Livro I : Ashley

O moreno de pele avermelhada rosnou para mim assim que entrei na sala. A garota ruiva ao seu lado, agarrou seus braços musculosos com uma força desnecessária e o fez encará-la. Ele pareceu se acalmar no momento em quê recebeu seu toque.

— Jacob! — ela disse suavemente.

— Desculpe, só estou te protegendo Nessie, nunca se sabe se o sanguessuga será o primeiro a atacar — disse entredentes, me fuzilando com os olhos.

— Ela não vai machucar ninguém — escutei a voz de Seth, e pelo canto do olho pude vê-lo sentado cabisbaixo ao lado de Esme.

— E quem garante Seth! Ela veio aqui a mando deles, ficou longe durante um ano, e agora é um sangue....

— JACOB! — a ruiva, que ainda segurava os braços do grandalhão, o repreendeu.

Jacob assentiu, bufando levemente, mas finalmente se calando.

— Não se preocupe, Jacob — comecei, em um tom debochado — Não sou do tipo de vampira que ataca cachorros — pisquei.

Vi a loira e o moreno grandalhão ao seu lado gargalharem, mas Jacob pareceu mais irritado, fazendo todo o seu corpo tremer.

Seth revirou os olhos, e pareceu inquieto.

Quando Jacob finalmente cansou de fazer as provocações, me permiti sentar no sofá ao lado de Edward, encarando todos os outros que pareciam tensos na sala. Foi Carlisle quem começou a me contar como eu havia parado na mansão Cullen alguns anos atrás.

Quando Carlisle começou a contar sua versão da história, os flashes de imagens apareceram em minha mente. No começo, fiquei confusa se o motivo das imagens era porque eu segurava a mão de Edward Cullen com força, porém, mesmo ao soltá-la, as imagens ainda flutuavam em minha mente, e soube que eu estava me recordando aos poucos do meu passado.

Eu consegui lembrar de tudo conforme Carlisle ia falando, tudo, exceto é claro, depois de Brad Miller ter depositado seus dentes afiados em meu pescoço.

Eu me lembrava da morte de minha mãe Elizabeth. Do período em que passei com os Cullen, é claro que alguns detalhes ainda estavam ocultos, mas eu conseguia recordar que morei com eles depois que Elizabeth morrera no hospital em Ketchikan.

Brad! Eu me lembrava dele detalhadamente, mas tudo isso por conta do meu dom. Eu havia conseguido pescar todas as suas lembranças sobre mim, e não me orgulhava nada em saber o que havia acontecido. Carlisle pediu desculpas umas mil vezes quando entrou no detalhe " Brad". Ele se culpava por tudo o que havia acontecido comigo, ou pelo menos, fora o que ele me disse.

Massageei as têmporas, tentando por minha cabeça em ordem. Carlisle não mencionou nada sobre Seth Clearwater, mas eu sabia que o próprio iria vir até mim depois, e no momento, isso não era o que me preocupava.

— ... Então, isso é tudo — concluiu Carlisle.

— Acho que essa é a hora que você conta o que veio fazer aqui, loirinha — Jacob voltou com suas ironias.

Rosnei para ele, sentindo vontade de esmagar seu pescoço com minhas próprias mãos, porém, Edward manteve seus braços ao redor de minha cintura, então engoli em seco e decidi contar meu lado da moeda.

— Não consigo lembrar de muita coisa, a não ser o que vi na mente de Brad — confessei

— Então, você tem o mesmo dom de Edward ? — perguntou Bella.

Neguei com a cabeça.

— Não. Eu posso ver a lembrança das pessoas, e sentir o que elas sentiram naquele instante, mas não funciona sempre, não quando eu quero — apoiei o queixo entre as mãos e continuei —Bom, eu sei que Brad foi o responsável pela minha transformação, mas lembro que acordei na Itália, já no castelo dos Volturi. Caius então começou a me dar ordens e me proibir de caçar depois que Demitri me pegou me alimentando de um panda, então fiquei trancada esse tempo todo em um calabouço me alimentando de ratos — fiz uma careta, e pude ver que as mulheres da sala me acompanharam — Tentei arrancar informações de Alec quando ele se interessou por mim, mas nunca consegui nada, porque Jane ficava nos cercando o tempo inteiro. — bufei — Caius então me deu essa missão de vir até aqui e arrancar informações sobre o clã Cullen, ele quer se vingar de vocês, sabe, sobre o que fizeram para salvar a híbrida — apontei com o queixo para Renesmee que se encolheu.

Jacob a puxou para mais perto.

— Ashley, você realmente não se lembra de nada ? — Emmett, o grandalhão moreno, se aproximou, ficando na minha frente ao se abaixar.

— Não... As vezes vem as imagens flutuam em minha mente, mas não é nada concreto... — disse, frustrada.

—Afton — Edward disse, olhando para Carlisle que concordou — Ele influencia os pensamentos, e a sua esposa, Chelsea pode romper os laços de qualquer pessoa...

Eu ri, nervosamente.

— Afton não está nesse...mundo há muito tempo.— hesitei — Caius o matou. Chelsea ficou furiosa na época, mas não ousou intervir.Ela sabia que se prejudicaria se o fizesse.

— Qual o sentido de Caius matar um membro da própria guarda ? — perguntou Alice.

Olhei para a pequena vampira, que mais me lembrava um fada, ao falar :

— Eu também não consigo entender, mas na noite em que Afton morreu, Chelsea ficou repetindo umas mil vezes que Aro não deixaria isso barato.

— E o quê Aro fez ? — Jasper se inclinou um pouco, tentando analisar meus sentimentos, imaginei.

— Bom, ele não fez nada. — disse esganiçada — Eu tentei perguntar a Chelsea onde ele estava naquela noite, até tentei tocá-la para ver alguma lembrança em sua mente, mas ela me ameaçou, porque ela sabia o que eu estava fazendo com Alec — engoli em seco — É claro que Jane desconfiava, mas Chelsea parecia ser a única ali que podia sentir meus falsos afetos por Alec, e ao tentar tocá-la, ela se afastou e jurou romper minha ligação com Alec se tentasse ver suas lembranças. Depois disso, Caius apareceu com Brad, e foi exatamente naquela noite que me trancafiaram no calabouço.

— Então é por isso que Alice não consegue ver! —Concluiu Emmett — Não é Aro que está tomando as decisões dessa vez.

— Não faz sentindo! Os três velhotes só andam juntos — refletiu Jacob, irritado.

— Isso está estranho... — concordou Alice.

Eu já não prestava mais atenção no que diziam. Me senti cansada, mesmo sendo uma vampira, e ao que parece, Esme percebeu isso.

— Querida, pode me acompanhar ? Queria lhe mostrar seu antigo quarto, talvez queira ficar sozinha e descansar um pouco — Esme parecia hesitante, como se tivesse medo de me perder a qualquer momento, porém, seu jeito era maternal e delicado, o que fez meu coração de pedra amolecer no mesmo instante.

— Tudo bem — concordei, seguindo-a escada acima.

No final do corredor, ao lado do quarto de Edward, ficava o quarto da antiga Ashley Cullen. Esme abriu a porta do cômodo, mas não entrou.

— Tudo o que precisa está aqui — ela apontou para o enorme closet a esquerda — Roupas novas, toalhas, e sapatos — ela mexeu levemente os lábios — Vou deixá-la se acomodar. Se achar que precisa de qualquer coisa, estaremos lá embaixo — disse com doçura.

Olhei para ela com ternura e sorri um pouco.

— Obrigada.

Esme ficou ali, parada alguns minutos me analisando, vidrada em meu rosto.

— Não precisa agradecer, querida. — ela sorriu, apertando minhas bochechas um pouco me fazendo rir, e sumindo logo em seguida.

Entrei no cômodo, que era grande demais até para uma mera humana.

Um closet enorme ao lado esquerdo com roupas importadas foi a primeira coisa que avistei. Todas as roupas ainda estavam com etiquetas, exceto um vestido verde água. Este, estava pendurado em um cabide diferenciado de cor dourada. Ele tinha um enorme decote no meio dos seios e continha um leve perfume de rosas misturado com um cheiro amadeirado, e soube que eu já havia utilizado aquele vestido. Talvez, ele fosse a última roupas que eu tivesse usado em Forks, antes de...ser transformada.

Andei pelo quarto observando cada detalhe, tentando me lembrar de qualquer coisa. Me sentei na cama e olhei para o criado mudo, vendo uma foto de Seth Clearwater abraçado comigo em minha versão humana. Eu parecia feliz. Olhando-o com paixão estampada nos olhos e sorrindo a toa, enquanto ele me beijava a bochecha e me abraçava apertado.

Seth, estava diferente naquela foto. Parecia mais jovem. Seus cabelos eram arrepiados e apontavam para diferentes lados, e agora estavam longos e lisos, quase batendo em sua cintura. Na foto, Seth não tinha barba e seu olhar exibia um sorriso que seus lábios tentavam esconder. Mas agora, comparando o Seth Clearwater que eu vira na floresta alguns minutos atrás e o que eu via agora na foto, eu podia ver que ele estava mesmo abalado com o que quer que tenha acontecido com sua namorada, pois vendo seu olhar abalado e sua barba por fazer, eu podia sentir toda a sua dor, e não conseguia imaginar que fosse por minha causa , porque no final das contas, não haveriam possibilidades de ficarmos juntos novamente.

Deixei o porta retratos no lugar e procurei algo que pudesse me ajudar a lembrar do passado. Achei um pequeno diário de bolso na gaveta do criado mudo , e comecei a folheá-lo , achando letras redondas desenhadas com tinta preta. Em algumas folhas, haviam manchas, que supus serem de lágrimas, já em outras, ingressos de cinema ou fotos em família.

Me dediquei na leitura durante toda a madrugada e conforme eu lia as páginas, imagens tomavam minha mente me fazendo lembrar com detalhes tudo o que eu havia vivido no passado. As imagens vinham como borrões, não eram tão claras quanto as que eu via na mente de Edward Cullen, mas eram o suficientes para eu saber que Alec sabia sobre tudo, e o tempo todo tentou me enganar dizendo que me amava.

Nos dias que se passaram, os Edward e Jasper me ajudaram a controlar meu dom. Eu conseguia descobrir o que quisesse agora , somente tocando na pessoa, mas não achava que fosse uma arma boa para se utilizar em uma batalha contra os Volturi.

Eu estava tão concentrada em controlar meus poderes, que não tive nem tempo para falar com Seth Clearwater. As vezes nos esbarrávamos na mansão Cullen. Ele não saía de lá um minuto, e eu podia sentir seus olhos negros sempre sobre mim, porém o evitava. Não poderia me envolver com Seth nunca mais. O que aconteceu no passado, quando eu ainda era humana, entre Seth e eu, fora apagado, não só por minha memória, mas pelo tempo, e deveria ser assim, para sempre.

Livro II : Seth Clearwater

Alec Volturi.

Esse nome vivia me atormentando dia e noite agora. Tudo porque Ashley insistia em dizer , quando eu estava por perto, que não estava com o Ciclope por interesse. Dei o apelido ao sanguessuga por conta de seus olhos vermelhos, tipo o cara do X-man, e depois disso, Ashley se afastou ainda mais, e me peguei pensando novamente se essa coisa de imprinting realmente existia ou se o problema era comigo.

"Deixe-a espairecer a mente, ela vai lembrar de tudo no momento certo"

Era o que Carlisle insistia em dizer para mim, porém, nem Jacob, nem mesmo eu , acreditava que ela realmente fosse lembrar de tudo.

Sempre que eu me aproximava, ela achava uma escapatória e me deixava falando sozinho, me evitando ao máximo. Da última vez, insistiu que Alice deveria ajudá-la a arrumar o closet, o que a Ashley que eu conhecia jamais pediria , pois ela não era o tipo de pessoa que perdia tempo com roupas, todavia, eu sabia que ela estava somente agindo assim porque queria, e não porque havia realmente mudado.

Da sacada , eu assistia Ashley testar seu dom com Edward. Ela havia evoluído um pouco, porém, Carlisle ainda acreditava que ela poderia pescar as lembranças das pessoas sem ao menos tocá-las, e era exatamente isso o que ela queria.

Vi Edward jogar as mãos para o alto, anunciando que haviam terminado o treino daquela tarde.

Suspirei, desejando ao menos falar com ela, mas eu sabia que não me ouviria.

— Ao menos tente, Seth.

Me virei, sobressaltado pela voz de Renesmee e pisquei duas vezes antes de achar o que dizer.

— Ela não quer ouvir um...lobo. — disse cabisbaixo.

Renesmee se aproximou, tocando em minhas mãos levemente.

Senti os olhos de Ashley sobre nós, mesmo sem.olhar em sua direção, mas virei a cabeça, só para confirmar minha suspeita e encontrei seus olhos dourados por milésimos de segundos.

— Eu vi você se matando aos poucos quando estava longe dela, não era madura o suficiente na época para entender, mas agora eu sou,Seth. Sei que a ama, e que não deve desistir fácil assim... — ela retirou as mãos das minhas, corando levemente.

Passei a língua entre os lábios antes de voltar a falar.

— É tão diferente agora... eu ainda a amo, mas ela é uma...vampira e eu um transfigurador. Leah já era contra antes, imagine agora ? Sam e Jacob não ficariam para trás...

— Seth, pare com isso ! — ela me interrompeu — Eu sou híbrida e Jacob é um transfigurador, as regras também foram quebradas nesse caso!

Estreitei os olhos ao refletir sobre o assunto, e sorri levemente, vendo que Renesmee só queria abrir meus olhos e me ajudar.

— Obrigado.

Eu lhe abracei levemente, e depois saltei de onde estava , indo e direção de Ashley no mesmo segundo.

Dessa vez, fui mais rápido, e lhe segurei pelo cotovelo quando ela tentou escapar.

Me fuzilando com o olhar, ela rosnou para mim, porém, permaneci sério, e esperei pacientemente que ela acabasse o show de horror que tentava fazer.

— Podemos conversar, por um minuto? — perguntei calmo, embora não estivesse. Aprendi essa técnica após observar Carlisle consolar Esme durante todo o tempo em quê não tivemos notícias de Ashley. Carlisle, sempre demonstrava calma, mas quando Esme não estava por perto, ele desabava com saudades da filha.

— Não temos o que conversar, Seth — eu podia ver ela pretendo completamente a respiração.

— Apenas me escute, melhor, leia minhas lembranças, por um minuto — supliquei.

Ela me analisou por completo, depois soltou todo o ar que prendia, e concordou.

— Não quero fazer isso aqui, podemos ir a outro lugar ? — ela mordeu os lábios parecendo indecisa —Também preciso caçar... -disse hesitante.

Assenti uma vez que, os recém- criados tinham mais sede e por isso não aguentavam ficar tanto tempo sem se alimentar.

— Podemos ir ao lago, tem alguns cervos lá — sugeri.

Ela concordou, e caminhamos calmamente até o local em que nos beijamos pela primeira vez, e tive vontade de sorrir, pois finalmente, me sentia aliviado depois de meses procurando-a, ela estava ali, ao meu lado, mesmo que de um modo totalmente diferente agora.

Em silêncio, eu peguei sua mão, colocando-a sobre as minhas e alisando-as com delicadeza. Olhei no fundo de suas íris douradas, e escolhi bem o que iria falar, mas decidi que mostrar-lhe tudo o que vivemos a faria finalmente entender o porque eu jamais a deixaria em paz.

— Quero que aproveite esse momento que estamos longe de todos e... — hesitei por um minuto — E leia minhas lembranças. — Ashley ia abrir a boca e protestar, mas eu a interrompi antes mesmo que fizesse — Todas elas — enfatizei.

— Isso não funciona ainda, Edward está me ensinando como...

— Eu sei que pode fazer isso Ashley — insisti — Apenas se esforce, por favor — implorei — Só estou pedindo que tente entender o meu lado da história.

Ela lambeu os lábios inferiores e depois suspirou, concordando, afinal das contas.

Apertando minhas mãos levemente, ela fechou os olhos, se concentrando, mas logo tornou a abri-los, me encarando, e soube então, que estava vendo tudo o que eu poderia me lembrar de nosso passado.

Pensei primeiro no dia em que nos conhecemos na mansão Cullen, quando ela ainda estava ferida por conta de Brad, e se sentia acanhada até mesmo para conversar com seus irmãos. Lembrei até mesmo do meu jeito atrapalhado no dia. Depois, passei a pensar na fogueira, nossa primeira noite juntos, o primeiro dia em que conversamos de verdade. Detalhei toda a conversa em minha mente, e depois comecei a me lembrar do nosso primeiro beijo, da nossa primeira noite de amor, do dia em quê ela me disse que Brad estava preso e finalmente se sentiu aliviada, e por fim, do último dia que a vi, ainda humana. Essa última, me fez estremecer.

Ofegante, ela pôs o queixo apoiado em suas mãos em punhos e olhou para o nada, evitando meus olhos que a analisavam por completo.

— E então...? — perguntei, passando as mãos nos cabelos.

Ashley se virou para mim. O veneno nos olhos, acusavam que ela estaria chorando se pudesse. Seus olhos brilhavam feito estrelas e ela soluçou umas duas vezes antes de falar.

— Eu sinto muito...

Me aproximei dela, e passei o dorso da mão em seu rosto de mármore. Ela inclinou a cabeça e fechou os olhos, respirando fundo, como se quisesse guardar meu cheiro em sua memória para sempre.

— Não faça isso, Seth — alertou.

— Não fazer o quê ? — perguntei, me aproximando dela ainda mais, e sussurrando as palavras perto de seu rosto.

Ela não respondeu. Ao invés disso, permaneceu calada, parecendo gostar de minhas carícias, como se por fim, tivesse se recordado de tudo, de cada momento que vivemos. Era como se Ashley nunca tivesse esquecido.

Incerto, eu me permitir me aproximar mais. Minha respiração ficando ofegante a cada segundo.

Deixei meus dedos tocarem seus lábios carnudos, que se abriram levemente, e então, sedento, eu encostei meus lábios nos seus, beijando-a com fervor, saudade, paixão e amor.

Ashley não recuou como pensei que faria. Seus braços envolveram facilmente meu pescoço, e acabamos rolando no chão úmido, sem desgrudar nossos lábios. O beijo era diferente, por conta da temperatura de sua pele gélida contra a minha extremamente quente, mas isso só deixava tudo mais excitante.

Ela aprofundou o beijo, exigindo minha atenção e me apertando mais contra seu corpo. Eu gostei daquilo. Mas quando seus dentes morderam meu lábio inferior, Ashley sugou meu sangue para si, e sem saber o que fazer, eu congelei, pois aquela atitute, pelo menos para mim, era inesperada.

Percebendo que dessa vez eu não retribuía as carícias, ela se afastou em um vulto, parando na beirada do lago, encarando a água.

— Droga! Que droga! — resmungou — Me desculpe! Seth! Me desculpe! — choramingou, olhando rapidamente para mim.

"Se eu pudesse voltar no tempo

Juro que eu não ia querer cruzar esse limite"

Mordi meus lábios e verifiquei o ferimento.

Minha boca tinha um leve gosto de sangue, mas não era nada grave. Era como quando você morde suas próprias bochechas.

— Você não pode ficar perto de mim... — ela continuou falando aos soluços — Eu vi tudo em suas lembranças e consegui lembrar, quero dizer, não tudo, mas agora eu sei a verdade. — ela encontrou meus olhos, mas desviou rapidamente — Não podemos ficar juntos, Seth! — soluçou novamente — Olhe para mim! Eu sou um monstro! Uma sugadora de sangue idiota, não posso ficar com você sem lhe ferir...

Me sentei ao seu lado e peguei seu queixo, fazendo-a olhar seu reflexo na água.

— Me diga, o que vê ? — perguntei calmo, porém, meu coração ainda disparava desconpassado em meu peito, eufórico por conta do beijo quente que trocamos.

Ela riu sem ânimo, mas respondeu aos sussurros.

— Vejo uma garota que não se lembra exatamente do seu passado mas gostaria de vivenciá-lo agora, porque ao menos ela não seria um monstro...

Eu fiz a abracei por trás, e encarando nosso reflexo no lago, e apontei para ele.

— Eu vejo a garota que amo, linda como sempre e adorável. A pessoa mais guerreira que conheci, a única que encarou a morte e a dor de todas as formas humanamente possíveis e tenho certeza que ela faria tudo de novo pelas pessoas que ama ou amou um dia — alisei seu rosto — Eu vejo a mulher da minha vida, que ficou longe durante meses, mas que eu tinha certeza que voltaria para mim um dia. Vejo a velha Ashley Cullen, aquela que ainda enfrenta seus demônios mas ainda sim, esboça um sorriso. Eu vejo a minha menina, perdida no mundo, se sentindo sozinha pela segunda vez, a procura de um colo em que possa chorar e se sentir segura.

"Odeio ter te decepcionado

E eu me sinto tão mal com isso

Eu acho que o carma volta

Porque agora sou eu quem está sofrendo"

Beijei o topo de sua cabeça e alisei seus cabelos, puxando-a para meu peito.

— Seth, eu...

— Eu entendo que esteja insegura agora — a interrompi — E também sem rumo, mas eu posso ajudá- la a enfrentar essa batalha, porque você mais do que ninguém sabe que sou capaz disso. Eu te amo Ashley, fiquei totalmente desconcertado quando te perdi, pensei que Brad havia assassinado a única mulher que pude amar na vida, e me enganei. Graças a Deus, me enganei! Você está aqui agora - eu a apertei mais contra meu corpo - Segura e viva. E realmente não me importo que não seja mais humana... Jacob e Renesmee também não seguem as regras, podemos quebra-las também, eu realmente não me importo !

Ela se virou em meus braços e riu nervosamente.

— Eu posso matá-lo, Seth, é isso que você quer ? — ergueu as sobrancelhas definidas.

Neguei com a cabeça.

— Você me ama, jamais faria isso. Confio em você. — beijei o canto de sua boca.

— É esse o problema. — suspirou — Você deposita fé onde não deveria.

Ficamos em silêncio por algum tempo, então, peguei seus dedos finos e fiquei brincando com eles por alguns minutos, imaginando o anel dourado que havia comprado antes de sua viagem em seu dedo anelar direito. Eu pretendia pedi-la em casamento assim que voltasse de Creek Street, e nunca havia comentado isso com Ash. Ela queria sim casar, embora nunca tenha admitido, seus olhos sempre brilhavam de empolgação quando eu mencionava o assunto, mas sempre ficamos assim, somente na imaginação.

— Se dê uma chance. Tente ao menos por alguns dias, Ashley. Vamos tentar ser o que éramos antes, por favor — eu me peguei suplicando.

Ela ergueu seus olhos, agora quase negros de desejo, para mim.

— Tenho medo de machucá-lo — alisou meu rosto, sua voz falhando a medida que falava — De machucar qualquer um de vocês — admitiu com um suspiro — Eu quero tentar, mas se eu fizer alguma coisa errada, por menor que seja, você tem que me prometer que irá me deixar partir — ela segurou meu rosto com seus dedos frios. Seus olhos jamais desviando dos meus.

— Não deixarei você se arrepender disso — sorri um pouco — Prometo. Eu prometo deixá-la ir, se for necessário.

Ela piscou e concordou, parecendo não saber bem o que estava fazendo.

— Vá caçar, e depois, quero lhe mostrar uma coisa.

— O quê ? — sua curiosidade falou mais alto.

Eu ri, ela não mudara tanto assim, no final das contas.

— Apenas vá caçar Ashley — eu ri, e lhe beijei profundamente.

Ela se afastou com rapidez, e fez uma careta.

— Desculpe, acho melhor deixarmos isso para mais tarde.

Eu concordei, entendendo que ela estava sedenta por sangue, então, Ashley sumiu na mata, e soube que estava com medo de me machucar.

Depois de ver Ashley sumindo em um vulto pela floresta, decidi que era hora de preparar nossa noite. Queria que tudo fosse perfeito para que ela se lembrasse exatamente como era e como sempre seria a conexão que existia entre nós.

Decidi pedir ajuda a Renesmee, mesmo sendo uma híbrida de apenas sete anos, ela já era madura o suficiente para saber dizer o que eu deveria ou não fazer no " primeiro encontro" com uma vampira recém-criada.

Pegamos o Volvo prata de seu pai e seguimos até minha casa em La Push para pegar algumas coisas, que a pequena híbrida achou que ajudaria Ashley a se lembrar exatamente de todos os detalhes sem que utilizasse seu dom comigo. Ao entrarmos na porta, encontramos uma Leah emburrada, e minha mãe olhando vagamente para a televisão, sem prestar atenção em absolutamente nada, exatamente.

— Hum... oi mãe — Falei, sorrindo um pouco, pois me sentia realmente empolgado, porém, ela permaneceu calada — Mãe, Renesmee está aqui — continuei.

Sue se virou minimamente e disse um "oi" frio para Nessie, que respondeu com ternura.

— Viemos pegar algumas coisas, vou passar a noite fora — disse cautelosamente.

— É melhor avisar o que quer no seu enterro, não acha ? — provocou Leah.

Empurrei Nessie, amostrando onde ficava meu quarto para que ela fosse pegar as coisas logo, depois, encarei minha irmã tenso. Meu maxilar já travado.

— Leah, não tente arruinar minha vida amorosa, não tenho culpa se Sam não te quis! — cuspi, pois já estava de saco cheio de suas piadinhas idiotas.

— Rah! Agora vou ter que aturar essa história do meu próprio irmão! — ela riu, indignada — Quer saber, Seth ? Faça o que quiser, eu não me importo! — Leah saiu bufando porta a fora, se transformando em um lobo acinzentado e correndo por aí.

Minha mãe se levantou, e caminhou lentamente em minha direção. Ela tocou em meu rosto, e vi seus olhos marejarem, mas logo, Sue me abraçou apertado, soluçando em meus ombros largos.

— Querido...

Afaguei seus cabelos, e pensei no que diria por alguns segundos, sem que a magoasse.

— Sei que deve estar achando que seu filho vai fazer a maior burrada da vida dele, mãe. — comecei hesitante, tentando achar um jeito de fazê-lá entender — Mas olhe para mim — eu a afastei um pouco, para que olhasse em meus olhos — Estou melhor agora, muito melhor do que há meses atrás quando Ashley estava desaparecida. — eu sacudi um pouco seus ombros — A senhora mais do que ninguém conhece a lenda do Imprinting, e tenho certeza, agora, que quando encontramos o nosso, não conseguimos viver sem nossa metade. É isso que eu sinto, e você tem que entender, sem a Ashley... — abaixei os olhos, focando em meus pés — Não sei o que posso ser sem ela. Parece que fico sem alma, que tudo fica preto onde deveria estar colorido... — hesitei — Sei que está preocupara, mas ela não vai me machucar.

— Como pode ter tanta certeza ? — Finalmente ela perguntou.

— Ela é filha de Carlisle Cullen — ri um pouco — Mesmo que insistam que ela não possui um coração, eu sei que ela tem um, enorme por sinal. — puxei o ar — Ela ficou com medo de me machucar hoje, pela manhã... eu insisti que me desse uma chance.

— Só espero que não esteja fazendo a escolha errada, Seth. Eu já perdi seu pai, não quero perder meu filho — Sue voltou a me abraçar.

— Você não vai perder ninguém, mãe — sorri.

Ficamos abraçados por um tempo, até Nessie aparecer com uma sacola de coisas nas mãos.

— Vamos ? — perguntou empolgada.

Assenti, dando um beijo na bochecha de minha mãe.

— Volto pela manhã — disse, antes de sair.

Renesmee me seguiu porta a fora e entramos no Rabbit vermelho que Jacob havia me emprestado a contra gosto. Em poucos minutos, chegamos ao nosso destino.

A cabana cor de areia, era simples, e ainda estava em reforma, mas eu tinha absoluta certeza que agradaria Ashley. Jacob estava me ajudando a construí-la, seria meu presente antecipado de casamento, afinal, Ashley e eu estávamos querendo privacidade, e não tínhamos isso na mansão Cullen, ainda mais com Edward e Alice para nos espionar sempre, porém, depois do sumiço de Ashley eu fiquei completamente arrasado e furioso por não ter conseguido impedir que Brad a encontrasse novamente, então, com tamanha fúria, derrubei uma parede da cabana, após ver a terrível imagem de sangue jorrado para todos os lados na antiga casa de minha namorada em Creek Street. Depois disso, eu nunca mais voltei para a cabana, pois não fazia sentido algum ficar ali sem minha doce e amável Ashley, mas agora, a situação era outra, e eu me sentia bem em estar de volta a nossa futura casa nova.

Agora, parada em frente a a pequena cabana, eu admirava o local com janelas brancas e pequeninas empoeiradas, as paredes cor de areia e o piso de madeira escura. Havia pouca mobília, pois mesmo Alice e Esme insistindo em ajudar com os gastos, quis fazer tudo por conta própria, eu jamais aceitaria ajuda da família de minha amada, não por orgulho, mas porque dessa vez, eu queria que Ashley percebesse que havia amor ali no nosso novo lar, que aquela cabana era o que eu poderia lhe oferecer e mais ninguém. Ali, ela encontraria conforto, amor e uma família que a amasse, é claro que agora a família se basearia somente em duas pessoas, mas mesmo assim, estava perfeito.

— É linda, Seth ! — Renesmee me tirou de meus desvaneios.

Olhei para ela vendo seus olhos brilhantes de empolgação.

— Você acha que ela vai gostar ? — perguntei duvidoso.

— Está brincando ! — riu um pouco alto demais — Ela vai amar, sem dúvidas! .

Entramos na casa, e colocamos o plano em ação, iniciando pela limpeza, é claro. Era fácil e rápido para uma híbrida e um transfigurador fazer aquilo, e tinha certeza que terminaríamos antes do pôr-do-sol.

De repente, escutei o barulho da vassoura cessar, e soube que Renesmee havia parado com sua tarefa. Senti seus olhos em meus ombros, mas ignorei por ora.

— Seth ? — chamou

— Sim ? — respondi, sem tirar os olhos da janela que limpava.

— Você sabe quem é o imprinting de Jacob ? — perguntou, hesitante.

Parei de limpar a janela, e me virei para encará-la.

— Qual o motivo disso agora ? —ergui as sobrancelhas e estreitei meus olhos, logo em seguida.

Renesmee suspirou e voltou a varrer lentamente.

— Não é nada...esqueça...

Pude notar a tristeza que a garota tentava esconder.

Eu nunca fui de me comover com as pessoas, ou expressar emoções, é claro, com Ashley era totalmente diferente, ela me fazia agir diferente e era tão fácil ler suas emoções...Mas com Renesmee, não ficava assim tão na cara. Eu podia notar que ela estava triste e decepcionada com algo, ou talvez até preocupada, mas ela era como Edward, sabia mentir muito bem, diferentemente da mãe, é claro.

— Nessie — tentei — Pode me contar qualquer coisa, sabe disso, não sabe ? — senti minhas sobrancelhas se unirem.

Ela assentiu uma vez, e voltou a me olhar.

— É que... — hesitou — Eu só queria saber se Jacob gosta de mim.... — ela olhou para os próprios pés, e corou levemente.

Soltei um risinho.

— Ele vive agarrado com você, é claro que gosta. Sabe como Jacob é, se ele não vai com a cara da pessoa, não anda com ela, tipo com sua tia, Rosalie — soltei uma gargalhada ao lembrar da implicância que os dois tinham um com o outro, porém, Renesmee não riu.

— É, como uma irmã! — ela bateu o pé feito uma adolescente mimada. Quis revirar meus olhos com a cena.

Mordi os lábios sem saber o que lhe dizer, mas logo consegui encontrar as palavras.

— Renesmee, eu não deveria lhe contar isso, mas...

Seus olhos se voltaram para mim com um brilho inteso, e fiquei em dúvida se era um brilho de esperança ou se ela estava segurando o choro.

— Mas... ? — insistiu.

— Bom, Jacob está louco por você — garanti, vendo-a abrir um imenso sorriso — Ele só não acha que é o momento apropriado...tenha paciência.

Ela concordou.

Voltei a minha tarefa, e escutei ela soltar um gritinho de animação.

— Obrigada, Seth!

— Disponha — sorri.

Dentre as mobílias presentes no local, havia uma velha mesa de madeira maciça a qual Renesmee me fez colocá-la no centro da sala e cobrimos com uma toalha cor de marfim. Vasos de flores preencheram a mesa junto com velas. Como Ashley não comeria nada, Carlisle propôs uma velha ideia, e nos deu duas garrafas de vinho tinto, uma em especial com mistura da bebida e de sangue animal, acho que era de um leão da montanha. Segundo meu sogro, isso tornava a bebida mais atraente para os vampiros, e não cogitei duvidar disso, pois ele tinha muito mais experiências com isso do que eu.

Próximo a lareira da cabana, fizemos um cantinho de almofadas coloridas nas quais Esme havia escolhido as fronhas de todas elas. Também colocamos cobertores, mesmo que não fossem necessários, davam um charme para o ambiente.

Depois de tudo pronto, agradeci Renesmee por tudo, e a levei de volta a mansão Cullen. Passei rapidamente em casa para tomar um banho e trocar de roupa. Havia esquecido completamente que meu cabelo necessitava de um corte, pois estava batendo praticamente na cintura, mas não daria mais tempo para isso, então ignorei e somente prendi o mesmo em um rabo de cabalo depois de fazer a barba.

Coloquei uma calça jeans, blusa de algodão branca e um sapa tênis preto e me analisei no espelho. Fiz uma careta ao ver que parecia uma menininha com o cabelo grande, mas resolvi ignorar essa questão, finalmente indo para a cabana esperar Ashley e torcendo para que ela gostasse da surpresa que eu faria.