Avatar: A lenda de Mira - Livro 1 Água escrita por Sah


Capítulo 22
Não há como negar




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Naquela noite eu olhei para a lua, ela estava crescente, logo, logo, ela estaria cheia. Quando que seria a aula mesmo? Eu não conseguia pensar direito. Eu ainda ouvia os gritos daquelas pessoas, tossi ao lembrar do cheiro.

— Mira, amanhã quero que você chegue cedo. – Meu pai disse.

— Amanhã? Por quê?

— Não podemos falar nada aqui. Mas é que nosso líder quer que iniciemos sua preparação para o grande dia.

Apenas assenti. Minha opinião não conta mais.

O que eu estaria fazendo se a Suki nunca tivesse me jogado na piscina? Às vezes eu penso nisso.

Na escola, o Riku ainda não tinha aparecido, e a única pessoa que havia falado comigo era a Suni. Meelo ainda me evitava.

Quando eu voltei da escola, eu estava me sentindo mal. Não o mal que eu senti ontem, não era uma dor psicológica, mas eu estava doente. Eu não sou muito de ficar doente, mas acho que o stress desses dias me deixou assim. Meu estômago estava queimando. E eu tinha febre e não estava conseguindo respirar direito. Quando meu pai sentiu minha temperatura, eu acho que seu extinto paterno se aflorou. Ele não iria me deixar sair de casa, enquanto eu não estivesse boa.

— Talvez seja melhor chamar um médico para ela. – Sugeriu Wana.

— Médico, agora nós temos dinheiro para isso não é...

Sabe quando as vozes vão ficando cada vez mais distantes? Era isso que estava acontecendo. Eu não conseguia mais distinguir as palavras. Eu estava queimando e era apesar de tudo uma sensação que me confortava. Eu só queria ficar deitada e esquecer de tudo.

O meu pai realmente chamou um médico. Um senhor de cabelos grisalhos e grandes olhos azuis e gentis, ele estava sentindo a minha temperatura quando eu acordei.

— Ela está com gastrite. Ela passou por alguma situação de stress esses dias?

— Eu não sei te dizer, mas ela se descobriu uma dobradora de água, e nos mudamos a muito pouco tempo.

O médico não pareceu surpreso.

— Vocês podem me deixar a sós com ela?

Meu pai hesitou, mas acabou saindo. Ele até parecia ser aquele homem que ele era antes da Wana.

— Além da gastrite você está com uma infecção pulmonar. Você esteve em algum incêndio? Nunca vi nada assim, além em vitimas de incêndios.

— Incêndio? – A primeira coisa que veio na minha cabeça, foram aqueles gritos, aquelas pessoas queimando, o cheiro.

— Sim, você recentemente inalou muita fumaça. E pelo jeito o seu pai não sabe.

— Não, ele não sabe. Ninguém sabe.

— Eu entendo que vocês jovens dobradores querem ser heróis. Mas não da para salvar o mundo. Eu mesmo já me machuquei muito fazendo isso.

— Você se machucou?

— Sim, eu também sou um dobrador. Sou da geração em que nós não éramos tão raros. Acabei seguindo a área médica e não me arrependo nem um pouco.

— Você é um dobrador de água?

— Sim, como você. Você pode me chamar de Toht.

— Você vai contar para o meu pai?

— Não. Eu acho que algumas coisas devem ficar entre o médico e o paciente, e pela sua ficha diz que você é emancipada.

— Shhh. Ele não sabe.

— Essas coisas que eu não entendo, nosso governo é muito complicado.

— É que você não entende.

— Eu não preciso entender, eu só preciso curar e salvar vidas. Então peço sua permissão para fazer uma limpeza no seu pulmão.

Naquele momento eu aceitei, mas eu não sabia que seria a pior coisa que poderia acontecer comigo.

— Você irá se sentir incomodada. Mas irei fazer rápido para não doer tanto.

Ele me amarrou na cama e pegou um líquido de uma garrafa que estava com ele.

Ele dobrou a água com delicadeza. E ela entrou pelo minha boca. Foi como viver aquilo de novo. Eu senti quando chegou ao meu pulmão. Doeu, doeu muito, mas o pior foi a sensação de afogamento. Eu não podia mais aguentar aquilo. Aquilo tinha que parar. Eu vi quando o liquido que antes era transparente saiu pela a minha boca negro como a fuligem.

Tentei me soltar. Usei toda a minha força. Mas ele tinha amarrado muito forte. E fiquei me debatendo. Ele parecia calmo como se estive sob o controle.

— Você é bem forte e tem uma resistência a água. Não houve muitos danos ao seu pulmão, mas vou deixá-la de repouso por pelo menos três dias.

Eu não consegui falar, eu ainda tinha aquela sensação de afogamento.

— Vou enviar um pedido a sua escola, não precisa se preocupar com isso. E se você tiver qualquer problema você pode me ligar.

Ele me soltou das amarras e me deu um cartão. Nele havia um número de telefone, e uma flor. E na parte inferior estava escrito: Ordem da Lótus Branca.

Esses foram os melhores três dias de todos. Nenhum pedido, nenhuma reclamação, nenhuma polemica, nada. Eu gostaria que minha vida permanecesse assim. Mas os três dias haviam passado. Eu precisava voltar aquela rotina estressante de sempre.

Eu escondi aquele cartão, eu não sabia o por quê mas eu tinha a sensação que não era uma coisa que eu deveria mostrar para todos.

Ao voltar para a escola, ninguém parecia saber o que tinha acontecido comigo. Suni veio muito preocupada ao meu encontro.

— O que aconteceu com você? Achei que você tinha me abandonado.

— Eu só fiquei doente, achei que o médico havia avisado.

Suni se emburrou.

— Eles não avisam aos alunos essas coisas. Todo mundo achou que você tinha desistido. Por causa daquela competição idiota.

— Eu não caio fácil assim.

— Até disseram que os pais da Beka haviam te dado um sumiço. O pior foi que ela não desmentiu.

— Acho que as coisas ficaram movimentadas sem mim.

— Na verdade nem tanto, as coisas ficaram chatas. Sabia que o Riku só voltou ontem, também achei que ele havia fugido ou algo assim. Ele voltou mais chato do que antes.

— Acho que ele voltou a tomar os remédios?—Falei baixo

— Tomou o que?

— Nada. Só estou pensando alto.

— E o Meelo, ele ficou muito perturbado com aquela noticia do avatar da União do Fogo. Ele diz que tudo isso é mentira. Mas eu não concordo com ele, você viu os vídeos de que saíram?

— Eu fiquei desconectada do mundo esses dias.

— Eu não sei se eu acredito. Meu pai diz que é uma besteira, por que se o avatar tivesse voltado ele não ficaria do lado da União do Fogo, mas eu não sei o que pensar, eu prefiro acreditar que ele voltou e que o mundo vai se movimentar de novo. Você não acha que as coisa estão muito chatas?

— Chatas? A eu não sei como te responder isso. Minha vida anda muito movimentada.

— Sorte a sua.

A como eu queria ter a sua vida chata.

Meelo estava um pouco mais tranquilo, ele me olhava demais. Senti até que ele estava me seguindo. Como o Riku foi tenso. Eu não sabia como agir perto dele. Eu tinha visto a sua verdadeira personalidade, uma coisa muito diferente de como ele se comporta agora. O pior é que eu me sentava do lado dele.

— Mira, precisamos conversar. – Ele me disse

— Acho que precisamos. Que segredo é esse que você disse?

— Segredo. Ah isso. Eu não sei, mas eu acho que eu acabei vendo demais, e tudo isso foi potencializado pelos meus sentimentos no momento.

— Você pode me dizer o que você viu?

— Sim, eu posso. Mas quero te falar antes, que ele me obrigou a dizer.

— Ele?

— Sim, Meelo. Ele ficou fazendo umas perguntas. E eu tive que concordar com ele.

—Ah, não. Você também não.

Falei alto demais. Todos olharam para nós.

Meelo sabia o que estávamos falando.

— Mira, nós temos que tirar isso a limpo. – Ele disse de longe.

—Do que vocês estão falando. – Perguntou Suni.

—Você vai saber. Você também vai ouvir.

A professora Tenar entrou na sala.

— As pontuações estão acirradas, mas o grupo 5 está na frente por 50 pontos.

O grupo da Zelena aplaudiu.

— Teremos mais uma competição que poderá virar esse jogo.

Toda a turma vibrou.

— Mas dessa vez será muito mais difícil. O grupo que ganhar essa prova irá ganhar 50 pontos.

— Mas isso não é justo. – Reclamou Zelena.

— Se você e seu grupo ganharam essa não haverá como te alcançarem no dia do festival.

— Isso vai ser moleza, todos os outros grupos não chegam aos pés do meu.

— Será? Dessa vez não teremos competição física ou de estratégia. Dessa vez será intelectual.

— O que? È sério isso?

— Sinto muito crianças, o diretor exigiu isso.

A aula terminou e todo mundo estava desanimado. Era uma competição que exigiria mais de todos.

Eu não cheguei a piscar. E eles já haviam me encurralado.

— Mira. Vamos conversar.

— Esses foram os melhores três dias da minha vida. A dor que eu sentia ao respirar não tinha comparação com tudo isso. Riku contou o que ele fez? Ele diz coisas sobre mim, mas ele diz o que ele faz?

— Mira. Não estamos aqui para falar sobre ele.

— Não, agora eu quero falar. Há quatro dias eu tinha uma infecção pulmonar e sabem por quê? Por que eu tive que salvar as pessoas que ele queimou. Não foi numa brincadeira. Ele é maluco.

Riku parecia inabalável.

— Você acha que essa foi a pior coisa que eu fiz? Por que você acha que eu tomo esses remédios. Eu tinha duas opções a morte ou os remédios. Acho que você sabe qual eu escolhi.

— Acho que você precisa de uma dose maior, acho que você está ficando exaltado.

Eu sabia como reagir em uma discussão. Eu queria discutir, eu queria bater nele. Acho que eu preciso daqueles remédios.

— Parem vocês dois. Eu não quero ouvir nada dessa discussão tola. Nós sabemos do que ele é capaz. Não é segredo para ninguém.

— Ah, Meelo, deixe eles, isso está ficando divertido.

— E você também Suni. Você só quer ver o circo pegar fogo.

— Você também quer discutir?

— Ah, calem a boca todo mundo. Eu vou falar de uma vez.

Meelo olhou para toda a sala, acho que ele estava verificando se ainda havia alguém ali.

Ele respirou fundo.

— Mira. Meu pai quer que você nos visite. As provas são suficientes. Não adianta mais negar.

Eu comecei a respirar profundamente. Eu já sei onde eles querem chegar.

— Não adianta, vocês não desistem. Eu não posso ser o Avatar. Vocês não viram as noticias? O avatar é da união do fogo.

— Riku disse que te viu dobrar a água. Você estava com os olhos brilhantes e a quantidade seria impossível até para o melhor dobrador de água que temos. Minha tia pediu para fazer isso.

Ele se aproximou de mim. E tocou na minha testa.

— Vou ativar os seus chacras. Essa será a prova definitiva.

E eu não vi mais nada.


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