Nico

A noite era calma no chalé 13. Nico gostava da solidão do local e agora sentia que lá era realmente sua casa. O chalé escuro era ocupado somente por ele, sobravam beliches, inúteis na opinião de Nico já que Hades foi o único a manter a promessa de não ter mais filhos. Os beliches que pareciam desconfortáveis estavam se tornando cômodos, ele estava se acostumando a cama apertada parecida com um caixão. As paredes não eram totalmente negras, cinzas talvez, mas com apenas a luz da Lua o ambiente ficava sombrio e calmo.

Nico sentiu vontade da água. Não, não de Percy. Da água. Entrou em baixo do chuveiro, que foi reconfortante. A água gelada escorria pelos seus cabelos que caiam nos olhos. Ficou tempo parado em baixo do chuveiro. Um barulho veio de fora mas ele não escutou, ficou em seu silêncio a meia luz. Quando a luz se acendeu cegando-o e a uma fresta na porta do Box se abriu. Will Solace.

–Mas o que é isso?! Você pirou de vez? – Nico fez um pouco mais de barulho do que precisava. Will não tirava os olhos dos seus.

– Desculpe é que estamos tendo uns problemas com o banheiro lá no chalé 7. Sabe muitos irmãos, muito tempo. E eu preciso tomar um banho. Achei que não tinha ninguém aqui e entrei.

Nico ainda estava com cara de nada, quando se deu conta que estava sem roupas.

– Me passe logo àquela toalha! – Will olhou para trás.

– Meus deuses até sua toalha é preta – e riu. Coisa que Nico não viu graça nenhuma. – Então. Será que eu posso...

– Ta. Claro só espere eu... – Will já estava no Box junto com ele. Nico mantinha a cara de inconformado enquanto Will entrava no chuveiro. – Meus deuses Nico Di Angelo por que a água tão fria? Esquente isso aqui!

– Com licença?! – Will olhou para trás e viu Nico ali parado com cara de tacho.

– O que foi? – Nico levantou as mãos e ergueu as sobrancelhas demonstrando o óbvio. – Ah esqueci que você não tem irmãos. Não está acostumado a dividir o banheiro né? Venha aqui! Não tem nada demais. – Nico não parava de encará-lo, nem percebeu que o outro estava sem roupas, e não reparou nisso em nenhum momento. Will o puxou para baixo do chuveiro, o que encharcou a toalha presa a sua cintura. Nico mantinha sua expressão fria e vazia o máximo que conseguia até que contra a vontade foi jogado para baixo da água.

– Pelos deuses digo eu! Isso aqui está mais quente que as profundezas do tártaro! – sua mão foi até a torneira e gelou a água novamente.

– Ora pare com isso quente é melhor! Assuma logo que você perdeu.

– Frio. Meu. Chalé. – Will pareceu assustado, Nico nunca havia reagido dessa maneira com ele, estava realmente irritado com o outro.

– Quente. – A mão de Will foi até a outra torneira.

– Frio. – Nico segurava a outra. Não demorou para o pingue-pongue começar. Exatamente como na batalha de Gaia.

– Quente.

– Você vai queimar a resistência do chuveiro. Frio.

– Quem vai queimar é você se não parar de implicar. Quente.

– Frio! – seu tom de voz aumentou.

– Quente – assim como o de Solace.

– Frio!

– Quente

– Frio! – estavam quase gritando quando Nico se deu conta de como estavam próximos.

– Quente – O tom de Will Solace baixou. Estavam realmente próximos.

– Frio... – saiu quase como uma pergunta. Eles pararam, e Will Solace novamente o beijou. Nico não reagiu no começo. Ficou com as mãos no ar. Will separou seus lábios.

– Quente – suas testas se encostavam, ficaram ali. Embaixo da água, aproveitando o momento de silêncio. Nico dessa vez o beijou. O beijo foi mais envolvente. Suas línguas se envolveram numa dança envolvente. Nico estava ficando sem ar e se separou de Solace. Estava olhando para baixo. Quando percebeu desviou o olhar para os olhos de Will que aparentemente não percebera nada.

– Está tudo bem? – Will perguntou par Nico que estava com uma cara de dor.

– Não sei. Minhas costas estão ardendo. A água está muito quente. – A respiração de Will estava ainda em seu rosto. – Acho melhor eu sair. Pode terminar seu banho. – Nico deu um beijo tímido nos lábios de Will e saiu. Aquele sim havia sido o melhor beijo de baixo d’água de todos os tempos.

Will

Will não acreditava que era tão cara de pau. Como ele tinha criado coragem? Sim havia planejado tudo com antecedência, mas a história dos banheiros. Genial! Ele esperou um tempo após a saída de Nico pra não ficar na cara que havia inventado tudo. Ele saiu do banheiro e Nico estava olhando suas costas num espelho.

– Tudo bem?

Nico abaixou a camiseta preta rapidamente. Estava envergonhado. Will não sabia o por que.

– Tudo. Minhas costas só estão ardendo um pouco.

– Deixe me ver.

– Se vista primeiro. –Nico estava novamente com a sobrancelha esquerda arqueada. Quando ele ficava irritado era a primeira coisa que fazia.

– Tudo bem chefe. – Will foi começar a se trocar mas foi interrompido.

– Você não pode ir para o banheiro?

– Te incomoda.

– Por favor, não queira deixar a situação pior do que já está. Eu estou morrendo por dentro.

– Sua ironia quando fala de morte e se refere a você. Que coisa fofa. – Nico corou totalmente.

Will voltou agora completamente vestido.

– Melhor? – Nico assentiu. – Ótimo me deixe ver suas costas.

– Não, está tudo bem, deve ser a água muito quente.

– Pare com isso. Você sabe que sou o Sr. Médico do acampamento. Tire essa camisa e deixe-me ver o que está acontecendo.

O rosto de Nico ficou vermelho, mas agora de raiva. O jeito como ele ficava bravo deixava Will ainda mais caído por ele. Relutante ele tirou as camisetas e sentou na cama com a cara emburrada.

– Meus deuses!

– O que foi? – a voz dele era monótona.

– Vou encostar em alguns lugares se doer ou arder você fala.

– Ta tudo bem, mas saiba que não é... Ai !

– Doeu?

– Não.não. Estou gritando de felicidade.

– Pare com isso. – Will estava olhando para as costas de Nico. Estavam vermelhas. Provavelmente por causa dos arranhões durante toda a viagem. Ele tinha certeza agora de como Nico havia sofrido. Os curativos que o Treinador havia feito curaram, mas ficaram marcas. – São apenas cicatrizes, mas você precisa cuidar para evitar problemas. A água quente as irritou. Desculpe.

– Tudo bem. – Nico continuava de cabeça baixa para que Will pudesse ver melhor suas costas. – Qual a prescrição?

Will se perdeu em pensamentos. Como era triste aquela imagem. Mas era belo para seus olhos ver a força do menino. Estava reparando em cada detalhe que nunca observara antes. Nico era magro, mas possuía músculos bem delineados, era forte. O cabelo sem duvidas precisava de um corte, estava muito comprido, mas o deixava ainda mais misterioso e charmoso. No final de suas costas possuía marcas da coluna, e sua...

– Will? – Nico olhou para trás. Will acordou.

– Desculpe estava lembrando o nome da pomada que eu queria passar. – Por pouco.

– Ah. E qual é?

– Não se preocupe amanhã eu trago pra você e te ajudo a aplicar.

– Tudo bem. Pode me dar minha camiseta? – Will estava sendo estranho de novo, parado olhando para o rosto de Nico. Os olhos escuros que pareciam janelas trancadas atrás de uma floresta de fios negros a ser desbravada. O rosto magro mas bonito, pálido, parecia a morte – Will minha camiseta.

– Ah sim! Ta. Claro. Aqui. – Will entregou com relutância. – você não precisa por... - Droga Solace! Pensando alto de novo. Ainda bem que sua voz saiu baixa e Nico não o escutou.

– O que disse?

– Nada. Ponha logo essa camiseta ou vai ficar doente! – Nico se apressou.

– Will está tarde. Acho melhor você ir - Mesmo? Pensou Will – As Harpias logo estarão por ai e não quero que elas destruam você.

– Nem eu. Gosto do meu rostinho bonito.

– Como você se acha. – Will deu de ombros.

– Bom, então eu já vou indo.

– Tudo bem. – Will estava saindo pela porta.

– Tchau Nico.

– Tchau Will.

– Não vai abrir a porta pra mim. – Nico olhou para ele com sua cara de “sério isso” - Se não abrir eu não saio. - Não abra! Will não queria ir.

Nico se levantou da cama, abriu a porta e mostrou o caminho com o braço. Will saiu e a porta se fechou atrás dele. Ele respirou fundo e bateu na porta . Nico abriu. E Will o beijou novamente. Um beijo roubado. Rápido aos olhos de Ártemis.

– Boa noite. – Se virou e saiu correndo para o chalé 7 antes que fosse pego.