Youth escrita por Nikki Meyers


Capítulo 2
Warnock




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Ele prometeu.

Prometeu que nunca iria crescer, prometeu que sempre seria aquele pequeno garotinho com um cigarro nas mãos e a cabeça nas nuvens. Muitos deles haviam prometido, todos e cada um, alguns a quebraram rápida e repetidamente, já outros, como o jovem homem, demoraram o máximo que puderam para quebrá-la. Mas havia algo que todos eles possuíam em comum.

Todos a quebraram.

Por mais que tentassem se enganar, haviam se machucado, feridos como uma fera selvagem acuada pelo seu caçador. Haviam guardado a melhor parte de suas pacatas vidas como sendo apenas memórias. Memórias de uma época longínqua em que eram livres, em que eram os donos de si próprios e de todo o mundo ao seu redor. Eles crescem aos seus próprios jeitos, contudo tão sempre exatamente iguais. As cores e os formatos podiam ser diferentes, mas a essência era sempre exatamente a mesma. Eu dou valor para as memórias, para cada uma delas, das mais banais até as que poderiam ter salvado uma vida. Dou valor às memórias de alegria e tristeza, elas são reais, apesar de tudo. Todas elas são. Não tente mentir para mim, sei identificar muito bem um mentiroso.

Anthony Warnock se provou ainda ser uma pequena memória naquela ensolarada manhã de segunda feira. Ele estava tentando ao máximo não quebrar sua própria promessa.

Mas suas promessas sempre foram feitas apenas para serem quebradas.

Detestava acordar antes do meio dia em seu longo tempo de colégio; naquela manhã em especial as coisas não seriam muito diferentes do que sempre foram. Pela primeira vez o homem estaria voltando ao ambiente que lhe trazia tantas memórias, não o mesmo, mas parte dele. As posições estariam apenas invertidas, os lugares trocados e com novos papéis a interpretar. Mas lá no fundo, para o jovem homem, aquilo era tudo igual. Ele estaria voltando para o local de seus pesadelos, o local onde encontrou as melhores pessoas que um dia conhecera e fez inimizades com as piores. Estaria voltando para uma escola; em poucos minutos estaria dando sua primeira aula.

Esse fato poderia parecer estranho para seus vizinhos, talvez mais estranho ainda para seus amigos, mas não tão estranho quanto estava parecendo para si próprio. Aquele era o primeiro dia de seu novo emprego. Não necessariamente novo, pelo fato de ser também seu primeiro emprego. Ou melhor, o primeiro emprego sério que já tivera. Ele já havia trabalhado antes, mas nada tão estranho ou que não fosse proibido. Ele odiava a palavra trabalho, em todos os seus sentidos. Mas dinheiro era outra coisa completamente diferente. Então, por que não?

Se algum dia ele parasse apenas um segundo para pensar sobre elas, milhares poderiam vir a sua mente. Contudo, nunca fez isso. Warnock era feito de agoras, não precisava pensar em seu futuro; tentaria resolver seus problemas na ordem em que aparecessem. E naquele exato momento, estava precisando seriamente de algum dinheiro, até mesmo o mínimo dele iria ser útil na situação em que estava. Poderia até mesmo correr o risco de ser despejado de sua própria casa e ao menos podia pedir ajuda para mais alguém. Usara todo o dinheiro que possuía e até mesmo o que nunca possuiu, havia feito empréstimos e pedido dinheiro emprestado para amigos. Agora entendia a grande dificuldade em ter pedido dinheiro e não possuir qualquer maneira de devolvê-lo: você não poderia pedir mais.

Sabia que aquilo não podia ser tão difícil. O homem vivera muitos anos com sua mãe para aprender isso, até mesmo fazia uma boa imitação da Sra.Warnock. Então que fosse, era muita grana para desperdiçar por falta de suéteres. Se ele precisasse aturar algumas dezenas de pirralhos irritantes por alguns meses era melhor começar logo. Quanto mais cedo começasse, mais rápido terminava, certo?

Errado. Quando finalmente conseguiu sair do pequeno apartamento imundo, ele vestia um suéter um tanto estranho para seu gosto, e uma calça social, já um pouco apertados e amarrotados pelos anos passados no armário. O cheiro de bebida ainda podia ser sentido quando falava, mas extremamente fraco comparado ao de algumas horas atrás. Pela primeira vez em sua vida ele estava apresentável, ou ao menos o mais perto da palavra que um dia poderia chegar. Talvez não devesse ter bebido tanto na noite anterior, mas aquilo fora o único escape da realidade que conseguira encontrar. Sempre foi esse.

Quero dizer, ele estava virando um professor. Estava virando uma espécie de ditador, em sua opinião. A pessoa que sempre odiara.

Quando finamente chegou a seu velho carro, se lamentou um pouco, mas nem tanto. Não valia a pena, não enquanto não houvesse recebido seu primeiro salário. Enquanto passava pelas inúmeras ruas até a nova escola, um pequeno sorriso se abria em seus lábios. Ele fora contratado. Talvez houvesse falsificado seus documentos – ou pedido para algumas pessoas que deviam favores a ele fazerem isso ― , mas isso não vinha ao caso. Havia sido contratado, o que por si só já era uma enorme surpresa. Realmente o mundo estava perdido se ele estava sendo contratado como professor, ou talvez tudo não passasse de mais uma das brincadeiras de Miles, seu melhor e único amigo.

Apenas outra pessoa que havia quebrado suas promessas cedo demais.

Warnock gostava de dizer que a pessoa que possuísse o outro como amigo não necessitaria de um inimigo, incrementando após algumas doses de cerveja a história onde o amigo fizera a 'namorada' ― ou pelo menos era sua namorada no colégio ― lhe passar um telefonema, passando-se pela representante de uma gravadora, ao dizer que havia sido sorteado para gravar um disco. Ele ficara realmente entusiasmado pelos primeiros trinta segundos, até finalmente ouvir a gargalhada do amigo do outro lado da linha. Sempre dependia de quantas doses havia tomado antes de contá-la, a história sempre mudava. Porém, sempre houve um fundo de verdade nela.

Naquele momento havia pensado em se matar, ou melhor, em matar Miles. Todavia, apenas o que fez foi proferir diversos palavrões em voz alta, e então ele bebeu a noite toda. Bebeu com Miles e sua namorada, quando haviam aparecido em seu apartamento com um pedido de desculpas e algumas garrafas de vinho tinto. E então eles xingaram seus inimigos, xingaram a vida, xingaram todas as pessoas das quais puderam se lembrar, inclusive um ao outro, enquanto acabavam com dezenas de caixas de cigarros escondidos no complexo do garoto.

Amigos eram para essas coisas, eles se apoiavam, apesar de tudo. Houve várias vezes em que fora ele o autor da grande piada. Ele e o garoto se conheciam por praticamente suas vidas inteiras; quando adolescentes, se meteram em dificuldades juntos, aos vinte, procuraram seus primeiros empregos juntos – nada que fosse tão sério assim, como já tinha dito antes –, a única diferença era que Miles crescera antes dele; agora aos trinta,o outro já possuía um emprego, uma família, possuía até mesmo uma filhinha, coisas das quais Warnock tinha pena do homem por ter. Ao passo que sua vida mudara muito pouco do que fora há treze anos.Uma verdade? Warnock não queria crescer, nunca quisera. Ao menos tinha pedido por isso. Nunca quisera quebrar sua própria promessa, mas o universo não conspirava ao seu favor, nunca conspirou.

Naquele momento, ele estava ali, a caminho da escola em que lecionaria. Estava a caminho de bandos de pirralhos que teria de aguentar por meses e meses. Estava crescendo, a única coisa que sempre temera. E mesmo depois de tanto tempo ainda se lembrava do dia em que quisera seguir essa profissão, e tinha certeza que nunca foi por gostar dela, era apenas questão de precisar, questão de dinheiro e principalmente questão de agradar sua mãe.

*

Tudo acontecera naquela pequena e nebulosa manhã de segunda. A maioria das pessoas, como era comum, se encontrava cada qual em seu trabalho na cidade. Mas Anthony Warnock não era uma pessoa comum. Ele podia ser chamado de irritante, terrivelmente bonito ― nenhuma das garotas podia discordar dessa parte ― e talvez até um pouco louco ― isso se devia aos seus solos, tocados às altas horas da manhã em sua guitarra―, mas não comum, nunca poderia ser chamado de comum, pelo menos até aquele dia. O dia em que decidira ser professor.

Ele havia acabado de terminar o colégio. Para a maioria dos adolescentes em Nova Iorque, aquilo significava uma nova etapa, a tão desejada e temida faculdade ― para ele a segunda definição, é claro. Havia pensado várias vezes sobre o que fazer quando finalmente acabasse o ensino médio, mas em seus planos a faculdade não era incluída. Em menos de sete meses, para quem quer que perguntasse, Warnock diria que nesse exato momento estaria com sua banda ― que não era tão sua quanto imaginava. Em seu mundo perfeito estaria pensando em seus novos shows e criando solos em sua guitarra, porém tudo mudara quando o expulsaram da banda.

Sua própria banda, mas mesmo isso não havia impedido que o expulsassem. Você nunca possuirá nada que não possa ser tirado de você.

Ele sabia que algo ruim aconteceria com a entrada de Leslie. Afinal, muitas pessoas caíram com a presença da garota, mas expulso de sua própria banda, ele nunca sequer imaginara isso. A banda que ele montara, as letras que ele escrevera. Em relação às letras ele pudera sair ganhando, pelo menos, eram suas. Ele sempre fora um ótimo escritor, porém já não podia dizer o mesmo quanto aos outros integrantes de sua banda. Da banda que sempre possuiria um novo nome a cada semana.

Leslie fora sua perdição. A garota com os cabelos escuros e com os olhos da cor do mundo.

Estava tudo bem, pelo menos até ela aparecer, revirando sua vida inteira e então o jogando fora, como uma peça de roupa que ela já se cansara de usar. E ele a amava, apesar de tudo. E agora ele estava ali, pensando no seu, na certa, fracassado futuro. Poderiam ter se passado minutos, talvez várias horas até que finalmente entendesse; a resposta sempre estivera ali, bem na sua frente, mas apesar de tudo precisara de sua mãe para entendê-la.

Uma professora.

E parada ali em sua frente, era só nisso em que ele pensava. Os cabelos escuros presos em um grande coque, a boca encrespada em uma expressão de completa desaprovação; ela sempre quisera isso para ele, que seu único filho se tornasse professor. Então, por que não? Pelo menos alguém sairia feliz, apesar de tudo.

*

E ela saíra. Quando se formou, pôde ver o sorriso orgulhoso de sua mãe, o primeiro sorriso orgulhoso que havia recebido desde que terminara a escola. Afinal, imaginava que Dorothy Warnock pensara que o filho largaria os estudos, tal qual fora a sua surpresa ao ver o menino se formar. Mas, apesar de tudo, aquilo serviu para alguma coisa; ele receberia um salário, um bom salário. E se para isso apenas precisaria lecionar, então lecionaria. Não se importava em fazer isso, mesmo que tenha esquecido praticamente tudo que aprendera na época. Era só falar um monte de baboseiras para algumas dezenas de estudantes que se encontravam ali para ter algumas horas a mais de sono, não é mesmo? Era praticamente brincadeira de criança, e ele sempre fora bom com jogos.

Sei disso, sempre soube. Porém, Warnock ainda não fazia a mínima ideia. Sempre posso adivinhar o futuro, contudo, ele pode mudar pelo simples fato de já ter sido visto.

Quando finalmente encontrou uma vaga relativamente perto da escola, o homem pôde observar pela primeira vez o local em que trabalharia, enquanto caminhava até lá. As pessoas sempre disseram que a Corleone era uma das mais prestigiadas escolas públicas da cidade. Literalmente, era impressionante. Os prédios da escola pareciam já possuir alguns anos, fato deixado bem visível pela pintura, que se encontrava descascada em alguns pontos. Milhares de estudantes se encontravam espalhados pelos jardins, estudantes que se encontravam na idade em que mais poderiam aproveitar a vida, mas é claro que não faziam isso, não pela aparência de alguns. Ele já os odiava por esse fato verídico. Mas talvez ainda pudesse gostar de alguns, aqueles de que gostava de chamar de anormais. Afinal, toda escola possuía alguns, e ele na certa os encontraria.

Os anormais eram aqueles que não gostavam muito das regras, aqueles excluídos da sociedade, e principalmente aqueles parecidos demais com o novo professor; como o garoto no telhado; os cabelos se encontravam grandes demais, tais como suas roupas, as calças rasgadas lhe davam um ar de que não deveria se encontrar ali, fato que era totalmente negado por sua jaqueta de couro nova demais. Naquele instante, o garoto se encontrava lendo um pequeno pedaço de papel, sorrindo com os olhos; um garoto ao qual fora administrada cafeína demais, ou talvez fosse apenas bebida. Quem saberia dizer?

Eu posso, mas isso seria estragar uma boa surpresa.

― O senhor poderia me acompanhar? ― Primeiro a voz chegou aos ouvidos do homem como em uma melodia suave e séria, como se a sua dona estivesse em dúvida de que tom lhe destinar. Tirando-o, pouco a pouco, de seus profundos devaneios. Mas quando finalmente olhou para a dona de tal voz, se arrependeu de não ter feito o gesto antes. À sua frente se encontrava a mulher mais bonita que um dia já pôde ver. Seus cabelos pretos estavam soltos e se esparramavam livremente por suas costas, enquanto seus olhos amendoados pareciam estar em dúvida de para onde olhar. Ela lhe parecia familiar, mas ao mesmo tempo completamente estranha. Como uma amiga com a qual um dia já houvesse partilhado seus segredos mais íntimos e que agora não passava de uma completa estranha. ― Você deve ser o Sr. Warnock, não? O nosso novo professor de Artes. Eu sou a Sra. Grant, a vice-diretora dessa escola. Deveria saber que está atrasado, pedimos que chegasse cinco minutos antes, mas isso não tem importância agora. Todavia, terei apenas dez minutos para lhe mostrar a escola.

Nesse momento,Warnock poderia cair para trás se não estivesse cercado por tantos adolescentes.O destino estava realmente brincando com ele, afinal, a vice-diretora não poderia ser assim, não tão bonita. Estava esperando, ao menos, uma velha senhora com experiência na escola, não uma pessoa assim, não com trinta anos ― ou talvez até menos. Quero dizer, a Sra. Grant ganharia, em uma escala de zero a dez, de onze em estética se comparada a uma daquelas adolescentes no gramado.

― Você é casada? ― ele poderia ter pensado em milhares de coisas para dizer naquele momento, mas aquela que disse foi de longe a pior. Ele estava falando com a vice-diretora, não é mesmo? Definitivamente, não queria ser demitido em seu primeiro dia de trabalho. ― Quero dizer, como você disse senhora e não senhorita. Eu não, bem, não precisa responder. – completou rapidamente, olhando fixamente para os grupos de estudantes que se encontravam mais perto, os quais o professor podia chutar; pelas gargalhadas abafadas, haviam escutado a conversa.

Realmente não gostaria de ser lembrado como o professor que havia levado o fora da vice-diretora, que talvez fosse até mesmo casada. Ou talvez ele fosse demitido por perguntar tal coisa, quem saberia dizer? Certamente seria menos vergonhoso. Nunca trabalhara em uma escola assim.Na verdade, nunca trabalhara em escola alguma.

Havia motivos demais para ser demitido antes disso, sua falta de experiência era uma delas.

― Divorciada, mas isso não vem ao caso. ― as palavras ditas o surpreenderam, juntamente com o sorriso dado após a elas. Talvez trabalhar não fosse tão ruim assim, apenas talvez. ― Agora, se o senhor fizesse o favor de me acompanhar, poderia te mostrar a escola. ― disse por fim, seus olhos faiscantes finalmente encontrando os deles. Ela lhe era familiar, sabia disso. Mas não possuía a mínima ideia de onde pudesse tê-la encontrado antes, ele certamente teria lembrado. Não costumava esquecer um rosto, e principalmente, não gostaria,nunca, de esquecer aquele rosto.

― Talvez você devesse me seguir, Warnock. ― repreendeu a vice-diretora; nos poucos segundos que levara para processar o fato, a mulher já havia se aproximado da entrada dos prédios, como se temesse que aquela conversa se desenrolasse por mais tempo. Ele nunca temeria aquilo, se bem que deveria temer. Que professor não teria medo de uma conversa com a vice-diretora? Bem, ele não tinha. Mas, tecnicamente, ele não era um professor tão experiente assim.

Não poderia nem mesmo se considerar um professor.

― Claro, já estou indo. ― no mesmo instante em que disse essas determinadas palavras ele se arrependeu. Quem falava que já estava indo para a vice-diretora? Aquilo fora uma ordem, não um pedido; e também não era como se a mulher fosse sua mãe para responder que já estava indo. Mas já passara tempo demais para corrigir seu erro, a mulher havia adentrado a escola, esperando que o homem seguisse seu exemplo.

E foi exatamente isso que ele fez, já cometera erros demais em um só dia. Erros demais até mesmo para ele, que costumava errar muito mais que a maioria das pessoas.

― Como o senhor deve saber, a escola Corleone é muito disputada, em termos de vagas, por adolescentes de todo o país, sendo a escola secundária da qual saem pessoas com bastante influência no mercado de hoje. ― começou a mulher, assim que Warnock deu o primeiro passo para atravessar o arco e adentrar a escola. Aquele discurso fora decorado, sabia disso, talvez fosse até mesmo treinado com um sorriso diante do espelho.

Assim que a mulher proclamou aquelas essas palavras, o homem soube disso. Era apenas um termo mais bonito, escolas não eram disputadas. Porém, influência era. Um belo nome significava muito mais no mundo em que estavam vivendo.

Apenas um belo nome.

Ele não se surpreendia que na Corleone também fosse assim, todos precisavam de dinheiro. E quanto mais, melhor, certo? Pelo menos, esse era o lema dos que realmente tinham algum dinheiro, eles sempre se convenciam de que não possuíam o bastante.

― O senhor é um bom ouvinte, senhor. Continue assim. ― recomeçou novamente diante das sobrancelhas arqueadas do professor. ― Quanto ao seu horário, ele lhe será dado em alguns minutos, mas penso que já possui o que foi mandado à sua residência na última semana, não é mesmo? Juntamente com um mapa da escola. Existem quatro prédios nessa escola, sendo que um se encontra totalmente fechado, três servem suficientemente bem. Vou lhe mostrar a sua sala. ― completou finalmente, se dirigindo para uma porta no outro extremo do corredor em que seencontravam, que levava novamente aos jardins, atravessando-o em direção a outro prédio.

Ao passo que fora explicando sobre o sistema da escola, a mulher havia passado em frente à algumas salas de aula vazias, e quando esse momento acontecia, parava apenas para sussurrar algumas informações sobre elas. Para Warnock, não era nada de mais. Tudo era parecido demais com a escola que estudara quando adolescente, a única diferença era que agora era um professor, não mais um dos milhares alunos que frequentavam a escola. A vida realmente dava voltas. Quem diria que um dia ele viraria um professor? O próprio homem certamente não.

― Aqui está, sua nova sala. Onde lecionará pelos próximos anos. ― Quando ela finalmente entrou na sala de aula vazia, Warnock se pôs rapidamente a fazer o mesmo. Afinal, aquela era sua sala de aula, ou pelo menos, agora era sua. Ele poderia fazer o que quisesse com ela; talvez não tudo que quisesse, mas quase tudo. ― Pode ficar à vontade, o sinal irá tocar dentro de alguns minutos para sua primeira aula. Boa sorte. ― aquelas foram suas palavras finais antes de abandonar o homem com sua grande responsabilidade.

Poderia dizer que a primeira coisa que Warnock fez após esse fato foi checar os armários, atrás de materiais que pudessem ser úteis, mas isso seria uma completa mentira. Porém, se querem a verdade, ela batia verdadeiramente com a personalidade do novo professor. Ele jogou sua bolsa ― quase vazia, a não ser, é claro, por algumas caixinhas de giz e um maço de cigarros ―, depois de pegar o último item da medíocre lista. Não deveria fumar dentro de uma escola, sabia disso. Mas não podia se controlar, na verdade, ele não queria se controlar. Já estava tenso demais no momento para se preocupar. Sua primeira aula começaria em apenas alguns minutos.

Só um cigarro, era tudo que queria. Ele tinha quase certeza que poderia terminá-lo antes que os alunos entrassem na sala. A Sra. Grant havia dito que tinha mais alguns minutos e ele iria usá-los com bastante sabedoria. Quando acendeu o Marlboro com suas mãos trêmulas, finalmente sentiu um pouco da coragem que antes possuía voltar-lhe. Eram apenas crianças, não é mesmo? E ele sabia lidar com crianças, ou pelo menos teria de aprender.

Talvez tenha sido o destino, ou apenas a sorte sorrindo mais uma vez ao seu favor, ele não fazia a mínima ideia. Mas no exato instante que o filtro se queimou por completo, ele pôde ouvir a alta sirene soando pela escola, juntamente com milhares de passos no corredor. Sua primeira aula começara naquele instante. Havia certas coisas que ninguém poderia ensiná-lo.


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