Desconexão escrita por Jafs


Capítulo 1
A mentira tem nome




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A escola de Mitakihara é uma referência da arquitetura da cidade e do ideal de seus fundadores. Com o uso ostensivo de vidros para apresentar como a realidade é: um mundo construído através de inúmeras mãos e que você não é dono dele.

Mas agora este mundo está construído através de uma mentira, feita por uma única pessoa.

No hall que conecta os blocos da escola, uma figura contempla uma visão panorâmica da cidade enquanto reflete sobre isso. Quem passasse por ali não veria nada demais naquela aluna vestindo o uniforme feminino de manga comprida na cor bege com um grande laço vermelho formando um nó borboleta na gola e uma saia xadrez preta com linhas brancas. Talvez a única coisa que chamasse atenção seria seus grandes cachos em seu cabelo loiro liso, certamente fruto de muito cuidado e destreza com uma chapinha.

No entanto Mami Tomoe sabia que não era uma pessoa comum. Ela era uma Garota Mágica. Ela havia se lembrado disso havia alguns meses e ela sabe por que esqueceu.

Uma mentira.

Homura Akemi, em um momento de oportunidade, pôs as mãos na deusa Madoka que tanto ela havia falado. Depois disso, ela só se lembra de já estar nesse mundo.

“Akemi-san... eu queria entender.” Mami suspira. Nesse momento ela se dá conta de que alguém a estava observando lá de baixo no pátio da escola. Os olhos eram rosas assim como os cabelos, os laços vermelhos não deixavam dúvidas: era Madoka Kaname. Ela estava sozinha, sentada em um banco em uma postura receosa com seu lanche.

Quanto tempo será que ela está ali olhando? Será que...não. Ela não me conhece. Eu não a conheço. Tem que ser assim por enquanto.

Mami decide retornar para sala de aula e esperar o fim do intervalo lá mesmo.

Homura não mudou apenas o mundo, mas a memória de todos assim como os relacionamentos. Ela era mais velha e estudava em outra classe, sua única relação com suas antigas companheira era o fato de serem garotas mágicas. Tudo isso agora ‘não existia’, logo não seria lógico ela simplesmente se aproximar das outras. Só levantaria suspeitas.

A única exceção fora Nagisa Momoe. Como se estivessem destinadas, ela acabou encontrando a menina em uma mercearia comprando uma grande quantidade de queijo. Nagisa nem sequer tinha dinheiro! Aliás, não tinha casa, família, rumo. Naquela época Mami não tinha recuperado a memória ainda e achou natural adotá-la. Todos acharam normal ela fazer isso. Ninguém questionou. Tudo muito conveniente. Fácil. Sem dúvida como Homura havia planejado.

Da mesma forma deve ter acontecido com Kyouko. Já que ela pôde observar ela sempre voltando da escola com a Sayaka. Provavelmente deve estar morando com a garota de cabelo azulado.

Dividir para conquistar.

Assim ponderou Mami enquanto mordias os lábios. Homura dividiu as garotas mágicas em duplas. Ela é fria e calculista, e deve ter considerado isso como o melhor estratagema para controlar a situação.

No meio de tudo isso, como uma cruel ironia, Madoka ficou sozinha. Conforme ouviu das fofocas dos colegas, ela é uma estudante transferida que passou alguns anos no ocidente. Ela é insegura, porém simpática com todos. No entanto parece que ela não consegue fazer amigos e sempre tem andado sozinha. O mais estranho é que nem Homura, que tem tamanha obsessão por Madoka, está próxima dela.

Não entendo...

O som familiar do burburinho dos colegas de sala fizeram que Mami se lembrasse que estava chegando em seu destino. Mami levemente sorri: talvez jogar conversa fora a ajude a se distrair de suas preocupações.

Uma forte pancada no topo de sua cabeça seguida de um som familiar de algo quebrando. Mami se desequilibra e cai de joelhos enquanto procura entender o que está acontecendo. Uma dor pulsante surge no local do impacto, ela passa mão na cabeça enquanto observa os estilhaços no chão. Alguns deles ainda estão quicando, mas já é possível definir através dos pedaços maiores o que a atingiu. Mami fica perplexa.

Uma xícara? Uma xícara acertou a minha cabeça?

“Tudo bem com você?” Uma voz faz com que o coração de Mami pare por um momento.

Ela olha em direção da origem da voz e encontra a pessoa que ela menos gostaria que viesse estender a mão. Os olhos violetas de Homura Akemi não apresentavam nenhum pingo de preocupação, apenas indiferença. Os olhos amarelos de Mami sempre buscaram evitá-los, mas agora que teve a oportunidade de fitá-los tão de perto, ela notou uma diferença. O olhar antigo de Homura era frio, passivo, agora parece que não tem vida alguma.

Será que ela sabe? A mente de Mami corre contra o tempo em busca de uma saída. Como alguém que lutava contra demônios, ela sabe muito bem que entrar em desespero seria fatal.

Isso é um teste.

Confiando nos instintos, Mami não vê sentido de Homura se aproximar. Se a garota de cabelo escuro soubesse de algo, ela nem estaria perdendo o tempo com essa encenação.

“A-acho que sim...” Mami pega na mão de Homura.

“A pancada foi bem forte.” Homura expressou como se estivesse certa disso. “Acho melhor levá-la até a enfermaria.” Homura continuou, enquanto ajudava Mami a se levantar.

“Não precisa não.” Mami responde enquanto observa que atrás de Homura estão seus colegas de sala, apresentando faces de preocupação, através do vidro. “Não foi tão grave assim.”

“Olha.” Homura levanta as sobrancelhas. “Eu sou a coordenadora de saúde da minha classe e, mesmo que não estude na mesma sala que eu,...” Homura aperta a ao de Mami com mais força. “...é minha responsabilidade cuidar da saúde de todos aqui.”

Mami aperta seus lábios. Ela não tinha muita escolha.

“Você!”

Mami levemente recua com a súbita voz de Homura que estava sendo direcionada para outra pessoa.

“E-eu?” Um curioso que estava parado no corredor vendo a cena aponta o dedo para si mesmo.

“Vá até a diretoria e avise-os para rever a instalação dessas lâmpadas. Diga que uma acaba de cair na cabeça de uma estudante.” Homura fala com autoridade. Não que não fosse uma.

Mami observa o curioso acenar com a cabeça e sair correndo. Logo depois olha para o chão onde cacos finos de uma lâmpada espatifada lembram uma casca de ovo quebrada em centenas de pedaços.

Uma lâmpada? Eu tinha certeza que era uma xícara.

“Pode me acompanhar?” Homura dá um leve sorriso formal.

Mami passa mão na cabeça, a dor parece ter ficado mais intensa. “Claro e obrigado... um.. desculpe se estou sendo rude, mas qual é o seu nome?”

“Ah sim.” Homura estreitou e olhos e ficou com a boca meia aberta, como se estivesse procurando as palavras para colocar nela. “Meu nome é Shizuku Saitou.”

“Eu me chamo Mami Tomoe. Prazer em conhecê-la Saitou-san.”

Esperta, mas cometeu um erro agora.

Mami sente que um fardo acaba de deixar seu corpo. Apesar de que ela deva tomar cuidado para não confundir e acabar pronunciando o nome verdadeiro da sua colega de cabelo escuro, Mami agora tinha certeza que era um teste. Os instintos estavam certos!

Homura pode estar desconfiada ou decidiu dar uma checada ou até mesmo por diversão.

Diversão...

Como em um jogo.

Um jogo onde um passo em falso é fatal: que punição que alguém que é dona do mundo pode aplicar? Contudo, se isso é um jogo, existe a possibilidade de vencer.

Mami Tomoe olha de relance para Homura ‘Shizuku Saitou’ Akemi enquanto as duas caminham lado a lado em direção a enfermaria.

Eu devo vencer esse jogo. Por mim e por Nagisa.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo: O exame do diabo