Na Melodia do Amor escrita por J R Mamede


Capítulo 4
Capítulo IV




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/553577/chapter/4

Ken me aguardava em um canto do corredor, sentindo-se deslocado na nova escola. Fui fazer-lhe companhia, após o reencontro com a irmã de Nathaniel.

Alexy que, até então me acompanhava, pediu para eu aguardá-lo, pois iria à procura de Armin, seu irmão, para convidá-lo a se juntar a nós.

– Ken! – cumprimentei-o com um abraço após a saída de Alexy, deixando-o vermelho como uma maçã. – Como é bom vê-lo por aqui.

– Eu não podia deixá-la sozinha aqui. – brincou ele, abrindo um sorriso de satisfação. – Achei melhor segui-la.

Nós dois rimos, saboreando aquele momento. Eu estava, sinceramente, muito feliz em ver meu amigo de óculos grandes e cabelo corte estilo “tigelinha”; era reconfortante ter um amigo da velha escola em Sweet Amoris, ainda mais se esse amigo fosse o Ken, o qual conhecia há muito tempo e que eu possuía um grande apreço.

Conversamos só por alguns minutos, visto que, logo depois, Alexy chegava, acompanhado de seu irmão gêmeo.

Armin era uma figura, assim como Alexy, carismática e alegre. O ponto que diferenciava nitidamente os dois era o vício de Armin pelos games.

Se o assunto não fosse videogame, Armin se desinteressava rapidamente e sentia-se entediado, voltando sua atenção para a tela do game portátil que vivia carregando nas mãos.

– Então? – falou Alexy animado. – Vamos conhecer Sweet Amoris?

Saímos do colégio para nos depararmos com o pátio movimentado.

Apresentei os três novos integrantes para o grupo que eu havia conhecido no dia anterior. Todos foram receptíveis e amigáveis com Ken e os gêmeos. Deram-lhes boas-vindas e, assim como fizeram comigo, disseram que estavam dispostos a ajudar no que fosse preciso. Principalmente Nathaniel, que era o representante de turma, responsável em auxiliar os alunos nas tarefas escolares.

– Qualquer dúvida, - disse o rapaz louro. – podem contar comigo.

Os três rapazes agradeceram calorosamente, exceto Ken, por possuir uma personalidade mais tímida, agradeceu apenas com um “obrigado” acanhado e um sorriso conservador.

Naquele dia, Sweet Amoris, presenciara a chegada de mais três vidas jovens.

***

– Oi, Jujuba! – fui saudada em coro pelos três homens da minha vida quando entrei em casa.

– Olá, meninos! – retribui o cumprimento com o mesmo entusiasmo, jogando a mochila no sofá. – O que estão fazendo?

– Jogando Twister. – respondeu meu pai com dificuldade, pois estava em uma posição problemática.

Os três estavam pateticamente contorcidos um no outro: meu pai estava de quatro, com os pés entrelaçados; meu tio Jack tinha a mão esquerda em uma bolinha amarela e a outra em uma bolinha vermelha, que se encontrava embaixo do abdômen do meu pai. E meu tio Bill, coitado, devia ser o que mais sofria na brincadeira, porquanto estava de quatro ao contrário, ou seja, sua barriga estava virada para cima, enquanto as palmas das mãos e dos pés encostavam-se a bolinhas coloridas.

– Por que estão jogando Twister agora? – perguntei, rindo da visão à minha frente. – Não deveriam estar trabalhando?

– E nós estamos. – afirmou tio Bill com a voz sufocada.

– É. – concordou tio Jack. – É assim que conseguimos inspiração para criar novas composições, Jujuba.

– Ok! – disse, pegando a minha mochila para ir ao meu quarto. – Vou deixá-los em paz para que consigam suas inspirações e dores musculares.

Deixei-os a sós e fui para o meu dormitório.

Fechei a porta, liguei o rádio, me joguei na cama e fiquei ali por alguns minutos escutando a música tocar.

Sozinha com os meus pensamentos, veio à memória o dia em que eu ganhara o meu apelido.

Fora no Halloween dos meus sete anos.

Papai ficara em casa para distribuir os doces para as outras crianças, enquanto o tio Bill e o tio Jack me acompanhavam para buscar as guloseimas pelas casas do bairro.

A missão de entregar os doces seria destinada ao tio Jack, se ele não tivesse comido a metade no ano anterior, deixando muitas crianças frustradas.

Os meus dois tios me levaram, cada um segurando uma de minhas mãos, levantando-me no ar de vez em quando, como forma de pura diversão infantil.

Batemos em várias portas enfeitadas para o dia e, quando as pessoas saiam, nós fazíamos a pergunta decorada:

– Gostosuras ou travessuras?

Eu, uma menininha vestida de filha do Drácula, era um encanto aos olhos, principalmente do público adulto. Todos me faziam elogios e colocavam em minha sacola muitas guloseimas viciantes e causadoras de cáries.

Em uma das casas, a moradora, uma senhora simpática do bairro, estava distribuindo jujubas: amarelas, vermelhas, azuis, rosas, verdes.

Aquelas cores me fascinavam, deixando-me estonteada com suas combinações. Como eram lindas aquelas balinhas em formato de feijão para uma menina de sete anos.

Eu queria aqueles feijões mágicos.

Eu era João, disposta a fazer a troca pela minha vaquinha, enfrentaria o gigante e roubaria sua harpa e sua galinha dos ovos de ouro.

Quando fora a minha vez de receber aquelas deliciosas jujubas, a senhora me olhou com delicadeza e disse:

– Sinto muito, querida. As jujubas acabaram.

Como uma pessoa madura, eu deveria receber firmemente a notícia.

Porém, como ser madura aos sete anos?

Chorei incontrolavelmente, deixando meus tios desesperados e a senhora desconfortada.

– Não tem mais nenhuma mesmo? – perguntou o meu tio Jack, enquanto meu tio Bill tentava me acalmar. – Pode ser qualquer cor, minha senhora.

– Sinto muito. – disse a mulher atordoada. – As últimas foram para aquele garotinho ali.

Ela apontou para um garoto roliço, aparentando ter uns dez anos, que estava a alguns metros de distância de nós.

Tio Bill pegou-me no colo e saiu correndo, junto com tio Jack, atrás do menininho.

– Ei, garoto! – gritava tio Bill.

– Gordinho! – chamava tio Jack. – Ei, gordinho!

O garoto parou de andar, olhou para trás, encarando com desconfiança aqueles sujeitos estranhos para ele.

– Eu? – perguntou confuso.

– Sim, você mesmo. – assentiu tio Jack ofegante. – Pode me dar algumas jujubas, por favor?

– É para essa garotinha aqui. – explicou tio Bill, mostrando-me como prova para o menino.

O rapazinho observou com atenção os meus dois tios, refletiu sabiamente, então perguntou:

– Quanto vocês estão dispostos a me dar?

Os dois homens olharam um para o outro, percebendo a dimensão da situação: estavam sendo subornados por um guri de dez anos.

– Olha. - mostrou tio Jack uma nota de dinheiro. – Te dou cinco dólares por uma porçãozinha das suas jujubas. O que acha?

– Acho que vocês pensam que sou otário. – disparou. – Se vocês querem tanto as jujubas, podem muito bem me dar cem dólares.

Outra vez os olhares de meus tios se cruzaram, mas desta vez era um plano sendo arquitetado e transmitido telepaticamente um para o outro.

Antes de receber a resposta, o garoto foi pego de surpresa pelo meu tio Jack, o qual puxou a sacola das mãos do menino e saiu correndo.

– Corra, Bill! Corra! – gritava ele.

– Estou indo! – retornou tio Bill, correndo comigo em seus braços.

– Ei! – vociferou o gordinho. – Eles roubaram os meus doces! Eles roubaram os meus doces!

Meus tios e eu deixamos a pobre vítima aos prantos.

Voltamos para a casa o mais rápido possível.

Ao entrar em nosso lar, meus tios recomendaram que eu não dissesse nada ao meu pai e deram-me uma lição de moral: roubar é feio, muito feio.

Entretanto, foram surpreendidos pelo meu pai, o qual ouvira a conversa e deu um sermão nos dois.

Mas logo a raiva deu lugar às gargalhadas e, a partir daí, sou a senhorita Jujuba.

E o irônico desta história é que, ao finalmente experimentar o doce, eu o detestei.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Na Melodia do Amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.