Maybe Someday escrita por SomeKilljoy


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

OE
Tenho que me desculpar, especialmente pra uma leitora a quem eu tinha dito que postava o cap uns 4 dias atrás ;-; Mas acho que o tamanho do cap compensou :x
Portanto, para quem não notou ainda: a fic tem muuuuitas tendências a ser long fic, assim como os capítulos tendem a aumentar à medida que a história vai se desenvolvendo. Vou começar a descrever mais e etc (menos pontos desnecessários, porque né :v). Então, por "a coisa fica séria" que eu disse no capítulo anterior, entende-se por "coisa" a minha escrita também :v Aviso prévio, porque vai que eu surjo aqui com um capítulo de 8 mil palavras o.O #duvido Eu sei que todos aí leem livros grandes, então não tem porque "se assustar" :v
Mas, é, espero que gostem.
Boa leitura ^.^



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Se não fosse pela ligação de sua mãe que o retirara abruptamente de seu torpor, Tyler teria permanecido com os olhos fixos na lua brilhante – como se esta fizesse alguma diferença – feito um bobo por tempo suficiente até que só restasse dele um esqueleto humano em plena decomposição. Não prestara atenção direito no que ela tinha a dizer, só captou algo como “Você está demorando muito! Não tinha dito que estava a vindo?”. Suas respostas foram algo sequencial e repetitivo parecido com “Hm, okay, aham, certo, sim, tá, okay, aham, estou indo” que facilitaram bastante as coisas para sua cabeça momentaneamente incapacitada.

Endireitou-se no banco do carro (ele, de alguma forma, havia deslizado nele como se seus ossos fossem feitos de geleia até que estivesse completamente deitado sobre o mesmo) e engatou a marcha, indo finalmente para casa. Ruborizou com a constatação de que Gray devia ter ficado em dúvida por consequência da estadia um pouco longa demais do carro em frente à loja. Como se Tyler não estivesse em um estado são o suficiente para dirigir.

Quem diria que uma ida à casa de Cameron acabaria com aquele beijo? Quem diria que o beijo aconteceria daquele jeito? Tyler continuaria sem reação se não tivesse ficado tão elétrico, acordado e extasiado com o ocorrido. Quase se culpava por tê-lo feito demorar tanto.

De fato, ele havia desejado se desculpar com Gray por ser tão complicado. Mal se entendia direito. Às vezes fazia algo com sentido, às vezes não. Ia contra as próprias teses ao agir precipitadamente. Era um desastre na hora de tomar uma decisão, nem que se fosse no caso de escolher um prato em um restaurante. No entanto, seu orgulho – que às vezes nem era muito grande – o impedia disso. Pensava que bastava de auto-humilhação. Gray o havia feito se contrariar mais vezes que ele próprio havia se contrariado por si mesmo. Ou melhor, Gray havia, naquele caso, convencido Tyler do contrário. Não consentia que ele tivesse feito. E Tyler era potencialmente cabeça dura e difícil de se convencer.

Não era possível que Gray fosse tão significativo a ponto de fazê-lo mudar tanto. Era?

Talvez aquele beijo fosse o sinal de que, sim, era.

Para evitar acidentes lamentáveis, balançou a cabeça e descartou os devaneios. Mais tarde teria tempo pra isso.

No fim, a tal “surpresa” de sua mãe era mesmo surpreendente – nos primeiros momentos. Depois disso, ela inevitavelmente adquiria tamanha indiferença que até o fazia sentir-se mal por sua mãe.

Ela estava tão entusiasmada que parecia estar adiando a festa de 4 de Julho. Só faltava sair convidando (lê-se obrigando) qualquer ser infeliz que estivesse passando por perto a ir ao primeiro almoço em família de verdade que teriam em meses amanhã. Certamente, teria sido o jantar daquela noite. Contudo, o fato de Tyler ter chegado tarde meio que atrapalhou isso — só que não o suficiente para acabar com a “alegria” dela. Ainda bem. Sua mãe zangada não seria benéfico a ninguém.

Só que, infelizmente, Tyler não era tão bom em fingir. Era legal e tudo mais, realmente queria matar as saudades, etc etc etc, mas não chegava a ser uma daquelas boas notícias de abalar o estado emocional. Sua mãe, ele supunha, devia estar esperando que ele se debulhasse em lágrimas de emoção, como ela mesmo devia ter feito antes. Deduzia isso devido ao olhar expectante que ela tinha lhe lançado quando entrou em casa. Eeer, definitivamente não. O garoto estava mais inclinado a exclamar: “Isso é ótimo! Só que eu não me importo tanto, foi mal.” Mas não era tão sincero assim.

Por bem ou por mal, ele aparentava ser o único proprietário de tal pensamento em sua casa. Até Esther, que possuía ainda menos intimidade com seu pai do que ele, estava vibrando de felicidade, sorrindo animada e sucessivamente sendo o alvo principal de atenção. A diferença de idade licenciava um desconto, claro.

Então só lhe restava falsificar um sorriso por tempo suficiente para que cumprimentasse devidamente seu pai, que havia chegado de viagem havia um tempo (coisa do qual não tivera conhecimento até entrar em casa – uma injustiça, se quer saber. Se soubesse que a “surpresa” era um pouco mais significativa do que estimara, teria mais tempo para preparar um sorriso melhor, não aquele desconsertado que se forçava a manter no rosto), abraçá-lo (ou melhor, ser abraçado sem corresponder), até que pudesse se fechar no quarto e suas bochechas finalmente parassem de doer de tanto sorrir, deixando a “comemoração” questionável dos outros membros da família para lá.

Foi aí que um milagre aconteceu.

Pela primeira vez, sentiu-se abatido pela bagunça no ambiente. Era uma mera impressão ou ela estava maior de forma relevante?

Certo, para aclarar as coisas, seus planos depois de Gray ter saído do carro e entrado na loja tinham sido esses: 1- Chegar em casa, OK; 2- Tentar se interessar pela “surpresa”, OK; 3- Manter-se acordado o máximo possível, OK, ele não estava nem um pouco com sono; 4- Esperar por uma mensagem de Gray; e por último porém não menos importante 5- Desenhar.

A questão era precisamente esta: como raios teria concentração para desenhar no meio daquele lixão disfarçado de quarto?

E quanto a súbita vontade de desenhar – que podia ser facilmente trocada por “necessidade”: era devido ao surto de inspiração, que ganhara após “aquilo”. Por incrível (ou não) que pareça, aquele beijo mexera com ele a ponto de fazer suas engrenagens localizadas no cérebro darem curto-circuito. Não admiraria se logo saíssem faíscas ou fumaça de suas orelhas. Só que um curto-circuito benéfico, se é que isso é possível. Mas é, esse é o ponto, aquele beijo tinha sido uma fonte de inspiração. Por mais clichê que isso pudesse soar ou por mais que Tyler se proibisse a pensar assim.

Só que agora tinha que encarar aquele monstro de roupas esparramadas, papéis amassados em bolotas e lápis quebrados no chão (por quê, mundo cruel?), que acabavam totalmente com o clima “desenhístico” e levemente (ênfase no “levemente”) romântico que estava tendo até aquele momento.

E é assim que chegamos à parte em que ele acabara arrumando o quarto. De fato, um milagre.

De qualquer modo, efetuava tentativas falhas de dobrar suas roupas para guardá-las no armário – que depois percebeu que também andava precisando de uma arrumação – quando alguém bateu na porta do quarto. Mal teve tempo de dizer “Pode entrar”, seu pai já foi abrindo-a e entrando no lugar. Ele deu uma breve olhada ao redor, potencialmente espantado com a bagunça, de sobrancelha erguida, e perguntou:

— Quer uma ajuda?

Tyler piscou. Faltava alguns neurônios na cabeça de seu pai, pelo excesso de trabalho, possivelmente. Ninguém em seu estado normal de sanidade e em plena consciência de seus atos ofereceria ajuda a algo tão insolúvel quanto arrumar seu quarto. Por fim, deu de ombros e concordou, conquanto sua preferência de colocar as coisas em seus devidos lugares por si mesmo, para não ter dificuldade em encontrá-las depois.

Seu pai, Mark Owen, juntou-se a ele em separar as roupas sujas das limpas (é, Tyler acabara enfiando as sujas no armário involuntariamente devido à sua constante distração), e, estando de perto, ele pôde observar o quanto o homem aparentava estar mais velho e mais cansado do que da última vez que estivera em casa. Não que o filho o visse muito, nem perto disso, mas eram tão gritantes as alterações físicas que era quase assustador. Só olhar nos olhos castanho-esverdeados, a retina inflamada, circundados por uma olheira funda, que ele estava substancialmente exausto. Estava mais pálido. Seu cabelo crescera o suficiente para que cobrisse grande parte das costeletas e caísse na parte de trás do pescoço, e os fios dele, outrora da cor de ônix, estavam começando a se tornar grisalhos. Tyler infantilmente se perguntou como estaria a aparência de Mark se ele houvesse deixado a barba crescer. No lugar de sua mãe, não teria o reconhecido e muito menos o deixado entrar em casa. Achava que ela também não.

— Então, como vão indo as coisas? — seu pai demonstrou-se interessado, como sempre fazia nas suas voltas para casa, utilizando sempre a mesma pergunta, que sempre se seguia com a mesma resposta de Tyler: “Bem, obrigado”. Seu pai parou de ajudá-lo a guardar as coisas e se pôs a prosseguir, surpreendentemente, já que normalmente os diálogos deles se resumiam àquelas oito palavras. — Olha, eu sei que tenho estado muito pouco com vocês, sua mãe, Esther e você, e que vocês às vezes passam por algumas dificuldades sem mim aqui...

— Não passamos, não. Já aprendemos a nos virar com sua ausência — as palavras escaparam antes que pudesse retê-las. Não era sempre que ficava com raiva do pai ou que dizia as palavras sem pensar. No entanto, conseguiu substituir os maus bocados que diria a seguir por um: — Desculpe. Continue.

Seu pai suspirou, cansado, esfregando um dos olhos.

— Eu queria contar a você antes do que a sua mãe... Ela, por menor que seja essa probabilidade, poderia ficar explosiva. Não muda nada a quem eu conto primeiro ou não, mas talvez eu fique mais tranquilo depois da sua reação... ou talvez não...

— Desembucha, pai. — pediu, um pouco impaciente. Até a palavra “pai” saindo de sua boca soava ligeiramente manchada, como se esta não fizesse mais sentido em ser constada em seu vocabulário. Talvez fosse até melhor chamá-lo pelo nome próprio. Não era como se Mark tivesse o direito de ficar incomodado com isso, sendo que nem próximos eles eram.

— Ganhei uma promoção.

“Típico”, pensou Tyler, entediado. “Não é nenhuma surpresa. Agora, como nos filmes e em casos reais de pessoas de uma sorte nem um pouco invejável, ele vai dizer que precisaremos nos mudar para uma casa no Kansas ou em Chicago ou algo do tipo só porque minha vida atingiu o auge e as coisas estão começando a dar certo.”

— E...? — disse o garoto, esperando logo uma confirmação de sua teoria para que pudesse se bater na cabeça com um taco de beisebol ou algo tão doloroso quanto.

— E terei de ficar fora por um ano. Sem voltas para a casa.

Tyler soltou um suspiro de alívio contraditório ao seu tédio anterior tão grande que quase sentiu sua alma sendo expelida através dele e chegou até a murmurar um “ufa” antes que processasse o que seu pai tinha dito.

— Espera aí, o quê?! Um ano? Sem férias, sem vir para cá, sem...?

— Isso mesmo. Claro que, antes dessa viagem, ou melhor, viagens, minhas férias seriam prolongadas por meses. Só sairia daqui em fevereiro do ano que vem. Sua mãe surtaria se eu não fosse ficar para as festas de final do ano. — Ele deu uma risada sem graça. — Tyler, sinto muito, mas antes que possa insinuar qualquer coisa, eu já aceitei essa promoção. Não há nada que você possa fazer.

— Aceitou sem consultar a mamãe?

Mark assentiu.

Tyler assobiou.

— Não é como se isso fosse acarretar alguma mudança na minha vida, mas, pa-... Mark, Esther precisa de você. Mamãe também.

Era engraçado como chamava sua mãe de “mamãe” e seu pai pelo nome próprio.

Aquele ponto, Tyler já havia parado o que fazia tempo atrás, sentado sobre a cama, por pensar que seria ideal dar mais importância a uma das maiores conversas que já tivera com o pai.

Mark olhou para baixo e examinou as unhas mal cortadas da mão.

— Você se ressente de mim, não é?

— Não estou ressentido – mentiu.

— Me chamou de Mark.

— É como se chama, não é? Se você se ofende com seu nome, o que posso fazer?

Silêncio.

Uau, Tyler nunca fora tão “intenso” ao responder alguém. Certo, era uma frase insignificante, mas representava um pouco da adrenalina que raramente sentia. Sim, tinha vezes que ele implodia por não ter dito o que sentia ou pensava, e outras vezes que explodia justamente pelo oposto – falando o que sentia ou pensava. Sem guardar para si todas as dúvidas ou revoltas, desabafando até que se livrasse de todo aquele peso. Sem hesitar. Não era sempre que se permitia agir assim. Pensou como seria se o fizesse naquele instante. Cogitando a possibilidade de que seu ressentimento fosse um pouquinho maior do que se recordava.

Gray nunca lhe havia contado nada, mas Tyler já havia captado a segurança que o outro tinha ao falar ou agir, sem um pingo de relutância. Por menor ou sem importância que fosse o que acabara de dizer, sentia-se bem. Era assim que Gray se sentia?

Estava aproveitando-se daquela sensação e prestes a abrir a boca e falar tudo o que tinha a falar, quando seu celular vibrou e tocou aquela clássica musiquinha irritante notificando uma mensagem nova sobre a escrivaninha, onde o tinha deixado. Respirou fundo e, relutante, foi até ele, apanhando-o e verificando quem era. Instantaneamente, um esboço de sorriso surgiu em seu semblante. Pareceu se esquecer de tudo que seu pai acabara de lhe informar – que acarretaria sim alguma mudança em sua vida mais tarde.

“Falando no diabo...” O sorriso aumentou. O seu simplório mau humor já estava extinto.

— É, Mark, foi ótimo conversar com você. De verdade. — disse ele, colocando um ponto final no assunto apressadamente, indo até a porta e abrindo-a para indicar que queria que o outro se fosse agora. — Obrigado pela ajuda com o quarto. Fico feliz que tenha resolvido contar a mim primeiro. Peço para que não conte nada a minha mãe até depois do almoço de amanhã. Ela está muito empolgada. Não estrague tudo, sim?

O homem não parecia ter prestado atenção em uma palavra sequer que tinha acabado de proferir. Sentado em sua cama, olhava para um pedaço de papel plastificado que, Tyler acabara de notar, segurava firmemente, como se temesse que saísse voando com o vento.

— Eu lembro quando você desenhava quando era um garotinho. Havia me esquecido que você tinha decidido seguir com isso. Você realmente tem talento, Thay.

O garoto vacilou minimamente com o elogio e o apelido, mas imediatamente tornou a obstinar-se, falando:

— Hm... valeu. Pode ir agora, por favor? Tenho mais o que fazer.

Mark se levantou e, à porta, entregou-lhe seu desenho que antes tinha em mãos. Era um dos antigos, consideravelmente simples – uma alcateia de lobos a uivar sob a lua em preto e branco. Quase riu. Fizera-o uns três anos atrás. E até hoje estava guardado. Seu pai devia tê-lo achado no armário quando o arrumara ineficientemente com Tyler.

Ao sair, seu pai pediu para que o quer que fosse fazer, o fizesse em silêncio, pois já passava de meia-noite (sério? O tempo passava tão rápido assim?) e que sua mãe e irmã já deviam estar dormindo.

Finalmente, pôde fechar a porta e, sendo tomado por uma ansiedade súbita porém bem-vinda, jogou-se na cama e pegou o celular para responder a mensagem. Adeus planos de arrumar o quarto e de desenhar.

No momento, Gray era seu único interesse.

Meio que se desesperou quando viu na caixa de mensagens que já fazia dez minutos que recebera a mensagem e não a correspondera, sendo possível que Gray já tivesse ficado offline ou algo assim – embora a mensagem não passasse de um “Oi”. De qualquer forma, não deixava de ser uma mensagem. Ainda bem que, quando o cumprimentou de volta, o certinho de “visualizado” apareceu.

Gray: Oi

Tyler: Oi

Gray: Fazendo o quê?

Tentou não sorrir demais por ter conseguido uma resposta imediata.

Tyler: Nada importante

E você?

Gray: Nada, também.

Aliás, stoi bruncanfo com Baloo.

Elw ficou carenye por atençai dp nada.

Foi mal. Estava difícil digitar no celular com ele em cima de mim. Pronto, agora ele fica quietinho.

Tyler: Seu cachorro?

Gray: Não, Tyler, é uma pessoa.

Brincadeira, não surte.

É, um deles. Tenho três.

Tyler, mesmo que um pouquinho nervoso, riu. Até que era fácil conversar com Gray pela internet.

Por um tempo razoável, o assunto principal foram os cachorros do loiro. Eram um vira-lata que fora doado a eles recentemente, um labrador e um que assemelhava-se com um Cocker Spainel adotado da rua: Mikey, May e Baloo, respectivamente. Tyler tinha querido saber como ele conseguia ter três cachorros – incluindo um de grande porte – em um apartamento. O loiro respondera que passeava com eles regularmente – o que meio que o confundiu um pouco, porque, da primeira vez que soube que Gray tinha um cachorro e passeava com ele, o mesmo tinha dito “cachorro” no singular... Não que isso fosse importante ou digno de nota.

Gray falava dos cães assim como o menor falava em desenhar (quando estava à vontade, claro) – como se fossem algo muito importante a ele. O que meio que o fazia sentir-se ruim e repulsivo. Enquanto Gray se preocupava com seres vivos e adoráveis de quatro patas, Tyler se importava com suas obras produzidas em papéis “rasgáveis” e incapazes de ter sentimento. Uau.

Não que fosse culpa sua não ter um cachorro.

Mas também fazia-o pensar em como isso era meigo. Em seguida, pensar em como Gray era incrível, em todos os sentidos, e divagar sobre esses “sentidos”. Depois, corar. E enfiar a cara no travesseiro. E permanecer assim, quase morrendo asfixiado por mal conseguir respirar, até que uma mensagem nova fosse notificada.

Gray: Tyler, mudando de assunto...

“Lá vem”, presumiu Tyler, receoso. Ironicamente, alguma parte de si, que passara o decorrer da troca de mensagens se martirizando à espera que um dos dois tocassem “naquele” assunto, comemorou.

Gray: Espero que não tenha ficado chateado ou algo do tipo...

O garoto digitou um “Não fiquei”, mas apagou. Dava impressão de indiferença. Escreveu “Claro que não!”, mas soava explosivo demais, como se tivesse tocado em uma ferida aberta. Exagerado demais. Então, “Não foi nada”, mas, é, ele não ousaria minimizar aquele feito. Tinha sido o melhor beijo de sua vida. Não mentiria e não se contrariaria de novo. Seria o mesmo que ganhar na loteria e recusar o prêmio.

Foi assim que ficou encarando o teclado do celular e o campo de resposta vazio por tempo demais, sendo alarmado por Gray uns 5 minutos depois.

Gray: Tyler?

Tyler: Continuo aqui.

Gray: Você não pode falar agora? Ou então está chateado e só não quer admitir? Se for o caso, eu entendo.

Tyler: Não é isso!

Gray: O que foi, então?

Tyler: Só estou escolhendo as palavras certas, tá legal? Eu não estou conseguindo responder!

Quando viu que apertara “enter”, desejou sumir da face da Terra. Ótimo, agora Gray pensaria que ele era um formulador de frases perfeitas e bem pensadas ambulante. Justamente a impressão que ele queria passar, né?

Gray: Já falei que acho essa sua característica adorável? Você quer pensar em tudo. Isso é fofo.

“Não, Gray, não falou!” Tyler encolheu-se nos cobertores, sentindo-se um tomate disfarçado de ser humano que nascera com a finalidade de ganhar o prêmio universal de “Pessoa Mais Capaz de Acumular Sangue Nas Bochechas... e No Rosto Inteiro”. Mal aguentava aquele calor emanando do rosto. De todo o corpo, para ser mais exato. Até suas orelhas, que nem eram muito sensíveis ao rubor, pareciam ter acabado de ser sorvidas em ferro derretido. Ele parecia ter acabado de sair de um forno gigante. Daqui a pouco estaria fedendo a queimado.

Gray: Mas não importa o que você responder.

O que importa é que a resposta seja sua.

Agora, além de não ter controle sobre o sangue avermelhando todo o seu rosto como se a pele deste fosse transparente, não tinha controle sobre o coração. Gray conquistava cada coisinha que fosse. Isso era frustrante.

Tyler: ...

Desculpe.

Gray: Façamos assim.

Respostas de “sim ou não”.

Ficou chateado?

Tyler: Não.

Gray: Ótimo.

Vai continuar agindo normalmente comigo? Nada de ficar negando tudo? Ou se esquivando de mim?

Tyler: Vou tentar.

Gray: Respostas de sim ou não!

Ele soltou uma risada.

Tyler: Sim, vou agir normalmente com você.

Gray: Okay...

Gostou do beijo?

Tyler: ...

Sério?

Gray: Pareço estar brincando?

Tyler: Sim.

Quer dizer, não, não para essa pergunta.

...

Sim, eu gostei do beijo. Feliz?

Gray: Aham.

Então... Algum comentário adicional?

Tyler: Para onde foi o “Respostas de só sim e não”?!

Gray: Fala logo.

Tyler: Tinha um pouco de gosto de hortelã.

E...

Foi bom, de verdade.

Gray: Gostaria de mais um?

Tyler: ...

Talvez.

Gray: Aposto que está corado agora.

Como até os marcianos e outros seres cujas existências ainda não haviam sido comprovadas teriam certeza que Gray havia acertado em cheio, Tyler só pôde responder em sua defesa um “Cale a boca!”, que provavelmente gerou uma risada branda do garoto do outro lado da linha.

Gray: Queria ver seu rosto neste momento.

Tyler: Não estou corado!

Gray: Eu sei que está, Thay, não adianta negar.

Mas estou falando sério.

Se bem que realmente parecia uma boa ideia estar ao lado de Gray naquele instante... Por que aquele quarto parecia tão vazio?

Tyler: Ah...

:)

É, ele podia ter enviado um “Idem”, mas não, enviou uma carinha feliz. Por quê? Gray que interpretasse como quisesse, mas era porque estava feliz. Se enviava uma carinha sorridente, era porque estava sorridente. Oras. Fazia sentido. Nada enigmático.

Gray: :)

Assim, como o outro o fazia tomar do próprio veneno, era impressionante. Uma forma de mostrar que ninguém, em hipótese alguma, gostaria de receber uma carinha feliz como resposta. Por um momento Tyler quase se desorientou. Não tinha como saber se era verdade! Queria ver a expressão do outro e confirmar por si mesmo aquele estúpido sorriso via emoticons. Droga, não dá para detectar provas concretas para dizer se algo é falso ou legítimo na internet.

Começava uma outra mensagem quando ouviu a voz de Esther do outro lado da porta do quarto pedindo para que deixasse-a entrar. Mandou um “Já volto” a Gray e, levantando-se da cama, abriu a porta.

— Que foi, Esther? Por que não está dormindo?

— Tyler... — disse Esther, bocejando e fazendo beicinho, os olhos marejados olhando-o nos seus. Ele estranhou. Ela nunca substituía seu apelido por seu nome. — Mamãe e papai estão brigando.

 

 

No café da manhã, Tyler fingiu não saber de nada. Esperava que seu fingimento estivesse convincente, porque já era bem suspeito ele ter levantado mais cedo que o normal para comer café em um domingo — o que nunca fazia – por não ter conseguido dormir.

Por sorte, seus pais sabiam disfarçar bem. Se ele não já soubesse o que havia acontecido de noite, nem daria para perceber.

Esther também se comportava como se não soubesse de nada, como Tyler pedira para que fizesse. Não sabia o real motivo por trás daquele pedido, mas o fez mesmo assim. Só não queria forçar seus pais a admitirem que havia algo errado entre eles. Pelo menos, não por enquanto.

Havia a possibilidade de ter sido uma briga de menor importância, embora o garoto tivesse suas dúvidas. Por via das mesmas, era melhor nem tocar no assunto. Tinha quase certeza que a razão da discussão era por seu pai ter contado a sua mãe sobre ficar um ano fora. Sentia raiva por isso, mas não era como se pudesse expressá-la, portanto... Aja naturalmente.

— Esther, me passa o cereal, por favor? — pediu Tyler.

A irmã, sentada ao seu lado, pegou a caixa de cereal do outro lado da mesa e lhe entregou, lançando-lhe um olhar significativo, como se perguntasse: “A gente vai mesmo fingir?”.

Ele soltou um suspiro. Assim que Esther entrara em seu quarto e lhe dissera que os dois estavam brigando, ele fora conferir por si mesmo. Ao ver que era verdade, voltara ao seu quarto e fizera um pouco de esforço na noite anterior ao insistir para que Esther ficasse calada, indo contra as objeções dela – “A gente não pode deixar mamãe e papai brigarem!”. No fim, conseguiu convencê-la e a colocou para dormir no quarto dela, enquanto ignorava seus pais discutirem no aposento deles em um tom de voz perturbadoramente alto. Se fosse a irmã que tivesse decidido o que fariam, eles teriam invadido o lugar e exigido uma explicação, resolvido o problema – como se fossem psicólogos ou algo do tipo –, feito os pais fazerem as pazes e salvado o dia. Tyler achava que Esther estava assistindo televisão demais ultimamente.

Seus pais pareciam estar relevando o fato também, conversando normalmente um com o outro – talvez um pouco formalmente demais, considerando que seu pai geralmente fazia piadas nos cafés da manhã e não condizendo como a empolgação sempre duradoura de sua mãe por ele ter chegado ontem.

Estavam todos comendo em um silêncio quase palpável quando sua mãe resolveu quebrá-lo:

— Então, que tal fazermos um “jantar” especial ao invés do almoço?

Seu pai olhou para ela.

— Por que não pode continuar sendo almoço?

— Ah, eu queria fazer uma coisinha mais especial — respondeu ela, dando de ombros. — E se for de noite, terei mais tempo para “os preparativos”. Ah, Tyler e Esther, vocês podem chamar quem quiserem para jantar conosco. No máximo duas pessoas cada um, na verdade.

— Não era para ser uma refeição em família? — perguntou seu pai.

— Mudei de ideia.

Por quê? — retrucou ele, incrédulo.

— E por que não? Já disse que quero fazer uma coisa mais especial. E vai ter comida o suficiente para mais pessoas.

Tyler e Esther assistiam a aquilo como se fosse uma partida de tênis, seguindo com o olhar quem estivesse falando no momento.

Tyler tinha previsto que ela fosse chamar alguém mais, não que fosse deixá-lo chamar alguém mais. Não era tão ruim assim. Era uma boa notícia, para falar a verdade.

— Então eu posso convidar alguém?

 

# # #

 

Não havia motivo para ficar nervoso. Tyler só não enxergava isso. Aliás, seu corpo que não se acostumava com isso. Era quase como se tivesse medo de altura e estivesse prestes a pular de bungee jump— estava tremendo como um condenado levianamente. Dava-lhe vontade de se trancar no quarto e se envolver debaixo das cobertas. Porque, cara, era vergonhoso.

“Nós já nos beijamos, caramba. Por que eu fico agindo como se ele fosse uma paixão platônica recém descoberta como antes? Pare com isso”, dizia pra si mesmo, infrutiferamente.

Vestia uma camisa lisa branca e uma blusa preta de colarinho e botões por cima, calça jeans escura e tênis brancos. Não pensara direito no que vestir, só vestiu. Não compensava ficar quebrando a cabeça com isso. Estava sentado no sofá, batendo os pé no chão – o que normalmente fazia quando ficava ansioso – e mexendo no celular enquanto esperava.

Claro que ele tinha convidado Gray – o fizera logo depois do café. O que fora razoavelmente fácil – ele não se embolara nas palavras ou gaguejara ou apresentara sinais extremos de nervosismo, ao contrário do esperado. Conseguira conversar normalmente. Tinha sido uma conversa bastante longa, até. Basicamente, durara o bastante para que conseguisse acabar com quase todos os créditos de seu celular. Gray tinha-o convidado a passear com ele com os cachorros de tarde (por algum motivo, ele tinha soado melancólico ao dizer isso), seguido do argumento que ele não se esquecera que Tyler lhe estava devendo uma caminhada. O moreno teria aceitado o convite de boa vontade, mas sua mãe insistira que ficasse em casa e a ajudasse. Precisara ficar esperando para vê-lo de novo o tempo inteiro. O pior era que Gray havia avisado que provavelmente chegaria um pouco mais tarde. Droga.

Ele checou o horário no celular pela décima vez naquele minuto. 20h02. O jantar tinha sido marcado para às 20h00. Se Tyler estava se sobressaindo aos próprios limites nos primeiros dois minutos de “atraso”, previa sua morte precoce dali a mais ou menos meia hora.

O garoto se sobressaltou e ergueu os olhos da tela do celular no instante em que a campainha tocou. Estava se levantando para atendê-la quando seu pai apareceu e fez isso por ele. No fim, era as amiguinhas de Esther, que veio correndo cumprimentá-las logo depois, como se seu sensor tivesse apitado assim que elas adentraram a casa – duas garotas idênticas de pele que parecia ser de porcelana e de olhos e cabelos escuros, Joy e Juliet. A única diferença entre elas era que uma era um pouco mais alta e tinha o cabelo cortado curto indo até o pescoço e uma franjinha rente aos olhos, e a outra tinha o cabelo comprido puxado para trás em um rabo-de-cavalo. Até os modelos das roupas eram iguais. Só mudava a cor.

As três meninas subiram correndo as escadas em direção ao quarto de Esther. Felizmente, Tyler havia feito menção de trancar seu quarto. Nada que pertencesse a ele sumiria de seu devido lugar misteriosamente como das outras vezes que as amigas de Esther vieram para lá.

Havia acabado de voltar a sentar-se e soltar um suspiro frustrado quando a campainha tocou mais uma vez. Levantou-se depressa e foi atender, dessa vez sem intervenção de ninguém.

Quando abriu a porta, não soube o que falar.

Ele não esperara aquela pessoa.

Sua mãe em algum momento chegou atrás dele, talvez por perceber que ele havia aberto a porta havia algum tempo e não tinha nem sequer cumprimentado a visita, que sorria sem graça. Ela disse, sorrindo amavelmente para a garota do lado de fora da casa:

— Oi, querida. Que bom que veio! — Em seguida, ela se voltou para Tyler: — Eu convidei a Vanessa para vir ao jantar, espero que não se importe.


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Notas finais do capítulo

Sim, amo tretas.
Acho que exagerei no diálogo via mensagens do Tyler e do Gray, mas tava tão legal escrevê-lo que não conseguia parar. E sim, aqueles erros nas primeiras mensagens do Gray foram propositais :P
Moral da história: nunca envie uma carinha feliz como resposta para ninguém.
O próximo provavelmente vai ser do Gray ^.^ Vamos fazer assim, se passar uma semana e eu ainda não tiver atualizado a fic, me stalkeiem, me perseguem, descubram onde eu moro, slá, dão um jeito de cobrar pelo cap, pq tá difícil minha procrastinação, viu.
E eu descobri um mangá novo, em minha defesa, o que me deixou em conflito com meus sentimentos - meu emocional está danificado, pfv
Estava meio com pressa, então por favor apontem os erros.
Kissus s2
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