Ophelia escrita por Dope Friends


Capítulo 3
Terceira Parte




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Um dia fui ao bosque escondido que ficava algumas horas da minha cidade com Ophelia. Ela aceitou desajeitada, colocando sua franja delicadamente atrás da orelha. Aquela foi a primeira vez que deixei a garota entrar em meu carro velho, assim como a olhei de uma forma não manipuladora, mas gentil como jamais a teria visto. Quando ela deitou no campo esmeraldino, levou vagarosamente seus dedos á minha mão, e sorriu para mim com uma felicidade gostosa no rosto.

Aquele dia, soube que Ophelia não era sociopata ou qualquer monstro que a chamei antes. Percebi que era apenas uma garota com 16 anos que contentava-se com os altos e baixos da vida, além de deixar-me entrar na frequência louca que a mesma seguia; lembrando-me de como era bom ser jovem.

Ela segurava uma margarida pequenína e arrancava-lhe as pétalas brancas, sussurrando alguma brincadeira boba; que dava-lhe aquele ar infantil e ingênuo que deixava-me embevecido. Mesmo amando tanto Anabelle, nada entregava uma sensação tão saborosa quanto aqueles momentos escondidos com a ruiva. O que era aquilo? O que era aquela sensação de estar gostando de algo tão destrutivo? O que era aquele vício louco que fazia-me suar nas noites frias quando lembro-me de teu nome?

Naquele mesmo dia, Anabelle perguntou-me as mesmas coisas. O que era aquelas saídas escondidas, aqueles sorrisos vagos e aquela frieza com qual eu a tratava. No meu consciente, queria dizer-lhe tudo, dizer como estava louco por aquela garota e como eu queria passar o resto da minha vida assim, mas o racional martelou mais forte e respondi com um imprudente: "É o trabalho, amor. Estou procurando por cursinhos aqui perto para dar aula".

Ela sorriu triste depois daquela mentira descarada, e nós demos um longo e melancólico beijo, enquanto o vento frio sacudia algumas folhas dos jardim. Depois daquela vez, tentei ser mais compreensível com minha mulher e mais atencioso, e voltei para outra fase dura de tentar esquecer Ophelia. Comprei alguns presentes como chocolate e flores para Anabelle, e no repente, tudo estava como antes.

Apesar de tudo, quando deito com meus olhos abertos esperando o sono vir, aquele perfume conhecido passava pelo quarto, sufocando-me por não estar realmente com o alguém que amava. Aquelas noites, mesmo com Anabelle do meu lado, tornaram-se abafadas e tristes. Talvez, porque Ophelia ficara duas semanas despreocupada com o meu descaso, sempre voltando para os milhares de rapazes que corriam atrás dela.

A ruiva continuava com seu sorriso singelo e com suas brincadeiras infantis, pisoteando aquela sensação de ser alguém que ela me atribuía. Percebi que não fazia diferença alguma nossas tardes juntos; nossos passeios e piadas internas, era tudo passageiro demais, quase comparável á um de seus romances adolescentes. Senti-me fracassado.

E por mais que eu quisesse lutar contra aquilo, ser forte e seguir em frente com minha vida, aquela sensação de não conseguir engolir estava me matando. Então, escolhi um dia que Anabelle fora dar uma de suas aulas particulares para levar Ophelia até minha casa e fazê-la minha novamente - numa forma de aliviar minha alma. No último horário, coloquei um papel pequeno pedindo que me esperasse próximo do estacionamento, e não tão surpreso, a vi com seus cabelos presos em duas tranças grandes.

Quando chegamos até minha casa, ás escuras, ela lançou-me seu melhor abraço e encheu-me de beijos do rosto, implorando para que eu nunca faça isso novamente. Eu fiquei meio bobo com sua reação, mas a segurei pela cintura e disse em seu ouvido que não era algo para ela preocupar. Direcionei meus lábios para os seus, e deixei com que as emoções novamente gritassem pelo meu corpo, a segurando agora pelas suas pernas gostosas e a levando até meu quarto.

Ela tirou com cuidado seu uniforme branco, seduzindo-me com sua saia curta e amarelada. Eu nem se quer lembrei naquele momento - de tão hipnotizado que estava – que naquela mesma cama tive um dos meus melhores momentos com Anabelle... Não... Nem se quer lembrei de teu nome ou de tua face enquanto divertia-me com Ophelia. Estava entretido demais em seus jogos de sedução e em seu olhar apaixonado, e foi deste modo, jogado em cima do seu corpo branco e nu, que a pessoa que eu menos esperava entrou no quarto.

Anabelle bateu a porta com força, fazendo-me perceber que aquilo era tudo um plano estúpido de pegar-me nos meus atos de traição - e ela conseguira. Eu queria ter simplesmente levantado e negado aquela situação com a famosa frase "É tudo um mal entendido", mas algo estranho só me fez levantar e sentar com os pés trêmulos no chão.

Ophelia fingiu choro. Seus olhos azuis molharam-se do nada e tentou parecer envergonhada, juntando suas roupas e saindo correndo para o banheiro. Quando foi fechar a porta - sabe se lá porque ela quis fechar a porta - lançou-me um sorriso cínico, que queimou meu estômago até minha cabeça de tanto ódio.

Não sei porque demorou tanto tempo para eu perceber os jogos de Ophelia. Acho que estava tão louco por aquela rapariga, que nem se quer percebi sua falsidade pintada no rosto coberto de sardas. Ela deixou-me sozinha no quarto - que agora era frio e úmido - sentado na cama com as cobertas no meu colo: sem palavras, sem reação.


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