Maybe Someday escrita por SomeKilljoy


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Em primeiro lugar, quero agradecer a todos os leitores, mas especialmente a LilaMaxwellYui pelos reviews ♥
Desculpe por ter demorado muito e pelo capítulo não ter ficado muito bom, mas foi o que deu. Acontece que eu tive que me concentrar um pouco mais nos estudos (sqn), comecei a escrever outras coisas também... E, principalmente, fiquei com muita raiva de mim por notar umas incoerências na fic, e tentei me dedicar para REcomeçar o planejamento dela, uma vez que o outro que eu tinha feito sumiu da face da terra, e, adivinha? Descobri que não manjo disso.
Também me desculpem se esse cap ficou uma decepção... Anyways, boa leitura.



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Tyler não sabia o que fazer. Sua atitude decidida havia se esvaído em fumaça e o deixado na mão, justo quando estava começando a aceitá-la e aprendendo a gostar dela. Justo no momento em que ele mais estava precisando dela.

Era inacreditável como as coisas haviam sofrido uma mudança drástica em dois dias. Dois meros dias. Menos que quarenta e oito horas. Não era comum sua vida dar reviravoltas como essa – ela devia seguir normalmente ou então ir mudando gradativamente, como o de costume. Não alterações como essa, que tornava as coisas cada vez mais difíceis. Que vinham inesperadamente, como um tiro em fogo-cruzado atingindo o peito.

O garoto havia passado de “em busca de justificativas para minhas reações” à “confissão dos sentimentos” até que chegasse finalmente ao modo mais “ousado” que conseguiria alcançar: o qual o permitiu beijar Gray nos lábios.

Era trágica e dolorosamente engraçado como ele possuía o talento nato de complicar as coisas. Seria muito mais fácil se ele parasse de pensar no ocorrido, deixasse que as coisas acontecessem naturalmente e tomasse vergonha na cara para se dar conta que estava sendo rídiculo ao fugir a cada minuto.

Claro, era difícil – como fora antes – permanecer próximo a Gray sem que seu nervosismo viesse à tona. Agora, ao invés de facilitar as coisas por ele saber que o outro – hipoteticamente falando – sentia o mesmo, tudo aparentava ter piorado.

Tyler concluía que era devido à veracidade de seus sentimentos. É, ele estava apaixonado. Não, isso não era legal. E sim, agora ele estava irremediavelmente perdido. Não tivera chances de fazer uma escolha. Mas era sempre assim – afinal, o coração fala por você irracionalmente. Ou você escolhe atravessar a única e frágil ponte entre os penhascos – representando a tênue linha de possibilidades – ou dar meia volta e se deparar com um abismo sem fundo e sem saída, desafiando-o a pular e esquecer os problemas. Ou você segue em frente... Ou nada. Nem sequer havia uma segunda opção. Pelo menos, não no caso dele.

Além do mais, Gray havia lhe perguntado se estava arrependido. Arrependido de quê? De um beijo (nem um pouco) insignificante? Por ter feito algo que vinha desejando internamente e do qual havia gostado? Seja lá qual fosse o motivo que supostamente havia a se lamentar, Tyler não estava arrependido. Estava confuso. Estava fora do normal. Podia até estar louco. Mas, não arrependido.

A sensação dos lábios se tocando ficaria bem guardada em sua memória. Sem arrependimentos.

Quem dera se tudo aquilo fosse um de seus desenhos não acabados, em que ele só precisava ficar adiando para depois abandonar, em uma procrastinação eterna, já que não sabia como prosseguir. Mas, infelizmente, não era esse o caso. Era uma situação que exigia uma continuação imediata. E se deu conta disso assim que o sinal tocou.

Todos os dias, ele sempre contava os minutos que faltavam ansiosamente para aquele barulho quase ensurdecedor ecoar pelas salas anunciando o fim da aula. Dessa vez, contudo, desejava que ele tivesse demorado só mais alguns minutinhos...

Só o suficiente para que desembraçasse o nó em sua garganta e encontrasse uma saída daquele labirinto emocional...

Suspirando e procurando enxergar Gray pelo canto do olho para não levantar suspeitas (como havia feito ao longo de toda aula), levantou-se da cadeira com desânimo – ao contrário dos outros ali presentes – e fitou os papéis preenchidos em sua mão, enquanto saía da sala e balbuciava um “Até mais” aos outros colegas que se despediam dele.

Ocupar-se pensando naquele concurso, ler mais uma vez as regras e termos do mesmo e fornecer as informações necessárias para concorrer, durante as aulas, haviam sido a forma como ele fugira da bagunça sufocante em sua mente. No entanto, era mais outro aviso de que se encontrar com Gray era inevitável, uma vez que era necessário entregar os papéis à loja para que ela ficasse responsável em colocá-los com as outras inscrições e, bem... Gray era o melhor meio para isso...

“É evidente que você tem talento”, lembrou-se do elogio que o loiro lhe havia feito no dia anterior. Claro, ele havia sido um tanto inválido, já que “a forma como ele falava” não era uma prova concreta que ele desenhava bem. Ainda assim... seu coração devia ter achado o contrário, senão não teria falhado uma batida para depois bater desesperadamente ao ouvir aquilo.

Tyler não tinha se reconhecido ontem. Se alguém dissesse que ele havia sido extrovertido o suficiente para agir normalmente com Gray, ele responderia “Eu estava bêbado”, ou algo do tipo. Havia passado tão rápido também... Ele quase não aceitava o fato que passara tanto tempo com o outro sem perceber (embora não seja um motivo aparente para ter pressa para ir embora... Mas, fazer o quê, não tinha culpa se algumas de suas ações eram meio inexplicáveis.)

Sacudiu levemente a cabeça para retornar à realidade, percebendo que havia parado no meio do pátio e que algumas pessoas esbarravam nele por causa disso, e voltou ao seu caminho.

Sentou-se ao lado de Gray, que, como de costume, ouvia músicas em um volume audível do outro lado do mundo, em um dos bancos perto da portaria do colégio e entregou-lhe a ficha de inscrição. Cruzou as pernas, um pouco desconfortável, enquanto o garoto ao seu lado tirava um dos fones e olhava para ele.

— A sua amiga, Lana... ela te disse alguma coisa? — perguntou Gray, como quem não quer nada, fazendo Tyler levantar uma sobrancelha.

— Não. Por quê? — respondeu Tyler, um pouco aliviado por ele não ter ido direto ao “assunto abordado” na hora do intervalo.

— Por nada. — Ele suspirou. — Ah, a propósito, vou parar de te pressionar.

— Ahn... oi?

Ele pareceu um pouco relutante em continuar, mas o fez mesmo assim:

— Digamos que eu saiba que você está confuso e que talvez eu não seja a pessoa ideal para esclarecer as coisas. Tudo bem. Eu espero o quanto for preciso. De certa forma, eu entendo. É meio difícil lidar com essas coisas.

— Essas coisas...? Ah, certo. — Tyler fitou as mãos em seu colo. — Mas, hm... Não é como se tivéssemos alguma coisa... Quer dizer...

— Não? — Gray abriu a boca para dizer alguma coisa, mas mudou de ideia, e deu de ombros. — Se você está falando.

Compartilharam um momento de silêncio – com exceção pelas outras pessoas conversando sem parar em sua volta, claro –, quebrado logo em seguida pelo mais alto:

— Então... que tal fingirmos que nada aconteceu? É isso o que você quer, não é?

“Não, de jeito nenhum!”, gritou a maior parte dele, recusando-se terminantemente a aceitar. Para quê isso? O sentimento não era recíproco? Por que Tyler tinha que se importar... com qualquer coisa se podia ter algo mais aprofundado com Gray? Não interessava mais nada além disso, certo?

É, bem, parece que não, pois sua parte mais teimosa resolveu responder:

— Pode ser... Acho que é o melhor para nós dois.

"O que você está fazendo, cara?” se perguntou. Por que insistia em fazer algo que supostamente estava fora de cogitação?

Gray suspirou e balançou a cabeça afirmativamente, concluindo o assunto. Depois retornou o fone ao ouvido, curvou-se e apoiou os cotovelos nos joelhos, olhando para frente como se esperasse alguém. Tyler jurava tê-lo ouvido murmurar alguma coisa, mas não pôde distinguir o quê.

Não queria continuar ali ao lado dele, mas tinha o pressentimento que se fosse a outro lugar só iria piorar a situação e intensificar a recém surgida tensão entre os dois. Se bem que, continuar ali também não faria muito sentido... A linguagem corporal de Gray deixava bem explícito que não estava fim de conversar... Ou então queria que Tyler tomasse a iniciativa para iniciar outro assunto? Ou... Não, era melhor não fazer nada. Só esperar alguma espécie de milagre cair do céu.

E lá estava de volta sua irritante mania de sempre hesitar quando se tratava dele.

Chegando em casa, repassou em sua mente tudo o que acontecera nos últimos dois dias. O anterior havia sido especial. Gostaria de repeti-lo tudo de novo. Para falar a verdade, até nos momentos em que sentira-se nervoso ao extremos, haviam sido bons. Porque haviam sido os momentos em que se tocara de que sentir-se daquele jeito não era necessário...

De qualquer jeito, havia estragado tudo. Mais uma vez. Mentira, era culpa de Gray. (Sim, ele era indecente o suficiente para jogar a culpa no outro). Por que tivera que fazer aquela proposta sem nexo? Conhecendo Tyler, devia estar ciente que o mesmo estupidamente concordaria, como se de fato concordasse.

Lamentavelmente, algo lhe dizia que ele não o conhecia tão bem assim... Senão saberia que Tyler conseguia ser totalmente do contra involuntariamente às vezes e que o garoto quisera dizer exatamente o oposto daquilo...

"Não culpe o Gray. Tenho certeza de que ele só disse aquilo para te tranquilizar, que ele aceitaria aquilo se você assim quisesse.”, considerou uma parte dele, que realmente o fez parar para pensar. “Mas, lógico, você não quer. E mesmo assim aceitou. Se tivesse sangue nas veias, teria recusado e apresentado um motivo para não aceitar a proposta: que você o quer. Masnããão. Você tinha que ser você. Aliás, eu tinha que ser eu. Aliás... Ah, esquece.”

Será que realmente havia cometido um erro? Ter dito “sim” significava que agora podiam agir normalmente (o mais normalmente possível) um com outro. Tyler queria isso também. Mas não dessa forma. Não quando já fora feito tudo aquilo.

 

# # #

 

Os dias começaram a passar mais rápido. Tyler passou aquela quarta-feira e o dia seguinte finalizando a redação para sexta-feira que começara havia alguns dias. Os exames seriam dali duas semanas, e como Tyler vinha “viajando” nas matérias por não ter estado prestando atenção nas aulas, teria que estudar o máximo possível. Já estava antecipando o sofrimento de ter que ler e memorizar, ops, entender toda aquelas matérias. Por isso, começou ao menos fazer alguma releitura ou revisão em algumas matérias para não deixar para estudar de véspera, porque da última vez que fizera isso se dera mal.

Assim, o único tempo livre disponível foi no fim de semana. Até ali, seu nível de socialização havia sido mínimo, já que chegava do colégio e ficava trancado no quarto dormindo, estudando, desenhando, lendo, o que quer que fosse.

Sábado, depois do almoço, ele recebeu uma ligação de Cameron, convidando-o a ir à casa dele, para “planejar” o trabalho passado quarta (embora Tyler tivesse certeza que eles passariam a tarde jogando video-game):

E aí, cara? Resolveu me trocar pelo Gray, não foi? Vocês nunca foram chegados, mas eu sempre soube que um dia vocês iam se entender.

— Ah, é... Oi. E, não, eu não te troquei por ninguém. Na verdade, eu não estou falando com ele tem uns dias, você sabe, estudando muito...

— Sei. Arranjou uma namorada e não me falou, não é? — disse Cameron pelo telefone, rindo, e continuou antes que Tyler pudesse responder: — Enfim, que tal vir aqui em casa? Você sabe, aquele trabalho.

— Ah, por mim tudo bem. — respondeu Tyler. — A menos que Kylie esteja aí, é claro.

— O que você tem contra ela, cara?

— Nada! É só que vocês não têm nada em comum e ficam juntos o tempo inteiro. É irritante. Tem certeza que não são namorados?

— É, pode-se supôr que sim, sei lá... E eu abri mão de ficar com ela para sair com meus amigos, mas, adivinha, um deles deu um bolo!

— Nem começa, por favor — pediu Tyler.

Tyler o ouviu suspirando pelo telefone.

— Não, ela não vai estar aqui. E aí, topa?

— Que horas?

— Agora.

— Estou indo — anunciou o garoto.

 

 

Foi exatamente o que Tyler previra: Trinta minutos ou mais discutindo e trocando ideias para o que apresentariam no final ou como realizariam o “grupo de estudos”, e o restante jogando videogame e jogando conversa fora.

No final, o garoto ficou no apartamento do amigo até de noite. Os pais de Cameron haviam saído para um jantar e avisado que demorariam para voltar e que era melhor não aprontarem nada, como se fossem criancinhas que precisavam de supervisão. Eles eram bem legais e sempre recebiam Tyler bem ou qualquer outro amigo do filho lá, então Cameron disse que eles não se importariam se chamasse mais alguém para jogar.

— Você vai chamar Kylie? — interrogou Tyler, fazendo uma careta.

— Não, cara. — respondeu o de pele morena, os olhos castanhos escuros rolando para o alto, enquanto pegava o celular e discava algum número. — Gray?

Tyler ouviu a conversa dele no telefone tenso. Queria argumentar alguma coisa que só porque havia um outro controle para jogar não significava que devia-se realmente usá-lo. Passara o dia um pouco incomodado por saber que, exatamente ao lado, era onde Gray se hospedava. Pressentira desde o início que acabaria por encontrá-lo algum momento, talvez na entrada ou na saída dele. Principalmente após saber que ele e Cameron já estavam acostumados de entrarem um no apartamento do outro por espontânea vontade, a qualquer momento.

Porém, ao invés disso, usou apenas o argumento que não era necessário ligar a alguém cujo apartamento se situava ao lado, ou que bastava simplesmente mandar uma mensagem. Argumento o qual foi desvalorizado levianamente, uma vez que o amigo fez um sinal com a mão para que ficasse quieto.

Reparou que o amigo não mencionara nenhuma vez na conversa que ele estava ali também. Talvez tivesse esquecido de fazê-lo?

— Gray está vindo. Enquanto isso, vou pedir uma pizza. Estou morto de fome, cara.

O de olhos claros não comia nada havia umas quatro horas também, mas a vontade de saciar a fome nem sequer passava por sua cabeça naquele momento.

Assim que a campainha tocou e Cameron foi atender, o garoto ficou esperando no quarto do último, o jogo pausado. O lugar era pequeno: uma cama e três puffs escuros em frente à estante de televisão, um armário e um criado-mudo. O que aumentava a sensação de claustrofobia do garoto, que queria desesperadamente sumir, principalmente no momento que seu olhar cruzou com o de Gray, quando ele e Cameron entraram no quarto e sentaram-se nos outros puffs.

E Gray foi realmente sutil ao cumprimentá-lo, acenando com a cabeça e franzindo os lábios, como se não quisesse vê-lo.

— Pois é... — Cameron olhou para os dois, sentado no puff do meio, notando o desconforto e silêncio entre eles. — Hm, aconteceu alguma coisa?

— Não — disseram os dois em uníssono, trocando um olhar rapidamente em seguida.

— Ah, é verdade que eu esqueci de te avisar que o Tyler estava aqui, Gray... Mas não tem nada demais, não é?

— Claro que não! — disse Gray, mostrando um sorriso amável. — Que tal começarmos a jogar agora, ahn?

Os outros dois concordaram e Cameron lhe entregou o terceiro controle, um pouco relutante, como se ainda desconfiasse de algo. Gray o aceitou como se nada tivesse acontecido. Enfim, escolheram o jogo na opção Offline e o mesmo se iniciou.

Aquilo trazia lembranças a Tyler. No começo da amizade dele com Cameron, a primeira coisa que haviam feito, na época em que não passava de um garoto um pouco tímido demais, antes mesmo de uma conversa apropriada, foi jogar videogame. Haviam sido designados para fazerem um trabalho juntos, mal se conhecendo. E quando chegara ao lugar, sentindo-se deslocado ao entrar naquele quarto, Cameron indicara com a cabeça o segundo controle e eles jogaram, em silêncio. As primeiras palavras pronunciadas foram por parte do anfitrião, incontáveis minutos depois: “Está com fome?”

Uma frase bem épica para um início de uma grande amizade, sabe como é.

E agora o moreno amaldiçoava aquelas mesmas palavras, um pouco distorcidas, uma vez que graças a elas que Tyler ficou sozinho em um quarto com Gray. Cameron tinha dito “Estão com fome?” e ido atender à recém tocada campainha, a qual supostamente um entregador de pizza acabara de tocar.

O silêncio reinou no ambiente, como de costume quando se tratava dos dois. Era sempre assim. Tyler detestava isso.

Sentiu-se sendo observado. E, de fato, quando lançou uma olhada para conferir, Gray o fuzilava com os olhos.

Só que, desta vez, ao contrário de alguns dias atrás, a inexpressão de seu olhar parecia ainda maior. E o ar normalmente simpático se punha em falta. Quase como se ele se ressentisse de Tyler.

Uma sobrancelha erguida e lábios franzidos compunham suas feições naquele momento, como se interrogasse-se o que faria com o garoto a sua frente, como se ele fosse algo a ser investigado. Como se ele que fosse o imprevisível e potencialmente difícil de se lidar presente ali.

— Pare de me olhar assim... — queixou-se Tyler, não passando de um murmúrio, olhando para o outro lado, tamborilando os dedos no controle que segurava.

— Desculpe?

Não repetiu o que tinha dito. Resolveu se calar dali adiante.

Gray começou a mirar a porta, até que confidenciasse o óbvio:

— Ele está demorando.

O outro pensou naquilo como uma forma de escapatória.

— Tem razão — admitiu, levantando-se e indo em direção à saída. — Vou ir lá chamá-lo...

O loiro abafou uma risada com a mão, alertando sua atenção.

— Que foi?

Os olhos azuis acinzentados estavam estampados com divertimento, um sorriso de canto nos lábios, a cabeça inclinada de leve e apoiada na mão daquela maneira que Gray sempre vinha fazendo ao olhar para Tyler e pensar a seu respeito. Não era nem minimamente possível definir seus pensamentos ocorrentes, no entanto.

Aquilo despertava-lhe uma irritação imperscrutável. Irritava-se por se irritar com Gray, sendo que ele não havia feito nada. E irritava-se ostensivamente pela agitação insistente em seu peito, o maldito órgão vital acelerando-se contra sua caixa torácica a cada minuto que examinava com um mínimo de atenção o garoto sentado a sua frente.

Gray o viu cerrar os punhos e, ainda sorrindo, esclareceu:

— Continua nervoso por ficar sozinho no mesmo lugar que eu, ahn?

Tyler piscou. Com certeza não esperava que tivesse dito aquilo.

— E-eu... — E irritou-se por começar a gaguejar. — Hm, não!

Assistiu-o sem reação se levantar e ficar cara a cara com ele, aproximando o rosto de seu ouvido e sussurrando:

— Ainda acredita que não há nada entre nós?

Tyler engoliu em seco.

— Pensei que tinha dito que ia parar de me pressionar... — murmurou em resposta.

Gray se afastou alguns passos, para conseguir avaliar sua expressão, as mãos no bolso da calça.

— Não é como se você estivesse me dando escolha. — E aproximou-se novamente.

Tyler podia jurar que os narizes estavam quase se tocando. As orbes distintas estavam cravadas umas nas outras.

— Eu poderia te beijar agora, você sabe — anunciou Gray, passando o indicador sobre o lábio inferior alheio, cujo toque o fez se arrepiar e recuar alguns passos, quase tropeçando. O loiro olhou-o com o que Tyler supunha ser compaixão. — Desculpe.

— Só... — Um suspiro alto, carregado de toda frustração e irritação que abstinha-o de usar a suposta “racionalidade” que tinha, escapou da boca do menor. Procurou formular uma frase decente. Mas não conseguia.

Então, interrompeu-se no meio da frase e saiu do quarto, à procura de Cameron.

Encontrou-o na cozinha, pressionando uma figura contra a parede, e por um momento seus olhos não puderam discernir o que viam. Quando o fizeram, Tyler sentiu-se um pouco enojado e forçou-se a dizer:

— Okay, okay, não se engulam, isso seria muito inconveniente!

Os dois pararam o que estavam fazendo e viraram o rosto para ele, surpresos. Tentou não rir ao ver Camerom com o rosto totalmente borrado de batom vermelho.

— Pois é, não é só porque estão na cozinha que vocês precisam literalmente se comer — disse Gray ao seu lado, sobressaltando-o, já que não notara que ele o havia seguido. Soltou uma risada forçada.

— Então, cadê a pizza?

— Ahm, então, é... — Cameron tentou se recompor, alisando a blusa amarrotada, dando uma distância preferível a anterior à namorada. — Não era o entregador de pizzas, no final das contas...

Kylie, cujo cabelo encaracolado estava uma bagunça e jogado para trás, passou a mão no rosto arduamente, em uma vã tentativa de se livrar do batom borrado.

— Eu não sabia que eles estavam aqui, Cam... — Tyler percebeu que não era só ele que estava quase rolando de rir pela situação dos dois, e Gray também. — Eu volto mais tarde, sim? — Ela deu um beijinho de despedida no rosto dele e se foi, um pouco constrangida.

— Deixe-me adivinhar... — começou Gray. — Vocês ficaram alguns minutos sem se verem...

— ... Aí ela ficou com saudades e te fez uma visita... — prosseguiu Tyler.

— ...E vocês acharam que a maneira mais eficiente de ‘matar a saudade’ era se beijarem como se o mundo estivesse prestes a acabar. — completou Gray, de novo.

Cameron fechou a cara.

— Calem a boca. Vocês deviam me agradecer.

— Pelo o quê?

O de pele morena revirou os olhos e se pôs a ir ao quarto, esbarrando nos dois de propósito.

— Mais dois dias emburrado — apostou Gray.

— Fechado.

Os dois seguiram-no, o ar descontraído, para alegria de Tyler. Era esse o tipo de relação que ele queria com Gray, não era? — sem tensões ou confusões, sem deixá-lo dividido entre o certo e o errado. Coisas complicadas e retóricas não eram sua praia.

Porém, ele mudaria de ideia, como sempre. Só que mais cedo que o aceitável à saúde mental.

Gray um dia pagaria por deixá-lo tão confuso assim.


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Notas finais do capítulo

E aí? Como foi? Bom? Péssimo? Críticas construtivas, pls ♥ Por favor, se tiver ficado meio sem nexo, incoerente e contraditório, me avisem. Eu fui escrevendo o cap aos poucos (com intervalos de uma semana, para ser mais exato), então há chances de eu ter escrito umas coisas meio "nada a ver". E quando reli, me deu a impressão que ficou tudo muito incompleto, sacam?
Já antecipo os pedidos de desculpas caso atrasar a postar o próximo capítulo, mas vamos ao lado positivo: daqui duas semanas entro de férias! Yaay! Aí vou poder escrever bastante para vocês!
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