Maybe Someday escrita por SomeKilljoy


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Galera, me agradeçam, porque eu nunca, NUNCA, atualizei uma fic tão rápido assim dsjjfsd
Desculpe por estar um pouco menor, mas é que escrever capítulo novo em 4 dias é novo para mim. Eu geralmente demoro uma semana.
Quero muito agradecer a todos os meus leitores, seus comentários me incentivaram, tipo, muito mesmo.
Não tive tempo pra corrigir, então avisem se houver algum erro.
Anyway, espero que gostem de ler esse capítulo da mesma forma que adorei escrevê-lo.
Boa leitura~



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Infelizmente, ficar encarando a parede do quarto como se fosse surgir uma resposta nesta não resolveria nada. Tyler se livrou dos cobertores, levantou-se da cama e, grogue e cambaleando, caminhou em direção à porta ao lado do rack que conduzia até o banheiro. Foi por pouco que ele conseguiu abri-la sem se esborrachar no chão do banheiro: estava tão tonto quanto uma vez que saíra de uma montanha-russa com dezenas de voltas. Se chegasse ao ponto de ele vomitar, não saberia mais o que fazer.

Assim que abriu a torneira, juntou as mãos em forma de concha e pegou o máximo de água que conseguiu para jogar no rosto, livrando-se do suor e tentando acordar de uma vez por todas. Com muita relutância, deu uma olhada em seu reflexo no espelho acima da pia.

Ele não ficava bem de cabelo molhado. Os fios castanhos e lisos já não eram muito obedientes quando secos, e insistiam em colar no rosto de Tyler quando molhados, pregando e entrando em seus olhos, o que o irritava muito. O problema era que, se ele o jogasse para trás, ficava muito pior.

Não que ele estivesse se importando com isso agora. Por mais que tentasse evitar, seu olhar continuava fitando o reflexo de sua boca, enquanto ele refletia como que ela ficaria ao se encaixar com a de Gray.

Ele já não estava tendo muito sucesso em interromper aqueles pensamentos e se acalmar, mas tudo piorou quando ele levou um susto no momento em que sua irmã mais nova surgiu na porta do banheiro gritando seu nome.

— Thaay! — Ela deu alguns pulinhos, como se assim chamasse mais atenção, e estendeu uma caixa de lápis de colorir profissionais em uma das mãos. — Me empresta eles?

Tyler queria ter conseguido ficar bravo. Assim, talvez parasse de divagar sobre o sonho e voltasse ao mundo real. Mas ainda estava tão perplexo que só depois de alguns segundos ele percebeu que os lápis na mão da garotinha loira à sua frente tinham custado quase uma fortuna.

— Esther – Ele suspirou e se agachou para ficar cara a cara com a irmã —, eu já falei que esses aqui não.

Esther fez beicinho.

— Mas é porque eu não tenho lápis cor-de-rosa, e eu preciso de lápis cor-de-rosa para acabar o meu desenho. — Ela estendeu uma folha de papel cheio de rabiscos, estrelinhas e corações na outra mão.

Tyler sorriu. Às vezes, ele perdia a paciência com Esther, pelo simples fato que muitas vezes ela pegava as coisas dele escondida. Mas, outras vezes, isso era meio difícil. Quer dizer, ela inventara em querer desenhar por sua causa. E agora, com aquele sorrisinho meio banguela por ter perdido um dente recentemente, os cabelos loiros presos em duas chiquinhas coloridas, os olhos que mudavam de cor implorando como os de um cachorrinho abandonado, era impossível.

Ele perguntou se podia dar uma olhada no desenho e Esther entregou, tímida e comentando “Não é tão bom quanto os seus”, o que fez o garoto soltar uma risada.

— ‘Tá lindo, sabia? — Os olhos de Esther brilharam e ela deu seu maior sorriso. — Por que você não usa o vermelho ao invés do rosa?

Ela disse que já tinha usado, apontando para um coraçãozinho minúsculo rabiscado de vermelho no canto da folha, e, quando Tyler perguntou se ela não podia usar de novo, reagiu como se fosse a pior ideia de todas. Foi meio difícil convencê-la que ele não podia lhe emprestar o rosa, até que eles chegaram a um acordo: Tyler compraria uma caixa de lápis completa só para ela, mais tarde.

— Obrigada, Thay! — exclamou Esther, pulando nos braços de Tyler quando ele estava começando a se levantar, quase derrubando-o. — Você é o melhor!

— É, ahn, obrigado — Mesmo quando se tratava de sua irmã, Tyler não sabia como reagir diante de qualquer tipo de elogio. Esther passou os bracinhos ao redor de seu pescoço e o apertou, deixando-o um pouco sem ar. Mesmo sendo pequena, ela tinha bastante força. — Pode soltar agora, Esther — Nada. O aperto não se afrouxou nem um pouco. — Esther...

Ela enfim o largou para sair correndo do banheiro, agradecendo mais uma vez enquanto dava pulinhos de alegria e começava a cantarolar alguma canção.

A fofura de sua irmã quase animou seu dia. Quase.

O resto do dia passou com lentidão e tédio surpreendentes. Tyler ficou durante um pouco mais de uma hora estudando para qualquer teste surpresa que poderia ser aplicado nos dias seguintes. (Os professores estavam com essa mania ultimamente, o que só podia ser explicado pelo ódio que eles tinham pelos alunos. Se não fosse isso, então a Terra tinha menos gravidade que a Lua, e a África era mais fria que Antártida, e pinguins eram mais ferozes que leões, e... Dá pra sacar o sentido da coisa). No entanto, nenhuma palavra dos livros didáticos entrou em sua cabeça, que estava latejando como se estivesse sendo martelada e comprimida em algum lugar sem ar e constrito.

Depois, tentou se distrair um pouco jogando, mas morreu tantas vezes seguidas em um dos vídeo-games que até desanimou. Em seguida, tentou lendo. Fez várias tentativas de distração até que chegou ao ponto em que mal conseguia desenhar direito. Qualquer linha que traçasse parecia estragar o desenho, qualquer lápis que usasse para colorir não era o tom adequado e blá-blá-blá, aquelas frescuras dele sobre seu hobby. Normalmente, quando isso acontecia em outros dias ruins (dias os quais ele tinha o prazer de não sonhar com coisas ridículas porém implicitamente significativas) ele chegava a quase rasgar os seus trabalhos e desistir daquilo para sempre. Porém, hoje, Tyler não sentia irritação por isso. A única coisa que sentia era um vazio estranho em seu peito, e uma melancolia anormal.

Além disso, ao invés de querer ficar em casa o máximo possível como sempre, sentia vontade de sair de casa, tipo, imediatamente. De sentir o vento no rosto, levantando os cabelos. De não estar cercado por paredes o tempo todo. De poder ver as estrelas e o céu da noite, de se sentir livre um pouco...

Desde quando ele tinha se tornado tão filosófico assim?

Estava tão anormal que deveria considerar a ideia de contratar um psicólogo.

Lá pelas 18h00, quando Esther estava persistindo pela terceira vez que eles saíssem logo, ele concordou. Interrompeu o que fazia (o que, por sinal, não era nada) e se levantou da cama (sim, ele só tinha saído do quarto para tomar banho).

— Tudo bem — disse à irmã. — Você pode ir agora?

Esther piscou. Não devia estar muito acostumada que o irmão concordasse em fazer as coisas tão rapidamente. Então ela assentiu avidamente, sorrindo.

— Aham! Deixa eu só pegar minha bolsa! — E saiu correndo.

Tyler saiu do quarto em seguida. Tinha acabado de tomar banho, usava tênis, calças jeans escuras e uma camisa preta de colarinho – talvez não fosse o ideal para sair, mas seu guarda-roupa era composto basicamente por coisas desse tipo. Infelizmente, seu cabelo estava molhado e ele torcia que secasse logo. Recusava-se a sair com ele assim. Mas se bem que também não tinha muita vontade de secá-lo por si mesmo...

Pois é, em tempos como esse, a preguiça vencia.

Desceu as escadas correndo e quase esbarrou em sua mãe – uma versão mais velha de Esther, com exceção pelos olhos, que eram os mesmos que o dele –, que estava agachada em frente às escadas (sim, muito inteligente ela. Ela deveria saber que um Tyler agindo infantilmente as desceria correndo). Ela estava tentando achar uma posição melhor para um vaso de plantas que insistia em colocar ali, ao lado da escada, de “enfeite”.

— Vou sair e estou levando a Esther, tá? — Ela se levantou ao ouvi-lo, mas não parecia estar dando nenhuma atenção, só examinando a posição do vaso. — As chaves estão no lugar de sempre? — Ela assentiu.

Tyler revirou os olhos enquanto saía de casa, seguido por uma animada Esther com uma bolsa rosa e aparentemente vazia em mãos. Sua mãe e sua mania de arrumação. Ainda bem que ela tinha desistido do seu quarto.

Entrou no carro, encontrando as chaves do mesmo no porta-luvas e ligando o carro. Viu pelo retrovisor Esther se sentar no banco de trás, colocar o cinto alegremente, balançar as perninhas no ar, descer o vidro do carro e ficar olhando a paisagem do lado de fora como se fosse a vista da Torre Eiffel.

Quando começou a dirigir pelas ruas, Tyler perdeu o nervosismo. Era disso que precisava, o vidro descido totalmente, o vento batendo levemente no rosto. Ele mal saía de casa (gostava de ficar nela, claro, mas de vez em quando ficava cansativo), andava de carro muito pouco se comparado às outras pessoas de sua idade. Tinha tirado a carteira de motorista quando fizera dezesseis, na segunda tentativa, em que – graças a Deus – não tinha conseguido arranjar nenhuma memória vergonhosa da auto-escola, ao contrário do esperado.

Mas, claro, isso não era problema. Ainda desejava um carro. Com afinco.

Era nisso que estava pensando ao chegarem ao estacionamento de uma loja de conveniência que Tyler conhecia há pouco tempo mas já considerava muito. E quando dizia muito, era muito mesmo. Se alguém perguntasse o que ele gostaria de ter, se pudesse, caso estivesse desidratando em um deserto, ele responderia aquela loja de conveniência. Afinal, lá se vendia de tudo. Os materiais de desenho de Tyler haviam sido comprados lá. Você poderia apresentar uma lista de cem coisas, provavelmente a maioria teria ali. E era tudo de boa qualidade. Você podia encontrar desde coisas estritamente necessárias como pacotes de salgadinhos de qualquer tipo às mais diversas cores de lápis.

Esther já foi entrando, e o garoto teria feito o mesmo se não tivesse vislumbrado um cartaz pregado na vitrine, grandes letras vermelhas e chamativas dizendo: “Acha que é bom o suficiente? Então, exponha seu talento ao mundo! Três obras de arte serão escolhidas entre milhares de todo os Estados Unidos, e você pode ser o dono de uma delas!”

Ele sentiu uma onda de excitação. Sempre quis participar de um desses concursos, apesar de não costumar contar às pessoas que desenhava.

Entrou na loja e a moça do caixa o atendeu (“Olá, posso ajudá-lo?”). Perguntou como fazia para se inscrever, apontando para o cartaz, e ela sorriu, pegando um monte de papeladas com termos de conduta e de inscrição – que Tyler fez questão de ler tudo.

— Vou participar — afirmou, enfim. Ela lhe entregou uma caneta e tinha acabado de começar a preencher a folha quando ouviu uma voz familiar dizer “Pode deixar que eu cuido desse aqui”. Podia ser só uma impressão dele, mas a forma como tinha dito aquilo, cara...

Engoliu em seco ao vê-lo, impedindo um suspiro sair. “Isso que eu chamo de mundo pequeno”, pensou. “Quando pessoas que você definitivamente não quer ver aparecem em lugares que você menos esperaria encontrá-las”.

O estranho foi que, na verdade, a primeira coisa que pensou foi: “Ele fica bem de cabelo molhado”. E o mais estranho foi que ele nem sentiu vergonha por isso.

Gray o cumprimentou, sorrindo. Pingavam algumas gotas de água de seus cabelos úmidos, que tinham a mesma aparência quando secos, só que mais escuros e bagunçados, e algumas delas deslizavam pelo seu rosto. Vestia um uniforme verde da loja.

Podia pagar uma nota para Tyler, mas ele nunca, jamais, admitiria que Gray ficava cada vez mais bonito toda vez que o via, entendeu?

— Vai participar? – perguntou, apontando para os papéis que o de cabelos castanhos segurava.

— Vou.

— Não sabia que você desenhava.

— Tem muita coisa que não sabe sobre mim — sem querer, Tyler agiu na defensiva, cuspindo as palavras. Odiava quando fazia isso. Mas era meio instintivo.

Gray arqueou as sobrancelhas e abriu um sorriso ligeiramente malicioso, inclinando-se sobre o balcão.

— Se bem que adoraria saber... Sua irmã? – Apontou para a menininha loira que olhava maravilhada para a vitrine de bonecas, enquanto a moça que antes atendera Tyler lhe mostrava algumas.

— É. — Tyler se forçou a ser mais educado. — Então... Você trabalha aqui?

— Não é um emprego fixo, sabe? Só uma forma de ganhar um pouco de dinheiro enquanto ainda tenho tempo livre. Quero dizer, aqui tem mais clientes do que parece e os testes ainda demorarão um pouco.

— Entendo. É que eu pensei que você praticasse algum esporte em seu tempo livre, já que você tem um corpo... — O rubor inundou seu rosto no mesmo instante em que percebeu o que tinha dito.

— Saudável? — Gray riu. “Nem percebeu que acabou de salvar minha vida”, refletiu Tyler. “Mas, tipo, foi isso que eu quis dizer. Ele não é muito magro. Nem exageradamente forte. O corpo dele é só mediano. Um mediano incrível. Espera aí, o quê?!”. — Na verdade, eu corro quase todos os dias com meu cachorro — admitiu Gray, tirando Tyler de seus pensamentos constrangedores.

Tyler sorriu. “Ele tem um cachorro”, repetiu para si mesmo, como se aquilo significasse muito. “Eu sempre quis ter um cachorro”.

— Você também parece ter um corpo... saudável — falou o loiro, deixando aquele ar sugestivo flutuar. — Pratica esportes?

— Já pratiquei, mas saí quando percebi que não me encaixava em nenhum. — Tyler se deu conta de que estava conversando normalmente com Gray, sem aquele nervosismo ridículo. Um ponto para Tyler, nenhum para Gray!

— Ah. Bom, você poderia correr comigo um dia desses. Talvez você se encaixe nesse "esporte".

— Claro — concordou, sem pensar.

Tudo tinha estado bem. Tyler não tinha pensado no sonho durante aquele tempo todo. Até agora.

Era a segunda vez que concordava em alguma coisa com Gray sem pensar direito. Se na primeira vez já tinha sonhado coisas sugestivas demais... Deus, o que seria dele agora?

Esqueça o placar anterior. Agora estava zero para Tyler, e dez para Gray.

— É, ahn, Esther? Vamos?

— Thaay! — Sua irmã apareceu com uma boneca aninhada nos braços. — Não quero mais lápis de colorir, quero boneca colorida! — anunciou.

Tyler se agachou na frente dela.

— Se eu comprar essa boneca, você não poderá acabar seu desenho.

— Tenho uma ideia! — disse Gray, que sorria amigavelmente para Esther, o que, por algum motivo, fez Tyler se sentir bem. — A boneca, oito dólares. O resto... — Ele se levantou e foi até uma estante cheia de lápis de colorir profissionais, depois entregou três tons diferentes de rosa na mão de Esther, fazendo uma mesura a ela como se ela fosse uma princesa. — Por conta da casa.

— Sério? — Tyler ergueu uma sobrancelha, levantando-se. — Isso é permitido?

Gray piscou para ele, falando:

— Sua irmã é adorável — Ambos olharam para Esther, que fitava de olhos semicerrados os três lápis na mão.

— Qual a diferença entre eles? — indagou ela, baixinho. Tyler riu antes de ouvir Gray sussurrar, provavelmente esperando que ele não ouvisse:

— E você...

— E eu...? — repetiu.

O de olhos azuis acinzentados pigarreou, mudando de assunto.

— Oito dólares. Vamos lá.

Tyler lhe pagou e saiu de lá o mais rápido possível.

No final das contas, tinha descoberto uma coisa: Gray era um pouco surdo por não ter ouvido as batidas furiosas de seu coração.


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Notas finais do capítulo

E é isso o/
Eu tenho a impressão que estou enrolando, mas é que eu gosto de demorar um pouco para chegar no assunto >.< Se é que me entendem...
Bjocas