Nove Anos: Lágrimas

Querido diário

25/07

Eu ainda não sei o nome que posso te chamar.... Acho que vou te chamar de Lys. Ambos não falam merda nenhuma (Pai¹, se estiver lendo isso, eu não falei merda, apenas escrevi errado e não tinha branquinho).

Lysandre vai dormir aqui em casa... Não que seja uma novidade, ele e Leigh praticamente moram aqui, Leigh se transformou em um irmão mais velho para mim, e Lys... Bom, um cachorrinho de estimação, se ele ler isso, posso dizer adeus ao cabelo da minha boneca!

Mudando de assunto, ele me disse que quer ter algo a ver com musica quando crescer, bem, eu quero se florista! Sei que parece idiotice, mas acho flores tão magníficas! Bom, tenho que ir, estou atrasada para ir a escola, mamãe sempre deixa a gente na portão da escola, e depois leva Ambre e Andrea para a creche, elas estão super fofas tentando falar! Papai está sempre trabalhando, e sempre chega tarde, minha mãe não gosta muito disso, ela também não gosta da assistente dele, a Senhorita Blue, os dois sempre “conversam” quando ele chega tarde, eu não gosto muito disso...

Ainda bem que tenho Lys sempre ao meu lado.

Eu e ele conversamos, resolvemos deixar a “passagem secreta” apenas entre eu e ele, entretendo, há apenas alguma regras básicas:

1º Só podemos ir no quarto um do outro quando a noite, para ninguém descobrir!

2° Sempre daremos um "Toque" antes de entrar, para evitar cenas constrangedoras.

4° Não podemos contar para ninguém, nem para o melhor amigo (Se bem que meu melhor amigo é ele e vice-versa).

5° Se pegarmos alguma coisa ou se mexemos em algo, devemos escrever um bilhete de aviso.

Obrigada por me ouvir, querido diário.²

(...)

–Mãe.... Falta muito pra chegar? – Pergunto pela milésima vez para minha mãe, não tenho culpa de ela nunca me responder claramente.

–Amor, falta apenas cinco minutinhos para chegarmos, calma - dizia ela, também milésima vez. O que custa ir mais rápido?

–Você falou isso a vinte minutos!

–Mãe, por que seu olho está roxo? - Perguntou Nath, eu já tinha percebido antes, mas fiquei com medo de comentar. Ela simplesmente nos olhou com aquele olhar do tipo “Por favor, parem de perguntar sobre o olho”, sorriu e nos disse:

–Nada meus amores....

Como se “nada” fosse a pior coisa do mundo, resolvemos ficar quietos. Estava na cara que se perguntássemos mais, ela iria chorar. Odeio ver ela assim.

– Senhora... Tudo bem me levar para a escola todos esses dias? Não está atrapalhando? - Perguntou Lys, sinceramente, me deu uma louca vontade de dá um tapa nele. Poxa, se ele naquele carro, teria que aguentar o Nath sozinha!

–Lys, querido! Claro que eu não me importo, na verdade, me ofenderia você ir para a escola sozinho, ou pior, com outra pessoa. – Ela deu aquela piscadela travessa que tanto amamos. Falando nisso, seu pai me disse que vocês teriam outra pessoa na casa de vocês.

–Bom, nossa casa é bem grande, e como ninguém tem tempo de limpar nem nada, Leigh alugou os quartos de cima, para uma senhora e sua neta.

–Só espero que a Ponyo não morra de ciúmes! Lembra-se daquela garota... O Lys tinha brincado um pouco com ela no parquinho, Ponyo ficou semanas sem falar com ele alegando que tinha arranjado uma nova melhor amiga e para nunca mais falar com ela... - Quando terminou de falar, deu aquela risada gostosa, ela e Nath riram ou pouco, menos eu e Lys, que estávamos numa competição de que fica mais vermelho. E eu claramente ganhei. - Aquela garota é adorável, sempre vem lá na padaria para ajudar a mãe com algo, tenho que começar a pagar salário para ela também! Falando nela, Ponyo, você devia a convidar para brincar um dia desses lá, aposto que vai ser bem divertido a amizade entre as duas...

–Não quero ser amiga daquela ladra de amigos! - Falei gritando, céus... Falei isso mesmo alto? Droga, todo mundo está me olhando, onde eu enfio a minha cabeça? Nath vai me infernizar para sempre, e Lys vai jogar isso na minha cara até eu morrer, tenho que reverter rápido essa situação! - Quer dizer... Estou muito ocupada ultimamente com a escola e a casa na árvore.

–Ela pode ir ajudar vocês a construírem, problema resolvido. Vou trazê-la amanhã para brincarem juntos, afinal é sábado e estou de folga.

–M-mas mãe....

–Chegamos! - Ela estacionou enfrente a escola, se despediu de cada um de nós com um beijo na nuca, e depois saiu para levar Ambre e Andrea a creche, deixando três crianças, duas delas ainda vermelhas pelo comentários anteriores. Nathaniel nem sequer se despediu da gente, simplesmente correu para seu amiguinho/garoto de cabelo Channel. Como ele ousa abandonar a sua queria irmã para ficar com um amiguinho de escola? Pelo menos tenho o Lys!

–Lys, quer ver os cursos disponi...Cadê o idiota? - ótimo, abandonada pela mãe, irmão, e amigo! Onde o boboca foi parar? Se ele acha que vai simplesmente sumir e eu não vou fazer nada, ele está muito enganado!

Fiquei procurando ele por uns cinco minutos, até ver ele conversando com uma garota um ou dois anos mais velha. Ela tinha cabelos castanhos em um rabo de cavalo e vestia um vestidinho de líder de torcida vermelho. Ela estava um pouco corada e ele também... Só eu posso deixar ele corado! Quem ela pensa que é?

–Lysandre, estava te procurando. Onde você se meteu?

–Olá, Ponyo. Desculpe ter sumido. Uma folha do meu bloco de notas voou e Lotte o pegou para mim, muito gentil da parte dela, não é mesmo?

–É, muito gentil... - Fuzilei a garota com o olhar, que ela pensa que é para pegar folhas das pessoas? - Lotte?

–Bom, é que todos me chamam de Lotte. Prazer, seu nome é Ponyo não é mesmo? Ela me perguntou com os olhos brilhando, como se eu fosse uma celebridade ou algo do tipo, toda minha raiva foi embora na hora.

–S-sim, prazer, Lotte.

–Tinha seu nome varias vezes na folha que eu peguei. - ela me olhou sorrindo, com o sorriso do tipo “tenho um segredo, e não vou te falar”.

–Tinha? –Lys nunca escrevia nada sobre mim, que eu saiba. Ele nunca nem mesmo falou que me considerava uma melhor amiga, ou mesmo uma conhecida, ele nem ficava comigo na escola, falava que éramos de “universos diferentes”, nunca soube o que ele queria dizer com isso, só sei que isso me deixa triste e magoada.

–O sinal tocou, v-vamos!- Ele disse vermelho que nem um tomate, nem fiquei surpresa, eu vivia deixando o Lys vermelho era divertido. Mas sobre a Lotte e a folha de papel... Vamos conversar sobre isso mais tarde.

Corremos cada um para sua sala.

(...)

19:55 da noite, na casa de Ponyo.

(...)

Atravessei a passagem secreta, dêsdo incidente com a Lotte, eu e Lys não nos falamos, e como sei que ele não vai dar o primeiro passo, resolvi acabar logo de vez com isso. Nem se quer bati antes de entrar, afinal era apenas eu e Lys. Mas quando cheguei em seu quarto, me arrependi.

Lysandre estava em cima da sua cama, deitado olhando para o nada, com seu olhar vazio, eu só tinha o visto uma vez assim, foi quando os pais dele morreram no acidente de carro, junto com sua mais nova irmã. E para piorar, ele estava dentro do carro.

– Lys... Você está bem?- Perguntei me aproximando dele, deito em seu lado, fiquei lhe encarando, parecia calma, mas por dentro estava chorando desesperada, odiava o ver assim.

–Ponyo, sinto falta deles... – ele me encarou, estava na cara que ia chorar, eu nunca o vi assim, nem no velório, ó céus, não quero o ver assim nunca mais.

–Eu sei. – eu já estava chorando, sei que parece idiotice, mas eu queria sentir toda sua dor, e que ele não sinta mais nada. Lys também nunca me viu chorar.
Sei que o acidente foi horrível. Um caminhoneiro bêbado que estava levando varas de metal bateu no carro. Lys viu a mãe e a irmã recém nascida sagrando com um pedaço de metal atravessando o peito. Seu pai morreu com o impacto da colisão. Lysandre na hora tinha se abaixado para pegar algo e por isso não foi atingindo.

Deve ter sido horrível ter visto aquilo tudo.

Eu não aguentei mais, abracei Lys o mais forte que consegui, chorei como nunca tinha chorado antes, o que mais me surpreendeu, foi que ele retribuiu o abraço. Chorei mais forte ainda, e ele também. Eu estava me sentindo inútil, não podendo fazer nada para ajudar.

–Lys, você tem a minha mãe, meu pai, Nath, Ambre, e principalmente a mim. Se você dizer novamente que se sente sozinho, eu te dou um tapa, entendeu? – Nós dois rimos, olhei em seus olhos, senti que ele estava um pouco melhor. Ficamos abraçados até dormimos, senti que ele tinha parado de chorar. Prometi a mim mesma que nunca mais o deixaria triste.

–Ponyo, está dormindo?

–Agora não mais boboca.

–Ponyo...

–Que?

–Promete que vai ser minha amiga para sempre?

–É a primeira vez que você me chama de amiga, Lys.

–Eu sei, me desculpe.

–Por que você nunca tinha dito antes?

–Pensei que você não gostasse muito de mim.

–Tá brincando? Eu te amo lerdeza em pessoa.

–Você é tão “delicada” com as palavras.

–Você me ama ou não me ama?

–O que acontece se que responder que não?

–Nunca mais te ajudo a procurar seu bloco de notas.

–Te amo baixinha.

–Eu sei, sou incrível. Se eu pudesse, casava comigo mesma.

–Por que eu falo com você mesmo sua baixinha irritante?

–Você me ama, esqueceu?

–Eu não me lembro de ter dito isso!

–Pois eu lembro, e vou te lembrar para resto da sua vida.

–Pretende ser minha amiga por tanto tempo?

–Sim, e depois dos 20 anos a gente casa.

–Casar?!

–Sim, minha mãe me disse que quando duas pessoas se amam, elas casam. E você, senhor Lysandre, vai casar comigo.

–Me obrigue!

–Como se eu precisasse. Guarde minhas palavras, a gente vai casar, e eu acho que você vai ser a noiva! Com um lindo vestindo branco.

–Você não devia ter dito isso, pois agora, acaba de ser declarada uma guerra de travesseiros!

–--

N/T¹: O pai da Ponyo não gostava muito da amizade dela com Lys, "temendo perder sua garotinha mais cedo do que o esperado", as vezes lia o seu diário.

N/T²: Uma das minhas séries favoritas, essa frase é uma referencia a "Querido Diário Otário".