Desconexão escrita por Jafs


Capítulo 18
Sacrifício




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/554741/chapter/18

“POR QUE NÃO ME AVISOU?”

Homura sobrevoava Mitakihara, furiosa e frustrada: por algum motivo, não estava conseguindo ser mais rápida. Rajadas de ar atingiam seu rosto com força e esvoaçavam seus longos cabelos negros.

“.rivuo em siam aireuq oãn euq essid êcoV

“Não me faça de boba! Por que não me avisou antes?”

.romA

“O que quer dizer com isso? Não entendi.”

.árednetnE

Homura rangeu os dentes, seu rosto tremia coma raiva. “Sua inútil! Será que ainda devo confiar em você?”

Mesmo naquela velocidade, não faltaria muito para ela chegar ao seu destino.

/人 ‿‿ 人\

Madoka estava sentada, observando seus arredores. O grande palanque feito de madeira onde ela se localizava oferecia uma visão privilegiada daquele grande salão. Ao contrário do resto do salão, o palanque era bem iluminado graças ao luar que atravessava os imensos vitrais. Parecia ser uma construção antiga, onde os entulhos no chão e os vitrais quebrados davam claros indícios de abandono.

“Quer um?” Kyouko, de pé, estendeu a mão com uma mini-barra de chocolate. “Eu trouxe o suficiente pra passarmos a noite.”

Madoka abaixou a cabeça e falou em tom baixo. “Eu só quero voltar para casa...”

“Tu não vai voltar. Isso é pode ter certeza.” Disse Kyouko com seriedade.

“Mas eu não lembro de nada.” Madoka balançou a cabeça. “Eu já me esforcei.”

“Tem que se esforçar mais!” Kyouko disse com irritação. “Eu mostrei que sou uma garota mágica, disse sobre a Leis dos Ciclos e que você precisa voltar para lá. Te contei tudo que precisa saber!” Então ela suspirou. “Dá pra ver que ela detonou os seus miolos legal hein.”

“Você está se referindo a Akemi-san?” Indagou Madoka, fechando os olhos.

“É. Como eu falei, ela traiu você e quis ferrar com a gente.” Kyouko ficou alisando o bastão da sua lança.

Madoka colocou as mãos no rosto. Falou em tom choroso. “Isso é muita loucura. Não pode ser verdade. Deve ser outra pessoa, você está enganada. Por favor...!”

“Levanta!” Kyouko ergueu Madoka pela gola do uniforme e fitou ela com olhos ameaçadores.

“Eu acredito! Eu acredito! Eu acredito! Não me machuque.” Madoka virou a face.

“Olha aqui!” Kyouko chacoalhou Madoka para trazer sua atenção de volta. “Você sabe quem é Sayaka Miki? Huh?”

“Ela senta ao seu lado na sala. Ela é sua amiga, não é...” Madoka tremia de medo temendo pela resposta que havia dado.

“Cê tá certa.” Respondeu Kyouko, mas sem acalmar os ânimos. “Só que não é só isso. Ela sua amiga e faz parte da Lei dos Ciclos também.”

“Ela é minha amiga...” Aquilo soou para Madoka como uma grande ironia, considerando sua dificuldade em se adaptar na escola.

“Ela tá agora mesmo encarando a Homura Akemi, ganhando tempo pra nós.” Kyouko então arregalou os olhos. “Entendeu? Ela tá arriscando a vida e tu vai ter que se lembrar.”

“Escolheu um lugar apropriado para lidar comigo.”

“Merda!” A voz que ecoou pelo salão alertou os sentidos de Kyouko. Ela soltou Madoka e segurou com firmeza sua lança, olhando para todos os lados. “MADOKA! VOCÊ TEM QUE SE LEMBRAR AGORAAA!!”

Tomada pelo pânico, Madoka pulava e gesticulava. “Kyaah! Como? Eu não consigo! Não tenho nada!”

Os sons de passos sobre os degraus de madeira, que levavam até o palanque, fizeram Kyouko reagir. Ela puxou Madoka e as duas ficaram o mais longe possível da origem daquele som.

Logo, no outro lado do palanque banhado pelo luar, surgiu a figura de Homura em seu uniforme escolar.

Kyouko apontou a lança. “Tá vendo Madoka? Agora acredita?”

Madoka tomou a frente de Kyouko, suas mãos junto ao peito. Para ela, Homura não parecia ser tão ameaçadora quanto a garota que portava uma lança. “É-é verdade o que ela disse, Akemi-san?”

Os olhos de Homura brilharam, não que as outras duas pudessem notar a partir daquela distância. “O que ela disse?”

“Ela disse que...que...hmmm” Madoka ficou com o olhar perdido.

“Madoka?” Disse Kyouko.

“Era algo sobre garotas... mágicas... é... mágicas.”

Homura ficou surpresa. Não era para ela estar se lembrando.

“Como assim!” Kyouko pôs a mão no ombro da Madoka. “Cê ta de brincadeira né?”

“Ah! O que é isso?” Madoka arregalou os olhos ao ver a lança de Kyouko. “Você é da minha sala. O que vai fazer?”

“Droga! Ela já mexeu com a sua cabeça.” Kyouko olhou de relance para Homura e depois voltou para Madoka. “Tente se lembrar, lute contra isso.”

Porém, com medo, Madoka começou a dar passos para trás.

“Kaname-san!”

Madoka atendeu ao chamado de Homura.

“Não dê ouvidos a ela!” Kyouko ordenou.

Homura continuou “Isso tudo é apenas um sonho ruim. Um mero pesadelo. Se lembra do que estava fazendo antes? O trabalho de geografia.”

“Trabalho de geografia...” Madoka ficou piscando os olhos.

Olhando Madoka naquele estado, Kyouko ponderou. Ferrou.

“Uhum! Um trabalho muito cansativo. Você estava em sua escrivaninha fazendo ele quando...quanggn...” A visão de Homura embaçou, suas pernas fraquejaram.

Madoka fez um careta, estranhando. “Não. Eu ainda não tinha começado.”

Homura se recompôs. O que está acontecendo comigo?

Então Madoka deu um leve sorriso. “Sim, é um trabalho muito cansativo, mas preciso terminá-lo. Eu preciso acordar desse sonho. Ah!” Foi quando sentiu um braço envolvê-la na altura do peito e puxá-la.

“Vamos ver se tu acorda mesmo.” Kyouko agarrou e colocou a lâmina de sua lança rente ao pescoço da Madoka.

Homura segurou a respiração. “O que significa isso?”

Kyouko deu uma risadinha. “Heh. O que tu acha?”

“Aaah! Socorro. Mãe! Pai! Me acordem. Uuuuaaahhhh!!” Madoka ficou aos prantos.

“Você... não ousaria.” Homura disse cofiante.

Kyouko largou Madoka.

Em um primeiro momento, Madoka deu alguns passos para frente. Contudo parou. Para onde iria? Naquele lugar estranho e escuro, com duas garotas da sala que ela conhece tão pouco. Ela nunca chegou a trocar palavras com as duas. Ao menos Homura não estava armada...

Uma forte pancada em sua nuca foi a última coisa que sentiu antes da imagem de Homura Akemi, desesperada, desaparecer sob um véu negro.

“MADOKAAA!!” Homura avançou.

A autora do golpe, Kyouko, segurou Madoka pelo cabelo antes que ela desabasse no chão e voltou a por a lança no pescoço. “Relaxa aí! Ela só foi dar um cochilo. Cê fez ela ficar muito chorona, viu?”

Homura obedeceu, parando.

“Com quem tu acha que tá falando? Com a Mami? Sayaka? Hum?” Kyouko estava intimidadora. “Eu vou deixar bem simples pra tu entender. Para de brincar de casinha de boneca ou a rosinha morre.”

“Kyouko Sakura... Isso foi longe demais.” Rancorosa, Homura fez um estalo com os dedos da mão esquerda. Além do som, nada mais aconteceu. Atônita, ela tentou várias vezes.

Kyouko sorriu. “Legal. Eu também sei fazer isso.”

Homura não acreditava no que estava acontecendo. Ela então olhou para topo da mão esquerda, onde estava sua gema em forma de losango.

“Nada de magia!” Kyouko fez questão de deixar a lâmina mais próxima do pescoço da Madoka.

A gema violeta estava opaca, apagada, quase preta. O olhar de Homura cresceu. Meu poder tem limite? Mas onde e como...

.romA

O coração apertou, era como se estivesse de volta ao hospital. Só que agora não era uma doença injusta. Estava claro para Homura que aquela dor era mais do que merecida. “Eu cometi o maior dos pecados. O que eu fui fazer...” Balbuciou.

.adnia mim a met êcoV

Homura, com uma respiração curta, continuou falando baixo. “Era tudo o que você queria, não é?”

.akodaM regetorp oreuq uE .sues oãs sorre sO

“Não... eu não vou me entregar.”

“Ei! O que cê tá cochichando aí?” Kyouko estava impaciente. “Onde tá a Sayaka?”

Eu preciso de tempo, talvez meus poderes voltem. Homura voltou a sorrir. “Ela está viva, isso é tudo o que você precisa saber. Por falar nela, o que acha que ela vai pensar quando souber o que você anda fazendo com a Madoka.”

“Cê andou abrindo umas feridas antigas dela, então ela veio com esse plano de distrair você enquanto eu tentava fazer a garota aqui se lembrar.” Kyouko deu uma olhada em Madoka, completamente desacordada, assemelhava-se a uma marionete. “Eu achei o plano meio fraco e bolei esse plano B. Heh. Qualquer coisa eu digo que foi culpa sua, ela vai acreditar na hora.”

Homura cerrou os punhos. Era extrema até para Kyouko essa atitude, mas era preciso considerar as circunstâncias da ocasião. “Eu não sei o que Miki-san disse a você, mas pense bem. O que aconteceria se eu tivesse sido levada?”

“Essa é uma pergunta difícil. Deixa eu pensar.” Kyouko fez uma careta, querendo expressar esforço, mas não era muito convincente. “Você ia tá numa boa junto com a sua Madoka em um ‘E eles viveram felizes para sempre...’. É... é por aí.”

“E Kyuubey?” Homura indagou.

“O que tem o branquelo?”

“Ele não testemunhou a Lei dos Ciclos atuando, mas ele sabe sobre a Madoka. Você acha que ele iria desistir?” Homura apontou para Kyouko. “Você e a Mami seriam as próximas, pois vocês também têm recordações dela agora. E se ainda não conseguisse, ele tentaria com cada garota mágica que vocês tiveram contato. Pior, ele poderia até mesmo usar a família dela.”

Homura apontou para si própria. “Por isso fiz o que era necessário.”

Kyouko não escondeu sua indignação. “Tu é muita cara de pau hein? Se diz ser a heroína quando na verdade tá por trás de tudo.”

“Como é?” Homura ficou curiosa.

“Sayaka me contou tudo, sua traíra.” Kyouko expressou com um sorriso ameaçador. “Foi tu que contou tudo pro branquelo. Falou sobre a Madoka, sobre as bruxas... todas as suas memórias. Eu não ligava muito pra aquele bicho, Mami até achava ele fofo. Agora tu... ah... cê sabia muito bem com quem tava lidando.”

Homura desviou levemente o olhar para baixo.

Kyouko vociferou. “DESGRAÇADA! CÊ ENTREGOU A GENTE DE BANDEJA POR CAUSA DESSA GAROTA.”

Homura veio com um olhar inquisitivo para Kyouko. “Você ainda se lembra da sua irmã?”

Aquela pergunta mexeu ainda mais com os brios da Kyouko. “QUÊ! Como sabe da minha irmã, nunca te contei.”

“Não me contou dessa vez.” Homura continuou firme com sua questão. “Se lembra dela? Da sua família?”

“Claro que eu lembro!”

“É? Tem certeza?” Homura pressionou.

“Vá se ferrar! Onde cê quer chegar.”

“Pois eu não.” Homura tinha um semblante triste. “Eu não me lembrava da Madoka.”

Kyouko ficou surpresa. “Hã? Mas cê vivia falando dela.”

Homura continuou, melancólica. “Eu ouvia ela, mas não tinha certeza se aquela era a sua voz. Eu via ela, mas não tinha certeza se aquela era sua imagem. Eu sentia ela, mas não tinha certeza se aquela era sua presença.” Uma única lágrima desceu pela sua face. “Sabe qual o problema das memórias? É que é difícil discernir a realidade da ficção.”

“Heh. Esse é o mesmo dilema que muitas pessoas passaram por aqui.” Kyouko olhou para os arredores do salão da igreja. “Meu pai dizia que isso era uma questão de fé.”

“E se um dia sua fé falhasse, Kyouko Sakura? Você procuraria por registros da sua família. Textos, fotos, gravações. Não faria?”

Kyouko ficou em silêncio diante da pergunta de Homura.

“Fufu.” Homura deu riso sem graça. “É o que eu fiz. Kyuubey era o único que poderia me ajudar.”

“É...” Kyouko ergueu as sobrancelhas. “Ele te ajudou mesmo.”

Homura olhou de relance para sua gema. Continua igual. Depois, levando em conta o tom irônico na afirmação da Kyouko, ela começou a contar. “Eu e ele discutimos sobre o contrato que Madoka fez e a possibilidade de provar sua existência através dela. Kyuubey concluiu que a forma mais lógica seria comparar as diferenças entre as minhas memórias e o universo.”

Kyouko desconfiou. “Tu tá de enrolação né?”

“Não é muito complexo, pois as diferenças, que eu e Kyuubey apelidamos de distorções, não são muitas.” Homura então respirou fundo. “A primeira distorção é quanto à existência da Madoka. Não havia qualquer traço de sua passagem nesse mundo, aparentemente.”

“Bem, isso não é novidade alguma.” Kyouko mantinha a lança em sua posição, mesmo que Homura não apresentasse intenções hostis. Sabia que se desse qualquer abertura, poderia perder o controle da situação.

“Viu? Muito simples.” Homura continuou. “A segunda distorção se refere aos demônios.”

“Kyuubey falou que eles representam a ‘maldições dos humanos’. Cê me disse que esses caras substituíram as bruxas.”

“Pois é, porém tanto eu quanto Kyuubey acreditamos estar enganados.”

Levou alguns segundos para Kyouko processar aquela declaração. “Como assim?”

“É verdade que os demônios vão até onde os humanos estão mais concentrados. Porém Kyuubey me revelou que havia grandes conglomerações de demônios surgindo em lugares remotos, longe de qualquer civilização.” Então Homura sorriu. “Logo conclui que deveria existir outra fonte geradora deles. Compreender esse processo poderia trazer evidências que provariam que Madoka existe. Kyuubey disse que nenhuma garota mágica chegou a tentar isso e seria muito arriscado. Lutar contra demônios em uma cidade é diferente do que em um deserto, selva ou montanha. Só que eu não tinha nada a perder.”

“Então foi por isso que tu deixou a cidade. Heh.” Kyouko mordiscou o lábio com o canino. “E foi durante uma dessas lutas que ele te pegou né. Tu caiu na armadilha dele.”

“É... eu cai.” Homura abriu um sorriso malicioso. “Mas há uma terceira e última distorção, uma que não compartilhei com ele.”

Kyouko fez uma careta. “É? Qual?”

“Eu, mais especificamente a minha existência como garota mágica.” Homura olhou para a Madoka desacordada. ”Você sabe que o meu contrato tem relação direta com ela.”

“Nem precisa dizer né. Cê só falava sobre isso. Até perguntei pro Kyuubey e ele disse que não se lembrava de ter feito contrato contigo.”

“Sim. Imagine acordar um dia no hospital, descobrir que é uma garota mágica e sua única lembrança é o desejo que você fez.”

“É.” Kyouko concordou. “Isso deixaria qualquer um louco, mas tu lembrou, não foi?”

Homura balançou a cabeça, afirmando. “Quando Miki-san foi levada, quando eu testemunhei pela primeira vez a Lei dos Ciclos atuando, as coisas ficaram mais claras. Contudo isso levantou uma questão...”

Kyouko ficou muito curiosa.

“Como meu desejo é possível em um universo no qual Madoka nunca existiu como pessoa?” Homura continuou, agora mais séria. “Isso é uma aberração das leis de causa e efeito. É bem verdade que o desejo que Madoka fez por si só desafia a causalidade, porém ele só se aplica quando você se torna uma bruxa e não quando se torna uma garota mágica...”

“AHHH!” Kyouko voltou a fazer caretas de novo. “Isso tá ficando complicado. Fala na minha língua!”

“Isso foi algo que fiquei pensando desde que recuperei as minhas memórias e me veio uma hipótese: e se meu desejo não fosse uma anomalia? Para isso ser verdade, a primeira distorção que lhe contei teria que ser falsa.” Em um gesto com a mão, Homura apontou para Madoka. “Eis o resultado dessa idéia.”

“Então essas duas distorções eram falsas.” Kyouko pensou por um momento e logo arregalou os olhos. “Peraí... peraí... Você já estava acreditando na existência de Madoka antes de...”

Homura deu um singelo sorriso.

“Cê usou Kyuubey!”

Homura respondeu. “Você tem razão em dizer que eu sabia muito bem com quem eu estava lidando, mas não. Não da forma que seus olhos acusadores estão expressando. Eu apenas aproveitei as oportunidades que se apresentaram.” Então ergueu as sobrancelhas. “Você conhece muito bem esse aspecto, não é Sakura-san?”

Kyouko sorriu. “Heh. Sim, mas eu normalmente não me intrometo na vida do mundo inteiro. E quanto aos demônios?”

“O que têm eles?”

“Também é uma dessas distorções falsas?”

“Caçar demônios nesses lugares remotos provou ser uma tarefa infrutífera.” Homura disse em tom de decepção. “Esse mundo eu criei com a idéia deles ficarem de fora, mas a tal fonte geradora, se ela existe, de alguma forma conseguiu entrar. Mas não importa, eu consigo lidar com eles.”

“E tá fazendo isso sozinha?”

“Sim e se isso mantiver Madoka feliz e protegida, continuarei fazendo para todo sempre.” Homura aproveitou o relaxamento de Kyouko para cruzar os braços, assim poderia ver facilmente a gema sobre a sua mão. “Você deveria se sentir agradecida.”

Apesar de menos tensa, Kyouko mantinha firme sua lança em Madoka. “Até sinto, posso tirar umas sonecas a mais.”

“Não é só isso. Hum? Caçar eles lhe trazia lembranças muito ruins.”

“Tch.” Kyouko não gostou do que ouvira.

“Você caçava eles para manter sua gema limpa e apenas isso. Ter que sentir essa dor todos os dias para sobreviver. Essa sua vida era uma droga, não?” Homura pendeu a cabeça para o lado.

Kyouko abaixou o olhar por um momento. “Pode apostar que sim.”

“Agora não precisa mais seguir essa rotina, eu desejei e lhe dei um futuro muito melhor. Portanto eu pergunto a você Kyouko Sakura.” Homura estendeu seu braço direito. “Você dá valor ao mundo? Você considera a estabilidade e a ordem mais importante que o desejo?”

Kyouko pensou por um momento que pareceu uma eternidade. A luz da lua testemunhou quando ela formou um sorriso. “Heh. Foda-se o mundo.”

Homura compartilhou o sorriso, triunfante.

No entanto, aquela mesma luz testemunho quando Kyouko estremeceu sua face em fúria. “E foda-se VOCÊ!”

A lâmina passou pelo pescoço de Madoka.

“NNÃÃÃÃÃOOOO!!!” Homura contorceu todo seu corpo em um berro.

“FICA AÍ! EU NÃO CORTEI A ARTÉRIA AINDA.” Kyouko puxou mais o cabelo de Madoka para esticar seu pescoço. O sangue escapava pelo corte, manchando o uniforme dela de rubro e caía até ser absorvida pela madeira do palanque.

“POR FAVOR!” Homura gesticulou e foi avançando.

“EU DISSE PRA FICAR PARADA!” Ao ver que Homura obedeceu, Kyouko abaixou a voz. “Tá vendo a cagada que tu fez? Tá vendo?”

Homura tentava segurar o choro. Se ao menos tivesse uma arma, seu escudo, qualquer coisa, mas agora ela era tão impotente quanto já fora uma vez.

“.mim a met êcoV

“Não. NÃO!” Homura negou mais uma vez.

“Sayaka me disse que tu é má.” Kyouko tinha que segurar a lança com mais firmeza ainda, pois uns meros centímetros a mais e o ferimento seria fatal. “Sabe o que eu acho? Que cê é uma burra, uma inútil.”

Homura colocou a mão nas cabeças, suas pernas estavam bambas. “Burra... inútil...”

“É assim que pretende proteger aqueles que ama?” Kyouko falou com desdém. “Madoka é mortal. Tu tornou uma divindade eterna mortal. Sacou?” Desatou a rir. “Bwahaha. Tu é uma piada mesmo. Com um ‘guardião’ desses, eu prefiro dormir na mesma cama que meu inimigo.”

Homura continuava desnorteada. “Não... não foi para isso... que eu carreguei todos esses pecados.”

?seõçadrocer saus sad akodaM a asse é oãN ?oãN

Homura arregalou os olhos.

?ojesed ues o zef êcov euq uerrom ale euqrop iof oãN

.oremêfe é euq o somamitse sóN

“.ocsonoc átse oãn odnauq edaduas somitnes sóN”

.eçnacla osson oa etnemavon ret ed açnarepse E

.oãçneb amu é etrom a que ossi roP

.roma ues od esab a é euq ale É

“Eu concordo plenamente.” Homura respirou fundo e se recompôs.

“É? Concorda mesmo?” Questionou Kyouko.

“Uhum. Fufufu...” Estendendo a mão esquerda, Homura conjurou sua gema da alam em forma de coroa. Não emitia brilho algum.

Kyouko voltou a ameaçar. “Ei! Tá querendo que ela morra?”

Então Homura arremessou a sua gema. Eu não mudei...

A gema foi quicando pelo chão.

...eu só trago problemas para os outros, sem exceções,...

E quicando.

...e isso sempre irá se repetir...

Até que ela chegou aos pés de Kyouko. “O quê?”

“Destrua isso e vocês estarão livres.” Instruiu Homura.

Kyouko ficou olhou para gema e depois para Homura. “Mas isso se parece com uma gema da alma. Se eu quebrar...”

Homura sorriu.

Kyouko vociferou. “Droga Homura!”

“!?odnezaf átse euq O

.ogirep árerroc akodaM ,êcov meS

“E comigo, muito mais.” Homura rebateu.

“Como é?” Kyouko não entendeu o sentido daquela afirmação. “Merda! Tem que ter outra maneira!”

“Não há.” Homura semicerrou o olhar. “Ou você não tem coragem?” E começou a caminhar lentamente.

“E-eu disse pra ficar parada! Eu juro que mato ela!” Kyouko mexia os dedos da mão que estava segurando a lança.

Homura continuou se aproximando. “Não precisa mais dela, eu estou a sua mercê.”

Kyouko voltou a olhar para gema no chão.

“.ojesed ues riart edop oãN !ritsised edop oãn êcoV

“...atrefo ahnim a eredisnoceR

“Cala a boca, bruxa! Eu não estou traindo meu desejo, eu não quero mais trair!” Homura parou e arrancou o brinco de sua orelha, segurando-o com força.

“Com quem cê tá falando?” Kyouko estava assustada.

“Kyouko, por favor! FAÇA!” Homura voltou a andar e implorou. “Proteja Madoka de mim...”

Kyouko acenou com a cabeça, apertando os lábios. Com cuidado, retirou a lança do pescoço ensangüentado da Madoka e apontou contra a gema. Nesse momento começou a tremer e perder a forças. “Merda. Merda! Não é pra terminar assim. Esse não era o meu plano, Homura.”

“FAÇA!” Homura estava a poucos passos de Kyouko. Forçou um tom de malícia em sua voz, que estava sendo traída pelas suas lágrimas. “Eu disse que Miki-san estava viva, mas não disse como. Fufu. Eu quebrei cada parte do corpo dela. Imagine o que vou fazer com você.”

Mesmo se fosse verdade, aquilo não foi o suficiente para acender a fúria que Kyouko precisava para superar o remorso que já estava sentindo. Ela respirou pela boca seguidas vezes e pensou na Sayaka, na Mami e até na Bebe, onde quer que ela estivesse agora. E em Homura, aquela garota tão isolada, tão fechada em si própria. Agora que ela estava na sua frente, com seu peito aberto, com seu coração à mostra dilacerado pelas verdades desacreditadas e pelas mentiras aceitas, finalmente, porém tarde, o mistério se desfez.

Ao menos, Madoka não testemunharia o seu ato. “Desculpe.”

“Não precisa, Kyouko-chan.”

Kyouko parou, não somente por ouvir a voz de Madoka, mas pelo fato de tudo estar desaparecendo. Madoka, Homura, a igreja, tudo isso deu lugar para estrelas, cometas, galáxias e nebulosas.

Kyouko estava sozinha em pleno espaço sideral. “QUÊ!” Flutuando, sem nenhum senso de direção, ela se agarrou a sua lança assim como um náufrago se agarra aos destroços.

“Aaarrrgh!” Sem mais nem menos, um forte puxão em seu rabo de cavalo causou tanta dor que a fez fechar os olhos com força.

Kyouko sentiu que a gravidade havia retornado antes de abrir os olhos. Tamanha foi sua surpresa ao ver que estava sendo segurada pelo cabelo, por uma Homura com asas e um vestido negro revelador, à beira de um precipício. Abaixo de seus pés a escuridão, parecia uma queda sem fim.

Tentou usar sua lança contra Homura, mas Kyouko se viu sem ela. Suas roupas voltaram a ser aquele sufocante uniforme escolar.

Desacordada sob o solo gramado, Madoka estava atrás de Homura. Aparentemente ela havia parado de sangrar, era difícil dizer se isso era um bom ou mau sinal. Contudo Kyouko tinha uma certeza: ela havia falhado.

A malícia estava estampada na face de Homura.

Kyouko constatou que ficar dependurada pelo cabelo não era uma experiência agradável, mesmo assim sorriu. “Heh. Gostei do vestido, vadia.”

Homura não deu nenhuma resposta, apenas soltou e viu Kyouko desaparecer sob aquele mar negro.

/人 ‿‿ 人\

“Homura-chan estava tão aflita.”

Nagisa sobrevoava Mitakihara em sua bolha, pensando alto.

“Deve ser algo com a Madoka. Com certeza.”

Paz, era tudo que Nagisa desejava naquele momento. Paz para todos, inclusive Homura, especialmente Homura.

“Ela já se esforçou tanto... isso nunca tem fim?”

Antes da luta contra a Sayaka, tudo estava indo tão bem. Homura parecia estar bem mais contente, com vontade de seguir adiante, de viver.

Isso contrastava e muito com aquele momento em que Homura havia se tornado uma bruxa. Nagisa conhecia bem essa dor. Sayaka também, mas ela considerava isso um passado.

Só que a dor volta, sua mãe é a prova disso. Sua maldição. Se é algo que ela aprendeu e ensinou com Homura, foi o fato de compartilhar o sofrimento juntas, para que ninguém guarde consigo um peso que o esmagaria.

Homura-chan, eu vou salvar você.

Nagisa sorriu, mas não por muito tempo. Logo sentiu o uso intenso de magia. Aquilo a deixou alerta. Não estava muito longe... era... na casa da Homura?

/人 ‿‿ 人\

O grande salão, todo branco com linhas vermelhas, havia se tornado um campo de batalha. Crateras e montanhas de escombros eram parte da nova ‘decoração’. De um lado desse embate estavam seus moradores e do outro uma garota mágica.

“AAAAKKKEEEMMMIIII-SSSAAANNN!!!”

Mami Tomoe, em seu traje de garota mágica, se viu novamente obrigada a desviar de grandes alfinetes negros. As bonecas lançavam como se fossem mísseis e não parecia ser diferente, pois explodiam ao menor contato.

Procurando pela cidade toda por Homura, sua gema da alma lhe trouxe a esse lugar. Reconhecendo o fato que era a residência da garota de cabelos negros compridos, Mami acreditou estar mais perto do seu objetivo. Grande foi a sua surpresa quando a sua gema encontrou um estranho portal mágico e, infelizmente, quando se deparou com um ‘comitê de boas-vindas’.

Quando os primeiros alfinetes tocaram no chão e explodiram, Mami já estava longe. Contudo mais cinco alfinetes já estavam a caminho, eles mudaram a trajetória em pleno ar e estavam próximo demais.

Mami deslizou a ponta da sua bota, formando uma linha imaginária na sua frente e recuou. Da linha imaginária, uma grossa rede feita de laços se ergueu, bloqueando os alfinetes, mas realmente estavam próximo demais...

“AAAAHHHH!!!”

As explosões arremessaram Mami para trás, fazendo ela capotar sobre o chão duro. Sem demora, ela deu um impulso assim que firmou os pés para desviar de mais uma saraiva de alfinetes.

Homura não aparecia, só havia essas malditas bonecas. Mami se lembrava de ter lutado contra elas na batalha pela libertação de Homura. Eram oponentes formidáveis, que impuseram dificuldades contra um time de garotas mágicas, e que agora ela tinha que lutar sozinha.

A única forma de compensar tamanha desvantagem numérica seria com mobilidade, mas aumentar as capacidades físicas de seu corpo além dos limites estava custando caro para a sua reserva de magia. Mami precisava pensar em algo e rápido.

Ao olhar para alto, teve uma idéia, mas antes precisaria distrair suas adversárias. Ela pegou sua boina e jogou para o alto. De dentro da boina começaram a sair vários mosquetes.

As bonecas, sem tardar, rodopiavam e lançavam novos alfinetes.

Mami deu um salto para escapar das explosões e com um laço que saiu da sua mão, ela capturou cada mosquete ainda no ar. Quando a boina pousou com precisão em sua cabeça, ela tinha em sua posse um feixe de mosquetes amarrado com um laço.

Como se fossem uma única arma, os mosquetes disparam contra as bonecas. O coice foi forte o bastante para impulsionar Mami até a parede atrás dela.

O tiro não foi preciso, mas contra a velocidade daquelas bonecas isso teria sido muito difícil de executar. Algumas bonecas tiveram que saltar para escapar das balas, que atingiram o chão, mas a maiorias delas apenas continuaram a lançar mais alfinetes. Porém, a partir das marcas de balas laços finos começaram a sair e agarram as bonecas. Sozinhas ou com a ajuda das colegas, as bonecas tentavam se libertar dos laços mordendo eles.

Com pés firmando na parede, Mami ficou satisfeita com o resultado. Usando sua magia para concentrar toda a força em suas pernas, ela deu um grande salto, escapando dos últimos alfinetes que foram lançados que acabaram fazendo um grande buraco na parede. O destino daquele salto era um só: um enorme mecanismo de relógio parado no teto do salão.

O que ela não esperava era que uma revoada de pássaros saísse a partir daquele mecanismo com plenas intenções de interceptá-la.

Mami então conjurou um mosquete de grande calibre e atirou. A bala explodiu em pleno ar, espantando os pássaros. No entanto, ao fazer esse movimento, mais o coice da arma, fizeram ela perder velocidade e começar a cair. Rapidamente, ela lançou um laço até o mecanismo.

Algumas bonecas já haviam conseguido se libertar e voltaram a arremessar alfinetes.

Com o laço enrolado em um pino do mecanismo, o mesmo puxou Mami. Os alfinetes acabaram errando o alvo e atingiram o teto, derrubando parte dele.

Agora sobre uma grande engrenagem enferrujada, Mami observava as bonecas lá embaixo.

É melhor eu montar uma barreira logo, vou precisar de tempo para...

Ela notou algo estranho: a bonecas estavam com alfinetes em mãos, mas não arremessavam.

O que fez elas pararem...

Antes de poder cogitar qualquer coisa, Mami ouviu o som do metal vibrando, pois alguém havia acabado de pisar sobre a engrenagem. Em reflexo, ela virou e sentiu a ponta de um alfinete passar de raspão em seu braço esquerdo. Conjurou dois mosquetes, um em cada mão e apontou diretamente contra a face daquela boneca.

Nesse meio tempo pode ver de perto com quem ela estava lutando. Era uma boneca de com vestido negro curto, de cabelos ruivos com uma flor branca com laços pretos como adorno. Seus olhos verdes e vermelhos e os dentes afiados expressavam seu semblante ameaçador.

Puxando o gatilho, os tiros explodiram aquele semblante, ao menos foi isso que Mami pensou. Contudo, apesar de aparentemente serem feitas de cera, a cabeça era dura o suficiente para resistir, ela apenas se desconectou do corpo.

Ainda em sua gargalhada silenciosa, a cabeça rolou e pela engrenagem e caiu lá de cima. Mesmo sem ela, o corpo ainda atacou Mami, mas de forma desajeitada.

Mami só se deu o trabalho de bloquear o golpe com os seus mosquetes e empurrar o corpo. Ela caiu e se espatifou no chão do salão, desprendendo todos os seus membros do tronco com o impacto.

Enquanto aquela boneca caía, outras duas saltaram para chegar até o mecanismo, mas foram impedidas por uma grande barreira de laço entrelaçados que Mami havia acabado de conjurar envolta dele.

A garota mágica não perdeu tempo, reforçou o laço que estava enrolado no pino e amarrou a outra ponta dele em sua cintura. Correu e deu um longo salto, atravessando a barreira, que permitia a passagem dela e de seu laço naturalmente.

Quando laço esticou, chegando ao seu limite, Mami começou a cair. Substituindo o que estava parado, ela era o pêndulo daquele mecanismo. Com grande velocidade, passou próximo do chão e enfiou a sola de suas botas na face surpresa de duas bonecas.

As bonecas tinham noção de mecânica, inclusive balística. Mesmo com seu alvo naquela velocidade, as bonecas lançaram seus alfinetes com plena consciência das suas trajetórias.

Mas a mecânica só pode prever.

Seguindo a vontade de sua magia, Mami rodopiou pelo laço amarrado em sua cintura, como um ioiô voltando para a mão de seu dono. Os alfinetes novamente falharam.

Logo que chegou no limite do balanço e estava prestes a começar a cair novamente. Mami projetou mosquetes a partir do seu busto, que começaram a disparar logo em seguida contra as bonecas. Era necessário pressioná-las nesses momentos em que ela era um alvo fácil.

Passando pelo salão novamente com velocidade, dessa vez Mami estava ainda mais rente ao chão, deitada. Como o cano de um mosquete, deu uma rasteira tão forte em uma das bonecas, que ela rodopiou no ar seguidas vezes antes de dar de cara no solo.

Mami então pisou no chão para mudar a trajetória do balançar, a variedade era o sal da vida. Agora subindo, passando rente a parede, aproveitou o momento do movimento para poder correr por ela. Puxando a ponta da sua saia, fazia cair dela mosquetes que se fixavam na parede e atiravam.

As bonecas correram para se protegerem das balas por detrás dos escombros.

Mami gritou. “AKEMI-SAN! APAREÇA!” Porém, ao invés de Homura, o que apareceu foi uma boca na parede.

Mami quase pisou dentro da boca. Ela saltou da parede e logo viu que a boca pertencia a um dente voador que começou a persegui-la. Ela sacou um mosquete e finalizou aquela criatura sem esforço.

Contudo, para o espanto de Mami, inúmeros dentes começaram a sair da parede. Eles voaram em direção ao laço e começaram a mastigá-lo. Eram muitos para serem eliminados com disparos simples, enquanto balas explosivas acabariam destruindo o laço também.

Sem esperar pelo inevitável, Mami se soltou do laço e deu um mergulho em direção ao chão. Abriu os braços para conjurar alguns mosquetes envolta dela, que atiraram no local onde iria pousar.

Quando as balas atingiram o chão, eles levantaram uma grande cortina de poeira por onde Mami adentrou-se. Por fim saiu da cortina rolando pelo chão.

Quando começou a ficar de pé. Um grande alfinete, empunhado por uma boneca, atravessou a sua coxa, outros atravessaram ao longo do seu corpo e outro até perfurou um dos olhos.

Oito bonecas haviam acabado de empalar Mami. Elas ficaram ainda mais sorridentes, sabendo que sua mestra ficaria contente em terem protegido seu lar.

Exceto uma boneca, que pendeu a cabeça para o lado, curiosa com a expressão da garota mágica.

Apesar da situação, Mami sorriu e deu uma piscadela. Então seu corpo explodiu em um emaranhado de laços, que enrolaram nas bonecas como tentáculos.

Uma forte luz amarela afastou o que restava da fumaça, revelando Mami ao lado de um morteiro com uma boca tão grande que ela poderia caber facilmente.

É claro que não era para ela.

Os laços foram jogando as bonecas, uma a uma, dentro do morteiro.

Os dentes, terminando de remover todos os laços envolta do mecanismo, avançaram em direção da Mami.

Mami apontou o morteiro para o enxame de dentes.

Tiro FINALE!

Com um estrondo, um projétil, composto pelas bonecas presas juntas por laços, subiu até certo ponto e explodiu. Braços, pernas, corpo, cabeça das bonecas voaram para todas direções, destruindo os dentes pelo caminho.

Infelizmente Mami não teve tempo para comemorar, pois uma rajada de alfinetes chegava até ela. Ainda havia bonecas para enfrentar, pelo menos a desvantagem numérica não era tão grande.

Ao desviar da explosão, Mami foi interceptada por uma boneca. Conjurando um mosquete, ela aparou o ataque e atirou a queima roupa.

Enquanto na outra mão surgia outro mosquete, Mami observou duas bonecas vindo por direções diferentes. Ela descartou o mosquete usado com um chute. O mosquete rodopiou no ar, atingindo as pernas de uma das bonecas, fazendo ela cair de boca. A outra foi despachada facilmente com um tiro antes que pudesse tocar na garota.

Enquanto isso uma boneca avançava com um alfinete, pronto para perfurar Mami pelas costas, mas ficou surpresa quando a garota pulou.

Mami pousou sobre o alfinete e deu chute de bico, arrancando a cabeça daquela boneca. Antes que pudesse respirar, mais uma boneca atacou.

Mami segurou alfinete da boneca com as mãos e as duas rolaram pelo chão. Enquanto disputava por aquele alfinete, a garota mágica arregalou os olhos.

Cabelos ruivos com uma flor branca, vestido preto curto, sem dúvida era a mesma boneca que ela havia destruído anteriormente!

De repente, Mami sentiu um súbito poder mágico percorrer o alfinete. Não querendo arriscar, ela usou toda sua força para empurrar a boneca, com alfinete, para longe.

A boneca foi arremessada ao ar para, logo depois, seu alfinete explodir.

Ofegante, Mami se pôs de pé e testemunhou com espanto: uma colega estava ajudando a colocar de volta a cabeça da boneca que ela havia arrancado com um chute. Braços, pernas, corpo, cabeça das bonecas que ela havia lançado com o morteiro, agilmente rolavam pelo chão para se juntarem novamente. Uma ajudava a outra para dar os últimos reparos.

Novos dentes saíam da parede e tomavam o espaço envolta do mecanismo.

A luta não teria fim.

“AKEMI-SAN! SUA COVARDE! NEM PARA EU VÊ-LA UMA ÚLTIMA VEZ!”

Mami não gritaria mais, estava exausta, era hora de terminar isso.

As bonecas se aproximavam, empunhando seus alfinetes.

Conjurou um mosquete e fechou os olhos.

Pai, Mãe, Bebe... Eu me juntarei a vocês. Cometi erros terríveis, por favor, me perdoem.

“PAREM COM ISSO!”

Aquela voz fez Mami virar de sobressalto.

“Mami...” Nagisa havia acabado de entrar no salão.

Mami correu e caiu de joelho, abraçando Nagisa. Deu seguidos beijos na face de sua protegida. “Bebe! Bebe...”

Nagisa estava estática. “Você se lembrou.”

“Eu achei que eu a tinha perdido você para sempre. Fui tão estúpida.” Mami estava em lágrimas. “Eu jamais devia ter conversado com a Akemi-san. Ela é só maldade agora. Ela fez algo contigo? Torturou você?”

“Eu estou bem Mami.” Nagisa assegurou sorrindo, mas ficou preocupada com as afirmações da Mami. “Homu...”

Mami arregalou os olhos e rangeu os dentes. Ainda de joelhos, ela virou o tronco a apontou o mosquete para as bonecas.

“Não Mami! Deixe comigo.” Nagisa segurou o cano do mosquete.

Mami ficou surpresa com aquilo, ainda mais quando Nagisa adquiriu a sua face de bruxa e deu uma série de grunhidos ininteligíveis.

As bonecas ficaram assustadas e saíram correndo, adentrando-se na primeira porta que encontravam. Os dentes também voltaram rapidamente para dentro das paredes.

Mami não acreditava. “O que... o que você fez?”

Nagisa voltou para sua aparência de menina. “Eu disse que elas eram responsáveis por toda essa bagunça e que a mestra iria voltar logo. Ehihi.”

“Akemi-san não está aqui?” Mami questionou.

Nagisa apenas acenou com a cabeça para confirmar.

“Então vamos!” Mami se levantou e puxou Nagisa pelo braço.

Porém Nagisa não saiu do lugar.

“Temos que ir! Antes que ela apareça.” Mami voltou a puxar Nagisa.

Nagisa continuou a resistir. “Não. Homura-chan pediu para eu esperar aqui.”

“Homura...-chan?” Mami falou bem lentamente, depois balançou a cabeça vigorosamente. Devia ser um engano. “Olha. Se fugirmos agora, podemos sair da cidade. É. Quando ela chegar, já estaremos longe. Podemos... podemos nos esconder e...”

“Eu não posso abandoná-la.” Nagisa interrompeu.

“E vai me ABANDONAR?!” Vociferou Mami, largando o braço de Nagisa com violência.

Nagisa retraiu o braço e passou a mão no punho doído.

Vendo aquilo, Mami abaixou a cabeça e pousou a mão livre em sua têmpora. “Não... não... você não me abandonaria.”

“E-escute!” Nagisa implorou. “Você tinha razão Mami! Homura-chan não é má! Ela só tem dificuldade de confiar nos outros.”

“Homura-chan... Homura-chan...” O mosquete na mão de Mami começou a tremer. “Agora eu sei. Sim. Ela alterou sua memória. A maldita está usando você contra mim!”

“Não Mami! Eu me lembro de tudo! Eu sei da Madoka, da Lei dos Ciclos. Ela não me deixaria saber dessas coisas. Entende?” Nagisa gesticulava freneticamente. Então deu um largo sorriso. “Eu te digo mais: nós podemos ficar juntas. Ela me disse que vai procurar uma família para mim! Eu posso convencê-la a ficar com você e então ela nos deixaria em paz!”

“Hahahahahahaha!!!” Gargalhou Mami, erguendo a cabeça. “É pior do que pensei. Você nem é real.”

“Real? Eu sou real! Você me abraçou.” Nagisa estendeu os braços para Mami, com intuito de abraçá-la.

“Fique longe de mim, Akemi-san.” Mami apontou o mosquete para Nagisa.

“Mami?!” Nagisa retraiu os braços e deixou junto ao peito. “S-sou eu! Acredite em mim!”

“Acha que eu iria acreditar nessa sua história?” Era claramente possível observar a tensão que Mami estava passando pela contração do pescoço. “Você mexe com a realidade. Brinca com o que não é seu. Deve estar gargalhando agora.”

“Por favor... não...” Nagisa implorava, evitando qualquer movimento brusco.

“É claro que está rindo de mim. Essa arma não teria efeito em você.” Mami sorriu. “Mas não vim aqui para isso, apenas para agradecê-la."

"Hã?"

"Você tirou tudo o que eu tinha e, com isso, eu compreendi tudo sobre o que sou, o meu papel.”

“Mami, do que está falando?”

“Um cadáver não faz amizades, nem faz uma família, nem pode amar. Naquele dia que fiz o contrato, eu achei que tinha enganado a morte, mas foi a mim mesma que enganei.” O cano e a coronha do mosquete começaram a reduzir de tamanho, adquirindo a aparência de uma pistola.

Compreendendo as intenções da Mami, Nagisa se jogou contra ela. “Não!”

Mami havia sido rápida: quando a pistola disparou, quase acertou a gema. Ao invés dela, a vítima foi a sua boina, que saiu voando.

As duas caíram no chão.

Mami lamuriou. “Sua maldita...quando eu me lembrar novamente...terminarei isso.”

“Eu não sou ela, Mami! Eu... hã!?” Nagisa arregalou os olhos ao ver aquilo. “Sua gema! Ela está toda escura!”

“...deixa eu morrer...deixa eu morrer...” Mami, com olhos fechados, estava entregue ao desespero.

Ajoelhada ao lado de Mami, Nagisa temia. Ela nunca perguntou a Homura se a Lei dos Ciclos vigorava. O que aconteceria com Mami? Ela seria levada? Ou viraria uma bruxa, ou, pior, morreria?

Homura não estava ali para purificar a gema e não daria tempo para procurar por demônios e seus cubos da aflição.

Nagisa se viu sem escolha. Em sua mão esquerda surgiu a sua semente da aflição. “Mami.”

“...morrer...”

“Eu sei que ainda pode me escutar. Por favor.” A mão esquerda da Nagisa tremia. “Você vai ficar bem, mas eu não sei o que pode acontecer comigo. Por isso eu peço que fuja, corra o máximo que puder. Eu amo você.” Ela deu um beijo na bochecha da Mami.

Nagisa então aproximou sua semente da aflição da gema na cabeça da Mami. Uma energia escura começou passar da gema para a semente.

A expressão tensa e a respiração curta de Mami foram aos poucos substituídas por um relaxamento.

Já Nagisa sentia como se seus órgãos estivessem sendo esmagados. “HHnnnnnggg...”

“...nnnngggggAAAAHHHHH...”

Ao purificar completamente a gema, a semente foi reabsorvida novamente. Nagisa se levantou com dificuldade e começou a recuar, se contorcendo.

“...AAAAAHHHHWWWWWRRRRR...”

Com os pensamentos mais claros, Mami voltou a abrir os olhos. “Bebe?” Ela viu Nagisa com a mão na cabeça, sua face se transformando.

Com seus olhos coloridos e com sua grande boca roxa, cheia de dentes, Nagisa implorou. “FFFUUUUJJAAAAAAWWWRRRRRR!!!”

“Não!” Mami avançou e abraçou Nagisa, não deixando ela recuar mais. “Não depois do que fiz. Eu pensei em coisas terríveis, apontei a arma para você. Não sei o que estava fazendo, mas eu não posso deixá-la desse jeito. Eu não possoaaaAAAAAARRRRGGHHH!!”

A poderosa mandíbula de Nagisa fechou sobre o ombro direito de Mami. Os dentes afiados penetraram fundo na carne e tingiram os tecidos de vermelho.

“AAnnnngg...ah...” Com ajuda da magia, Mami reduziu sua sensibilidade a dor. Ela recostou a cabeça na Nagisa e acariciou os longos cabelos brancos. “É... só um pesadelo Bebe. Só um sonho ruim. Já passou nngngnah...”

Um estralo anunciava que sua clavícula havia acabado de ser fraturada. Seu braço direito ficou dormente.

“Está tudo bem. As sombras da noite vão dar lugar ao amanhecer...ah...ah...” A pressão da mordida era cada vez maior, Mami estava tendo dificuldades para respirar. “...ah...eu vou estar aqui ao seu lado, podemos assistir juntas.”

Subitamente, a pressão diminuiu.

“Nnngg...ah...” Mami sentiu o sangue escorrer com mais intensidade sob as suas vestes. Contudo ela sorriu com o que tinha visto.

Nagisa estava olhando para ela, sua boca cheia de sangue escorrendo, mas a sua face havia voltado ao normal.

“Bebe.” Mami a chamou.

Nagisa respondeu com um sorriso sereno.

“Bebe...ah...” O frio tomou conta do corpo de Mami. O sangue vertia do grave ferimento.

Nagisa, ainda sorridente, olhou para o ombro que ela havia mordido.

“T-tudo bem, Bebe. Não se sinta culpada por isso.” Com a mão esquerda, ela removeu a gema da sua jóia e a transformou no formato de um ovo na frente da Nagisa.

Nagisa continuava com uma expressão serena.

“Eu posso me curar.” Mami fez a sua gema da alma brilhar.

Até que Nagisa deu um tapa na gema, fazendo ela rolar pelo chão.

“Bebe...” Mami ficou estática, não compreendendo o que havia acontecido.

“Você é uma grande fonte de aflição, Mami-san.” Nagisa respondeu.

“Como? O que...” Antes que pudesse formular uma pergunta mais complexa, Mami sentiu ser agarrada por grandes mãos esbranquiçadas, que a afastaram de Nagisa e jogaram contra o chão. “AAAAHHH!” Caída, o sangue que restava em seu corpo gelou ao ver quem agarrou ela.

A face indiscernível, os mantos brancos. Envolta da Mami, em pé como torres, demônios olhavam para ela. A loira não hesitou em estender o braço para a sua protegida. “Nagisa! Cuidado!”

Grande foi o seu terror, em sua visão embaçada, observar a sombra de Nagisa se estender pelo chão e se convertendo em mais miasma e demônios.

Nagisa colocou ambas as mãos sobre o peito e falou com calma. “Não se preocupe Mami-san. Homura-chan confia em mim agora. Ela irá cuidar bem de você. Assim como eu cuidarei bem dela.”

Para Mami, aquilo só podia ser um pesadelo. Ela acordaria e veria a luz da manhã afastando as sombras.

Porém, o que se sucedeu foram as sombras tomando conta de tudo enquanto ela caía em um sono profundo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: Solucione o enigma



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Desconexão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.