aula já havia começado.

Ela entrou sem cerimônia.

“Atrasada novamente, Sakura-san.” Disse o professor.

Kyouko deu de ombros. “A fila do bebedouro estava comprida.” E foi até a sua carteira.

Sua vizinha, Sayaka, não expressava muita felicidade ao vê-la.

“Ei... Viu que eu não fugi? Heh.” Kyouko falou enquanto sentava. “Tenta adivinhar quem eu encon...”

“Kyouko.” Sayaka interrompeu, oferecendo um caderno. “Eu marquei a página com as anotações da última aula. Não tem erro.”

Kyouko recebeu o caderno com estranheza. Não era costume da Sayaka em fazer isso. Ao abrir o caderno a partir da página com a ponta dobrada, ela viu as anotações da aula escrita com caneta. Contudo, havia também uma pequena mensagem escrita a lápis:

Não acredite em coincidências.

Jafs: Essa cena estaria no capítulo 8 e acabou sendo substituída pela do fliperama, que cobre os mesmos elementos para o enredo e muito mais. Eu até poderia ter deixado ela, mas só teria a função de encheção de lingüiça.

/人 ‿‿ 人\

Sayaka aguardava no corredor do condomínio, na frente da entrada aberta da sua casa. “A escola não espera!”

Uma voz ecoou do fundo da casa. “Ela que espere! Eu não vou sem o meu kit!”

Sayaka colocou a mão na testa. “É isso que acontece quando você joga as coisas ao invés de guardar...”

“Bom dia!”

Sayaka se deparou com um menino franzino, com cabelos loiros bem penteados e olhos vermelhos vivos. Estava pronto para escola, com sua mochila preta nas costas.

Ela logo reconheceu. “Ah! Bom dia Hidaka-kun.”

“Fazia um tempo que a gente não se via. Geralmente você saía mais cedo.” Disse Aki, sorridente.

“Ah é! Hehehe. Devia fazer um tempo mesmo.” Sayaka ficou coçando a cabeça. “É que estou aguardando minha queridinha priminha molenguinha.”

Com dúvida, Aki ergueu as sobrancelhas. “É aquela ruiva que eu vi na última reunião do condomínio?”

“Essa mesma.”

“Você estão indo juntas? Que legal.”

“Sim, é tão bom quando VAMOS PARA ESCOLA JUNTAS!” Sayaka respondeu, levantando a voz.

Aki se assustou um pouco com a reação da Sayaka. “Xiii. Parece que ela vai demorar.”

“É melhor você não esperar por ela também.”

“É. Tenho que chegar logo no metrô. Não posso chegar atrasado na aula...” Aki proferiu as últimas palavras com pesar, mas logo depois sorriu. “Tchau Miki-san. Quem sabe a gente se vê na escola.”

“Quem sabe, né?” Sayaka acenou. “Tchau tchau!”

Jafs: Para quem se lembra, Aki mora em um condomínio residencial. E se esse fosse o mesmo condomínio onde Sayaka mora? Os caprichos da coincidência... Eu pensei em colocar Aki em um papel maior para o enredo (síndrome do OC rsrs), sendo uma ponte de comunicação entre Nagisa e Sayaka. Algo que eu queria nessa história era ter pessoas comuns trazendo um impacto mais direto para a história. Contudo Homura não teria sido tão piedosa com Nagisa no capítulo 9 (Ela reconheceria o condomínio). No final esse papel ficou com a Hitomi...

/人 ‿‿ 人\

No mecanismo do relógio, as aves negras observavam a algazarra que ocorria logo abaixo.

Nagisa corria pelo grande salão da casa de Homura, com uma boneca logo atrás.

Por que tinha que ser logo eu! Sua boca escancarada, cheia de dentes afiados, deixava escapar sua grande língua roxa, que balançava a cada passada. Nagisa mudou a direção repentinamente para surpreender sua perseguidora.

No entanto a boneca era precisa, copiava com perfeição a trajetória da garota.

Se continuar assim, ela só precisa aguardar um erro meu para...

Antes que pudesse terminar seu pensamento, Nagisa foi surpreendida por uma chuva de grandes alfinetes logo a sua frente. Elas fincaram no chão e formaram uma barreira.

“O quê!” Nagisa parou por um instante antes de decidir pular sobre a barreira. Apesar de conseguir passar sobre eles, sua hesitação trouxe conseqüências: em pleno ar, a boneca a abraçou.

As duas rolaram pelo chão. A boneca foi a primeira a se levantar e logo se afastou.

Nagisa, ainda caída, ficou olhando para as outras bonecas que estavam ao longe. Elas estavam sorridentes.

“Rawr! Vocês não deviam ajudar ela.” Nagisa ajeitou seu vestido roxo de bolinhas rosas enquanto se levantava. “Não é assim que se brinca de pega-pega. Vou mostrar como se faz.” Então ela deu um grande salto em direção as bonecas.

O sorriso nas bonecas desapareceu e logo correram, se espalhando pelo salão.

Nagisa sabia que, para conseguir pegar uma das bonecas, iria precisar mais do que velocidade. Ela olhou envolta e procurou pelo alvo mais oportuno. Nisso viu que havia três bonecas próximas de uma das paredes.

As três bonecas gesticularam em desespero quando Nagisa partiu em direção a elas. Cada uma correu para um dos lados, mas a do meio acabou na dúvida.

Nagisa já estava perto. “Está encurrawrlada!”

A boneca então virou-se e correu em direção a parede.

“Para onde você...” Nagisa nem terminou a frase ao ver que a boneca havia aberto uma porta camuflada. “Ei!”

Não querendo perder a oportunidade de pegá-la, Nagisa entrou logo depois.

Mas o que Nagisa viu fez ela logo esquecer disso.

Bem diferente do corredor que levava ao seu quarto ou o que dava acesso para a cozinha, o lugar era surreal. Gigantescas engrenagens paradas flutuavam de forma desconexa em um ambiente parcamente iluminado com uma fluorescência violeta. Ela mesma estava sobre uma dessas engrenagens.

Logo Nagisa ouve o som da porta fechando com força. Ela se virou e entrada não estava mais lá. “Oh não!”

Presa nesse ambiente bizarro, Nagisa procurava por outra passagem. Foi quando encontrou a boneca que ela estava perseguindo sobre outra engrenagem.

A boneca ficou batendo os dentes para Nagisa e começou pular de engrenagem em engrenagem. Se garota de cabelos brancos quisesse encontrar uma forma de sair dali, essa era a sua melhor chance.

Nagisa bem que tentou acompanhar a boneca, mas a outra era bem mais familiarizada com o ambiente. Conseqüentemente Nagisa perdeu ela de vista naquele mar de engrenagens.

“Isso não é bom. Se Homura-chan me encontrar aqui...” Nagisa pensou alto, temerosa. Homura estava em casa, ainda não era noite aonde ela iria caçar demônios. Felizmente suas preces pareciam que tinham sido ouvidas, pois seus olhos coloridos avistaram uma porta sobre uma das engrenagens.

Sem tardar, Nagisa chegou até porta. Era bem comum, de madeira envernizada escura, exceto o fato dela estar só, sem paredes ou outro indício que ela levaria para algum lugar.

Só que Nagisa tinha plena consciência que estava em uma barreira de bruxa. A lógica e a razão não governam esses mundos. Porém ela não sabia o que essa porta revelaria quando fosse aberta. Podia ser o salão ou qualquer outro lugar. Não vendo outra opção senão arriscar, ela pôs a mão na maçaneta em forma de um diamante negro.

Foi então que, de repente, a porta se abriu de forma tão rápida que quase puxou Nagisa pela maçaneta.

Quem estava do outro lado da porta era nada mais nada menos que Homura, vestindo um pijama violeta com botões brancos. Estava descalça, mas o seu brinco continuava em sua orelha. Seus olhos brilharam enquanto sorria. “Ah... Finalmente resolveu espiar.”

“Awwwr não!” Nagisa começou a gesticular freneticamente. “Euuwwwrr estawrva brincando de pega-pega com as suawwrrs crianças e... e uma delas abriuuwrr a powwrta e eu fui atrás e... acabei aqui nesse luuwwrgawwr. E-Euwr queria voltar para o salawwrr e...”

Homura revirou os olhos. “Entre, bruxa.”

Nagisa continuou. “Euwwr juwwrrro!... Eu juro...”

“Agora!” Homura demandou.

Nagisa calou-se e abaixou a cabeça antes de obedecer.

“Tire os sapatos e deixe sobre o tapete.” Instruiu Homura ao fechar a porta.

Enquanto fazia o que fora pedido, Nagisa observou a sala escura. O papel de parede era de um tom claro, com tema de losangos alinhados. Em uma das paredes estava uma cama com uma almofada e coberta desarrumadas. Em outra estava um sofá e de fronte a ele uma mesa de centro quadrada com alguns livros grossos encima e um pote com duas penas, uma branca e uma preta.

Havia uma escrivaninha também, que ficava em um canto da sala. A luz da luminária que estava lá, a única daquele ambiente, revelava que a escrivaninha era uma verdadeira mesa de trabalho. Continha uma grande lupa articulada e estojos de ferramentas e de pequenas engrenagens, parafusos e outros objetos metálicos. Debaixo de um manto branco, havia um objeto que mais parecia um disco.

“E então?” Homura começou. “Satisfez sua curiosidade?”

“Desculpa...” Nagisa falou baixinho.

“’Desculpa’?” Homura estava incrédula. “Eu havia proibido você de vir aqui?”

“É?!” Nagisa ergueu a cabeça

Homura ficou mais séria. “Mas eu também não disse que era permitido.”

Nagisa rangeu os dentes, como uma criança que acabara de quebrar um vidro.

“Fufufu...” Observando a arcada afiadíssima de Nagisa, Homura pronunciou. “Eu lhe pergunto bruxa.”

“O quê?”

“Por que não tenta me matar agora?”

“Hã?!”

Homura abriu os braços. “Ora! Eu nem estou a um metro de distância. Eu sei que essa... coisa dentro de você é bem rápida.”

Nagisa balançou a cabeça. “Eu não quero matar você.”

“Não quer me matar... hum?” Homura levantou o queixo e ergueu as sobrancelhas. “Ou porque acha que não consegue?”

Nagisa veio com um olhar determinado, com certo ar de irritação. “Eu já disse a você. Eu quero ficar nesse mundo! Pode parecer errado o que você fez, mas não é, pois foi por algo bom.”

“Hah!” Homura cruzou os braços. “Acredita que haja um resquício de bondade em meu ato? Em mim?”

“Você fez isso por amor! E amor é algo bom!” Nagisa respondeu.

“Fufu...fufu...fufufwahahahahaha!”

Nagisa encolheu um pouco com aquela gargalhada maligna e ainda mais quando Homura aproximou sua face tensa, com os dentes amostras e os olhos esbugalhados.

“Siiiim!! Eu amo Madoka! Ela é preciosa para mim. Sem ela meu desejo nunca se realizaria.” Homura salivava a cada palavra, sua respiração estava forte. “Cada uma de vocês, garotas mágicas, tiveram seu desejos realizados, por mais bobos ou ambiciosos que fossem. Por que eu não? Por que sempre eu devo abaixar a cabeça e aceitar? Enquanto eu viver, ao menos esse desejo será atendido, não importa como ou qual custo.”

A porta se abriu violentamente, revelando as bonecas que aguardavam.

“Se você acredita no que disse, então é tão ingênua quanto ela.” Homura se afastou. “Minhas crianças vão guiar você de volta. Não se esqueça dos sapatos...”

Nagisa colocou os sapatos e foi até a saída. Parou e, de costas para Homura, disse. “Se você acredita no que falou, então é ingênua quanto ao que sente.”

“Oh... Quer discutir sobre ingenuidade? Acho que eu vou dizer algo para você pensar.” Homura fechou os olhos e sorriu. “Eu não sou invulnerável. Se mudar de idéia, eu estarei aguardando a sua tentativa.”

Nagisa saiu e a porta se fechou.

Homura suspirou. “Por que trouxe ela aqui? O que você pretendia com isso?”

O silêncio.

Então passou a mão na boca, para limpar a saliva que escorria. “Não vai dizer nada? Sabe o que isso significa?” Olhou para a escrivaninha. “Que arriscou muito para falhar de novo e provar nada, sua inútil.”

Jafs: Essa cena, mesmo sendo um rascunho, já é bem elaborada. Não poderia ser diferente, sendo que boa parte dessa fanfic explorou a relação entre Homura e Nagisa. O problema nessa cena é que eu não consegui me convencer que Homura não mataria Nagisa imediatamente por estar invadindo um espaço, digamos, mais privativo. Essa cena traz outro elemento que também não fora incluído no enredo: o escudo.

A idéia do plano de Homura de criar um loop temporal para manter Madoka em sua vida escolar por quanto tempo que fosse possível já estava bem definida. As primeiras versões do enredo estabelecia que Homura iria conseguir reconstruir o seu escudo. O problema é que Homura não devia ter conhecimento sobre o funcionamento dele, pois não arriscaria em desmontá-lo (essa idéia acabou sendo aproveitada para a nova versão). Além disso, o escudo tem uma relação intrínseca com o contrato que ela estabeleceu, portanto era questionável se o escudo simplesmente não faria ela retornar para fatídico dia em que ela sai do hospital. Por isso tomei a liberdade de dar mais versatilidade aos poderes de Homura, com um plano de fundo e limitações convincentes, usando o mecanismo do relógio no teto do salão, um dos elementos peculiares da casa da Homura na série original, como sua ferramenta de ofício.

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“Tchau Nagisa-chan! Hidaka-kun!”

“Tchau Ayako-chan. Até amanhã!” Nagisa acenou.

Assim como Aki. “Tchau Kitomono-san.”

Ayako se afastou dos seus dois colegas no portão da escola e foi até a sua mãe.

“Hum... Momoe-san.” Aki estava hesitante em falar.

“Oi?”

“Você... parece mais alegre hoje.”

“Eu?” Nagisa olhou para si própria. “Eu não sei. Será?”

“É... É que eu via você algumas vezes com um olhar perdido, parecia preocupada com algo e hoje não foi assim.” Aki sorriu.

Nagisa corou. “Você me viu... assim.”

Aki arregalou os olhos e ficou corado também. “Ah... Não! Não fiquei olhando para você todo esse tempo... hahaha...” Coçou a testa. “Eu quero dizer que acabei notando... é que... é que...”

“Hidaka-kun?” Nagisa voltou a olhar para Aki.

“É que sinto que eu tenho débito.” Aki ficou olhando para palma das suas mãos. “E eu sinto que devo retribuir.”

“Débito?” Nagisa ficou curiosa.

“Sabe, desde aquele dia que você me chamou de Roquefort.” Aki fez uma pausa. “Talvez seja loucura, aquele momento parecia já estar em minha mente antes, parecia mágico.”

Nagisa franziu a testa. “Seria possível? Hehe...”

“Eu não sei.” Aki balançou a cabeça. “Mas desde aquele dia você e Kitomono-san ficaram próximos de mim. Mesmo sabendo que o Kuroki podia pegar no pé de vocês.”

“Ah! Ayako-chan não gosta do Kuroki, para ela, se isso irritar ele melhor ainda.” Nagisa deu um largo sorriso. “E eu não tenho medo dele também.”

“É... Eu nem me importo com eles também. Nem me importo que me chamem de marica, porque o que importa é como você se vê.” Aki estufou e bateu no peito. “E como homem que eu sou, eu devo honrar todas as minhas dívidas!”

“Ehihi...” Nagisa colocou ambas as mãos sobre a boca e o nariz para conter o riso.

“Hã?”

Nagisa tirou as mãos. “Você é muito dramático, Hidaka-kun.”

Aki esvaziou o peito. “É... talvez.”

“Eu entendi o que você quer, mas não precisa.” Nagisa gesticulou.

“Não mesmo?”

“Não.” Nagisa afirmou. “Vendo você assim, mais alegre, já está bom para mim.”

Aki ficou sem palavras.

Vendo isso, Nagisa exclamou rapidamente. “E para Ayako-chan também!” E, desviando o olhar, ficou enrolando uma mecha de cabelo no dedo.

“Ah... claro... claro.” Aki soltou essas palavras quase que em um suspiro.

“E você não tem que pegar o metrô?” Nagisa questionou, ainda sem olhar.

“Xiii! Sim, eu quase ia me esquecendo. Haha.” Aki, sem jeito, acenou para Nagisa. “Obrigado por me lembrar Momoe-san. É... tchau tchau.”

Nagisa voltou a olhar para Aki e acenou, com um grande sorriso. “Tchau Hidaka-kun.”

Aki respondeu com um sorriso, mas não antes de ficar tão vermelho como os seus olhos. Depois saiu com pressa, quase correndo.

Nagisa colocou ambas as mãos nas bochechas, elas estavam mais quentes que o usual. Ayako tinha razão, era uma graça ver Aki todo encabulado. Será que ele queria ficar mais tempo? Será que ele queria dizer algo mais?

O interesse dele era evidente, assim como os tons que céu ganhava com o entardecer.

Mas pode continuar assim? Não e isso também era evidente. Como aconteceria? Uma confissão? Um momento oportuno? Um acaso? De qualquer forma, o que mais importava era como ela responderia a isso.

Em sua bochecha esquerda, Nagisa sentia a dura superfície do anel em seu dedo do meio.

Ayako achava tudo normal, mas não havia nada de normal. O cheiro de roquefort no ar não deixava dúvidas. Claro que não poderia culpar sua amiga, ela também não conhecia sua natureza, nem o fato de estar morando com uma garota que clamava ser o próprio diabo.

Nagisa juntou as mãos. Felizmente a relação com Homura-chan tem melhorado. Acho que é por isso que estou se sentindo melhor e Aki notou isso. Ele tem muita sensibilidade.

“Nagisa!”

Nagisa viu Sayaka vindo em sua direção.

A garota de cabelos azuis colocou as mãos na cintura e deu uma piscadela. “E então? Gostando da vida escolar?”

Nagisa fez uma careta. Sayaka? Por que ela veio falar comigo? Se Homura-chan me ver com ela... É melhor eu tomar cuidado. “O-Oi? Eu conheço você?”

“Hum... Então não se lembra? Talvez isso ajude.” Sayaka colocou a mão esquerda sobre o peito e aura azul emanou, cobrindo o corpo dela por inteiro. Quando a aura se dissipou, ela já estava em suas roupas de garota mágica, com um sabre na mão direita.

“O-O QUÊ?!” Nagisa ficou completamente surpresa. Sayaka se transformando em público sem hesitar. Ela olhou envolta, procurando por qualquer testemunha daquilo. Contudo as pessoas continuavam com suas rotinas normalmente.

Então começou a cair as primeiras penas negras do céu.

“Ela foi rápida dessa vez.” Sayaka virou-se, já esperando quem ela encontraria.

Homura se aproximava calmamente. “Miki-san, até onde eu me lembro eu pedi para você pensar bem, não para agir com estupidez.”

“Hahaha.” Sayaka pegou uma das penas. “Eu não diria que isso seja estupidez. Não depois da nossa conversinha e vendo você saindo todo dia da escola com a Nagisa, como se ela fosse seu troféu.”

“Troféu? Hum...” Homura puxou o cabelo para trás e sorriu. “E o que pretende fazer quanto a isso?”

Esmagando a pena, Sayaka respondeu. “O que acha?”

“Hum... pessoal...” Nagisa sentia a tensão.

“Fufufu. Por que eu permitiria?”

“Vamos lá, diabinha.” Sayaka apontou o sabre para Homura. “Eu estou com tanta raiva que eu não consigo pensar na sua proposta, preciso desabafar. Ou você é tão fraca que precisa de truques para lidar comigo?”

Homura estreitou o olhar. “Quer lutar, é?” E olhou para Nagisa. “Acho que posso lhe dar o que pede...”

Um vento forte levou embora todas as penas, assim como as três garotas que estavam nos portões.

Jafs: A idéia de Nagisa começar a sair da escola com Homura pelo topo veio de forma tardia durante o planejamento do enredo. Se Nagisa continuasse esperando no portão da escola, Homura teria que lidar com vários problemas, como evitar que a pequena bruxa topasse com Mami, além do fato das testemunhas quando ela saísse voando com Nagisa dali (Andar? Fufufufu...). A cena acima ilustra bem o que provavelmente aconteceria no capítulo ‘Castelo de cartas’ se eu não tivesse essa idéia.

/人 ‿‿ 人\

Primeiro veio o cheiro de borracha queimada. Depois a dor e então uma luz cegante.

Nagisa levantou a mão esquerda para proteger os olhos até eles se acostumarem. Sua cabeça girava. A luz parecia vir de um buraco no teto.

Não. Não era um teto, assim como não era um buraco.

Era uma janela, com o vidro quebrado, da porta de um veículo capotado.

Onde?

Logo outra pergunta veio em sua mente, quando prestou a atenção na sua mão.

Onde está o meu anel?

Respirando com dificuldade e com uma dor pulsante nas pernas, Nagisa tentou erguer o corpo. “Hgnnah!” Pousou sua mão no ombro direito, no qual ela estava deitada sobre.

Eu devo ter deslocado, não consigo mexer meu outro braço.

Então sentiu o chão ficando molhado na altura das pernas. Nagisa virou o pescoço dolorido o melhor que pôde para enxergar.

Ela arregalou os olhos. Sua perna esquerda estava retorcida, seu pé virado em uma posição impossível. A perna direita não era possível ver, pois a da esquerda estava na frente, mas pela dor não devia estar melhor. Uma poça de sangue se formava lentamente.

Nagisa segurou o choro, testemunhar aquilo parecia ter trazido mais dor. Uma sensação que antes podia ser esquecida com magia, agora parecia ter voltado para ficar, cobrando juros.

“So...Socorro...” Era para ser um grito, mas saiu mais como um sussurro. Estava fraca, sentia vontade de fechar os olhos e dormir para ver se aquela dor passava...

...eu estou com medo de dormir e não acordar mais...

Uma lembrança da sua mãe, em seu leito no hospital, fez ela logo desistir dessa idéia. Ela tinha que lutar, procurar uma forma de sair daquela situação.

Buscando prestar a atenção em qualquer coisa, ela observou a frente do veículo. Estava em uma situação muito pior, o teto havia abaixado, as poltronas foram arrancadas do lugar. No meio daquele amontoado de ferragens e sangue, podia-se ver de relance duas pessoas que não se moviam.

Foi então que ouviu o som de algo andando sobre a lataria. Uma sombra veio da janela. Nagisa viu que era uma pessoa em pé, mais especificamente uma garota de cabelos e olhos rosas. Vestia uma roupa que lembrava mais de uma bailarina, com uma saia cheia de babados. As cores do vestido eram majoritariamente rosa e branco, mas a sua frente tinha um tom amarelo. Havia um laço vermelho amarrado ao seu pescoço, mesma cor das suas sapatilhas de salto. Preso ao laço estava um pingente com gema rosa em forma de gota. Suas mãos vestiam luvas brancas e uma delas segurava um arco que assemelhava ao ramo de uma planta. Para completar usava dois vistosos laços rosas em seu cabelo, um para cada rabo de cavalo.

Nagisa estendeu o braço que podia mexer. “Ma... doka.”

“Nagisa-chan?!” Madoka expressou com surpresa e apreensão. “Oh não!”

Nagisa, não conseguindo mais manter, deixou o braço cair.

“Agüente firme!” Madoka cerrou o punho, com um olhar determinado. “Eu vou salvá-la desse infortúnio.”

Um líquido viscoso escuro começou a escorrer pela janela. No começo era umas gotas, mas logo tornou-se uma cachoeira. Vendo aquilo caindo sobre ela e inundando rapidamente o veículo, Nagisa levantou a cabeça o máximo que conseguia. “Ah... ah...”

“Isso não precisava acontecer.” Madoka balançou a cabeça. “Nem sequer precisava existir.”

Aquele óleo, aquele piche, continuava a subir. Mesmo com a cabeça erguida, Nagisa se viu obrigada a prender a respiração.

Madoka se agachou para olhar mais de perto e sorriu de forma alegre. “Não se preocupe, Nagisa-chan. Você fez muito por mim, já sofreu demais, pode descansar agora.”

Essa foi a última coisa que Nagisa testemunhou antes de sua visão e consciência desaparecerem.

Jafs: Conseguem adivinhar aonde essa cena aconteceria?

Nagisa sofreu muito nessa fanfic, devo admitir. Será por que inconscientemente considerei que ela não sofreu o suficiente no Rebellion? Especulações a parte, não foi por isso que cortei essa cena *insira sua risada diabólica aqui*.

Eu estava com a idéia sobre o compartilhamento de aflições ter um sentido mais literal. O motivo pelo qual não fui adiante com isso nessa fanfic é que daria muitos spoilers sobre o que estava acontecendo e eu precisava de um enigma.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado desse capítulo e da fanfic. Como puderam ver no epílogo, a “Desconexão” acabou, mas a história não. A seqüência, "Visionária", já se encontra nesse site!



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