Maybe Someday escrita por SomeKilljoy


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Desculpa, desculpa, desculpa o atraso para postar D: O capítulo estava pronto há séculos.
Anyways, boa leitura ^^



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Gray se deu conta de três (duas) coisas ao chegar em seu apartamento:

1- Ele tinha beijado Tyler;

2- Admitira sua verdadeira sexualidade para uma garota que sequer conhecia de verdade;

3- Ele tinha beijado Tyler.

Já mencionara que tinha beijado Tyler?

Na verdade, Tyler que o tinha beijado. Havia uma grande diferença nisso. Apesar de ser só um beijo, só um mero selinho, provavelmente era o máximo que a vergonha de Tyler o permitiria fazer em circunstâncias normais. De fato, ainda estranhava aquela atitude repentinamente decidida. E, sem dúvida nenhuma, gostou daquela atitude. Sua vontade era de testá-la até seu limite, saber até onde o garoto seria capaz de ir... porque Gray já sabia até onde queria ir com ele.

Mas, por ora, existiam outras coisas a se fazer.

Como, por exemplo, se desesperar.

Ele era estúpido. De todas as formas, estúpido. Devia ter caído do berço e batido a cabeça no chão quando bebê, mas na verdade nem isso era uma explicação plausível para sua estupidez. Talvez devesse andar com a testa pintada com letras em amarelo fluorescente em neon: “Estúpido”. Ou então devesse simplesmente mudar seu nome para esse adjetivo que o definia quase por completo.

Por que raios ele fora dizer justo para Sue que “não sentia atração por mulheres”? Se por acaso tivesse característica de vingativa, ela poderia ficar com raiva dele por tê-la dispensado e espalhar para todos o seu segredinho.

Que não seria mais tão secreto em algumas horas, pois poderia acabar sendo a nova manchete do jornal ou alguma coisa assim.

Não que se importasse totalmente com isso. Quer dizer, sua reputação poderia ficar “manchada” (embora não visse motivo do porquê, afinal, ele continuaria o mesmo de sempre), mas pouco lhe interessava o que pensariam dele. Não se permitiria ficar abalado com isso ou sofrer algum tipo de agressão ou zombaria pelo mesmo motivo. Simplesmente era assim. Por que mudaria sua forma de ser pelos outros? Teria que admitir algum dia. Se fossem seus amigos de verdade, aceitariam. Senão... bem, Gray não gostaria de ter amigos artificiais como esses de jeito nenhum.

O problema eram seus pais. Notícias desse tipo podiam se alastrar quase na velocidade da luz se dependesse de algumas pessoas. Começaria no colégio, a partir de algum anúncio público por parte de Sue ou aquele conjunto de falíveis “Estou contando só para você, não conte a mais ninguém” que logo pareceria uma epidemia por tantas pessoas terem conhecimento de seu “segredo”. Elas fofocariam para seus contatos mais próximos, só para ter algum assunto a qual recorrer, que por sua vez talvez fariam o mesmo. Ou seja, de alguma forma, chegaria aos ouvidos de seus pais.

Ainda bem não faltava muito tempo para que enfim completasse dezoito anos. Nunca tivera planos de se mudar de casa com essa idade, mas talvez viesse a ser a única saída.

Eles eram imprevisíveis, ambos vindos de famílias religiosas ao extremo e, bem... não muito tolerantes. Não eram exatamente atenciosos com Gray, embora alegassem que sentiam orgulho de tê-lo como filho único e essas baboseiras. Raramente tentavam compreender seus problemas e dificuldades, os quais o garoto não confiava à eles – afinal, buscava resolvê-los sozinho. Eram, assim... razoáveis. Faziam o que deviam fazer como “pais ideais”, indo a reuniões, pagando o colégio, comprando coisas necessárias... Mas era só isso.

No entanto, os pais de Clary – uma prima que não via pessoalmente havia muito, muito tempo – eram muito melhores que isso, mais preocupados e atenciosos, ou ao menos davam essa impressão. Até que a filha um dia, em seus plenos dezesseis anos, decidira lhes apresentar a namorada com quem vinha mantendo um relacionamento estável e secreto por quase um ano inteiro. De acordo com os relatos de Clary dados ao primo através do FaceTime – um dos únicos meios de contato que tinham –, seus pais tornaram de sua vida um inferno depois disso, como um castigo por ter nascido assim. O resto da família, inclusive, infelizmente, os pais de Gray, apesar de manterem contato contínuo com os pais dela, passaram a ignorar sua existência. Basicamente, começaram a nem mais dizer o nome dela. Ela e sua família se mudaram para longe – como se fosse resultar em algum benefício – e só podia conversar com a namorada via internet. Só ao atingir a maioridade, conseguir dinheiro o suficiente para voltar à sua antiga cidade, comprar uma casa e conseguir um emprego fixo, sem nem ter completado a faculdade direito, é que sua vida melhorou. Agora Clary devia ter uns vinte e cinco anos, casada com essa mesma namorada, e era talvez a única que conhecia sua verdadeira sexualidade e o apoiava.

“Não se importe”, fora o conselho que ela lhe dera quando Gray começou seu primeiro namoro com outro garoto às escondidas, aos quatorze anos, sua primeira experiência do tipo. “Você não pode mudar quem você é, então sua melhor opção é ser feliz e se aceitar da forma como é. Acredite em mim, sei pelo o que passei e do que estou falando”.

Nunca se esqueceria desse conselho. Era basicamente o que originara seu lema de se arriscar e seguir em frente.

Ainda assim, não queria ter esse mesmo destino. Não sabia do que os pais eram capazes de fazer. Sofrer pelas consequências era uma coisa, agora sofrer por algo não merecido e injusto era outra totalmente distinta. Será que mudariam-no de cidade, uma vez que todos seus amigos moravam ali, incluindo um garoto pelo qual estava apaixonado que fazia de seus dias cada vez melhores? Afastariam-no de todo e qualquer ser-vivo presente na Terra? Deixariam de dar a mínima para ele? Deserdariam-no e descartariam-no de casa sem mais nem menos?

Gray estremeceu. Tinha estado tão submerso em suas divagações que não percebeu que a comida intocada em seu prato estava começando a esfriar. Olhou apreensivo para os pais, que jantavam tranquilamente, trocando uma ou outra palavra sobre seu dia de vez em quando. Sua mãe usava o óculos de aro de forma retangular fino e transparente, o cabelo loiro meio prateado preso em um rabo de cavalo, olhando para a comida de forma cética, como se se interrogasse qual seria seu sabor a cada garfada. Já seu pai assistia às notícias na televisão grudada à parede da cozinha, sem prestar atenção ao que comia, os olhos azuis um pouco vermelhos por não estar piscando o número certo de vezes e por estarem fixos à tela cheia de pixels por tempo demais.

Eles lhe pareciam pessoas aceitavelmente normais. Não fariam o mesmo que os pais de sua prima. Fariam?

“Não há nenhuma garantia de que nada vá acontecer. Há no máximo 50% de chance. OK, talvez 60%. E se de fato acontecer, será inteiramente culpa sua e estará simplesmente levando a pior devido à sua estupidez. Então, pare de pensar nisso e vá fazer algo útil”, ordenou a si mesmo.

Gray possuía a considerável habilidade de saber como se convencer.

Mas pensando bem... Seus pais realmente pareciam pessoas frias. Quer dizer, mesmo com o que tinha acontecido ontem, só haviam mudado de comportamento nos primeiros dez segundos e voltaram para aquele ar entediante que sempre exalavam...

E foi assim que, uma vez que tivera afastado aqueles pensamentos, outros vieram-lhe à mente para substituí-los, tão ruim quanto eles.

Lembrou-se subitamente do porquê havia estado deprimido aquela manhã e durante a noite anterior toda. Sair com Tyler havia sido uma ótima – perfeita – distração, mas agora precisava fazer alguma coisa.

—-- Mãe, pai — anunciou, levantando-se da cadeira. — Vou sair.

—-- Não vai nem acabar de comer? — perguntou o pai monotamente, os olhos ainda à televisão.

De novo?! — exclamou sua mãe, encarando-o. — Você ficou o dia inteiro fora! Já ao menos fez as obrigações?

— Já — mentiu. Devia ter começado a redação de cinco mil palavras com o prazo final de entrega para sexta-feira, sem falar das outras tarefas.

— Por favor, diga-me que não está indo àquela loja! — persistiu sua mãe.

— Na verdade, estou indo sim.

— Não entendo porque você insiste em trabalhar lá. Acho que a mesada que recebe de nós é mais que o suficiente — comentou seu pai, finalmente desviando seus olhos da televisão para ele.

— Vocês não me dão mesada. — aborreceu-se Gray, e fez sinal de aspas para dizer a próxima parte: — “Acham que devo me virar com isso de agora em diante”.

— Ah — O homem voltou-se à mulher. — Isso é verdade, querida?

Ela assentiu. Gray revirou os olhos.

— De qualquer forma, eu não estou indo “trabalhar”. Só vou pegar alguma coisa para, hm, um amigo meu. E vou começar a distribuir os cartazes pelos lugares... Já que vocês não querem fazê-lo de jeito nenhum — disse, rangendo os dentes.

— Nós queremos, filho. Só...

— Não têm tempo, aham, sei. Por favor, vocês nem ligam. — retrucou Gray, saindo do cômodo. Às vezes era insuportável ficar no mesmo local que o resto de sua família.

Encontrou os pequenos cartazes empilhados organizadamente em cima da mesa. Dezenas e dezenas de cópias de folhas para serem pregadas em qualquer lugar notável, as palavras em negrito “PROCURA-SE” sendo chamativas, assim como a foto em preto e branco de um filhote de cachorro vira-lata, orelhas dobradinhas e pelo castanho manchado, mastigando uma bolinha de borracha vermelha entre as patas, deitado de lado. Abaixo da mesma, se encontrava o número de telefone dele, de seus pais e o fixo, com a recompensa de cinquenta dólares. Gray considerava esse valor pequeno, mas eram seu pais que decidiam, “afinal, o dinheiro vinha do bolso deles”.

Suspirou. Havia realmente ficado mal por Mikey ter fugido quando descobrira, ao voltar da loja. Não que não tivessem sido avisados: quando o adotaram, a moça que estava doando-o deixara bem claro que o motivo por não estar mais “aguentando-o” era que o filhote tentava fugir o tempo inteiro. Gray acreditara que era por ela não saber cuidar dele direito (e ele dissera isso, o que gerou uma indignação por parte da moça e seus pais ficaram envergonhados e bravos ao mesmo tempo – sua expressão fora bem engraçada, cai entre nós –, dizendo: “Desculpe-nos pelo nosso filho”), mas... bem, que engano. O garoto tinha outros dois cachorros (seus pais permitiam isso só se fosse ele e somente ele a cuidar dele) – um labrador preto de três anos e outro que adotara da rua – e nenhum deles havia fugido nenhuma vez sequer. Estava preocupado porque Mikey não passava de um filhote, e talvez a única coisa que o diferenciasse de outros cachorros da rua fosse a coleirinha vermelha com seu nome.

“Oh, meu Deus, você estava chorando por causa de um cachorro?”, tinha certeza que seria isso que seus amigos diriam se contasse a verdadeira razão por, hm, estar suando pelos olhos de manhã. Okay, ele não tinha culpa se era muito sensível em relação a cachorros e que tinha desenvolvido uma afeição especial por aquele filhote em si, tá?!

Recolheu as papeladas e a fita adesiva e, saindo do apartamento e descendo os oito andares até o estacionamento, foi em direção ao carro. Ao chegar à loja, foi em questão de minutos que conseguiu pregar uma dezena de cartazes em qualquer árvore, parede e poste por perto, às vezes colando-os em cima de anúncios que já estavam lá havia tempo, em qualquer lugar por perto (depois que ele se tocaria que deveria tê-los distribuído melhor). Quando faltava só mais uma dúzia de cartazes a serem pregados, ficou razoavelmente satisfeito e finalmente pegou a ficha não terminada de Tyler de inscrição, retornando à sua casa em seguida.

Demorou mais um tempo para ele enfim se deitar, após fazer uma tentativa infrutífera de iniciar a redação, aproximadamente umas dez horas da noite. Não conseguia nem pregar os olhos, muito menos desligar a mente. Havia muita coisa com o que pensar... Estava sobrecarregado de ansiedade para ver Tyler no dia seguinte, porque possuía o pressentimento que o garoto não ficaria à vontade com ele depois daquele beijo...

E foi assim que ele quase passou a noite em claro, adormecendo somente alguns minutos antes de ser acordado por um pai zangado exclamando que estava atrasado para a escola.

 

# # #

 

Os cutucões em seu ombro já o estavam irritando. Debruçado sobre a carteira, não enxergava nada e seus sentidos pareciam estar funcionando em câmera lenta, uns trinta segundos atrasados à vida real.

Gray — sussurrava Alan Mills, na carteira atrás da dele, com urgência, ainda cutucando-o. Deus, o que queria dele? — Cara, acorda. — Ouviu Alan soltar um suspiro e alguns risinhos serem abafados.

Resolveu levantar a cabeça e olhar para trás só para ver se o cara o deixava em paz. Era engraçado como a expressão de uma pessoa poderia resumir a de todas as outras – a de Alan, nesse caso, era uma careta tentando conter o riso, a mão escondendo a boca, mas era perceptível pelos seus olhos que, no seu interior, ele estava gargalhando até a morte. Gray gostaria de ter tido uma outra forma de percepção que ele estava na sala de aula e que não era muito aconselhável adormecer no meio de uma explicação de um professor. O loiro não era muito de corar, mas sentiu as orelhas ficarem ligeiramente quentes ao sentir todos aqueles olhares nele. Virou-se lentamente para olhar o professor, já esperando pelo pior.

— Gray Lee — disse o homenzinho atarracado, fitando-o de cima, como se de alguma forma tentasse infringir sua autoridade a ele. —, você estava dormindo na minha aula?

— Sim, senhor — confirmou, fazendo contato visual. Era irritante como os professores costumavam perguntar coisas óbvias. Não seria tão burro a ponto de negar. Esfregou os olhos pesados e sonolentos com os nós dos dedos e evitou bocejar.

Esperou que o professor o mandasse para fora da sala, mas ele somente bufou, virando-se para o quadro e voltando a escrever nele com aquela letra exageradamente cursiva (fala sério, parecia a letra de gente da nobreza da antiguidade, elegante porém ilegível) e avisou:

— Vou perdoar só dessa vez, porque é a primeira vez que você faz alguma coisa assim na minha aula e porque tenho que passar esse trabalho a todos, sem exceção. Mas trate de prometer que será a última vez também, estou sendo claro, sr. Lee?

Gray também odiava quando o chamavam de “senhor”.

— Ah, certo. Eu prometo.

Desnecessariamente, o professor fez menção de acrescentar, tirando risadas das bocas de quase todos os alunos:

— Também estou te perdoando porque você está com uma cara horrível.

As orelhas do garoto ficaram mais vermelhas e ele tentou arrumar o cabelo, penteando-o com os dedos.

O único que parecia não estar nem aí pelo fato de Gray ter estado dormindo na aula era Tyler, depois do último não conseguir evitar de dar uma conferida rápida, que olhava atentamente para o quadro, enquanto o professor começava a explicar. O de olhos azuis ficou meio frustrado com isso, embora devesse já ter se acostumado com o jeito dele.

Forçou-se a prestar atenção, mas isso se tornou praticamente impossível assim que notou em como as duplas estavam sendo divididas. Pelo visto, as salas A, B e C do Terceiro Colegial do Ensino Médio estavam misturadas para haver maior interação entre elas, os nomes dos alunos das três sendo sorteados aleatoriamente.

E, assim, sendo guiado pela sorte, Gray ficaria junto com Lana Walker, cuja irmã ele havia dispensado. Tudo bem que as duas nem se comparavam, mas, se Sue tivesse contado à irmã, ela provavelmente ficaria do lado dela, certo? E, efetivamente, faria de sua vida um inferno... Enquanto Tyler ficaria com Cameron, seu melhor amigo.

Na boa, que tipo de sorteio de nomes era aquele?

— Os professores estão cientes que a maioria de vocês estão preocupados com as universidades nas quais entrarão, então decidimos que haveria mais chances de vocês se saírem bem se se ajudassem. Portanto, esse trabalho é mais como um grupo de estudos. Um integrante da dupla ajudará o outro na matéria que tem dificuldade e vice-versa. Lembrando que as universidades não exigem somente boas notas e desempenho, mas também que os alunos tenham frequentado aulas extracurriculares ou mantido algum hobby saudável para a mente e corpo. O objetivo é vocês conseguirem se organizar e se conscientizarem de que a vida estudantil é importante. E, sim, valerá pontos, já que, no final do ano letivo, vocês farão uma apresentação decente de todo o progresso, incluindo...

À essa medida, Gray já estava quase caindo no sono de novo, a cabeça apoiada na mão, pensando que ele decididamente não merecia aquilo. Porém, sua vida foi salva por um estridente alarme anunciando o início do intervalo e, a partir pelo fato de que o resto das pessoas saiu da sala precipitadamente, como se fossem a única via de se libertarem, notou que não era o único que se sentia daquela forma.

Tyler foi um dos últimos a sair, andando a passos rápidos e ignorando o chamado de Gray, que estava indo segui-lo assim que foi interceptado na saída da sala por uma ansiosa e visivelmente preocupada Lana Walker. Por um momento imaginou que ela faria alguma sugestão de uma aposta para ele, até se lembrar do ocorrido no dia anterior.

— Eu mal conheço você e eu poderia muito bem contatar Tyler primeiro, mas concluí que isso desencadearia incontáveis confusões, então é melhor você me escutar, okay? — falou ela, com uma determinação fora do comum, o cenho franzido enquanto direcionava um dedo em seu rosto.

— Eu tenho que entregar uma coisa para ele... — explicou-se, tentando sair de seu caminho, mas Lana deu um passo para a direita quando ele fez o mesmo, depois para a esquerda, obstaculizando-o.

— Você entrega mais tarde! — exclamou, soando mais como a acusação de um assassinato ou algo do tipo.

— Okay. O que você quer?

— Sue me contou tudo — afirmou, cruzando os braços.

Seu estômago embrulhou.

— Imaginei que ela o faria. Posso ir agora?

Ela revirou os olhos.

— Você não entende? Olha, eu não sou muito amiga da minha irmã. Mas ela chegou realmente mal em casa ontem e quando eu perguntei para ela o que houve, ela literalmente explodiu. Ela nunca desabafa com ninguém. Você era, tipo, a paixão platônica dela. Foi uma desilusão daquelas.

— Desculpa, mas eu não tenho culpa...

— Ah, fique quieto. Você devia medir as palavras antes de dizê-las, tá bom? Você machucou Sue, de verdade. — Ela olhou para os lados, como se conferisse se havia alguém olhando, e diminuiu o tom de voz: — Você parecia uma pessoa legal, mas agora eu não sei mais o que pensar. Vou ter que te aturar para fazer esse trabalho, talvez eu te entenda melhor. Não gosto de julgar as pessoas, mas foi realmente rude você dispensá-la daquele jeito, dizendo que nunca aconteceria nada e que gostava de outra garota...

Gray arqueou as sobrancelhas. Ele tinha ouvido certo? Lana continuou:

— Tenho certeza que ela não mencionou alguma coisa de propósito. Já notei que você tem andado estranho ultimamente... Não só você, mas o Tyler também. Nada está fazendo sentido, na boa. Ela estava soluçando quando me falou, não sei se ouvi direito, mas tenho quase certeza que ela falou alguma coisa entre você e o Tyler... Eu poderia ter perguntado se ele sabia de alguma coisa... — Ela bufou e bateu o pé no chão. — Argh! Mas eu vou juntar as peças do quebra-cabeça, tá? Só saiba disso. Então se tem algo para me contar, pode desembuchar.

Ele permaneceu em silêncio, fazendo-a suspirar.

— Isso é complicado demais para mim. — murmurou ela, para depois se virar e sair andando.

Antes que Gray mergulhasse no turbilhão de conclusões precipitadas que eram seus pensamentos, foi procurar Tyler, logo encontrando-o rabiscando alguma coisa em um bloco de desenho, sentado no chão, apoiando-se na parede, em um corredor vazio. Sentou-se ao lado dele sem dizer nada.

— Pegou a minha ficha de inscrição? — perguntou Tyler baixinho, ainda atento aos rabiscos que produzia com a mão direita.

Gray concordou e a entregou a ele, que interrompeu o que estava fazendo para examinar o que ainda faltava para completar na ficha. Tyler agradeceu, tímido, voltando-se a seu bloco de desenho novamente.

Por mais que não houvesse motivo para aquele silêncio todo, talvez o loiro o entendesse. Tyler era uma pessoa reservada. Só pelo jeito em que estava sentado e agindo, dava para perceber que o que ele mais queria naquele momento era uma capa da invisibilidade, não querendo que ninguém pousasse os olhos em si — o que Gray havia justamente feito.

— Você se arrependeu, não é? — concluiu, um meio-sorriso entre os lábios. Ficou um pouco mais próximo dele, escorregando o corpo para o lado, fazendo os ombros se tocarem.

— Do que você está falando? — Tyler fingiu-se de desinformado, mudando de posição, desconfortável.

— Vamos lá — agora ele sussurrava. —, está tudo bem admitir.

Estava começando a passar o braço ao redor da cintura de Tyler quando ele se levantou abruptamente, exatamente assim que o sinal bateu. Ele olhou para Gray por cima do ombro e falou, parecendo aliviado:

— Mais tarde a gente conversa, okay? — E saiu andando até a sala de aula, onde teriam que suportar mais dois horários de aulas intermináveis.

Gray tinha certeza que Tyler já sabia que ficar fugindo não seria uma opção mais tarde.


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Notas finais do capítulo

Eu me inspirei em uma frase do Frank Iero para escrever esse cap: "You cannot, and I'm serious, you cannot be ashamed of who you are, no matter how much shit you get for it, or how much bullyng you get, you can't change who you are for anybody else. And I know it takes a lot, but it makes you a stronger person and you'll be so happy that you didn't later on in life." Eu simplesmente amo ela.
Comentem o que acharam!
Até o/