Na Melodia do Amor escrita por J R Mamede


Capítulo 8
Capítulo VIII




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O Domingo só estava começando, então resolvi dar um passeio de bicicleta pelo bairro. Gosto de sair sem rumo por ai, pedalando e sentindo o vento bater em meu rosto. É uma sensação de liberdade, que enriquece a minha alma.

Meu pai diz que minha mãe também possuía esse costume de sair de bicicleta, sem hora para voltar.

Minha mãe era uma mulher sensível, tinha alma de artista: possuía um olhar para a vida tão poética e encantadoramente fantástica; era mentora da arte de modificar a vida de forma que ela ficasse maravilhosa, mesmo nos momentos mais difíceis. Não importava a situação, a minha mãe conseguia inverter para que tudo ficasse perfeitamente bem.

Pedalei por algumas ruas conhecidas, cumprimentando vizinhos e desviando de cachorros que tentavam me perseguir.

Acabei escolhendo um caminho diferente para continuar a andar de bicicleta, visitando outras vizinhanças.

Enquanto eu me extasiava com aquele momento, percebi uma figura conhecida na varanda de uma casa, acompanhada de um rapaz.

Rosalya estava sentada em um banco, ao lado de um garoto que, por coincidência ou não, vestia-se muito parecido com o estilo usado pelo Lysandre.

Ao me ver, Rosalya acenou, chamando-me para fazer companhia aos dois.

Estacionei a minha bicicleta na entrada da residência, e fui em direção à varanda.

– Chiara! – saudou-me animadamente a jovem de longos cabelos brancos. – Como é bom vê-la por aqui.

– Olá, Rosalya! – cumprimentei-a. – É bom vê-la também.

– Deixa eu te apresentar. – falou, entrelaçando seus braços com a do rapaz presente. – Este aqui é o Leigh, meu namorado.

– Muito prazer em conhecê-la, Chiara. – falou o jovem. – Rosalya fala muito bem de você, e o meu irmão também.

– O seu irmão? – perguntei surpresa.

– Sim. – Rosalya sorriu. – Leigh é o irmão de Lysandre.

No momento, fez todo sentido Leigh ser irmão de Lysandre: os dois possuíam estilos muito parecidos.

– E essa é a sua casa, Rosalya? – mudei de assunto.

– Não, aqui é a casa de Leigh.

Rosalya me perguntara o que eu fazia por aquela vizinhança, então eu lhe expliquei que gostava de andar de bicicleta sem destino certo.

Rosalya, Leigh e eu conversamos por mais algum tempo, até eu perceber que já era quase a hora do almoço e, muito provavelmente, meu pai já estava rogando pragas para cima de mim, porquanto, ele detestava que se atrasassem para o almoço de Domingo.

Meus tios também deviam estar raivosos comigo, já que estes adoram comer o quanto antes e, com a minha ausência, só tardaria a hora da comilança.

A conversa havia sido muito boa: conheci um pouco mais da minha colega de sala e soube que ela era cunhada de Lysandre.

Também gostei muito de conhecer Leigh: era um rapaz tranquilo, educado e muito simpático. Rosalya e ele formavam um lindo casal.

– Preciso ir. – avisei. – Meu pai e meus tios devem estar desesperados.

– Fique mais. – insistiu Rosalya. – Almoce conosco?

– Sim. – concordou Leigh. – Meus pais iriam adorar conhecê-la.

Neguei o convite, afirmando que deixaria para uma próxima vez. Os dois acabaram cedendo e, quando eu me despedi, Lysandre apareceu de dentro da casa.

– Escutei uma voz familiar. – disse ele. – Mas não dei muita importância. Agora vejo que és tu, Chiara, fazendo-me arrepender-me de minha ação.

– Olá, Lysandre. – sorri. – Como está?

– Muito bem, obrigado.

Aproximou-se de mim para beijar a minha mão. Aos poucos eu me acostumaria com aquele gesto tão cavalheiresco do rapaz.

– Lys. – chamou-o Rosalya. – Convença a Chiara a almoçar conosco, por favor.

– Sim, Chiara. – obedeceu Lysandre. – Fique, por favor.

– Sinto muito. – respondi. – Preciso realmente voltar para casa.

– Ligue para o seu pai. – sugeriu Leigh. – Avise-o que almoçará fora hoje.

A pressão era grande: os três insistiam ardentemente que eu ficasse.

Com o falatório, a mãe dos rapazes, uma senhora simpática, apareceu na varanda para ver o que estava acontecendo. Ao ser relatada dos fatos seguidos, eu tive quatro insistentes personagens querendo que almoçasse por lá.

Por fim, acabei telefonando para o meu pai, o qual aceitou com alegria, já que não era sempre que eu saia para almoçar com amigos.

Ao entrar na aconchegante residência dos irmãos, o cheiro delicioso da comida infestava o ambiente.

Conheci o pai de Lysandre e Leigh, um senhor muito carismático e receptível, que conversava comigo o tempo todo.

– Deixe a Chiara em paz. – disse a senhora. – Assim vai espantar a menina.

– De jeito nenhum. – sorri. – Estou adorando a nossa conversa.

Satisfeito com a resposta, o pai dos rapazes continuou suas histórias sobre a fazenda em que vivera e tinha vontade de retornar a viver.

– Era um belo lugar. – disse ele com ar sonhador. - O ar puro, a vegetação, os animais. Que maravilha era aquilo!

O almoço estava impecavelmente delicioso: havia purê de batatas, ervilhas, milho, carne assada com batatas, torta de palmito e, para a sobremesa, uma deliciosa torta de maçã.

– Estou muito feliz que esteja aqui. – afirmou Lysandre que se sentava ao meu lado na mesa.

– Eu também. – falei com sinceridade. – A sua família é maravilhosa; estou me sentindo muito bem aqui.

Feliz com a minha argumentação, Lysandre sorriu e voltou a comer.

Vi sua mãe satisfeita e feliz em ver a família reunida, então tive uma pontada de tristeza, visto que não me lembrava de momentos como aqueles com a minha mãe.

Mas logo a tristeza deu lugar à alegria, pois estar ali com aquela turma era esplêndido.

– E onde está seu amigo Castiel, Lysandre? – perguntou a mãe dos garotos. – Ele não ia vir almoçar conosco hoje?

A carne quase entala na minha garganta ao ouvir aquilo. Engoli-a com dificuldade, fazendo-me engasgar.

Ao perceber que estava tossindo, Lysandre aproximou um copo d’água em minha direção, o qual aceitei agradecidamente.

– Não deu para ele vir, mãe. – respondeu o jovem dos olhos heterocromáticos. – Ele teve outros compromissos.

Aliviada, tanto com o término da crise de tosse quanto com a notícia de que o ruivo não nos atormentaria com a sua presença, continuei a comer.

Após o almoço, Rosalya e eu fomos ajudar a mãe dos meninos com a louça. Ela dispensou nossa ajuda fervorosamente, mas Rosalya e eu fomos mais fortes e vencemos a batalha.

Com tudo organizado, despedi-me dos pais de Lysandre e Leigh, agradecendo-lhes pela bela comida e pela ótima hospitalidade. Também fui dizer até logo para o casal, Rosalya e Leigh e, por último, fui me despedir de Lysandre.

– Muito obrigada por tudo. – disse. – Foi um ótimo Domingo para mim.

– Para mim também. – falou Lysandre alegremente. – É um prazer tê-la em minha residência, Chiara. Espero que suas visitas sejam recorrentes.

Agradeci novamente, afirmando-lhe que faria o possível para que isso acontecesse. Também o convidei para me visitar, dando-lhe o endereço de minha casa.

– Tenho certeza que meu pai e meus tios iriam adorar conhecê-lo e ver suas composições.

– Eu quem irei adorar conhecê-los e ver as composições deles. – retrucou Lysandre, sorrindo gentilmente.

Quando eu virei as costas, prestes a pegar a minha bicicleta para ir embora, Lysandre me chamou.

Olhei-o com curiosidade, esperando o que ele tinha a me dizer.

– Não faça mau julgamento de Castiel. – falou o rapaz. – Ele é um bom homem, só não sabe demonstrar isso.

Não compreendi o porquê Lysandre estava dizendo aquilo. Pouco me importava saber sobre Castiel. Mas o meu amigo de trajes vitorianos insistiu:

– Ele gosta de você, Chiara. – afirmou. - Castiel não é esse cara mau que as pessoas pensam. Ele é um sujeito nobre e sensível, porém, precisa ter bons olhos para enxergar o seu interior.

Aproximando-se de mim para olhar em meus olhos e, colocando sua mão em meu ombro, Lysandre continuou:

– Tenho certeza que você tem bons olhos para enxergar o interior de Castiel.

Peguei a minha bicicleta, pedalei de volta para casa, deixando o vento bater em minha face e os pensamentos atordoarem a minha mente.


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