Our Secret! escrita por Ponyo, Nemarun


Capítulo 26
Amor paterno.


Notas iniciais do capítulo

Perceberam que temos uma nova Co-autora? Uma Salma de palmas para Myeh! Que irá me ajudar nos erros e no enredo :3



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Cem

32° Dia.

Ouvi um "Click" enquanto estava olhando a paisagem pela janela do carro. Aquela era a trigésima segunda foto que Lysandre tirava de mim.

Olhei para Lys com o olhar de "Mais uma foto e eu te jogo pelo carro.", o que o fez murmurar um "Desculpa" e voltar a ler o diário de Marie. Estamos a poucas horas na Rússia, as únicas coisas que fizemos nesse país foi deixar as malas na casa de Lysandre e tomar um café.

Aqui é gelado, quieto mas estranhamente agradável. Entendo o porque dele não ter voltado para o Brasil.

–Quando vou conhecer sua esposa?

–A Miyuki? Depois que voltarmos do presidio. Ela deve estar agora trabalhando ou na casa de alguma amiga.

–Ela sabe que estamos aqui?

–Não, isso não torna as coisas mais interessantes?- Lysandre deu um sorriso e apontou para o grande prédio cinza cercado por muros.

–Chegamos.


(...)

Coloquei a mão no vidro frio e senti meus olhos enxerem de lágrimas. Do outro lado, sentado na cadeira de plastico e com o telefone preto na mão estava meu pai.

Ele não tinha mudado quase nada, a não ser por sua pele estar mais envelhecida, magro e uma barba rala no queixo. Mas seus olhos ainda eram carinhosos e ainda parecia sempre sorrir.

Peguei o telefone preto um pouco sujo e tentei ao máximo não parecer uma completa louca.

–Céus! Faz quatorze anos que não te vejo! Oh, me desculpe se estou te assustando, eu não sei se ainda lembra mim mas...

–Filha. - Papai levantou sua mão e a colocou em cima do vidro, onde a minha estava. Dava para sentir o calor.

–Papai. - Seus olhos brilhavam como diamantes e seu sorriso se abriu. Como eu sentia saudades desse lindo sorriso.

– Por que nunca me escreveram? Deus, eu fiquei desesperados pensando que algo aconteceu com vocês!

–Desculpe, Marie escondia as cartas. Eu só soube da existência delas aos dezessete e depois perdi o endereço.

–Você está tão linda... Minha garotinha virou uma mulher maravilhosa... - Ele retirou a mão do vidro e suspirou casadamente.- Mas você não veio aqui apenas para ver seu velho... Se fosse teria vindo antes, certo?

–Desculpa por não ter vindo aqui antes, eu tive medo de você não ser o mesmo das minhas lembranças e ficar com raiva por ter ido na cadeira...

–Jamais ficaria com raiva de qualquer um de vocês... A menos que você tenha casado e não ter me convidado, ai eu vou ficar muito chateado.

–Não! Eu não casei, isso nunca vai acontecer! Bom, eu ia casar a dois anos, mas meu noivo veio a falecer.

–Meus pêsames, eu não devia ter falado isso...

–Tudo bem, falar sobre Kentin não me deixa mais triste, apenas com saudades. - Retirei a mão do vidro e peguei o diário de couro no meu colo.- É sobre isso que vim falar, esse é o diário de Marie.

–Você descobriu não é?

–Papai... Quem sou eu afinal? - Ele se ajeitou na cadeira e sua expressão ficou séria e rígida.

–Vou contar desde o começo, mas antes quero te pedir desculpas por não ter de contado antes. No dia que tentei sua mãe surtou e quando dei por mim, estava preso.

Tudo começou quando conheci sua mãe. Ela era tão maravilhosa, tão linda, tão gentil... Eu me apaixonei rapidamente e não sei como, Marie também, mas seus pais não gostaram muito disso. Ela teve que voltar imediatamente para a França e eu jurava que jamais iria ter noticias dela, mas quem diria que ela fugiu de lá para ficar comigo? Eu fiquei extremamente feliz com isso, iria ficar com a mulher que amava. Mas como nem tudo é um mar de rosas... As vezes Marie agia diferente do normal, ficava com ciúmes apenas por cumprimentar outra garota e ainda era muito agressiva. Ela atirava coisas em mim e a noite trancava o quarto com medo de eu sair a trair ou algo assim, mas eu ainda a amava muito e não consegui deixa-la. Parece idiotice filha, mas quando você ama alguém e já viu o lado bom dessa pessoa, é difícil ver o ruim.

–Eu sei exatamente do que está falando. -Me lembrei de Lysandre, das noites em que ficava em cima da sua cama esperando ele chegar são e salvo de alguma festa maluca. Quando ele me ofendia dizendo que era apenas uma Nerd sem graça, mas no dia seguinte sempre deixava uma torrada com manteiga pronta para mim.

–Então acho que sabe como me senti a respeito dela. Como ainda me sinto... Bom, algum tempo depois descobrimos que ela estava grávida de Gêmeos, colocamos os nomes de Amélia e Nathaniel. Tudo estava bem, ganhamos dinheiro e compramos uma casa para vivermos juntos, mas a gravidez foi complicada e Marie sofreu um aborto instantâneo. O médico disse que os fetos conseguiriam sobreviver sem a mãe, mas teriam que cortar um órgão vital dela. Tive que escolher entre ela e meus filhos... Escolhi Marie.

Mas ela começou a surtar uma semana depois do ocorrido. Não conseguia mais olhar para ela, estava tão diferente... Precisava urgentemente desabafar com alguém, foi quando lembrei de uma antiga amiga, Serena. Ela era uma garota inteligente e gentil que infelizmente conheceu o lado errado da vida... Seu pai abusava sexualmente dela e ainda chamava amigos para "Ajudar", sua vida foi arruinada. Ela não conseguia mais sorrir ou confiar em alguém, conheceu a cocaína e a bebida.

–Você gostava dela de outro jeito?

–Bom... Você não é mais criança. Eu e Serena antes do ocorrido namorávamos, foi com ela que perdi a virgindade. Depois do ocorrido, Serena me procurou algumas vezes para desabafar e se sentir amada.

–Sexo?

–Não, fazer amor, coisa que ela nunca sentia. Os homens praticamente a estupravam e não davam a minima.

Eu resolvi viajar a negócios por alguns meses, mas antes fui a casa de Serena contar sobre tudo. Não sei o que me deu, mas céus! Ela estava tão linda naquele vestido preto... Não dizia uma frase sem me provocar antes...

–Então você é realmente meu...

–Eu não sei amor, lembre-se do que Serena é. Acho difícil essa ironia do destino acontecer.

Depois de um mês viajando, recebo a noticia de que Marie estava grávida novamente. Eu fiquei extremamente feliz e sentia que nosso relacionamento tinha voltado ao normal. Quando você e Nathaniel completaram quatro anos eu resolvi compra um boneca e um carrinho na loja perto de casa, estava tudo completamente normal até no caminho cruzar com Serena. Deus.. Ela estava péssima, em um nível de magreza extraordinária e parecia ter conseguido sérios problemas mentais. O mais curioso de tudo é que ela me reconheceu e implorou por minha ajuda, dizendo que seus filhos foram roubados por uma bruxa. Eu simplesmente não dei bola e tentei ignorar mas Serena me segurou pelo braço e nos levou para sua casa. Ela me mostrou os quartos que tinha feito para seus filhos e desenhos que ela mesmo fez da mulher, Serena chorava compulsivamente dizendo que a polícia não queria ouvir e que ninguém a ajudava. Ela queria seus filhos de volta. Eu simplesmente ignoraria e iria embora, achando que ela enlouqueceu de vez mas...

–Os desenhos eram idênticos a Marie, certo?

–Não só os desenhos, mas a descrição dela, como eram seus filhos.. Serena disse até mesmo que o menino tinha uma marca de nascença na costela.

–Igual a do Nathaniel?

–Idêntica. - Ivan pareceu entrar em uma discussão interna, sera que estava vendo se me contava algo?- Depois disso fui embora correndo perguntar para Marie se ela sabia algo a respeito disso. Ela não conseguiu esconder e contou tudo, foi a pior briga que tivemos... Marie pegou a fava afiada e disse com um olhar tremulo e assustado "Se você contar para alguém, se me abandonar ou levar nossos filhos, eu mato todos e a mim mesma! Eu juro que faço isso!". Bom, eu não tinha muita escolha.

–Marie é um monstro...

–Não gosto de pensar assim. Você sabe o que é uma psicopata filha?

–Bom, muita gente acha que são apenas pessoas que gostam de sangue ou de estuprar, mas na verdade é uma pessoa que sofre um distúrbio psíquico. Em sentido mais amplo, uma psicopatia é uma doença causada por uma anomalia orgânica no cérebro.

–Uma pessoa doente, com "transtorno de personalidade antissocial". Você sabe qual é uma das características mais marcantes? As vezes psicopatas são assim por que nunca tiveram amor na vida, e quando finalmente acham não querem ser abandonados. Agem por impulso e não tem medo das consequências.

–Fazem tudo para serem amados... - Lembranças de Marie me abraçando quando caia e ralava alguma coisa, cantando músicas de ninar e chamando a mim e Nathaniel de "Sua princesa e seu cavalheiro de armadura". Ela nos amava tanto.

–Não é culpa dela... Ela nasceu assim.

–Pessoas com esse transtorno geralmente percebem que são assim quando mais velhas. Marie só desenvolveu isso depois que veio para o Brasil e sentiu como era ser feliz.

–M-Mas ela me batia e...

–E quando isso ocorria?

–Quando saia com amigos e dizia que não gostava dela... Acho que agora as coisas fazem muito mais sentido.

–Sabia que embora ela fez com que eu fosse para aqui, nunca deixou de me ligar ou mandar cartas? É triste não?

–Mas e Ambre e Andrea?

–Elas realmente são nossas filhas. Marie estava fazendo um tratamento para engravidar e deu certo. Que saudades delas...

–Elas estão estudando em um colégio interno, são verdadeiros gênios. São fortes, passaram por muita coisa para a idade mas mesmo assim andam de cabeça erguida. Quando as férias de verão chegarem vou trazer elas para te visitar, acho que mal se lembram do seu rosto... Desculpe, acho que estamos desviando do assunto. O que aconteceu depois da ameaça de Marie?

–Tentei procurar Serena novamente, mas ela simplesmente desapareceu. O tempo foi passando e a mentira persistindo, até o aniversário de oito anos seu e do seu irmão. Eu surtei e falei que iria contar tudo para as autoridades mas Marie não reagiu muito bem a isso, pegou minha arma e ameaçou me matar. Chamei a policia e quando eles chegaram Marie fingiu estar machucada e desesperada, acabei sendo preso por porte ilegal de arma, violência domestica e tentativa de homicídio.

–E desdê então está aqui preso?

–Sim. Durante longos quatorze anos... Ainda faltam dois.

–Pretende se vingar dela?

–Não vou fazer isso, apenas visita-la no manicômio. Quero ver se ela teve algum tipo de melhora ou algo assim...

–Você ainda a ama? - A pergunta o pega de surpresa e ele parece pensativo por alguns segundos, abre um sorriso carinhoso.

–Como sempre amei. Loucura não?

Ouvimos o guarda chamando avisando que o tempo tinha acabado.

–Prometo que venho te visitar sempre que puder! Vou tentar procurar Serena!- Dois guardas vieram na minha direção falando firmemente que o tempo esgotou e que se não saísse, iriam me arrancar.- Espere, você sabe que o Nathaniel...

–Sim, eu sei... Filha, me esculte. Embora esteja confusa e não saiba quem você é, para mim você é meu anjo, minha doce filha que eu amo. Você pode ser quem quiser ser, mas tenha certeza que queira isso.

–Obrigada! Tchau papai! -Os guardas me seguraram e me arrastaram até a porta. Tentei me soltar mas eram grandes e fortes. -Espere seus brutamontes! Pai! Eu vou vim aqui quando te soltarem!

Ele tentou falar alguma coisa, mas o vidro abafava o som. Mas tenho certeza que de seus lábios sairão "Eu te amo".

Acho que finalmente entendo Marie. Ela só quer ser amada e poder retribuir esse sentimento.

Ela me lembra a mim mesma.


(...)

–Estou com ainda mais dúvidas de quando fui conversar com ele... - Tomei um da garrafa de vodca em minhas mãos. Senti minha garganta queimar deliciosamente. - Uau, esse troço é bem forte.

–Dobro pozhalovat' v Rossiyu - Lysandre deu um sorriso de canto e voltou a olhar para o lago congelado.

–Ele disse "Bem vindo á Rússia". Pare de se exibir cabeça tingida. -Miyuki deu um tapa de leve na coxa de Lys. Estamos sentados no banco de madeira de um parque, onde por sinal estava tudo coberto por uma grossa camada de neve. O imenso lago estava a nossa frente com várias pessoas patinando e rindo. -É uma merda viver me um país a tanto tempo e saber apenas o básico do idioma, enquanto o fodão ali sabe falar fluentemente.

–"Fodão"... Gostei disso. -Dessa vez fui eu que dei um tapa no braço de Lysandre. - Não devia ter sentado no meio.

Miyuki sorriu divertidamente, parece que gostou do que fiz. É uma mulher muito bonita, com longos cabelos lisos e brancos, com pele extremamente pálida e olhos que pareciam de alguém prestes a dar um bote ou roubar seu coração.

–Ei Amélia, Ponyo ou seja lá como quer ser chamada... Sabia que estamos na primavera? PRIMAVERA e com toda essa tonelada de neve!

–Como você sabe sobre...

–O fato da confusão de identidades? Lys me contou, ele me conta tudo. - Ela olhou marotamente para ele, que ficou um pouco vermelho e desviou o olhar. -Absolutamente TUDO.

–Miyuki! Você pode ficar um minuto sem me constranger?

–Não consigo. Amélia, como você está morando com Lysandre, quero que saiba... - Ela segurou nas minhas nãos e me olhou séria. - Pode chutar as bolas dele sempre que ele forçar a barra.

Simplesmente não aguentei e comecei a rir desesperantemente.

–Eu preciso dar uma volta!- Lys levantou extremamente vermelho e saiu andando em direção a uma loja de salgados do outro lado da rua do parque.

–Ele sempre foge quando não sabe o que fazer... - Sorri e voltei a encarar Miyuki. - Você gosta dele? Por que se sim, eu não vou tentar fazer nada com ele.

–Já gostei dele muito. - Ela voltou a se sentar corretamente no banco e deu um gole na garrava ao seu lado. - Conheci Lysandre na época em que vocês tinham brigado pela primeira vez. Eu parecia uma tonta apaixonada, vivia dando indiretas e pensava "Em breve ele vai esquecer daquela garota e me amar"... Mas teve um dia em que estávamos almoçando em um restaurante e você apareceu com algumas amigas. Ele te olhou de um jeito tão... Tão... Eu não tenho palavras para descrever, mas garanto que desisti do meu amor platônico na hora.

–Você ainda o ama? -Ela sorriu tristemente e parecia presa em lembranças.

–Quando nos mudamos para cá, um pouco desse sentimento esquecido voltou. Mas lá no fundo eu sabia que ninguém iria conseguir o mesmo que você conseguiu. Rosalya chegou bem perto, mas ainda sim... Não era você.

–Eu amei muito o Lys... Mas o universo não gostava de nos ver juntos. Toda vez que consigo ele de volta, algo o toma de mim.

–Você o ama? Sentimentos tão fortes não pode ser esquecidos tão facilmente.

–Eu...

Lysandre chegou com uma pequena caixa branca com várias comidas a quais nunca tinha ouvido falar.

–Espero que gostei de experimentar coisas novas. Te garanto que o pequeno da esquerda vai te fazer enlouquecer! -Ele se sentou novamente no meio de nós duas e começamos a rir e conversar animadamente.

Eu nunca tinha reparado antes, mas os olhos de Lysandre são realmente lindos... Mas não tão lindos como sua boca, a qual eu queria muito beijar novamente.


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Notas finais do capítulo

Antes de mais nada...
Olhem essa Fanart fofa que recebi!

http://i.imgur.com/8w6vXuz.jpg

Muito obrigada linda



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